sábado, 29 de junho de 2013

Qualquer coincidência é mera semelhança???

Claro que o título deste post é um trocadilho, mas vale a pergunta, feita da maneira correta: Qualquer semelhança será mera coincidência?

Política na era digital: Tentando controlar a explosão da bomba demográfica


por Luiz Carlos Azenha
A História dos Estados Unidos se confunde com a História das intervenções de Washington para conquistar territórios, trocar ou debilitar regimes ou provocar mudanças que beneficiem os interesses políticos, econômicos ou diplomáticos do império. Isso está fartamente documentado.
Por exemplo, no livro Killing Hope: US military and CIA interventions Since World War II, que descreve as intervenções clandestinas ou abertas promovidas pelo governo norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial. Nós mesmos já experimentamos isso, em 1964.
Nos anos 80, quando o conservador Ronald Reagan ocupava a Casa Branca, apoiava governos direitistas ou grupos guerrilheiros que combatiam regimes de esquerda na Nicarágua, El Salvador, Honduras e Guatemala.
Foram guerras brutais na América Central. Através do tenente coronel Oliver North, a Casa Branca fez um arranjo pelo qual vendia armas clandestinamente ao governo do Irã, que sofria um boicote internacional — liderado pelos Estados Unidos! — e usava o dinheiro para financiar os contras, que combatiam o governo de esquerda da Nicarágua. Descoberto o escândalo, o esquema implodiu.
Espertamente, Reagan redesenhou a iniciativa, para atender também aos democratas e garantir dinheiro do Congresso, que estava reticente no financiamento a ações clandestinas da CIA desde a guerra do Vietnã.
Formou-se o National Endowement for Democracy, NED, que passou a transferir dinheiro público para institutos ligados ao Partido Republicano, ao Partido Democrata, à maior central sindical dos Estados Unidos e ao empresariado.
Foi a forma de garantir amplo apoio, nos Estados Unidos, à ideia de “promover a democracia” adequada, ou seja, a democracia que atendesse aos interesses estratégicos de Washington. A estes institutos se juntaram muitos outros, com destaque para a Freedom House e a Open Society, do especulador George Soros.
Formou-se, assim, uma ampla rede horizontal e não hierarquizada de entidades sediadas em Washington, que recebe financiamento público ou de empresas e milionários, para promover no mundo as ideias da privataria. Uma rede que é a fachada pública do aparato clandestino de mudança de regime, que se apoia na CIA e no Pentágono.
Esse aparato atuou, por exemplo, na série de revoluções coloridas do Leste Europeu e, mais recentemente, na Bolívia, Venezuela e Irã, além de incentivar grupos que participaram da dita Primavera Árabe, desde a Tunísia até o Egito. O objetivo não é apenas derrubar governos, mas fragilizar regimes e torná-los incapazes de levar adiante reivindicações nacionalistas; assim, ficam mais vulneráveis à pressão externa.
As mudanças no Egito, por exemplo, preservaram o essencial: uma política econômica neoliberal, dependência de financiamento dos Estados Unidos e não ruptura dos acordos de paz com Israel.
Em sua encarnação do Leste Europeu, as “revoluções coloridas” tinham tido algumas características bem definidas: slogans e imagens de fácil entendimento, mobilização da juventude através de redes sociais, tentativa de unificar grupos de oposição e ações de desobediência civil nas ruas. Foi assim, também, na Primavera Árabe.
Obviamente, os movimentos não teriam tido sucesso se não existissem condições políticas e sociais para tanto: desemprego, ausência de serviços públicos e uma demografia favorável (grande número de jovens descontentes). Diante de um quadro de mudança inevitável, por que não aproveitar e influir nela?
Mais recentemente, a este esforço por mudanças pró-Estados Unidos se juntaram as principais empresas do mundo digital. Antes, uma explicação se faz necessária.
Durante seus dois mandatos, o republicano George W. Bush tirou crescentemente o poder da diplomacia do Departamento de Estado e transferiu atribuições para o Pentágono. O sucessor dele, Barack Obama, restaurou parcialmente o equilíbrio, com nova ênfase no soft power dos diplomatas e das ações não clandestinas.
Foi neste contexto que a secretária de Estado Hillary Clinton apoiou com entusiasmo, em 2008, a formação da AYM, a aliança dos movimentos da juventude, um movimento internacional de ativistas pela democracia e os direitos humanos. A ideia de formar o grupo mobilizou, entre outros, um ex-assessor de Hillary e de sua antecessora, Condoleezza Rice, Jared Cohen, diretor do Google.
Cohen é co-autor do livro The New Digital Age: Re-shaping the Future of People, Nations and Business [A Nova Era Digital: Redesenhando o Futuro das Pessoas, Nações e Negócios]. Além de combater regimes supostamente opressivos, diz-se guru no enfrentamento da “radicalização”, palavra-chave nos Estados Unidos para a esquerda em geral.
A segunda conferência internacional do grupo que ele ajudou a fundar, em 2009, na Cidade do México, foi patrocinada pela Causecast.org, Facebook, Gen Next, Google, Hi5, Howcast Media, MTV, MySpace, PepsiCo, Univision Interactive Media, Inc., Departamento de Estado [dos Estados Unidos], WordPress.com e YouTube.
Ou seja, todos os pesos pesados do mundo digital em parceria com o governo dos Estados Unidos!
O objetivo do Movements.org é “promover mudanças sociais positivas através de ferramentas e tecnologias do século 21″. Mudança positiva? Um Milhão de Vozes contra as FARC na Colômbia, por exemplo, cujo objetivo é evitar a participação de ex-integrantes das FARC no sistema político colombiano.
Do ponto de vista estratégico, esse conjunto de ações acima descritas parece refletir a evolução da preocupação dos Estados Unidos com as mudanças inevitáveis derivadas de uma juventude cujas aspirações não podem nem vão ser atendidas pelo neoliberalismo. Uma tentativa de direcionar a energia da chamada “bomba demográfica”. De incentivar, através das redes sociais e de novas tecnologias, um movimento de jovens que se contraponha a uma saída pela esquerda: em defesa do empreendedorismo, da livre iniciativa, contra a cobrança de impostos, contra o Estado ‘inchado e perdulário’, contra a regulamentação das corporações e do sistema financeiro e assim por diante.
Como nós mesmos, no Brasil, temos lidado recentemente com uma rebelião de juventude, é importante ficar alerta.
Abaixo, uma reportagem do diário britânico Guardian, de 2004, sobre as revoluções coloridas. Um texto simpático aos Estados Unidos, mas revelador dos métodos empregados:
Uma campanha dos Estados Unidos por trás da confusão em Kiev
The Guardian, Friday 26 November 2004 00.03 GMT
Com seus sites e colantes, seus golpes publicitários e slogans, cujo objetivo é acabar com o medo causado por um regime corrupto, os guerrilheiros da democracia do movimento jovem Pora, da Ucrânia, já conseguiram uma vitória importante — qualquer que seja o resultado do impasse em Kiev. A Ucrânia, um país tradicionalmente passivo na política, foi mobilizada pelos jovens ativistas da democracia e nunca mais será a mesma. Mas se os ganhos da chamada revolução laranja são da Ucrânia, a campanha é uma criação dos Estados Unidos, um sofisticado e brilhante exercício de marketing de massa que, em quatro paises em quatro anos, foi usado para tentar denunciar eleições fraudadas e derrubar regimes indesejados.
Financiados e organizados pelo governo dos Estados Unidos, com a ação de consultores, pesquisadores, diplomatas, apoio de ONGs e dos dois principais partidos norte-americanos, a campanha foi primeiro usada na Europa em Belgrado, em 2000, para derrotar Slobodan Milosevic nas urnas.
Richard Miles, embaixador dos Estados Unidos em Belgrado, teve um papel-chave. No ano passado, já como embaixador dos Estados Unidos em Tbilisi, repetiu o truque na Georgia treinando Mikhail Saakashvili para a derrubada de Eduard Shevardnadze.
Dez meses depois de seu sucesso em Belgrado, o embaixador dos Estados Unidos em Minsk, Michael Kozak, um veterano em operações similares na América Central, notadamente na Nicarágua, organizou uma campanha praticamente idêntica para tentar derrubar o homem forte da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
Mas fracassou. “Não haverá Kostunica na Bielorrússia”, declarou o presidente do país, se referindo à vitória da campanha em Belgrado. Mas a experiência ganha na Sérvia, Georgia e Bielorrússia foi valiosa no planejamento da derrubada de Leonid Kuchma em Kiev.
A operação — promover a democracia através das urnas e desobediência civil — foi tão bem desenvolvida que os métodos amadureceram num formato para ganhar eleições dos outros. No centro de Belgrado, existe um escritório cheio de jovens letrados na internet que se denominam Centro para a Resistência não Violenta. Se você quer saber como derubar um regime que controla a mídia, os juizes, os tribunais, o aparato de segurança e as seções eleitorais, os jovens ativistas de Belgrado podem ser contratados.
Eles emergiram do movimento estudantil anti-Milosevic, Otpor, que significa resistência. A marca chamativa e de apenas uma palavra é importante. Na Georgia, no passado, uma movimento estudantil paralelo era Khmara. Na Bielorrússia, Zubr. Na Ucrânia, é Pora, que significa “chegou a hora”.
Otpor também tinha um slogan simples e potente que apareceu em todo lugar na Sérvia em 2000 — com as palavras “gotov je”, significando “está acabado”, numa referência a Milosevic. O logo de um punho cerrado, em negro, completa o marketing brilhante. Na Ucrânia o equivalente é um cronômetro, significando que os dias do regime de Kuchma estão contados. Colantes, pichações e blogs são as armas dos jovens ativistas. A ironia e a comédia nas ruas servem para desgastar o regime e foram bem sucedidos na tarefa de acabar com o medo do público.
No ano passado, antes de se tornar presidente da Georgia, o sr. Saakashvili, educado nos Estados Unidos, viajou de Tbilisi a Belgrado para ser treinado em técnicas de desafio em massa. Na Bielorrússia, a embaixada dos Estados Unidos organizou o despacho de jovens líderes de oposição ao Báltico, onde eles se encontraram com sérvios que vieram de Belgrado. No caso da Sérvia, dado o ambiente de hostilidade, os norte-americanos organizaram a derrubada desde a Hungria — Budapeste e Szeged. Em semanas recentes, vários sérvios viajaram para a Ucrânia. Um dos líderes de Belgrado, Aleksandar Maric, foi barrado na fronteira.
O Instituto Nacional Democrata, do Partido Democrata, o Instituto Internacional Republicano, do Partido Republicano, o Departamento de Estado e a USAid foram as maiores agências envolvidas na campanha, assim como a Freedom House e a Open Society do bilionário George Soros.
Firmas de pesquisa dos Estados Unidos e consultores profissionais foram contratados para organizar “focus groups” e estudar dados de eleições anteriores. As oposições, geralmente divididas, foram unidas sob candidato único para ter chance de derrotar o regime. O líder é escolhido de forma objetiva e pragmática, mesmo que for anti-americano. Na Sérvia, os pesquisadores da Penn, Schoen and Berland Associates* descobriram que o líder — mais tarde assassinado — da oposição, Zoran Djindjic, não tinha chance de derrotar Milosevic em eleições livres. Foi persuadido a abrir mão para o anti-ocidental Vojislav Kostunica, agora primeiro ministro da Sérvia.
Na Bielorrússia, autoridades dos Estados Unidos deram ordem à oposição para que se unisse em torno do velho sindicalista Vladimir Goncharik, que tinha apelo junto aos tradicionais eleitores de Lukashenko.
Oficialmente, o governo dos Estados Unidos gastou 41 milhões de dólares para organizar e financiar a operação de um ano para se livrar de Milosevic, a partir de outubro de 1999.
Na Ucrânia, a quantia é de cerca de 14 milhões de dólares.
Além do movimento estudantil e de uma oposição unida, outro elemento chave do projeto é o que é conhecido como “tabulação paralela dos votos”, uma forma de enfrentar fraudes usadas por regimes sem reputação. Existem monitores profissionais estrangeiros de entidades como a Organização para Cooperação de Segurança da Europa, mas as eleições ucranianas, como as de outros paises, também incluiram milhares de monitores locais treinados e pagos por grupos ocidentais. A Freedom House e o NDI, do Partido Democrata, ajudaram a financiar e organizar “o maior monitoramento civil regional de eleições” na Ucrânia, envolvendo mais de 1000 observadores treinados.
Também organizaram pesquisas de boca de urna. Na noite de domingo elas deram ao sr. Yushchenko uma vantagem de 11 pontos, definindo a agenda das próximas horas. As pesquisas são críticas porque permitem à oposição a tomada da iniciativa contra o regime, invariavelmente aparecendo primeiro, recebendo grande cobertura da mídia e deixa com as autoridades o ônus de responder.
O estágio final do molde dos Estados Unidos para mudar regimes diz respeito a como reagir se o governo tenta roubar a eleição. Na Bielorrússia, o presidente Lukashenko venceu e a resposta foi mínima. Em Belgrado, Tbilisi e agora em Kiev, onde inicialmente os governos tentaram se manter no poder, o conselho era manter a calma mas também a determinação, com a organização de demonstrações maciças de desobediência civil, que devem permanecer pacíficas mas podem provocar o regime a retaliar de forma violenta.
Se os eventos em Kiev validarem as estratégias dos Estados Unidos para ajudar outros povos a vencer eleições e tomar o poder de regimes anti-democráticos, é certo que o exercício será repetido em outros lugares do mundo pós-soviético. Os lugares que devemos olhar agora são a Moldóvia e outros países autoritários da Ásia central.
PS do Viomundo1: Estas revoluções coloridas levaram a Rússia a banir o envolvimento de ONGs financiadas pelos Estados Unidos em ações políticas locais.
PS do Viomundo2: *No referendo revogatório de Hugo Chávez, em 2004, a empresa divulgou em Nova York, quando as urnas ainda estavam abertas na Venezuela, uma previsão de que Chávez perderia por 59 a 41%. A legislação venezuelana proibia a divulgação de pesquisas, mas a empresa burlou a lei divulgando a pesquisa nos Estados Unidos e disseminando o resultado pela internet na Venezuela. Chávez venceu por 59% a 41%. Douglas Schoen atribuiu o resultado à “fraude maciça”. Que é justamente o papel que se esperava dele em uma disputa marcada pela controvérsia: tirar a legitimidade do resultado.  Em 2006, de novo, a empresa cometeu um erro grosseiro na Venezuela. Em 15 de novembro publicou uma pesquisa dizendo que Chávez tinha vantagem de 48% a 42% sobre Manuel Rosales. Dias antes da votação, Douglas Schoen disse que o resultado seria apertado. Chávez venceu com quase 63% dos votos (do meu texto Queimando a Língua com as Pesquisas). A PBS teve contratos com o Departamento de Estado americano, o que talvez ajude explicar os “fenômenos” acima citados.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Meu definitivo (espero!) post sobre os protestos

Hoje, quarta-feira, 26 de junho de 2013. A primeira boa notícia: a PEC 37 foi rejeitada por quase a totalidade dos deputados presentes ao plenário.
Hoje à tarde tem o jogo do Brasil no Mineirão. Não tenho a menor ideia do que poderá acontecer, só tenho a lamentar a atitude INSANA do prefeito Márcio Lacerda em decretar feriado. O que ele queria? que mais pessoas pudessem ir ao Mineirão ver o jogo? Como, se os ingressos são CARÍSSIMOS e já estavam vendidos? Então, fico pensado a crer que ele não foi INSANO, mas OPORTUNISTA, que ele é dos que acreditam que quanto pior, melhor. Decretando feriado ele disponibilizou milhares de pessoas para engrossar a passeata já programada, sabendo que o grupo de desordeiros que sempre se infiltra vai atuar e vai receber o troco dos policiais. E por que isso seria oportunismo? Não nos esqueçamos que Eduardo Campos é do mesmo partido do prefeito e é pré-candidato à presidência da República em 2014. Para o PSB, se tudo der errado hoje, repercute na presidenta Dilma e reforçará o grito dos que querem derrubá-la antes das eleições.
É a minha opinião.

Deixo a vocês uma lúcida interpretação do que está ocorrendo e que prá mim será o último post que vou dedicar ao assunto. A partir de amanhã outros temas terão lugar por aqui!


Perguntas e respostas sobe um movimento que está mudando a face do país -- e cujo futuro, em aberto, depende também de você. Por Antonio Martins


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Querem colocar um cadáver no colo da Presidente

Prestem atenção, fundamentalmente, no que assinalei em cores no artigo do médico mineiro


Médico diz que polícia dificultou socorro a feridos em BH

Por César (BH)
Do O Tempo
Em carta, médico afirma que polícia dificultou ajuda a feridos em manifestação
Texto relata momentos em que a polícia teria agido com violência contra quem tentava atender vítimas feridas na manifestação deste sábado (23).
Uma carta escrita pelo médico Giovano Iannotti sobre sua participação nas manifestações deste sábado (22) em Belo Horizonte têm ganhado a atenção dos usuários na internet. O texto, que relata a suposta violência da Polícia Militar de Minas Gerais no trato com os manifestantes, já foi compartilhado mais de 600 vezes na rede social Facebok.
No relato, Giovano, que também é professor de medicina, explica que foi à manifestação juntamente com a esposa, também médica, preparados para tentar ajudar a atender vítimas, levando uma mochila com alguns insumos para tratamento de pequenos ferimentos e limpeza de olhos irritados por gás. No texto, ele relembrou que o protesto foi pacífico durante todo o trajeto praça Sete-Pampulha, mas ao chegar ao limite imposto pelo cordão policial, que impede a chegada ao Mineirão, a violência teve início.
Segundo ele, os policiais militares dificultaram em todo o momento a tentativa de ajuda por parte dos médicos e alunos de medicina, que estavam no local com o professor. Em um dos momentos, Giovano conta que identificou-se à polícia como profissional da área da saúde para atender a um senhor ferido na cabeça. “A resposta foi uma arma apontada contra meu peito. Pedi para falar com algum oficial, mas a PM recomeçou a atirar”, conta.
Além disso, ele afirma que, em determinado momento, um sujeito com o rosto tampado por uma camiseta o viu ajudando uma vítima, se aproximou dele e disse que era policial e iria pedir aos demais militares para que não atirassem neles, para que o ferido pudesse ser retirado do local.
Giovano também fala sobre a solidariedade recebida por parte de pessoas com camiseta vermelha, na qual se lia “bombeiro civil”. “Eles nos ajudaram a improvisar uma maca com um cavalete da empresa de transportes e faixas de manifestantes”, conta. Ele afirma ter pedido ajuda aos policiais para que trouxessem equipamentos da ambulância da PM para imobilização e infusão, porém, foi recusada a ajuda.

OUTRO LADO
A Polícia Militar foi procurada para comentar o caso, mas informou que se pronunciará sobre o caso nesta segunda-feira (24).

O relato do médico Giovano Iannotti pode ser visto aqui, no Facebook ou logo abaixo.

Relato do muito querido amigo Giovano Iannotti, que esteve na manifestação de ontem!
Querem colocar um cadáver no colo da Presidente
Ontem, 22 de junho de 2013, minha mulher e eu fomos à manifestação ocorrida em Belo Horizonte na qualidade de médicos. Somos professores e vários de nossos alunos estavam presentes. Como já havíamos testemunhado a violência no ato da segunda-feira anterior, fomos preparados para atender possíveis vítimas, levando na mochila alguns elementos muito básicos para pequenos ferimentos e limpeza dos olhos irritados por gás.
A manifestação foi tranquila durante todo o trajeto. Até mesmo a intolerância com militantes de partidos de esquerda foi pouco vista. Uma grande bandeira vermelha era orgulhosamente carregada e, salvo um ou outro, respeitada. Contudo, o clima começou a piorar quando a manifestação encontrou o cordão policial. Como tem ocorrido, a maioria aceitou o limite imposto, mas os provocadores instavam os moderados a enfrentarem a polícia. Parecem colocados estrategicamente entre o povo, porque se repartem em certo padrão e gritam as mesmas frases.
Como é sabido, eventualmente o conflito aconteceu. Retiramo-nos para a pequenina área verde que sobra naquele encontro as avenidas Abraão Caran e Antônio Carlos. E ali ficamos tratando sobretudo intoxicações leves e ferimentos superficiais causados por estilhaços e balas de borracha. Em um momento, fui chamado para atender um senhor ferido na cabeça. Fui correndo, mas ele já passara o cordão de isolamento da polícia. Identifiquei-me como médico aos policiais do Governo de Minas Gerais e disse que poderia atender o senhor ferido. A resposta foi uma arma apontada contra meu peito. Pedi para falar com algum oficial, mas a PM recomeçou a atirar. Voltei para nosso pronto-socorro improvisado. De dentro do campus da UFMG começaram a atirar bombas de gás sobre nós que atendíamos os feridos e recuamos ainda mais, para o meio da Antônio Carlos.
Minutos depois, chamaram-nos com urgência informando que alguém caíra do viaduto José de Alencar. Quando chegamos, um jovem com o rosto sangrando estava sofrendo uma pequena convulsão. Fizemos a avaliação primária e, na medida em que surgiam problemas, tratávamos da melhor forma possível. Aquele paciente precisava de atendimento avançado urgentemente, em um centro de trauma, mas a polícia não arrefecia. Aproximou-se de mim um sujeito com o rosto tampado por uma camiseta. Ele descobriu parcialmente a face e me disse no ouvido que era policial e que pediria que não atirassem para que pudéssemos evacuar a vítima (penso ter visto esse autodeclarado policial perto de mim, quando eu tentava falar com um oficial, e depois correndo ao meu lado. Se for a mesma pessoa, ele era um dos exaltados que instavam à violência). Chegaram algumas pessoas com camiseta vermelha, na qual se lia “bombeiro civil”. Eles nos ajudaram a improvisar uma maca com um cavalete da empresa de transportes e faixas de manifestantes. Algum tempo depois, por coincidência ou não, os tiros pararam e fomos, com dificuldade, levando a vítima em direção do cordão policial. Minha mulher ficou na barreira.
Quando passamos a barreira, vi uma ambulância parada a uns 20 metros. Gritei para os que ajudavam para que fôssemos para ela. Todavia, para meu horror, a polícia não permitiu. Disse que aquela viatura era somente para policiais feridos. Tentei discutir, mas vi que seria improdutivo. Disse a um oficial, então, que conseguisse outra. Não tínhamos muito tempo. Colocamos a vítima no chão, imobilizando sua coluna cervical e iniciei a avaliação secundária. Na medida do possível, limpamos o rosto ensanguentado do jovem e realinhamos os membros fraturados. Pedi aos policiais que, pelo menos, trouxessem equipamentos da ambulância “deles” para imobilização e infusão. Recusaram-se.
Esperamos um bom tempo até que uma ambulância do resgate do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais chegasse. O veículo praticamente não tinha nenhum equipamento. Somente a prancha, talas, colar cervical e oxigênio para ser usado com máscara. “Soro” não havia. Transferimos e imobilizamos o paciente. Nesse tempo, tentávamos descobrir para onde levar a vítima. Respostas demoravam a chegar. Pensamos no Mineirão, bem próximo de nós, mas primeiro disseram que era para torcedores e depois que não dispunha de centro de trauma. Fomos para o Pronto Socorro de Venda Nova, Risoleta Neves. Lá uma colega assumiu o tratamento do ferido.
Entrei em contato com minha mulher e ela me disse havia se juntado a meu irmão, que dois outros haviam caído do viaduto e que havia vários feridos, mas que eles não estavam conseguindo mais atender.
Mais tarde, quando os reencontrei no metrô de Santa Efigênia eles me contaram uma história de terror. Depois de me deixar com a primeira vítima, minha mulher se identificou aos policiais e disse que queria passar também para me ajudar. A polícia não deixou e ameaçou atirar nela. Como as agressões reiniciaram logo depois, ela ficou presa entre bombas e pedras, até que conseguiu fugir e retomar a antiga posição para socorro, no meio da Antônio Carlos. Foi quando encontrou meu irmão. Logo depois, receberam um chamado, avisando que outro rapaz havia caído. A situação clínica desse paciente era muito pior do que a do anterior. Não interessa escandalizar ou ofender com detalhes médico-cirúrgicos. Relato somente que o quadro que os dois descrevem é gravíssimo. A vítima não reagia, estava em coma, mas respirava e o coração batia. Meu irmão, sabendo da primeira experiência, correu para os policiais, desta vez um outro cordão formado na Antônio Carlos, levantando as mãos, agitando uma camisa branca e gritando que havia um ferido morrendo. Os policiais, vários, apontaram-lhe armas e gritaram para que ele fosse embora. Quando ele tentou avançar um pouco mais, os tiros começaram e ele correu em direção de minha mulher para ajudá-la.
Ali, ao lado da vítima, perceberam que a polícia atirava neles. Relatam que já não havia ninguém próximo. Somente a vítima, ele e minha mulher de jaleco branco. Os tiros e as bombas de efeito moral e de gás vinham com um único endereço. O deles. Ficaram o quanto aguentaram; mais não puderam fazer. Desesperados, tiveram que abandonar o rapaz que morria e buscar refúgio.
Depois, tiveram a notícia de que um terceiro homem caíra do mesmo viaduto. A cavalaria já estava em ação e não havia como atravessar a avenida para socorrer essa terceira vítima. Quando cheguei em casa, alguns alunos relataram que socorreram um homem que caíra do viaduto (perece que foram quatro, no total). Quando a polícia passou, eles conseguiram chegar à vítima e ficar com ela até que o SAMU chegasse.
Algumas ideias ficam em minha cabeça. Quem já conviveu com militares sabe na maioria das vezes reconhecer um por sua forma de agir, andar, cortar o cabelo e de falar. Sem leviandade, acredito que vários dos provocadores eram militares infiltrados. Vi o homem de rosto coberto dizer ser policial e que pediria para que os policiais alinhados dessem uma trégua e nos deixassem passar. Isso aconteceu. Outra imagem simbólica foi ver a tropa de choque da Polícia Militar de Minas Gerais dentro de uma universidade federal (deveria ser um território livre e sagrado da paz, da inteligência e da cultura) fechada para os estudantes. Da universidade vinham bombas que machucavam a juventude. Já ampliando o horizonte, o Itamaraty em chamas, a bandeira de São Paulo queimando, o Congresso quebrado, um governador sitiado em sua casa. Há que se ler nos símbolos e nos fatos. Amplie-se mais esse horizonte. Não se vê que os métodos são os mesmos usados nas “primaveras” árabes, em Honduras, no Paraguai, no Equador, na Venezuela e que começa também a ser usado na Argentina?
Nada há de espontâneo no que está ocorrendo e não é à toa que os meios de comunicação têm promovido e estimulado a agressividade e a multiplicidade de slogans e bandeiras. Não é verdade que não haja líderes nessas manifestações. Os líderes estão nas sombras, colhendo os frutos das últimas tecnologias. São discretos. Quem sabe o que são o Instituto Millenium, o instituto Fernando Henrique Cardos, o Council on Foreign Relations, a Trilateral Commission, o Carnegie Council? Preparam o Brasil para a guerra global idealizada pelos think tanks? É essa a forma de chegar aos recursos naturais do imenso território brasileiro sem a mínima resistência de governos mais progressistas? Incomoda o acordo com a Rússia para a compra e desenvolvimento de armas?
Uma certeza: querem atacar a democracia. Em vez de atacar partido, tome partido. Você está sendo manipulado. Pelo que vi e vivi é certo que querem jogar um cadáver no colo da Presidente Dilma.
Giovano Iannotti
Professor de Medicina

O PT e o Governo precisam de uma faxina

 Achei oportuno este artigo publicado no site da Carta Maior. As maiores críticas que os eleitores do Lula e da Dilma fazem dizem respeito justamente a posições - tomadas principalmente por ela - que contrariam tudo o que era esperado. Ela começou bem o governo, me surpreendeu, eu achava que a escolha do nome dela não tinha sido boa, mas me penitenciei. No entanto, do ano passado para cá voltei a me impressionar. Dar o pré-sal para os outros? Cadê as demarcações de terras indígenas? cadê as terras para agricultores que nada têm? cadê a regulamentação da mídia, exigida pela Constituição e até hoje postergada? Será que temos de racionar como na época da Revolução Francesa, em que se dizia que "o rei é bom, os ministros é que estragam tudo"? Ou teremos de chegar à conclusão de que a rainha não é tão boa assim? Dilma, está na hora! Mude! Antes que comecem os pedidos para que os tanques voltem às ruas!


Se a vontade política da presidente Dilma Rousseff e seu partido for realmente enfrentar a onda reacionária que tenta controlar as ruas, há uma lição de casa a ser feita. O PT e o governo precisam se livrar da quinta-coluna, que representa interesses alheios à esquerda e aos setores populares.

O termo nasceu na guerra civil espanhola, nos anos trinta do século passado. Quando Francisco Franco, líder do golpe fascista contra a república, preparava-se para marchar sobre Madri com quatro colunas, o general Quepo de Llano lhe assegurou: “A quinta-coluna está esperando para saudar-nos dentro da cidade.” Referia-se às facções que, formalmente vinculadas ao campo legalista, estavam a serviço do golpismo.

A maior expressão de quinta-colunismo no primeiro escalão atende pelo nome de Paulo Bernardo e ocupa o cargo estratégico de ministro das Comunicações. Não bastasse vocalizar o lobby das grandes empresas de telefonia e a pauta dos principais grupos privados de comunicação, resolveu dar entrevista às páginas amarelas da revista “Veja” desta semana e subscrever causas do principal veículo liberal-fascista do país.

Na mesma edição na qual estão publicadas as palavras marotas do ministro, também foi estampado editorial que celebra a ação de grupos paramilitares, na semana passada, contra o PT e outros partidos de esquerda, além de reportagem mentirosa que vocifera contra as instituições democráticas e os governos de Lula e Dilma.

Nesta entrevista, Bernardo referenda que se atribua, à militância petista, um programa que incluiria a defesa da censura à imprensa. Vai ainda mais longe, oferecendo salvo-conduto à ação antidemocrática da mídia impressa e restringindo qualquer plano de regulação a perfumarias que deixariam intactos os monopólios de comunicação, o maior obstáculo no caminho para a ampliação da liberdade de expressão.

De quebra, o ministro chancela o julgamento do chamado “mensalão”, ainda que escolhendo malandramente os termos que utiliza, caracterizando a decisão como um resultado “normal e democrático”. Por atacar seu partido nas páginas do principal arauto do reacionarismo, recebe de “Veja” elogio rasgado, ao ser considerado “um daqueles raros e bons petistas que abandonaram o radicalismo no discurso e na prática.”

Paulo Bernardo não é, porém, o único que flerta com o outro lado da barricada, apenas o que mais saçarica. Está longe de ser pequena a trupe de figuras públicas petistas que dormem com o inimigo, a maioria por pânico em enfrentar os canhões da mídia ou desejosos de receberem afagos por bom-mocismo.

O governador baiano, Jacques Wagner, é outro exemplo de atitude dúbia. Há algumas semanas bateu ponto, na mesma revista, para dar seu aval aos maus-feitos jurídicos de Joaquim Barbosa e seus aliados. Mas não parou por aí. Quando o presidente do PT, Rui Falcão, estava sob cerrados ataques por chamar sua gente à mobilização, Wagner correu aos jornais para prestar solidariedade. Não ao líder máximo de seu partido, mas aos lobos famintos que se atiravam contra o comandante petista.

Nos últimos dias assistimos incontáveis cenas que igualmente merecem uma séria reflexão. Não foi bonita ou honrosa a oferta do ministro da Justiça à repressão da PM paulista contra a mobilização social. Ou o prefeito paulistano fazendo companhia ao governador Alckmin na resposta ao movimento contra o aumento das tarifas de transporte. Nesses casos, contudo, não houve facada nas costas, mas flacidez político-ideológica que não pode ser relevada.

A questão crucial é que, para avançar na luta contra o reacionarismo e na reconquista das ruas, o PT e o governo precisam restabelecer uma ética de combate. A defesa dos interesses populares e da democracia não poderá ser feita, às últimas consequências, sem uma faxina de comportamentos e representantes que favorecem os inimigos do povo no interior das fileiras aliadas.


(*) Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

domingo, 23 de junho de 2013

Uma outra visão sobre os protestos

Atenção para o último parágrafo. É o mesmo que eu escrevi semana passada aqui.

Não há um “movimento” em disputa, mas uma multidão sequestrada por fascistas
Uma multidão sem representantes, cuja direção (rumo) parece ter sido sequestrada por grupos de extrema-direita e passa a atacar instituições públicas, partidos políticos e manifestantes de esquerda, não só não me representa como passa a ser algo a ser combatido politicamente.
Data: 21/06/2013
por Marco Aurélio Weissheimer, em Carta Maior

O que começou como uma grande mobilização social contra o aumento das passagens de ônibus e em defesa de um transporte público de qualidade está descambando a olhos vistos para um experimento social incontrolável com características fascistas que não podem mais ser desprezadas.
A quem interessa uma massa disforme na rua, “contra tudo o que está aí”, sem representantes, que diz não ter direção, em confronto permanente com a polícia, infiltrada por grupos interessados em promover quebradeiras, saques, ataques a prédios públicos e privados, ataques contra sedes de partidos políticos e a militantes de partidos, sindicatos e outros movimentos sociais?
Certamente não interessa à ainda frágil e imperfeita democracia brasileira. Frágil e imperfeita, mas uma democracia. Neste momento, não é demasiado lembrar o que isso significa.
Uma democracia, entre outras coisas, significa existência de partidos, de representantes eleitos pelo voto popular, do debate político como espaço de articulação e mediação das demandas da sociedade, do direito de livre expressão, de livre manifestação, de ir e vir. Na noite de quinta-feira, todos esses traços constitutivos da democracia foram ameaçados e atacados, de diversas formas, em várias cidades do país.
Houve violência policial? Houve. Mas aconteceram muitas outras coisas, não menos graves e potencializadoras dessa violência: ataques e expulsão de militantes de esquerda das manifestações, ataques a sedes de partidos políticos, a instituições públicas. Uma imagem marcante dessa onda de irracionalidade: os focos de incêndio na sede do Itamaraty, em Brasília. Essa imagem basta para ilustrar a gravidade da situação.
Não foram apenas militantes do PT que foram agredidos e expulsos de manifestações. O mesmo se repetiu, em várias cidades do país, com militantes do PSOL, do PSTU, do MST e pessoas que representavam apenas a si mesmas e portavam alguma bandeira ou camiseta de seu partido ou organização.
Em Porto Alegre, as sedes do PT e do PMDB foram atacadas. Em Recife, cerca de 200 pessoas foram expulsas da manifestação. Militantes do MST e de partidos apanharam. O prédio da prefeitura da cidade foi atacado. Militantes do MST também apanharam em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre outras cidades.
Em São Paulo, algumas dessas agressões foram feitas por pessoas armadas com facas. E quem promoveu todas essas agressões e ataques? Ninguém sabe ao certo, pois os agressores agiram sob o manto do anonimato propiciado pela multidão. Sabemos a identidade de quem apanhou, mas não de quem bateu.
Desde logo, cabe reconhecer que os dirigentes dos partidos, dos governos e dos meios de comunicação têm uma grande dose de responsabilidade pelo que está acontecendo.
Temos aí dois fenômenos que se retroalimentam: o rebaixamento da política à esfera do pragmatismo mais rasteiro e a criminalização midiática da política que coloca tudo e todos no mesmo saco, ocultando da população benefícios diários que são resultados de políticas públicas de qualidade que ajudam a vida das pessoas.
Há uma grande dose de responsabilidade a ser compartilhada por todos esses agentes. A eternamente adiada Reforma Política não pode mais esperar. Em um momento grave e difícil da história do país, o Congresso Nacional não está em funcionando. É sintomático não ter ocorrido a nenhum dos nossos representantes eleitos pelo voto convocar uma sessão extraordinária ou algo do tipo para conversar sobre o que está acontecendo.
Dito isso, é preciso ter clareza que todos esses problemas só poderão ser resolvidos com mais democracia e não com menos.
O rebaixamento da política à esfera do pragmatismo rasteiro exige partidos melhores e um voto mais esclarecido. A criminalização da política, dos partidos, sindicatos e movimentos sociais exige meios de comunicação mais responsáveis e menos comprometidos com grandes interesses privados.
Não são apenas “os partidos” e “os políticos” que estão sendo confrontados nas ruas. É a institucionalidade brasileira como um todo e os meios de comunicação são parte indissociável dessa institucionalidade.
Não é a toa que jornalistas, equipamentos e prédios de meios de comunicação estão sendo alvos de ataques também. Mas não teremos meios de comunicação melhores agredindo jornalistas, incendiando veículos de emissoras ou atacando prédios de empresas jornalísticas.
Uma certa onda de irracionalidade atravessa esse conjunto de ameaças e agressões, afetando inclusive militantes, dirigentes políticos e ativistas sociais experimentados que demoraram para perceber o monstro informe que estava se formando. E muitos ainda não perceberam. Após as primeiras grandes manifestações que começaram a pipocar por todo o país, alimentou-se a ilusão de que havia um “movimento em disputa” nas ruas.
O que aconteceu na noite de sexta-feira mostra claramente que não há “um movimento” a ser disputado. O que há é uma multidão disforme e descontrolada, arrastando-se pelas ruas e tendo alvos bem definidos: instituições públicas, prédios públicos, equipamentos públicos, sedes de partidos, jornalistas, meios de comunicação.
Os militantes e ativistas de organizações que tentaram começar a fazer essa disputa na noite de quinta foram repelidos, expelidos e agredidos. Talvez isso ajude a clarear as mentes e a desarmar um pouco os espíritos para o que está acontecendo.
Não é apenas a democracia, de modo geral, que está sob ameaça. Há algo chamado luta de classes, que muita gente jura que não existe, que está em curso.
Não é à toa que militantes do PT, do PSOL, do PSTU, do MST e de outras organizações de esquerda apanharam e foram expulsos de diversas manifestações ontem.
Com todas as suas imperfeições, erros, limites e contradições, o ciclo de governos da última década e em outros países da América Latina provocou muitas mudanças na estrutura de poder. Não provocou todas as necessárias e esse é, aliás, um dos fatores que alimentam a explosão social atual. Mas muitos interesses de classe foram contrariados e esses interesses não desistiram de retornar ao poder plenamente. Tem diante de si uma oportunidade de ouro.
Como jornalista, militante político de esquerda e cidadão, já firmei uma convicção a respeito do que está acontecendo.
Uma multidão cuja direção (rumo) passou a ser atacar instituições públicas, sem representantes, sequestrada por grupos de extrema-direita, que rejeita partidos políticos e hostiliza manifestantes de esquerda, não só não me representa como passa a ser algo a ser combatido politicamente. Ou alguém acha que setores das forças armadas e da direita brasileira estão assistindo a tudo isso de braços cruzados?
Dois artigos que vale a pena ler, para conhecer melhor o que é o "transporte público" no Brasil



OUTRAS MÍDIAS
Direitos trabalhistas: outra vítima do cartel dos transportes
Novos dados revelam: famílias que controlam linhas de ônibus em todo o país são campeões de calote na Justiça do Trabalho. Grupos acumulam milhares de processos. Por Adamo Bazani, no Ônibus Brasil

OUTRAS MÍDIAS
Os barões do busão andam de Ferrari
Mineiro tem 3 mil ônibus e 24 empresas. Dono da Gol controla metade da frota de Brasília. Filho de “rainha” do ABC contenta-se com carros de luxo. Por Marcos Aurélio Ruy e Van Martins, no site da UJS

sábado, 22 de junho de 2013

Franklin Martins, pede para ela sair, por favor!

Nem preciso comentar... a matéria está no blog DoLaDoDeLá de hoje.




Posted: 20 Jun 2013 07:36 PM PDT
por Rui Martins

Berna (Suiça) - A ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, não previu, com sua incompetência, os riscos de financiar o monopólio da informação pela grande imprensa.

Ministra Helena Chagas, antes de tudo, quero lhe transmitir meus mais efusivos cumprimentos por sua inédita e vitoriosa campanha publicitária – nunca, digo bem, nunca, o Brasil mereceu tanto destaque na mídia internacional.


Durante dias, não só aqui na Europa, como em todos os países do mundo, o Brasil foi manchete. Bandeiras, verde e amarelo, fogos, manifestações de rua como num enorme carnaval, polícia brincando de pega-pega com jovens maratonianos, brindes ousados com coquetéis molotov, nenhuma pré-estréia da Copa do Mundo poderia ter sido melhor do que essa armada, na maior discrição, por seu Ministério.

Parabéns Helena Chagas ! Como alguém tão recatada, embora participe de todos os trens da alegria nunca se vê na imprensa e nem nas imagens dos seus amigos do Jornal Nacional, seu rosto de sorriso superior com óculos escuros, conseguiu tão grande façanha ?

Imagine Helena que, aqui na Europa, muitos jornais e canais de televisão compararam a explosão juvenil em São Paulo, no Rio e outras capitais, numa versão Iphone moderna, movimentada e nada fiel à Ópera dos 20 Vintens de Bertold Brecht, com o rebentar da primavera árabe na orla africana mediterrânea !

Acho que aí você exagerou, porque sua fiel amiga, a presidenta, que lhe reserva sempre um lugar nas comitivas, foi comparada com Ben Ali, Khadafi, Hosni Mubárak, como se os jovens no Brasil quisessem se descartar da ditadora Dilma Rousseff.

Provavelmente não foi culpa sua, acredito mesmo na sua inocência, mas seus amigos, aos quais você concede mais de 70% da verba de publicidade da União e, recentemente, uma isenção de pagamentos sociais, que lhes permite economizar quase um bilhão e meio de reais, ainda estão cagando de rir dessa troça passada na imprensa internacional.

Em apenas dois dias, a imagem do Brasil foi para o brejo e vale agora o que o Globo, Folha, Estadão, Band tinham tentado impor há tantos anos sem conseguir, desde Lula até sua vitoriosa gestão nas Comunicação Social do Governo. Com um pouco de chance é até capaz de ganhar um promoção ou de lhe oferecerem um cachê especial numa conta secreta nas ilhas Caimãs.

Terminado o elogio, lhe peço, com o maior respeito, aquele gesto de honra digno dos grandes perdedores – demita-se.

Uma pessoa com o cargo de responsável pela Comunicação Social de um país tão grande e tão importante como é este novo Brasil não pode se permitir o luxo de errar. Uma pessoa capacitada para esse cargo tem de lançar bases sólidas de comunicação e tem de saber prever. Não foi seu caso – nem lançou bases sólidas e nem soube prever. Ou seja, além de ser a ministra menos visível é a mais incompetente e a mais medíocre.

Demita-se!

Não sou apenas eu, um simples e anônimo jornalista em fim de carreira, que lhe solicita encarecidamente esse ato de contrição, de reconhecimento por ter favorecido o inimigo no momento mais inoportuno possível. Numa rápida pesquisa pelo Google sobre a questão do favorecimento desproporcional e escandaloso da grande mídia brasileira constatei haver colegas mais credenciados e mais conhecidos que eu, assim como parlamentares do próprio PT insatisfeitos com sua gestão que premia os linchadores da nossa masoquista presidenta.

Não sei se chegou a imaginar, porém sua falta de previdência e competência pode ter provocado reações políticas irreversíveis. A reeleição de Dilma não está mais assegurada. Haddad, o prefeito de São Paulo, colocado por Lula para ser um futuro governador e presidente, e assegurar uma renovação, bobeou, pisou na bola e perdeu o difícil capital paulistano que lhe fora presenteado por Lula.

Acuada, vexada e mesmo desmoralizada pela imprensa internacional talvez nossa grande presidenta não lhe peça, por uma questão de cortesia. Mas eu e tantos outros que apoiarão este sincero pedido, nós lhe rogamos ministra Helena Chagas – demita-se !

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Ainda os protestos

Abro o post de hoje reproduzindo uma charge que a Cristina colocou em seu blog. Pareceu-me bem pertinente, haja vista que a profusão de reivindicações que se observa nas passeatas é de tal ordem, que ficamos sem saber realmente se há alguma prioridade (talvez tenha sido a já vitoriosa redução dos valores do transporte coletivo). Outras são tão vagas que não dá para perceber o alcance das mesmas.
Exemplo, a partir da charge: Pelo fim da corrupção. Bem, todos sabemos que a corrupção existe, mas também sabemos que ela não se extingue por decreto. Então, que medidas concretas precisam ser tomadas, nos níveis municipal, estadual e federal para que ela seja extinta?
Por mais educação: Como teremos mais educação? aumentando o número de escolas? aumentando o salário dos professores? exigindo que prefeitos e governadores parem de escamotear e paguem aquilo que a lei federal dispõe, o mínimo que cada professor deve receber? qualificando melhor os professores? e quanto aos alunos que agridem professores e colegas, o que deve ser feito? E quanto às pessoas que, fora do âmbito das escolas, jogam lixo nas ruas, dirigem sem respeitar os pedestres? isso também é falta de educação, e como resolveremos isso?
Por mais segurança: como teremos? aumentando os efetivos das polícias civil e militar? acabando com essa divisão esdrúxula entre as duas polícias? colocando câmeras em todas as ruas para vigiar os bandidos (e, por tabela, vigiarem os cidadãos inocentes que transitam de casa para o trabalho)?
Não à PEC 37 - esta, agora, é a única proposta objetiva. Vamos discutir como pressionar o Legislativo federal a não aprová-la? Não basta sair às ruas com o cartaz ou com a camiseta! 

Resumindo o que estou tentando dizer: 

Penso que chegou a hora de dar uma parada nas passeatas e apresentar aos vários níveis de governo, as reivindicações (não importa quão grande seja a lista) para discutir o que fazer, como fazer e quando fazer. Isso é DEMOCRACIA.
Ou que os governos tenham respeito aos manifestantes e convoquem suas lideranças para essa discussão.
 
Temo que, com a continuação das passeatas, o número de bandidos que se infiltram para destruir, quebrar e provocar vá aumentando, a ponto de, em breve, começarmos a ver conflitos dos manifestantes com esses grupos, transformando as ruas em praça de guerra. E o pior, veremos que a sociedade ou a grande parcela dela, que está apoiando as passeatas, comece a ficar cansada de tudo isso e passe a exigir "ordem". Não se iludam, estudando a História a gente sabe que quando a classe média começara a exigir "ordem", o que vem a seguir é um filme que já assistimos e do qual não apreciaremos o final.

Recomendação: Dois vídeos. O primeiro, da participação da PM da cidade de Teófilo Otoni na passeata da cidade. O segundo, da manifestação de apoio que foi realizada em Toronto, no Canadá. Meu filho estava lá e como bom profissional, fez o vídeo.

1) o de Teófilo Otoni:
http://www.youtube.com/watch?v=oj8ztuebuF0&feature=share

2) o de Toronto:
http://www.youtube.com/watch?v=8E47HQ2iNSM&feature=youtu.be

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Desigualdade

Abro o espaço do Blog de hoje para um artigo do nosso colaborador prof. Antônio de Paiva Moura.



Desigualdade
                   Os rebeldes de hoje têm causa, mas não conhecem suas raízes.
                       O jornalista francês Serge Halimi (2013) analisa com bastante profundidade a situação sócio-política do mundo contemporâneo e as dificuldades de proposições novas no sentido de traçar diretrizes positivas.
                        Há no Ocidente uma ideologia de cunho liberal de que o peso das diferenças sociais era aliviado pela crença de que a mobilidade social no sistema capitalista contrariava as desigualdades de nascimentos. Para que alguns mal nascidos possam atingir escalas ou camadas sociais maior que de sua família de origem, é necessário trabalhar duro, dando o melhor de si; acreditando que os ricos conseguiram suas fortunas segundo as regras do jogo. O mito da mobilidade social deu lugar ao terror do rebaixamento, com as novas concepções e ações do liberalismo.
                 As grandes escolas ou universidades estão cada vez mais fechadas para as categorias populares. O custo da formação universitária desde a graduação até os níveis mais altos de mestrado e doutorado é altíssimo. Só os mais ricos conseguem manter os filhos com dedicação exclusiva nas melhores universidades. O que sobra em um lugar é que está faltando em outro. A família norte-americana Walton, dona do Walmat detém uma fortuna correspondente a um milhão cento e cinqüenta mil vezes maior que a riqueza média norte-americana. Esse disparate e esse abismo de diferença se verificam em quase todos os países do mundo.
                        O tão almejado e tão reclamado crescimento econômico, em quase todos os países só tem beneficiado os mais ricos.. Nos EUA, apenas 1% da população se beneficia do crescimento econômico.
                        É ai que Halimi formula a seguinte questão: Qual é a melhor forma de dizer que os ricos imprimem fortemente sua marca no Estado e no sistema político? Eles votam com mais freqüência; financiam mais que outros as campanhas eleitorais e o mais importante, exercem uma pressão contínua sobre os eleitos e os governantes. Em face desse poder político, o crescimento da desigualdade se deve, em grande parte, ao nível baixo da tributação do capital. Os ricos mantêm lobby permanente no Congresso, no Judiciário e no poder Executivo.
                        Em 2012 o prêmio Nobel de Economia, o americano Joseph Stiglitz publicou o livro intitulado “O preço da desigualdade”, tendo tido para tal obra, a colaboração do economista italiano Mauro Gallegati. Nessa obra afirma que a classe de 1% mais rica do mundo não é muito afeita ao consumo. Mesmo que o fosse não contribuiria com o desenvolvimento industrial e com o PIB. Somente uma classe média bem-sucedida e favorecida pela distribuição de renda tende a consumir todos ou quase todos os seus recursos, sustentando o PIB do próprio país e a economia de modo geral. O enunciado científico de Stiglitz e Gallegati é o seguinte: Quando o 1% mais rico da população concentra 25% da renda a bomba atômica econômica explode, isto é, o capitalismo entra em crise. Eles demonstram que isso aconteceu em 1929, 1998 e de 2003 a 2008. A descoberta de Stiglitz e Gallegati demonstra que a desigualdade corrói o PIB até matá-lo, não só por causa da queda do consumo, mas também porque o sistema de concentração é ineficiente. Este foi o maior ataque teórico e científico ao Neoliberalismo. (BERNABUCCI, 2013).
                         
Referências

BERNABUCCI, Cláudio. O estopim da crise: concentração de renda. Carta Capital. São Paulo, n. 752, 12 jun. 2013.
HALIMI, Serge. Desigualdade, democracia e soberania. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 70, mai. 2013.

                        Belo Horizonte, 22 de maio de 2013.

                         Antonio de Paiva Moura