sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Aécio conhece pouco a Petrobrás

O autor do texto que reproduzo hoje é antigo colaborador dos meus blogs. E sempre que vejo um artigo dele, fico com ânsias de reproduzir, pois o considero uma pessoa muito sensata. Este artigo foi "chupado" do Blog da Kika Castro, filha do José de Castro:


Aécio conhece pouco a Petrobrás.

Texto escrito por José de Souza Castro:
Oportuno e esclarecedor o artigo do ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) Haroldo Lima, que ficou no cargo durante oito anos, até dezembro de 2011, sobre a redução, em 36%, do lucro líquido da Petrobras, em 2012. Oportuno, porque foi divulgado no mesmo dia em que a imprensa deu grande destaque ao discurso do senador Aécio Neves, do PSDB mineiro, da tribuna do Senado, apontando os “13 fracassos” do PT no governo, a quem acusou de colocar “em risco as principais empresas públicas nacionais, como a Petrobras e a Eletrobras”.
Antes de continuar, vamos ver quem é Haroldo Lima. Baiano, nasceu em Caetité em 1939, estudou engenharia elétrica na Universidade Federal da Bahia, ingressou no movimento estudantil e, a partir de 1972, até ser preso quatro anos depois, foi membro da Comissão Executiva do Comitê Central do PCdoB, responsável pela Guerrilha do Araguaia. Solto em 1979, com a anistia política, ajudou a fundar o PMDB baiano, elegendo-se deputado federal em 1982. Em 1985, com a legalização dos partidos de esquerda, voltou ao PCdoB, e reelegeu-se para a Câmara dos Deputados até 2002, quando foi derrotado como candidato ao Senado. No ano seguinte, Lula o nomeou diretor-geral da ANP.
Voltemos à Petrobras, empresa que, segundo a imprensa – e agora Aécio – vem sendo usada pelo governo para conter a inflação e, desse modo, está sendo posta em risco. Os acionistas que têm lucrado muito com a maior estatal brasileira não se conformam com um lucro de apenas R$ 21,18 bilhões em 2012.
Para dar clareza à situação atual, o ex-dirigente da ANP faz um histórico dos balanços da Petrobras. De 1995 a 1999 – portanto, no governo tucano –, o lucro foi em média de R$1,19 bilhão. Nos três anos seguintes, saltou para R$ 6,93 bilhões em média, por ano. A partir de 2003, nos oito anos do governo Lula, ficou em R$ 25,5 bilhões, na média, atingindo um recorde de R$ 35,19 bilhões em 2010. “Nenhuma empresa brasileira teve durante tanto tempo lucros tão excepcionais”, afirma Haroldo Lima. Nos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff, a média de lucros passou a ser de R$ 27,25 bilhões. “Vê-se assim que o lucro de R$ 21,18 bilhões de 2012 está longe de ser um desastre e nada tem a ver com risco de ‘desmonte’ da Petrobras”, completa.
Esclarece Haroldo Lima que o fundamental para os lucros de uma grande petroleira é o preço do petróleo. Só por isso, o lucro da Petrobrás multiplicou-se por seis, entre 2000 e 2002. E aumentou ainda mais nos anos seguintes, com o preço do barril do petróleo chegando a US$134 em meados de 2008. As maiores petroleiras do mundo lutam por garantir seus lucros nos postos de gasolina, “mas sabem que o maior lucro não vem do posto, mas do poço”. Alguns dos fatores que interferem na formação do lucro, como a produção, a demanda de óleo e seus derivados, a rede de distribuição, a exportação, a competência de seus dirigentes, atingem indistintamente as petroleiras.
Por isso, no início do segundo semestre de 2012, acrescenta Lima, “de 20 grandes petroleiras, 11 tiveram prejuízos, sendo que, das dez maiores, apenas uma cresceu, a Exxon. Todas as demais tiveram queda de lucro. E a Exxon cresceu porque vendeu ativos”. Desse modo, o recuo de 36% no lucro da Petrobras não é algo estranho ao mundo dos grandes negócios. Mas é um problema que precisa ser compreendido e corrigido, a começar pela identificação de suas causas.
Para o autor, a imprensa brasileira errou ao identificar, como causa, a decisão do governo de não permitir o aumento do preço da gasolina, já que parte dela era importada a preço maior. Se o motivo fosse esse, não teria ocorrido o salto do lucro da Petrobrás durante praticamente toda a década de 2000, quando o preço da gasolina para o consumidor brasileiro ficou estável. Além disso, não é verdade que os preços tenham ficado congelados nos dois anos seguintes. Em novembro de 2011, os preços da gasolina subiram cerca de 10% e os do diesel, 2%. Em junho de 2012, o governo deixou de cobrar a Cide, o que favoreceu a Petrobras. [Embora tenha prejudicado estados e municípios].
O prejuízo da Petrobras com a importação da gasolina, no segundo trimestre de 2012, foi de R$ 400 milhões e, com o diesel, de R$ 1,9 bilhão. Mas esses prejuízos são relativamente pequenos frente à receita das vendas totais: R$ 69 bilhões, com alta de 3%, comparada ao trimestre anterior.
A causa principal da redução do lucro, conclui Haroldo Lima, foi o prejuízo cambial. “Só no segundo trimestre do ano passado, o dólar saltou de R$ 1,80 para R$ 2,04, e a empresa teve que provisionar perdas de R$ 6,4 bilhões. Simulação de um especialista da ANP mostrou que, mantidas as importações da gasolina e do diesel, e sem aumentar seus preços internos, se não houvesse o prejuízo cambial, a Petrobras teria saído, no segundo trimestre de 2012, de um prejuízo de R$ 1,38 bilhão para um lucro de R$ 5 bilhões”.
Mais algumas causas da redução do lucro: queda da produção, desvalorização de estoques, aumento das importações de gás natural liquefeito (GNL), por causa da entrada em operação das usinas térmicas, entre outras.
O mais importante, nesse artigo de Haroldo Lima, é sua conclusão:
“Uma petroleira estatal como a Petrobras tem como objetivos: ajudar o Estado a desenvolver o país, alavancar a indústria e os serviços, propiciar o surgimento de pequenas e médias empresas setoriais; tem também o dever de se afirmar como grande empresa, aumentando sua produção e modernizando-se. Na convergência dessas finalidades deve garantir ao povo combustível bom e a preços módicos”.

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