segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Boas Festas!



 


 

Por que a Suécia está revendo a privatização do ensino

Fica o alerta...

Por que a Suécia está revendo a privatização do ensino



Escolas introduziram publicidade maciça, pressão sobre professores e estímulo permanente à competição. Resultados lastimáveis estão levando defensores da “novidade” a pedir desculpas públicas
Na Rede Democrática

Quando uma das maiores empresas privadas de educação faliu, alguns meses atrás, deixou 11 mil alunos a ver navios e fez com que o governo da Suécia repensasse a reforma neoliberal da educação, feita nos moldes da privataria com o Estado financiando a entrega dos serviços públicos aos oligopólios capitalistas e assim causando graves prejuízos para os trabalhadores e a população.
No país de crescimento mais acelerado da desigualdade econômica entre todos os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os aspectos básicos do mercado escolar desregulamentado estão agora sendo reconsiderados, levantando interrogações sobre o envolvimento do setor privado em outras áreas, como a de saúde.
Duas décadas após o início de seu experimento de “livre” mercado na educação, cerca de 25% dos alunos do ensino médio da Suécia frequentam agora escolas financiadas com recursos públicos, mas administradas pela iniciativa privada. Essa proporção é quase o dobro da média mundial. Quase metade desses alunos estudam em escolas parcial ou totalmente controladas por empresas de “private equity”, que compram participações em outras empresas.
Na expectativa das eleições do ano que vem, políticos de todos os matizes estão questionando o papel dessas empresas, acusadas de privilegiar o lucro em detrimento da educação, com práticas como deixar alunos decidirem quando aprenderam o suficiente para passar e não manter registro de notas.
O oposicionista Partido Verde – que, a exemplo dos moderados, apoia há muito as escolas de gestão privada, mas que agora defende um recuo – divulgou um pedido público de desculpas num jornal sueco no mês passado sob o título “Perdoe-nos, nossa política desencaminhou nossas escolas”.
No início da década de 1990, os pais recebiam vales do Estado para pagar a escola de sua preferência. A existência de escolas privadas foi autorizada pela primeira vez, e elas podiam até ter fim lucrativo.
O Reino Unido absorveu muitos aspectos desse sistema, embora não tenha chegado a permitir que escolas custeadas com dinheiro público visassem lucro. Empresas de educação suecas alcançaram países tão distantes como a Índia.
A falência, neste ano, da JB Education, controlada pela empresa dinamarquesa de “private equity” Axcel, foi o maior, mas não o único, caso do setor educacional sueco.
O fechamento da JB custou o emprego de quase mil pessoas e deixou mais de 1 bilhão de coroas suecas (US$ 150 milhões) em dívidas. Os alunos de suas escolas ficaram abandonados.
Uma em cada quatro escolas de ensino médio é deficitária e, desde 2008, o risco de insolvência subiu 188% e é 25% superior à média das empresas suecas, disse a consultoria UC. “São poucos os setores que exibem cifras tão ruins como essas”, disse a UC. Parte do problema resulta da distribuição etária da população, com os números totais das escolas secundárias sofrendo queda significativa desde 2008 e pouca probabilidade de voltar ao antigo nível por uma geração ou mais.
A permissividade do ambiente regulatório também contribuiu. A Suécia substituiu um dos sistemas escolares mais rigidamente regulamentados do mundo por um dos mais desregulamentados, o que levou a escândalos como um caso de 2011 em que um pedófilo condenado pôde abrir várias escolas de forma absolutamente legal.
“Eu disse muitas vezes que é mais fácil abrir uma escola do que uma barraca de cachorro-quente”, disse Eva-Lis Siren, diretora do sindicato de professores Lärarförbundet, o maior da Suécia.
As escolas privadas introduziram muitas práticas antes exclusivas do mundo corporativo, como bônus por desempenho para funcionários e divulgação de anúncios no sistema de metrô de Estocolmo. Ao mesmo tempo, a concorrência pôs os professores sob pressão para dar notas mais altas e fazer marketing de suas escolas.
No início, disseram que a participação privada na educação se daria por meio de escolas geridas individualmente e em nível local. Poucos vislumbraram que haveria empresas de “private equity” e grandes corporações administrando centenas de unidades. “Era uma coisa que não estava sequer nos sonhos mais delirantes das pessoas”, tenta se justificar Staffan Lundh, responsável por questões escolares no governo do primeiro-ministro na época e que hoje dirige a Skolverket, a agência sueca de escolas.
É tão obvio que envolvimento do setor privado e a queda da qualidade estão diretamente ligados que a Skolverket já começa a “vê indícios” de que as reformas de mercado contribuíram para aprofundar o fosso do desempenho escolar.
O referencial Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, nas iniciais em inglês) da OCDE pinta um quadro sombrio, em que a Suécia ocupa atualmente classificação inferior à da Rússia em matemática.
Vinte e cinco por cento dos garotos de 15 anos não conseguem entender um texto factual básico, disse Anna Ekstrom, diretora da Skolverket. Um estudo da agência divulgado no ano passado mostrou um diferencial crescente entre estudantes, em que um número cada vez maior deles não preenche os requisitos necessários para ingressar no ensino médio.
Uma pesquisa da GP/Sifo realizada neste ano com mil pessoas mostrou que 58% são amplamente favoráveis a proibir a geração de lucro em áreas financiadas com dinheiro público, como a educação.
O ministro da Educação, Jan Bjorklund, de centro-direita, dirigente do segundo maior partido da coalizão de governo, formada por quatro partidos, disse que empresas de “private equity” também deveriam ser vetadas como controladoras de empresas do setor de assistência médica, inclusive de assistência aos idosos.
“Acho que acreditamos cegamente demais na possibilidade de mais escolas privadas garantirem maior qualidade da educação”, disse Tomas Tobé, diretor da comissão de educação do Parlamento e porta-voz de educação do governista Partido Moderado. Como são “ingênuos” os neoliberais…
O fechamento de escolas e a piora dos resultados tiraram o brilho de um modelo de educação admirado e imitado em todo o mundo pelos mesmos privatistas e neoliberais que propagandeiam o mercado capitalista como uma espécie de solução milagrosa para todos problemas da sociedade, quando na verdade é o capitalismo quem gera todos os problemas e desigualdades sociais ao concentar toda a riqueza, poder e oportunidades nas mãos de uma classe dominante privilegiada, as custas da miséria, exploração e exclusão de grande parte da humanidade e do empobrecimento crescente dos povos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Vale muito a pena ler este texto!

O primo da vírgula-mas, a Folha e o desemprego no Brasil

do blog Objetivando Disponibilizar
Hoje não vou apenas exorcizar o texto da (adivinha?) Folha (RÀ!). Começo a treinar pro meu mestrado, então vou me concentrar na análise semântica da coisa.
Vamos começar com a frase João é bonito, mas tá velho. Se João ouve isso, certamente vai começar a pensar em botox. E essa frase é tão canalha que eu ainda posso, cinicamente, dizer: “Mas eu disse que ele é bonito!” O problema é que a última mensagem, que contradisse a primeira, foi a que ficou retumbando nos neurônios dos ouvintes. Pois o vírgula-mas tem um primo tão canalha quanto ele, o apesar. Olha só o que tio Antônio diz dele:
Apesar
advérbio ( sXIII)indica, na oração ou sintagma a que dá entrada, uma ideia oposta àquela expressa na outra parte do enunciado, contrariando uma provável expectativa
Locuções
a. de
não obstante, a despeito de, pesar de
‹ a. da idade avançada, trabalhava diariamente › ‹ a. de ser jovem, era bastante responsável ›
Isto posto, acho que já dá pra gente começar a ler o texto épico (pra não dizer outra coisa) da Folha de São Paulo de hoje.
A notícia é simples: desemprego foi medido hoje. O índice é o menor desde que a medição começou a ser feita.
Aí a Folha me apronta isso:
19/12/2013 - 09h10
Taxa de desemprego cai para 4,6% e retoma mínima histórica [ou seja: a maioria dos brasileiros está empregada]
PEDRO SOARES
DO RIO
Apesar [olha quem abriu o texto! O primo canalha do vírgula-mas! Vamos acompanhar o raciocínio do repórter pedro:] do menor ritmo da economia no terceiro trimestre, da freada do consumo e do crédito restrito [uau,a economia vai mal, hein?], as empresas não lançaram mão ainda de demissões [Ainda, gente! Ainda! Quer dizer, não houve demissões, mas nós tamos aqui tudo na torcida pra que haja! O_o] e a taxa de desemprego segue em níveis baixos.[O desemprego tá baixo, mas a sensação dessa frase é que repórter pedro quer que isso seja negativo!]
[Agora vamos pensar aqui nesse primeiro parágrafo como um todo: ele abre com um apesar, que enumera uma série de supostos fatos negativos (permito-me esse supostos daí. Ao chegar ao fim da leitura deste post, vocês terão entendido o motivo) e termina com uma mísera oração (nem frase é, coitada) positiva e que, no frigir dos ovos, traz a notícia em si. Outra coisa: como muito bem lembrou o Pedro Alexandre no Twitter, esse parágrafo tá com todo o jeitão de ter sido "feito" pelo bípede (viram como eu sou boazinha? Parto do princípio que esse texto não foi editado de quatro!) que editou a matéria, e não pelo repórter.
Então, um lead (primeiro parágrafo de uma notícia, que resume a informação respondendo às perguntas Quem? O quê? Onde? quando? como? Por quê?)  que tecnicamente deveria ser "O IBGE divulgou nesta quinta-feira o índice de desemprego nacional, de 4,6%, igual ao registrado em dezembro de 2012, o menor índice da série desde que o IBGE iniciou a medição, em 2001." , virou esse mafuá de mau humor e de mau agouro daí de cima, que de notícia, mesmo, só teve a última oração ("e a taxa de desemprego segue a níveis baixos"). voltando à tese de que o 1º parágrafo foi "montado" pelo editor, digo mais: o texto original do repórter começava com o que terminou sendo a última oração do primeiro parágrafo. E foi a única coisa do lead do repórter que o editor manteve. Isto posto, vamos ver o que mais nos aguarda. Mas, antes, deixa eu postar aqui uma imagem pra combinar com o tom do texto, pera.]
1463720_608587872510287_1907597210_nEm novembro, o índice ficou em 4,6%, abaixo dos 5,2% de outubro, segundo dados divulgados pelo IBGE na manhã desta quinta-feira(19). O resultado é o mais baixo para o mês e iguala a taxa de dezembro de 2012, a menor da série histórica do IBGE, iniciada em 2001[ou seja, o que tecnicamente deveria ter sido escrito lá em cima, no primeiro parágrafo, veio pra cá. Quer dizer: esse segundo parágrafo tem tudo pra ser o resto do primeiro parágrafo original do repórter, que o bípededa edição preferiu jogar pra baixo. Vai entender....]
Tradicionalmente, a taxa de desemprego declina nos últimos meses do ano, com a injeção de recursos na economia –vindos, por exemplo, do 13º terceiro salário–e a contratação de trabalhadores temporários no comércio e em alguns ramos de serviços e da indústria [Isso aqui é de fato uma informação relevante. Com a proximidade das festas de fim de ano, o comércio se aquece e começa a catar trabalhadores temporários. Por esse motivo, o mês de dezembro é o que registra os menores índices de desemprego].
O emprego, porém, [terceiro primo da raça adversativa, o porém. Irmão do mas. O último parágrafo disse que dezembro registra índices baixos de desemprego. Isso é uma informação positiva. O porém nos introduz uma ponderação negativa. Vamos acompanhar.]  já não mostra o mesmo vigor de meses e anos anteriores [puxa, que coisa! Isto significa que ele começa a declinar, é isso?] e cresce [não, ele cresce! Licença, eu tenho que rir aqui QUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA pronto, voltemos à análise semântica] numa intensidade mais moderada. De outubro para novembro, houve alta de apenas 0,1% no total de pessoas ocupadas nas seis maiores regiões metropolitanas do país, número que atingiu 23,293 milhões. Já em relação a novembro de 2012, o IBGE registrou recuo de 0,7%.[aqui eu saio da análise semântica e entro na análise jornalística da coisa. Não vou me dar ao trabalho de abrir sáites e googlar informações para desmentir o que está dito aqui, porque não precisa. Digo apenas que:
1- Para se ter o real espectro do crescimento de outubro para novembro, o texto deveria ter falado da evolução do índice de janeiro até novembro de 2013. Isso ambientaria melhor o comportamento e as oscilações da economia brasileira num intervalo razoável de tempo.
2- O texto ficou tão mal redigido que esse 23 e quebrados milhões ficou solto e perdido. Refere-se ao número de pessoas desempregadas nas seis principais regiões metropolitanas do país [atualização das 20:00: reli o texto mal escrito bagarai e me dei conta de que esses 23 milhões são os EMPREGADOS, ao passo que o milhão lá de baixo são os DESEMPREGADOS. Texto mal-escrito tem dessas coisas: engana até editor-revisor! O_o #PORRAFOLHA!]. Ficou faltando informar quais são essas regiões metropolitanas, e qual o número total de pessoas economicamente ativas (portanto, aptas a trabalhar).
1450845_601867599848981_498426824_n3- Tradicionalmente, a comparação de índices é feita entre o período imediatamente anterior e igual período do ano anterior. Portanto, o índice de desemprego de dezembro de 2013 deve ser comparado com novembro de 2013 e dezembro de 2012. Comparações outras são permitidas, claro – desde que explicado o motivo. Se o único motivo que a Folha tinha para fazer essa comparação era mostrar um recuo de 0,7%, eu começo mentira, já comecei lá na primeira linha a me perguntar sobre a boa-fé das informações contidas nesse texto. Mas voltemos à nutiça:]
O total de pessoas em situação de desemprego (a procura[prometi análise semântica, então vou abstrair esse erro de crase. O certo é à procura de] de um trabalho) recuou 10,9% ante outubro e caiu 6,4% na comparação com novembro, atingindo um contingente de 1,131 milhão de pessoas. [ó só a informação que eu cobrei no item 3 da minha
observação! Esse parágrafo diz que nas regiões analisadas, há um total de 1,131 milhão de pessoas desempregadas. Mas não informa o total de economicamente ativas. O que o texto diz - de maneira péssima - é que o número de desempregados é menor quando comparado com outubro e novembro deste ano! Mas meu Deus, isso é quase um cenário de pleno emprego! Cadê entrevista com economista pra falar sobre esses índices? Cadê entrevista com geral no IBGE pra falar sobre isso? Ah, peraí que eu vou pôr outra foteenha pra ilustrar esse texto]
O mercado de trabalho já não mostra o mesmo vigor de antes [masgemt! Como pode? O desemprego lá embaixo do pé, reduzindo-se mês a mês, mas o mercado de trabalho já não mostra o mesmo vigor de antes? E que antes é esse? Qual o período a que o texto se refere?] diante de um cenário de juros mais altos[minha preguiça homérica de googlar Selic me impede de comentar isso aqui. Aumentou a Selic, gemt? Por que eu desconfio de que não aumentou? Ah, já sei: É PORQUE ESSE TEXTO TÁ UMA MERDA!] , confiança de empresários combalida e menor disposição de consumidores em gastar [Aposto um doce como em janeiro teremos o maior consumo evar em épocas natalinas, e empresários felizes da vida com tudo isso que está aí].


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Agora tentem me convencer de que acabamos de ler um texto jornalístico de qualidade. Não está fáceo, viu?
PORRA, FOLHA!
 
(fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-primo-da-virgula-mas-a-folha-e-o-desemprego-no-brasil)
 
 

Quem é a direita brasileira?



Quem é a direita brasileira?


20 de Dezembro de 2013 às 06:40
Por Breno Altman, especial para o 247

O sr. Reinaldo Azevedo, a quem injustamente referiu-se a ombudsman da Folha de S. Paulo como rottweiler do conservadorismo, continua a desmentir sua colega de redação. Qualquer comparação com uma raça canina tão forte e cheia de personalidade é realmente despropositada. Se o nobre animal lesse jornal, provavelmente se sentiria insultado. O colunista, tanto pelas posições que defende quanto por estilo, está mais para cachorrinho de madame.

Deu-nos mais uma prova, no dia 6 de dezembro, em artigo intitulado "Direita já!", de qual é o seu pedigree. A ideia básica é que falta, no Brasil, uma força política que tenha competitividade eleitoral e, abraçando claramente valores de direita, faça oposição ao governo. Ou que acredite na hipótese de se tornar dominante exatamente por defender esses valores. Ainda mais longe vai o santarrão do conservadorismo: o PT provavelmente continuará a governar porque não seria possível "candidatura de oposição sem valores de oposição".

O que Azevedo esconde do leitor, por ignorância ou má fé, são as razões pelas quais a direita brasileira atua disfarçada. Esse campo ideológico, afinal, esteve historicamente comprometido com a quebra da Constituição, o golpismo e a instituição de ditaduras. Seus valores de raiz são o autoritarismo, o racismo de índole escravocrata, o preconceito social, o falso moralismo e a submissão às nações que mandam no mundo. Vamos combinar que não é fácil conquistar apoios com essa carranca.

Não é de hoje que direitistas recorrem a truques de maquiagem para não serem reconhecidos. A mais comum dessas prestidigitações tem sido a de se enrolar em supostas bandeiras democráticas para cometer malfeitos. Exemplo célebre é o golpe militar de 1964, quando bateram nas portas dos quartéis e empurraram o país para uma longa noite de terror, em nome da liberdade e da democracia.

A ditadura dos generais foi o desfecho idealizado pela "direita democrática", depois que se viu sem chances de ganhar pelo voto e tomou o caminho da conspiração. O suicídio de Getúlio Vargas sustou a intentona por dez anos, mas os ídolos de Azevedo estavam à espreita para dar o bote. As provas são abundantes: estão presentes não apenas nos discursos de personalidades da "direita democrática" de antanho, mas também nas páginas dos jornalões da época, que clamavam pela ruptura constitucional e a derrubada do presidente João Goulart.

Algumas dissidências desse setor, a bem da verdade, tentaram se reconciliar com o campo antiditadura, depois de largados na estrada pelos generais ou frustrados com sua truculência. A maioria dos azevedinhos daquele período histórico, no entanto, seguiu de braços dados com a tortura e a repressão. Eram ativistas ou simpatizantes do partido da morte. Batiam continência como braço civil de um sistema talhado para defender os interesses das grandes corporações, impedindo a organização dos trabalhadores e massacrando os partidos de esquerda.

O ocaso do regime militar trouxe-lhes isolamento e desgaste. A direita pró-golpe, mesmo transmutada em partidos que juravam compromisso com a democracia reestabelecida, não teve forças para forjar uma candidatura orgânica nas eleições presidenciais de 1989. Acabaram apoiando Fernando Collor, um aventureiro de viés bonapartista, para enfrentar o risco representado por Lula ou Brizola. O resto da história é conhecido.

Depois deste novo fracasso, as forças reacionárias ficaram desmoralizadas e sem chão. Trataram, em desabalada carreira, de aderir a algum pastiche que lhes permitisse sobrevida, afastando-se o quanto podiam da herança ditatorial que lhes marcava a carne. Viram-se forçadas a buscar, entre as correntes de trajetória democrática, uma costela a partir da qual pudessem se reinventar. Encontraram no PSDB, capturado pela burguesia rentista, o instrumento de sua modernização e o novo organizador do bloco conservador.

A mágica acabou, porém, quando o PT chegou ao Planalto, deslocando para a esquerda boa parte do eleitorado que antes era seduzido pelo conservadorismo. Esse foi o resultado da adoção de reformas que modificaram e universalizaram providências antes circunscritas a tímidas medidas compensatórias, como parte de um projeto que permitiu a ascensão econômico-social da maioria pobre do país. Tais conquistas tingiram de cores fúnebres, na memória popular, o modelo privatista e excludente sustentado pelo tucanato.

Enquanto a direita republicana tratava desesperadamente de estabelecer vínculos entre o sucesso do governo petista e eventuais políticas do período administrativo anterior, evitando reivindicar seu próprio programa, outro setor deu-se conta que, sem diferenciação clara de projetos, seria muito difícil reconquistar maioria na sociedade e romper a dinâmica estabelecida pela vitória de Lula em 2002.

Não haveria saída, contra o petismo, sem promover a mobilização político-ideológica das camadas médias a partir de seus ímpetos mais entranhadamente individualistas, preconceituosos e antipopulares. Ao contrário de uma tática que encurtasse espaços entre os dois polos que definem a disputa nacional, o correto seria clarificar e radicalizar o confronto.

As legendas eleitorais do conservadorismo titubeiam a fazer dessa fórmula seu modus operandi, mas os meios tradicionais de comunicação passaram a estar infestados por gente como Azevedo e outros profetas do passado. A matilha não tem votos para bancar nas urnas uma alternativa à sua imagem e semelhança, é verdade. Seria um erro, no entanto, subestimar-lhe a audiência e o papel de vanguarda do atraso que atualmente exerce nas fileiras oposicionistas.

Até porque conta com uma fragilidade da própria estratégia petista, de melhorar a vida do povo através da ampliação de direitos e do consumo, mas atenuando ao máximo o enfrentamento de valores e o esforço para modificar as estruturas político-ideológicas construídas pela oligarquia, especialmente os meios massivos de comunicação. O PT logrou formar maioria eleitoral a partir dos avanços concretos, mas não impulsionou qualquer iniciativa mais ampla para estabelecer hegemonia cultural e ideológica.

Seria persistir neste equívoco não dar o devido combate ao conteúdo programático do discurso azevedista. Sob o rótulo de "direita democrática", o que respira é uma concepção liberal-fascista, forjada na comunhão das ditaduras chilena e argentina com a escola de Chicago e os seguidores do economista austríaco Ludwig Von Mises.

O velho fascismo, que trazia para dentro do Estado as operações dos conglomerados capitalistas, tornando-os parasitas econômicos da centralização política, efetivamente caducou como resposta aos próprios interesses grão-burgueses. Entre outros motivos, porque retinha parte ponderável da taxa de lucro para o financiamento do aparato governamental.

A combinação entre ultra-liberalismo e autoritarismo converteu-se em um modelo mais palatável entre as elites. O Estado assumia as tarefas de repressão e criminalização das lutas sociais, na sua forma mais perversa e violenta, soltando as amarras legais e sociais que regulavam o desenvolvimento dos negócios em âmbito privado. Não eram à toa os laços afetuosos que uniam Margaret Thatcher e Ronald Reagan ao fascista Pinochet. O neoconservadorismo se trata, afinal, do liberal-fascismo sem musculatura ou necessidade de realizar seu projeto histórico até o talo.

Claro que o ladrar de Azevedo e seus parceiros não é capaz, nos dias que correm, de ameaçar a estrutura democrática do país. Mas choca o ovo da serpente pelas ideias e valores que representa. A melhor vacina para a defesa da democracia, contudo, como dizem os gaúchos, é manter a canalha segura pelo gasganete. Os latidos dos cachorrinhos de madame devem ser repelidos, antes que se sintam à vontade para morder.

Breno Altman é jornalista, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.
fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/poder/124607/Quem-%C3%A9-a-direita-brasileira.htm

Não assassinaram, mas... ainda existe perigo!


"Demarcação agora é guerra", declaram indígenas de Yvy Katu

Após decisão favorável do TRF, a comunidade exigiu que o governo federal finalize o processo de demarcação da terra, declarado em 2005. 

 

 Ruy Sposati, para o Conselho Indigenista Missionário

Japorã, MS - Um dia depois da suspensão de um das quatro reintegrações de posse contrárias à permanência de cinco mil Guarani Ñandeva no tekoha Yvy Katu, na última terça-feira, 17, os indígenas anunciaram que não cumprirão as outras decisões judiciais, estão "prontos para morrer" e exigem que o governo federal finalize o processo de demarcação da terra, declarado em 2005.

"Nós estamos há mais de 78 dias e 78 noites acampados em nossa própria terra e vamos ficar por mais dois mil anos e depois para sempre. Nós não vamos sair", escreveram os indígenas em carta aberta à Presidência da República e ao Ministério da Justiça, entregue nesta quarta-feira ao Ministério Público Federal (MPF).

Sobre a decisão do Tribunal Regional Federal da 3a. Região, a comunidade afirmou: "nós não ficamos aliviados com essa decisão da Justiça, porque ela não muda nada. Nós continuamos mobilizados, resistindo contra ações dos latifundiários".

Menos de 2
Os indígenas argumentam que o território em processo de demarcação representa uma parcela muito pequena do território de Japorã, município onde fica a maior parte de Yvy Katu - apesar dos Guarani representarem metade dos moradores da cidade. "Nós somos 50% da população do município", explica a liderança indígena Valdomiro Ortiz, "e no entanto, não estamos lutando por metade do território de Japorã. Ao contrário! Os 7,5 mil hectares não são nem 6% o território total da cidade. Isso é pelo que estamos lutando".

"Juntando com a reserva [totalizando 9,4 mil hectares] e dividindo por todo mundo, dá menos de 2 hectares pra cada um. Estamos lutando por menos de 2 hectares de terra por indígena aqui em Yvy Katu. Se isso dá vida digna pra todo mundo? Claro que não dá. Mas é por esses 2 hectares que estamos lutando, e não por uma cidade inteira", aponta.
Valdomiro relata que há exatos 10 anos, no dia 18 de dezembro, ocorreu o famoso episódio do confronto com fazendeiros na ponte sobre o rio Iguatemi. Na ocasião, ruralistas e fazendeiros alegaram protesto pacífico na ponte par tentar expulsar os Ñandeva do território recém-retomado. Desarmados, os indígenas tentaram impedir a passagem se posicionando na frente dos fazendeiros, que dispararam armas de fogo. Com uma reza, relata, um ñanderu chamou uma tempestade de vento e trovões que afastou os invasores, e os indígenas permaneceram no local.

"Durante esses 10 anos, nós sofremos muito. E a Justiça sempre prometendo que estava dando um jeito de solucionar o conflito, de demarcar, e que daqui 6 meses, daqui um ano estaria resolvido... Se passaram 10 anos e nada", recorda Valdomiro. "Agora, hoje, nós estamos aqui de novo. Perdemos alguns companheiros, mas não vamos parar. Pelo menos, podemos tomar banho no nosso rio. Está tudo devastado, mas pelo menos podemos tomar banho".

Na opinião da liderança, os proprietários de terras que incidem sobre território indígena devem ser ressarcidos. "Nós defendemos que os fazendeiros que adquiriam suas terras de boa fé recebam, sim. E deixem logo a comunidade em paz". "No dia em que a gente tiver velhinho, quando não puder nem se arrastar mais no chão, os nossos filhos e os nossos netos vão estar no nosso tekoha. Apesar de tanta ameaça, apesar do cansaço, do sono, fome e sofrimento, podemos dizer que estamos felizes por sentirmos que estamos vencendo aos poucos", conclui.

Leia na íntegra o documento dos indígenas:

Carta aberta à Presidência da República e Ministério da Justiça

Recebemos a notícia da suspensão da reintegração de posse de uma das 14 fazendas em Yvy Katu. Não ficamos nem felizes nem tristes com isso. Isso não muda nada para nós Guarani.

Para nós essas 14 fazendas não existem. Toda essa terra faz parte de um mesmo tekoha, um mesmo território, chamado tekoha Yvy Katu.


Nós não ficamos aliviados com essa decisão da Justiça, porque ela não muda nada. Nós continuamos mobilizados, resistindo contra ações dos latifundiários, e exigindo a demarcação de nosso território.


Nós estamos há mais de 78 dias e 78 noites acampados em nossa própria terra e vamos ficar por mais dois mil anos e depois para sempre. Nós não vamos sair.


Terra indígena nunca foi de fazendeiro. Terra indígena sempre foi terra indígena.


Se os fazendeiros querem comprar terra, vão comprar em outro lugar. Se querem cobrar pela terra, paguem antes pela floresta que estava aqui e que foi acabada.


Nós temos nossa reza e os nossos guerreiros. Estamos esperando os guerreiros dos brancos. Estamos prontos para morrer. Demarcação agora é guerra.


Nossa reza é quente como se fosse o sol. Nossa reza vem da natureza, do antepassado e do sonho. Nos sonhos, já vimos a terra lutar contra o branco, a árvore lutar contra branco.
Nós, comunidade Yvy Katu e Conselho Aty Guasu, exigimos que a Justiça suspenda todas as reintegrações de posse e o governo federal finalize a demarcação de toda a nossa terra tradicional. Enquanto isso, vamos continuar lutando, e banhando a terra de sangue, se for necessário.


Não existe acordo. Não adianta pressionar. Não vamos ficar apenas com 10% de Yvy Katu. Agora é 100%. Parece que ninguém está acreditando em nossa luta. Será que estamos falando à toa? Já carregamos muito indígena Guarani e Kaiowá ensanguentado no braço. Vocês estão esperando mais uma morte para se importarem com Yvy Katu?


Tekoha Yvy Katu, 18 de dezembro de 2013 Lideranças do tekoha Yvy Katu e Conselho do Aty Guasu


(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/-Demarcacao-agora-e-guerra-declaram-indigenas-de-Yvy-Katu/5/29850)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

É hoje que vão assassinar os Guarani?

Guaranis-kayowás iniciam ritual de morte por terra e identidade
Priscila Baima
Adital  http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&cod=79149&lang=PT
CMI

Para se defenderem, índios estão dispostos a morrer. "O que eles reivindicam não é a propriedade, é o pertencimento. A terra não é posse, não se troca por dinheiro, não serve para especular. Serve para você saber quem você é.” A partir desse trecho, retirado da publicação O fio que dá sentido à vida,da psicanalista Maria Rita Kehl, o apelo dos Guaranis-kayowás pode ser ainda mais entendido pela sociedade brasileira. 

Em cumprimento a quatro decisões judiciais de reintegração de posse contra os indígenas, expedidas na quinta-feira, 12, que obrigam mais de 5 mil indígenas a desocuparem fazendas do Sul do Estado, agentes da Polícia Federal afirmaram, em reunião com entidades defensoras dos direitos humanos, que realizarão o despejo da comunidade no próximo dia 18 de dezembro.

Mesmo com a pressão, os guarani não hesitaram em ser resistentes. Pertencentes das terras da Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu, fronteira do Mato Grosso do Sul com Paraguai, os índios reafirmaram, em carta à sociedade brasileira, que não deixarão a terra reconquistada, e resistirão até a morte para defendê-la.

Diante da afirmativa de que irão lutar e resistir ao envio de forças policiais, os guarani ressaltaram que já começaram um ritual religioso raro que diz respeito à despedida da vida da terra, em outras palavras, estão se preparando para morrer.

Na carta, eles pedem que sejam enterrados em sua terra e que o Estado se responsabilize em cuidar das crianças e idosos que sobreviverem. "Solicitamos ainda à presidenta Dilma, à Justiça Federal que decretou a nossa expulsão e a morte coletiva para assumir a responsabilidade de amparar e ajudar as crianças, mulheres e idosos sobreviventes aqui no Yvy Katu que certamente vão ficar sem pai e sem mãe após a execução do despejo pela força policial”, expõe o texto.

De acordo com o secretário executivo do CIMI, Cleber Buzatto, duas questões precisam ser urgentemente feitas. "A primeira é dar seguimento ao procedimento de demarcação da referida terra indígena, procedendo a homologação e as devidas indenizações aos não-indígenasproprietários de títulos de boa fé. A segunda é acionar os advogados da União para apresentação de recursos a fim de caçar as decisões judiciais favoráveis às reintegrações de posse contra os Guarani”, defendeu.

Em relação ao Leilão da Resistência, evento que vendeu gado, aves e soja para financiar seguranças armados contra indígenas, arrecadando R$ 1 milhão, Cleber declarou que esse leilão é outro instrumento utilizado contra os povos indígenas. "O leilão é mais um instrumento intimidatório utilizado pelos fazendeiros invasores de terras indígenas no Mato Grosso do Sul. De acordo com o próprios organizadores, o leilão teve a pretensão de arrecadar recursos financeiros para financiar ações milicianas contras os povos indígenas naquele estado”, denunciou alertando para o verdadeiro objetivo do evento. 

Os índios estão sendo despejados em razão da valorização das terras, que possuem altas camadas de minério. Os latifundiários têm o poder de aprovar leis, bem como de passar por cima delas. Então, faz-se mais que necessário exigir que o Governo Federal demarque as terras dos índios Guarani-Kaiowás em caráter de urgência, antes que aconteçam genocídios e suicídios, fazendo com que a comunidade indígena brasileira perca de vez sua identidade.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Como alguém pode desejar o poder? Os últimos dias de Versalhes

Como alguém pode desejar o poder? Os últimos dias de Versalhes

Um dos traços mais originais de Adeus, Minha Rainha, de Benoit Jacquot, é mostrar a decomposição da monarquia pelos olhos da criadagem de Versalhes.


 
Marco Aurélio Weissheimer (www.cartamaior.com.br)

- Acabo de conversar com Monsieur Bailly, que foi nomeado prefeito de Paris. Ele me disse algo perturbador. O povo não quer apenas pão, mas poder. Como alguém pode desejar o poder? Sempre considerei o poder uma maldição herdada a contragosto. Uma maldição escondida por um manto de pele.
 
Essa é a única conversa do rei Luis XVI com a rainha Maria Antonieta no ótimo filme Adeus, Minha Rainha (Les adieux à la Reine), de Benoît Jacquot. A Bastilha já caiu, o Palácio de Versalhes está cada vez mais isolado e a nobreza começa a abandonar o barco da monarquia, levando o que consegue carregar. O fardo do poder referido por Luis XVI a sua rainha expressa de certo modo uma situação de fato que se configura naqueles dias: a maldição herdada a contragosto está mudando de mãos. O filme de Jacquot retrata com agudeza os últimos dias da corte, vistos pelos olhos de uma das mais fieis servas da rainha, Sidonie Laborde, leitora oficial de Maria Antonieta.
A lealdade e a paixão que Laborde cultiva pela rainha se enredarão no turbilhão daqueles dais que cercaram o 14 de julho de 1789 e que conduziram, mais tarde, o casal real para a guilhotina. Baseado no livro homônimo da escritora Chantal Thomas, o filme acompanha os dramáticos últimos três dias de Maria Antonieta e Luis XVI no Palácio de Versalhes. Os três últimos dias de um mundo em ruínas.

O cinema já produziu muitos bons filmes sobre a Revolução Francesa. Um dos traços mais originais de Adeus, Minha Rainha é mostrar a decomposição da monarquia pelos olhos da criadagem de Versalhes. Normalmente apresentado como símbolo de luxo e ostentação, o palácio tinha uma pequena cidade dentro dele habitada por cerca de três mil pessoas. Além dos grandes salões espelhados repletos de ouro, vemos também corredores e pequenos quartos sombrios onde viviam os servos da realeza.

O filme nos oferece como guia uma representante desse povo que, não muito longe dali, em Paris, estava fazendo a Revolução Francesa. Sidonie Laborde, vivida por Léa Seydoux, acompanhará a rainha até o fim, ou melhor, quase até o fim.

Um pedido final de Maria Antonieta, interpretada magistralmente pela atriz alemã Diane Kruger, testará sua lealdade e, ao mesmo tempo, funcionará como um indicador das razões pelas quais o casal real perderá suas cabeças na guilhotina. A ideia da traição cometida pela realeza contra seu povo ficará bem exemplificada.

Os jogos amorosos da corte estão presentes no filme, inclusive uma possível paixão homossexual da rainha, mas eles não são o foco principal da narrativa. O olhar que nos guia é o da leitora oficial de Maria Antonieta que tem na rainha o centro de sua vida. Ela mal acredita quando esse mundo começa a desmoronar frente aos seus olhos. Os corredores de Versalhes viram lugares assombrados por nobres decadentes e desesperados que se arrastam com velas nas mãos, como se fossem fantasmas expostos pela insurreição popular em Paris. Sidonie Laborde quer saber o que está acontecendo lá fora e que real perigo isso representa para sua rainha.

Para tanto ela recorre ao historiador Jacob-Nicolas Moreau, vivido esplendidamente no filme por Michel Robin. Moreau é um nome importante na história francesa.

Defensor do Antigo Regime, ele escreve um grande número de memórias e ensaios e organiza um arquivo de cartas destinado a guardar os textos oficiais da história nacional. Diante da evolução da insurreição popular, Luís XVI pediu a Moreau que escrevesse uma carta que seria lida nas igrejas ameaçando os rebeldes do castigo divino. Ele tem dificuldades com a tarefa pois tem um olhar crítico sobre o comportamento da nobreza naquele momento. Moreau considerava que os privilégios que os nobres possuíam deveriam vir acompanhados de deveres, o que não estaria acontecendo. Com esse olhar ele mantem a leitora da rainha informada sobre a gravidade dos acontecimentos.

O historiador deixa claro a ela que estão diante de um mundo em ebulição e sugere que ela abra os olhos e deixe de fazer da adoração à rainha o centro de sua vida. Ela recusa a ideia em um primeiro momento, mas a realidade se encarregará de enquadrá-la. Sidonie Laborde é o fio condutor do filme. A escritora Chantal Thomas a definiu como alguém que vê o mundo de baixo, uma alusão à obrigação dos serviçais sempre estarem inclinando a cabeça à nobreza. Mas ela crê ter uma arma importante do seu lado: as palavras. “Palavras são tudo o que tenho e eu sei usá-las muito bem”, diz rispidamente à rainha depois que ela lhe pede que sirva de isca para proteger a vida de Gabrielle, a paixão de Maria Antonieta que estava na lista dos guilhotináveis da revolução. Sidonie fica decepcionada com o pedido, mas cumpre a missão, veste uma roupa de Gabrielle, enquanto esta se veste como serviçal. As palavras da leitora salvarão a vida de ambas, mas ela sabe, arrasada, que nunca mais voltará a Versalhes.

A corte de Versalhes geralmente é tratada como sinônimo de frivolidade, privilégios, desperdício e esbanjamento. Não por acaso, certamente, merece esse tratamento. O filme de Jacquot tem o mérito de ir além dessa forma, já reproduzida muitas vezes no cinema, e lançar um olhar penetrante sobre as entranhas de um mundo em ruínas. “Como alguém pode desejar o poder?” – interroga-se perplexo Luís XVI. O rei e a rainha sabem que as suas cabeças lideram uma lista de mais de 200 nobres candidatos à guilhotina. O poder, de fato, já não está mais com eles em Versalhes que, depois do 14 de julho de 1789, vai se tornando pouco a pouco um palácio fantasma. A alienação que habitava a casa real nos dias que antecederam a queda da Bastilha já anunciava que o poder estava mudando de endereço.

As condições de possibilidade para o regicídio na guilhotina estavam dadas. O povo iria extirpar a maldição escondida sob o manto real. Isolada em Versalhes, a corte perdeu o contato com o seu povo. Ao fazer isso, perdeu o contato com o poder que estava deixando de ser uma “maldição herdada a contragosto”. A fonte do poder estava mudando, passando do terreno divino para o plano humano.

A perplexidade de Luís XVI e Maria Antonieta deve ter sido real. No filme, após a queda da Bastilha, as sugestões de leitura de Sidonie para a rainha vão ficando cada vez mais restritas e difíceis. O que ler no momento em que o mundo que você conhece está ruindo à sua volta? A maldição do poder acabou finalmente caindo sobre as cabeças de Maria Antonieta e Luís XVI, ou melhor, sobre seus pescoços.

XIX Encontro Regional de História - ANPUH

Prezados, solicitamos a gentileza de divulgar entre seus contatos:

Estão abertas as inscrições para o XIX Encontro Regional de História da ANPUH/MG: Profissão Historiador: formação e mercado de trabalho a ser realizado, na Universidade Federal de Juiz de Fora entre os dias 28 e 31 de julho de 2014.
Até o dia 21/02/2014, receberemos inscrições de propostas de Coordenação de Simpósio Temático e Minicurso.
As inscrições de apresentadores de trabalho em Simpósio Temático e de participantes em Minicurso serão iniciadas no dia 10/03/2014
Contamos com a colaboração de todos!

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Associação Nacional de História - ANPUH
Seção Minas Gerais

sábado, 14 de dezembro de 2013

O Brasil mudou; a imprensa, não



Jornalismo e história
 
Do Observatório da Imprensa
 
Por Luciano Martins Costa 
 
A Folha de S. Paulo denunciou, em manchete na primeira página, o desenrolar de uma tentativa de golpe no Brasil. No texto, há referências à “evolução de acontecimentos políticos”, observando que “as autoridades governamentais são obrigadas a dedicar quase que o tempo integral de seus esforços em solucionar crises político-militares ou sociais nascidas ou provocadas artificialmente”.
 
A reportagem, de autoria do jornalista Plínio de Abreu Ramos, foi publicada no dia 13 de dezembro de 1963, pouco menos de seis meses antes do golpe militar que derrubou o então presidente João Goulart.
 
A referência a esse episódio está na seção “Há 50 anos”, que a Folha publica na edição de sexta-feira (13/12). O personagem central é o general Jair Dantas Ribeiro, então ministro da Guerra, defensor do legalismo nas Forças Armadas, que buscava desmontar o golpe que estava sendo articulado no ambiente militar com apoio dos principais jornais do país.
 
No texto do documento reservado, obtido pelo repórter Abreu Ramos (ver aqui), o ministro alertava para a “tentativa de radicalização de posições entre direita e esquerda”, denunciando “o sensacionalismo da imprensa, sendo que alguns jornais estão certamente comprometidos com a agitação” e “a atuação violenta de grupos exaltados da oposição (...)”.
 
 
Aquele 13 de dezembro também era uma sexta-feira. A crise de governabilidade completava pouco mais de dois anos, iniciada logo após a renúncia de Jânio Quadros e agravada com a recusa dos partidos conservadores, insuflados por parte da imprensa, em aceitar a posse do vice-presidente, João Goulart.
 
Os jornais a que o general Dantas Ribeiro se referia eram, entre outros, o Globo e o Estado de S.Paulo, onde proliferavam reportagens e editoriais contra o governo. Os arquivos apontam que outros diários, como o Correio da Manhã, o Jornal do Brasil e a Folha de S.Paulo, aderiram aos golpistas quando tudo indicava que Goulart não poderia mais se sustentar.
 
A reportagem de Plínio de Abreu Ramos, publicada naquela sexta-feira, 13 de dezembro de 1963, foi uma das últimas iniciativas da Folha em favor da legalidade. Depois, o jornal paulista também entraria na corrente pela deposição do presidente.
 
O Brasil mudou, a imprensa não
 
Esses registros têm valor especial na análise da imprensa contemporânea, porque a mesma estratégia utilizada para respaldar o golpe de 1964 foi aplicada a partir de 2006 para desestabilizar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
 
O projeto de poder articulado pelos jornais só não foi bem sucedido porque, nesse período, a economia do Brasil já mostrava sinais de recuperação, após o ciclo negativo iniciado em 1999, e as políticas sociais de geração de renda davam início ao processo de redução da pobreza.
 
Na nova versão dessa mesma estratégia, a “tentativa de radicalização de posições entre direita e esquerda” denunciada pelo general Dantas Ribeiro em 1963, fica por conta de articulistas raivosos, que proliferam em todos os meios, desqualificando o jornalismo e espalhando a irracionalidade.
 
O “sensacionalismo da imprensa” ainda pode ser observado nas manchetes, quase diariamente, mas se deslocou principalmente para as notícias de economia, com sucessivas ondas de pessimismo e campanhas explícitas para desmoralizar o governo.
 
Nesta sexta-feira (13/12), a leitura dos diários indica que a realidade começa a se impor à pauta dos jornalistas. O aspecto mais evidente é a crescente convicção de que a corrupção é um fenômeno generalizado na política nacional, institucionalizada pelas próprias regras do jogo.
 
As versões simplistas sobre uma “máfia de fiscais”, ou o cartel de uma empresa só, desabam sob o peso dos fatos. Por outro lado, as reações à votação do Supremo Tribunal Federal sobre as doações eleitorais de empresas abrem espaço para a discussão sobre a origem dos vícios na política.
 
A imprensa é uma instituição conservadora, em parte porque, para melhor identificar o que é novidade, precisa desenvolver o instinto do ceticismo. A sociedade brasileira mudou muito nos últimos 50 anos – principalmente porque não acredita tão cegamente na imprensa.
 
A principal diferença para aquela outra sexta-feira, 13, parece estar na constatação de que as Forças Armadas aprenderam com a aventura de 1964 e já não se deixam manipular por manchetes de jornais.
(Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-brasil-mudou-a-imprensa-nao)
 
 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sonho americano? Conheça 10 fatos chocantes sobre os EUA



Sonho americano? Conheça 10 fatos chocantes sobre os EUA

Maior população prisional do mundo, pobreza infantil acima dos 22%, nenhum subsídio de maternidade, graves carências no acesso à saúde… bem-vindos ao “paraíso americano”
Por Pragmatismo Político

Os EUA costumam se revelar ao mundo como os grandes defensores das liberdades, como a nação com a melhor qualidade de vida do planeta e que nada é melhor do que o “american way of life” (o modo de vida americano). A realidade, no entanto, é outra. Os EUA também têm telhado de vidro como a maioria dos países, a diferença é que as informações são constantemente camufladas. Confira abaixo 10 fatos pouco abordados pela mídia ocidental.

1. Maior população prisional do mundo
Elevando-se desde os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controle social: à medida que o negócio das prisões privadas alastra-se como uma gangrena, uma nova categoria de milionários consolida seu poder político. Os donos destas carcerárias são também, na prática, donos de escravos, que trabalham nas fábricas do interior das prisões por salários inferiores a 50 cents por hora. Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar chicletes. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres, mas, sobretudo, os negros, que representando apenas 13% da população norte-americana, compõem 40% da população prisional do país.

2. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças norte-americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade econômica para satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.

3. Entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.
O número de países nos quais os EUA intervieram militarmente é maior do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de oito milhões de mortes causadas pelo país só no século XX. Por trás desta lista, escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA conduzem neste momente mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo.
O mesmo presidente criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, superando de longe George W. Bush.

4. Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos por cada empresa, é prática corrente que as mulheres norte-americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes ou depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia.

5. 125 norte-americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de norte-americanos não têm), então há boas razões para temes ainda mais a ambulância e os cuidados de saúde que o governo presta. Viagens de ambulância custam em média o equivalente a 1300 reais e a estadia num hospital público mais de 500 reais por noite. Para a maioria das operações cirúrgicas (que chegam à casa das dezenas de milhar), é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e, como o nome indica, terá a oportunidade de se endividar e também a oportunidade de ficar em casa, torcendo para não morrer.

6. Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo norte-americano.
Esqueçam a história do Dia de Ação de Graças com índios e colonos partilhando placidamente o mesmo peru em torno da mesma mesa. A História dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições atuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmos imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. Em pleno século XX, os EUA iniciaram um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito em idioma que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo oficializar esterilizações forçadas como parte de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e, mais tarde, contra negros e índios.

7. Todos os imigrantes são obrigados a jurarem não ser comunistas para poder viver nos EUA.
Além de ter que jurar não ser um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do Partido Comunista, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada terrorista. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, será automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.

8. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 mil dólares.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente, todos os estudantes têm dívidas astronômicas, que, acrescidas de juros, levarão, em média, 15 anos para pagar. Durante esse período, os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e assim sobreviver. O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel prazer, sem o consentimento ou sequer o conhecimento do devedor. Num dia, deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juros e, no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes norte-americanos cresceu à marca dos 1,5 trilhões de dólares, elevando-se assustadores 500%.

9. Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada dez norte-americanos, há nove armas de fogo.
Não é de se espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior coleção de armas. O que surpreende é a comparação com outras partes do mundo: no restante do planeta, há uma arma para cada dez pessoas. Nos Estados Unidos, nove para cada dez. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, algo em torno de 275 milhões. Esta estatística tende a se elevar, já que os norte-americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.

10. Há mais norte-americanos que acreditam no Diabo do que os que acreditam em Darwin.
A maioria dos norte-americanos são céticos. Pelo menos no que toca à teoria da evolução, já que apenas 40% dos norte-americanos acreditam nela. Já a existência de Satanás e do inferno soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos norte-americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-pré-candidato republicano Rick Santorum, que acusou acadêmicos norte-americanos de serem controlados por Satã.

(fonte: http://revistaforum.com.br/blog/2013/12/sonho-americano-conheca-10-fatos-chocantes-sobre-os-eua/)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Acordo comercial ampliará poder da indústria de transgênicos no mundo

Eles não desistem... Acho que quando terminarem de matar a população mundial talvez eles se esqueçam de produzir venenos...

Acordo comercial ampliará poder da indústria de transgênicos no mundo



A indústria multinacional de agricultura e biotecnologia Monsanto está prestes a mudar os rumos da produção e comercialização de sementes. Baseada no Acordo de Associação Transpacífico (TPP), um grande projeto de livre comércio que inclui 12 países, entre eles Chile, Peru e México, a empresa pode recorrer às leis do acordo para ter livre a rotulagem de alimentos transgênicos, limitando o plantio e a comercialização apenas para a empresa.
De acordo com o TPP, cujos integrantes somam 40% do PIB mundial, um padrão global de empresas será criado sobre os governos dos países envolvidos por meio de um sistema de tribunais. Esses tribunais poderão limitar, por exemplo, o acesso a medicamentos genéricos baratos em favor de medicamentos de marca, e permitir que empresas de cigarro processem governos por regulamentações na área da saúde.
Baseada nisso, a Monsanto pretende ter o controle corporativo do mundo de alimentos, saúde e meio ambiente. De todos, o fator preocupante é o do alimento. Se o controle global for efetivado, sementes que antes eram distribuídas igualitariamente serão distribuídas por apenas algumas corporações transnacionais, controlando não apenas a comida, mas também a saúde e a fonte de renda dos agricultores.
Outro fator preocupante são os produtos transgênicos, que também são defendidos pela Monsanto. A modificação genética mais preocupante envolve insensibilidade a herbicidas à base de glifosato (produtos químicos que matam plantas ditas "daninhas”). Muitas vezes conhecido como Roundup, após o produto mais vendido Monsanto ter esse nome, glifosato envenena tudo em seu caminho, exceto plantas geneticamente modificadas para resistir a ele. O glifosato é um parceiro essencial para os organismos geneticamente modificados, que são o principal negócio da indústria de biotecnologia a expansão.
Três países estão hesitantes e se eles desistirem, todo o acordo irá por água abaixo. Se enviarmos um enorme e forte apelo para líderes no Chile, Nova Zelândia e Austrália. Por isso uma campanha está coletando assinaturas nas Internet para impedir a investida corpor abra sua champanhe. Para assinar e compartilhar acesse: http://www.avaaz.org/po/no_champagne_for_monsanto_loc/?byoCdeb&v=32298
Campanha defende a soberania e a segurança alimentar doBrasil
Um projeto de Lei, o (PL) n° 268/2007 de autoria do deputado Eduardo Sciarra (PSD/PR) ameaça a soberania e a segurança alimentar e nutricional do Brasil. Promovedor da comercialização de sementes conhecidas como ”terminator”, o projeto permitirá a produção e comercialização de sementes transgênicas suicidas, ou seja, sementes que após a colheita não voltam a germinar, obrigando os agricultores a comprar sementes a cada safra. Essas sementes, além de serem estéreis, possuem alto risco de tornar também estéreis as que estejam sendo cultivadas em propriedades próximas.
No Dia Mundial da Alimentação, representantes das organizações e movimentos que apoiam a campanha entregaram uma petição e todas as assinaturas ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Décio Lima. Dentre os apoiadores, estão: ActionAid Brasil, ANA – Articulação Nacional de Agroecologia, AS-PTA, Centro Ecológico,Centro Sabiá, CONTAG, Cooperativa AECIA, Cooperativa Econativa, CTA – ZM, FASE - Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional, FBSSAN - Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, FESANS/RS, Grupo ETC, GEA - Grupo de Estudo em Agrobiodiversidade,Movimento dos Pequenos Agricultores, MMTR-NE, MST, Multirão Agroflorestal, Plataforma Dhesca Brasil, Rede de Mulheres Negras para Segurança Alimentar, Rede Ecovida de Agroecologia, Terra de Direitos e Via Campesina Brasil.
Com informações de Wikileaks, resistir.info e The Ecologist.

(Fonte> http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&cod=79071&lang=PT)

Prostituição infantil: apenas mais uma notícia

Como se pode considerar esse crime uma coisa tão banal, tão provinciana? O promotor que alegou isso devia ser preso junto com os aliciadores, deputados, prefeito e quem mais estivesse envolvido!


PROSTITUIÇÃO INFANTIL

Apenas mais uma notícia

Por Ligia Martins de Almeida (do Observatório da Imprensa)

Notícias como a que foi publicada na edição de domingo (8/12) da Folha de S.Paulo chocam tanto pelo tema (“Quadrilha de exploração sexual orientava adolescentes sobre roupas e truques) como pela naturalidade com que assuntos desse tipo são tratados pela mídia.
O abuso sexual e a exploração de menores (preços variando de 300 reais a 2.200 reais, se a menina fosse virgem) entram na pauta apenas como mais uma matéria policial, quando deveriam ser motivo de revolta, campanha, um escândalo, enfim, a ser escancarado não apenas pela Folha, mas por todos os jornais do pais. Ou será que o abuso de crianças, quando acontece numa capital distante do centro do país – Manaus (AM), no caso –, é encarado pela mídia como uma coisa normal?
Tão chocante quanto a descrição dos métodos usados pelos bandidos é o fato de até hoje (um ano depois de iniciadas as investigações policiais) ninguém ter sido preso. A matéria da Folha diz:
“Quando a ação policial foi deflagrada, em novembro do ano passado, 20 pessoas foram indiciadas sob suspeita de corrupção de menores, favorecimento da prostituição, rufianismo (obtenção de lucro através de exploração sexual) e, em alguns casos, estupro de vulnerável. O Ministério Público ofereceu denúncia. Mas a Justiça, um ano depois, ainda analisa se abrirá processo e reconhece que a investigação anda a passos lentos”.
Por que ninguém foi preso? A explicação foi dada ao jornal pelo desembargador Rafael Romando, relator do caso no Tribunal de Justiça do Amazonas:
“O processo já passou por alguns relatores. Passa de um para outro, que diz que não quer. Tem muita gente conhecida, de colégio, deputado, tinha prefeito. Província, né? Continua a província”.
Inibir o crime
Diz mais, a Folha:
“No final de 2012, Polícia Civil e Ministério Público estavam na fase final das investigações quando, via ação judicial, um dos suspeitos teve acesso ao teor da operação. Foi então que policiais e promotores aceleraram e desencadearam a operação Estocolmo, com 46 mandados de busca e apreensão. À época, dez agenciadores foram presos, mas logo liberados.”
Até hoje, 20 suspeitos continuam em liberdade e suas 31 vítimas – 12 delas menores de idade – esperando que a justiça seja feita.
Mas, com a lentidão da Justiça e o descaso da mídia, o caso pode se arrastar por anos, incentivando aliciadores de menores a agir sem medo de punição, desde que os seus clientes sejam, como disse o promotor, “gente conhecida”.
A prostituição de menores, ao que tudo indica, não é um crime capaz de comover e mobilizar a imprensa. Quando um promotor de Justiça explica a demora em punir os culpados dizendo que é um problema de provincianismo, a gente se dá conta da verdadeira tragédia que é a impunidade.
Enquanto as 31 vítimas aguardam a punição dos culpados, é muito provável que os aliciadores continuem recrutando novas meninas para satisfazer sua clientela. Afinal, eles sabem que estão acima da lei e que vão continuar sendo bem vistos até pela mídia que não tem acesso aos seus nomes, já que o processo corre “em segredo de Justiça”.
Se a mídia insistisse em discutir o assunto, mostrasse o que acontece com quem pratica esse tipo de crime, talvez aliciadores e usuários de seus serviços se sentissem menos seguros para praticar seus delitos. Seria uma tentativa de ajudar a diminuir o abuso sexual de menores.
***
Ligia Martins de Almeida é jornalista

Água radioativa de Fukushima a caminho da costa Oeste dos EUA

Os riscos nossos de cada dia...


Água radioativa de Fukushima a caminho da costa Oeste dos EUA

Enquanto a indústria nuclear e seus aliados no governo minimizam os riscos, cientistas alertam que não há radiação segura. Tradução de Rodrigo Mendes.

Água contaminada por radiação vinda da usina destruída de Fukushima vai em breve atingir a costa Oeste dos EUA, de acordo com a presidenta da Comissão de Regulamentação Nuclear dos Estados Unidos, Allison Macfarlane. As informações são da Bloomberg.
Enquanto a indústria nuclear e seus aliados no governo minimizam os riscos, cientistas alertam que não há radiação segura.
“A quantidade mais alta de radiação que vai chegar a atingir os EUA é da ordem de cem vezes menos que os padrões para água potável”, disse Macfarlane à Bloomberg. “Então, mesmo se desse para beber água salgada, ainda seria uma quantidade bem baixa”.
As reafirmações sobre segurança que ela faz vêm no encalço dos repetidos esforços da TEPCO, da indústria nuclear e do governo japonês de encobrir, minimizar a crescente crise nuclear de Fukushima.
Há cientistas que alertam que afirmações de que a radiação é segura são altamente enganosas.
Mais de 800 pessoas ao redor do mundo terão câncer por comerem peixe contaminado pela radiação liberada por Fukushima no meio de julho de 2013, de acordo com os cálculos do jornal Georgia Straight, baseados em fórmula de risco de câncer desenvolvida pela Agência de Proteção Ambiental e com base nos níveis de radiação detectados em testes feitos pela Agência de Pesca japonesa.
Isso é, provavelmente, a ponta do iceberg, segundo Daniel Hirsch, um conferencista sobre políticas nucleares da Universidade da Califórnia, de Santa Cruz, em entrevista ao Georgia Straight. O número de 800 ainda não contabiliza o consumo futuro de peixe, isótopos não monitorados liberados por Fukushima e uma série de outros fatores que poderia aumentar drasticamente a incidência de câncer, explicou ele.
Cientistas afirmam que é difícil prever a incidência de câncer entre as pessoas na costa Oeste dos EUA, e que essas estatísticas sobre câncer não incluem diversos outros efeitos prejudiciais à saúde, inclusive danos ao coração e problemas genéticos.
“Toda radiação é insegura”, disse Arnie Gundersen, ex-executivo da indústria nuclear, que mudou de lado, em entrevista ao Common Dreams. “Não há nenhum nível seguro”.
Enquanto isso, cidades na costa Oeste ficam mais nervosas. A cidade de Fairfax, na baía de San Francisco, aprovou uma lei essa semana para intensificar os testes feitos nos frutos do mar da costa e demandando redução na radiação emitida por Fukushima.
Gundersen alerta que o perigo só vai aumentar daqui pra frente. “A torneira ainda está ligada. O Pacífico ainda está sendo contaminado”, disse. “Isso não é uma onda, que acontece uma vez, varre a costa e vai embora. Fukushima continua poluindo o oceano”.
Tradução de Rodrigo Mendes.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nossos índios,nossos mortos.

O título deste post, na verdade, é o título de um livro publicado há muitos anos. Nossos índios, nossos mortos. Nunca esteve tão atual. E a pergunta que não quer calar: por que o governo Dilma não sacramenta a demarcação, pondo fim à situação dramática vivida pelos índios? Por quê? Por quê? Estará esperando morrer o último dos Guarani para lamentar que não adianta mais demarcar, porque não existem mais índios?


A resistência guarani em Yvy Katu e seus sentidos


Por Ruy Sposati, no CIMI


Há 45 dias acampados em seu próprio território, os Guarani Ñandeva não dão sinal de que irão ceder às pressões de fazendeiros e às reintegrações de posse contra as ocupações de 14 propriedades que incidem sobre a Terra Indígena Yvy Katu. Localizada entre municípios de Japorã e Iguatemi, fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, a área foi declarada como terra indígena em 2005 pelo governo federal.
Segundo a comunidade, 100% dos 7,5 mil hectares antes ocupados por fazendas está sob o controle dos Guarani. Os fazendeiros utilizavam a terra para criação de gado, que já foi retirado das fazendas pelos proprietários. Estradas e vicinais estão sob o controle dos indígenas. Ao menos duas vezes por semana, famílias e lideranças de todas as áreas retomada se reúnem em assembleias para discutir o dia-a-dia dos acampamentos, compartilhar informações e notícias de jornais locais, e decidir os rumos da luta pela demarcação de Yvy Katu.
Os guerreiros se alinham com suas crianças, arcos, flechas, facões, maracás e lanças; as mulheres com suas taquaras e bebês a tira-colo; as crianças com espadas de brinquedo e galões de água. Uma Nãndesy abençoa a cada um dos indígenas enfileirados, bem como suas armas tradicionais e seus pés. Muitos vestem máscaras, por temer se tornarem alvo de ameaças e ataques individuais dos “seguranças” contratados por fazendeiros.
Em meio a um longo discurso em Guarani durante uma assembleia na última sexta-feira, 22, o trecho em português gritado por uma mulher de 65 anos sintetizou com clareza a posição unânime da comunidade em resistir, sob quaisquer circunstâncias: “Estou aqui com meu povo. Nós somos 5 mil. Aqui tem homens, mulheres, crianças. Nós vamos ficar aqui. Nós não vamos sair. Que venham 20, 40, 200, 1000 tratores. Vocês querem nos matar e nós estamos prontos para morrer. Essa é a minha palavra”.
“A gente é livro vivo” – ouça discurso de liderança em defesa de Yvy Katu
Durante a reunião, os indígenas tomaram conhecimento de que a Justiça Federal de Naviraí concedera, no último dia 18, mais uma reintegração de posse contra a comunidade, em favor da Agropecuária Pedra Branca. Na decisão, a Justiça afirma que a atuação dos indígenas carrega “características de guerrilha e forte oposição ao Estado”. Esta é a segunda reintegração desde o início das novas retomadas, em primeiro de outubro.
A outra decisão judicial veio em favor do proprietário da fazenda Chaparral, Luiz Carlos Tormena, no dia 31 de outubro. Após “tentativa” de execução da ordem de expulsão pela Polícia Federal no dia 6 de novembro – considerada truculenta pelo Conselho do Aty Guasu, grande assembleia Guarani e Kaoiwá do Mato Grosso do Sul -, a Justiça determinou um prazo de dez dias para que os indígenas saíssem voluntariamente das propriedades ocupadas. O prazo venceu na última sexta – e os indígenas não deixaram a Chaparral. Ali, a reintegração é iminente.
“O povo guarani está bastante unido e pronto para resistir a qualquer tipo de ataque ou ameaça”, explica uma das lideranças, que prefere não ser identificada e nem fotografada. “Temos 800 crianças nas escolas que não estão estudando por causa das ameaças. Estamos todos juntos e prontos para morrer”.
Os indígenas relatam ataques, disparos e intimidações por parte de fazendeiros da região, contrastando com o apoio que os indígenas tem recebido da comunidade local – a prefeitura e a presidência da Câmara dos Vereadores de Japorã apóiem abertamente a luta dos Ñandeva. Durante a assembleia de sexta, ao menos dez veículos tentaram trespassar o bloqueio de uma das vicinais que atravessa o acampamento, a menos de 50 metros da reunião.
Antes de retomarem o território de Yvy Katu, os indígenas estavam ocupando apenas 10% da área total reivindicada, por força de decisão judicial. “Nós aceitamos esse acordo [da Justiça] com o compromisso de que enquanto estaríamos nos 10%, a demarcação da terra seria concluída. Mas nós entendemos que foi um erro aceitar esse acordo, porque nos enganaram, porque depois disso tudo ficou parado como estava. Então agora nós só vamos aceitar acordo de 100%. 100% da terra é nossa, nós não vamos sair mais”.
“Jogaram na mídia que conseguiram 500 cabeças de gado pra leilão, para adquirir recursos principalmente para segurança. Quando falam isso, querem dizer jagunço, nós entendemos”, comenta a liderança, a respeito do Leilão da Resistência, organizado por associações de criadores de gado e produtores rurais do estado. “Se acontecer uma tragédia, nós responsabilizamos o governo”.
Organizações sociais lançaram uma carta aberta à presidenta Dilma Rousseff exigindo uma intervenção federal no Mato Grosso do Sul, acusando proprietários rurais de estarem “organizando força paramilitar para atentar contra a vida de coletividades e contra o Estado de direito no Brasil”.
Histórico
Os Guarani reivindicam a conclusão da demarcação da Terra Indígena Yvy Katu, com 9,4 mil hectares.
Estudos da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de uma perícia judicial comprovaram que os Ñandeva ocupavam a área de Yvy Katu no período da colonização da região, de onde foram expulsos em meados de 1928. A maioria dos indígenas foi confinada na reserva de Porto Lindo, localizada no município de Japorã, junto de outras famílias Guarani do sul do estado.
Iniciada há 29 anos, a demarcação da Terra Indígena Yvy Katu, na qual a reserva de Porto Lindo está incorporada, foi interrompida diversas vezes por recursos judiciais. Em 2003, para pressionar o governo e o judiciário, os indígenas realizaram a primeira retomada de seu território tradicional, expulsando não-indígenas de 14 diferentes fazendas na área reivindicada.
Em junho de 2005, o Ministério da Justiça editou a Portaria no. 1289, declarando os 9,4 mil hectares de Yvy Katu como de posse permanente dos indígenas. A demarcação física já foi realizada, faltando apenas a homologação pela Presidência da República, ato final da demarcação. Os indígenas ocupam, atualmente, 10% do total da área demarcada, por força de decisão judicial.
Em março deste ano, a Justiça considerou nulos os títulos de propriedade incidentes sobre a Terra Indígena Yvy Katu, atestando a validade do processo demarcatório da área.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O que estão esperando para acabar com as torcidas organizadas?!

Reproduzo, abaixo, o post do Blog da KikaCastro de hoje. E acrescento citações de um livro que li recentemente, muito a propósito.


O que estão esperando para acabar com as torcidas organizadas?!

by Cristina Moreno de Castro
Domingão, último jogo do Galo no Brasileiro, volta do Ronaldinho, véspera da estreia no Mundial -- enfim, muitos motivos para comemorações futebolísticas. Meio alheia a tudo isso, eu estava no carro, a caminho do jornal, para o plantão de fim de semana, quando levei o maior susto, com fogos de artifício sendo estourado na calçada ao lado. Logo surge uma pequena multidão, que entra invadindo a avenida, mesmo com o sinal verde para os carros. Primeira coisa que passou pela minha cabeça: as cenas dos protestos de junho, que eram sempre daquele jeito mesmo, a invasão dos espaços públicos. Mas quem seriam esses manifestantes? Segunda coisa que pensei: arrastão. Fechei os vidros do carro, mesmo com o calor da falta do ar condicionado. Até que vi as camisas da multidão: Galoucura.
No carro ao lado, o motorista usava uma camisa vermelha do Bayern de Munique, o time que deve enfrentar o Galo no Mundial de Futebol. Dois adolescentes da Galoucura se postaram em frente ao carro dele -- e do meu -- e começaram a xingá-lo e fazer gestos agressivos. Buzinei: o sinal tinha aberto de novo, eu não queria ficar ali. Finalmente, alguns segundos depois, os caras me viram e resolveram ir até a calçada, liberando a rua.
Eu tremia. Ali havia pelo menos 50 jovens, provavelmente alguns armados, agressivos, agindo, em tese, em nome de uma torcida de futebol. Mas qual a diferença entre eles e qualquer outra gangue ou quadrilha? Ou entre eles e um grupo de pessoas que promove linchamento? Nenhuma: em todos os casos, se sentem acima da lei e muito mais poderosos pelo pertencimento a um grupo mais forte. Se cruzarem com alguém a pé, com a camisa do Bayern ou do Cruzeiro, o que farão contra essa pessoa? Se eu, atleticana, estivesse a pé, usando, digamos, uma blusa azul, correria risco? Ou se apenas quisessem implicar com a minha buzinada?
Assim como a Galoucura, eu poderia falar da Máfia Azul, Dragões da Real, Mancha Verde, Gaviões da Fiel, qualquer outra. Mas escolhi, de forma proposital, a torcida organizada do meu time, porque o que vou defender neste post independe de futebol. Aliás, nada tem a ver com futebol.
Quero o fim das torcidas "organizadas". Que hoje em dia nada mais são do que gangues, que promovem a violência dentro e fora dos estádios.
Tanto nada tem a ver com futebol que, em plena festa do título do Cruzeiro pelo Campeonato Brasileiro, duas torcidas rivais -- Máfia Azul e Pavilhão -- resolveram brigar. A coisa ficou tão feia que a festa foi cancelada, prejudicando torcedores reais, que tinham motivo real de comemoração. E são, em tese, torcedores do mesmo time!
Tanto nada tem a ver com futebol que, quando vimos aquele escândalo no jogo Vasco x Atlético-PR na tarde de ontem, com torcedores tentando matar, literalmente, uns aos outros, com gente desacordada no chão sendo chutada por vários, os jogadores -- ídolos? -- iam conversar com suas próprias torcidas e eram recebidos aos gritos de ódio.
Ouço de pessoas nem tão mais velhas assim que ir ao estádio, há alguns anos, era um prazer e um divertimento. Que era possível haver partidas, inclusive clássicos, com torcedores misturados na arquibancada, sem necessidade de barreira, de policiamento fortíssimo (como o que faltou na Arena Joiville, contribuindo para os quase-assassinatos vistos). Que dava até para levar as crianças numa boa, com segurança. Que a rivalidade em campo se restringia exclusivamente ao jogo, ao futebol, ao esporte, e nunca era extrapolada para inimizades, agressões, violências gratuitas. Que um placar de jogo era só um placar de jogo e não um decreto de morte.
Quem mudou essa história foram as torcidas organizadas. As gangues armadas de desmiolados. Há anos, propõe-se cadastrar esses sujeitos, proibí-los de ir ao estádio, desarticular as agremiações. Parte dessas medidas está prevista no Estatuto do Torcedor, que é lei federal desde 2003. Mas, de que adianta? As coisas só pioraram nesses dez anos. O corintiano que esteve preso na Bolívia após a morte de um adolescente se envolveu em briga contra a torcida do Vasco logo que foi solto. Banido dos estádios com base no Estatuto do Torcedor, ele burlou a proibição e compareceu em um jogo contra o Grêmio apenas dois meses depois.
Então, não adianta dizer que o sujeito está banido dos estádios por alguns meses. Isso não vai contê-lo. Tem que reprimir e proibir a existência das torcidas organizadas. Tem que adotar leis mais severas -- que precisam ser cumpridas --, assim como a Inglaterra fez para conter seus hooligans, que eram tão agressivos que, em 1985, causaram a morte de 38 pessoas em um único jogo. Naquele país, a própria federação inglesa baniu seus clubes das competições europeias por cinco anos. Suas leis preveem, além de prisão de até quatro anos, banimento dos estádios por até dez anos, inclusive fora do Reino Unido, para os que se envolverem em confusão. Em caso de reincidência, há previsão de afastamento dos campos para sempre. Também há multas pesadas, grande policiamento e vigilância intensa com câmeras. Resultado: a violência caiu e os hooligans estão sumidos pelo menos desde 2006.
O que eu sei é que não dá para continuar assim. Tendo medo de ir ao estádio para torcer pelo meu time e, pior, chego até mesmo a ter medo de andar pelas ruas vestindo uma cor específica (que dirá uma camisa oficial). Que a chegada da Copa do Mundo sirva para acordar as autoridades brasileiras para o que já é óbvio há anos: é preciso acabar com essas gangues organizadas e agir de forma mais severa contra torcedores-bandidos encamisados e nada organizados.
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Este ódio que está se espalhando pelo país (pelo mundo?), obviamente não se restringe ao futebol e às torcidas organizadas. Ele está intimamente relacionado ao Fanatismo, que se expressa no campo da religião, da política, da etnicidade (ou do racismo, como dizem alguns). E, infelizmente, também no campo do lazer, especificamente nos campos de futebol. Será por mero acaso que agora os estádios são chamados de ARENAS? As arenas famosas da Antiguidade eram as romanas, onde gladiadores lutavam até a morte, onde pessoas eram jogadas aos leões. Coincidência?
" Os fanáticos, como nos explica o escritor Amós Oz, são ' aqueles que acreditam que o fim, qualquer fim, justifica os meios', que acham que a justiça - ou o que quer que queiram dizer com a palavra justiça -, seus valores, suas convicções e crenças são mais importantes do que a vida".
" O assunto é preocupante. Qualquer pessoa de bom senso sabe que o fanatismo já provocou muito estrago. É mais que hora de ser identificado, compreendido e combatido. Para tanto, é preciso saber reconhecê-lo em suas diversas manifestações. Saber até onde foi para se ter uma ideia de até onde poderá ir, se não for detido."
"Confrontos violentos entre torcidas organizadas não ocorrem ao acaso, por mera coincidência. São manifestações programadas, baseadas em estratégias militares, envolvendo táticas como: ação de batedores, linha de frente, retaguarda, caças e emboscadas, além de armamentos [...]. Essas táticas e armamentos fazem parte do cotidiano das torcidas organizadas e são utilizadas contra o oponente sempre que os agressores julgarem necessário."
As citações em itálico, acima, foram retiradas do livro Faces do Fanatismo, organizado por Jaime e Carla Pinsky, publicado pela editora Contexto em 2004. (páginas 11,13 e 270, respectivamente).
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