quarta-feira, 30 de outubro de 2013

SP e Rio: quem aposta na violência

Mais um artigo na mesma linha do anterior.


SP e Rio: quem aposta na violência

(http://outraspalavras.net/brasil/sp-e-rio-quem-aposta-na-violencia/)

Assassinatos de garotos e ataques midiáticos a manifestações confirmam: há interessados em generalizar repressão. Black-bloc é complexo, mas pode estar sendo usado
Por Antonio Martins | 
I.
Uma espiral de fatos graves e estranhos está se sucedendo em São Paulo desde sexta-feira (25/10), quando mascarados agrediram, num ato de violência gratuita, um coronel da Polícia Militar. Comandantes da PM emitiram declarações como se fossem o governo do Estado. Quase duzentas pessoas foram presas de maneira arbitrária e, ao que tudo indica, a esmo. Um jovem de 17 anos foi assassinado domingo pela polícia em ação torpe, provavelmente com intuito de provocar reações de revolta. Ontem (28/10), caminhões e ônibus apareceram em chamas na rodovia Fernão Dias, em horário propício a exposição nos noticiários de maior audiência – sem que apareçam indícios de quem os incendiou.
Episódios anteriores sugerem: pode estar em gestação uma crise fabricada, em que a população, insegura e temerosa, clama pela ação das “forças da ordem” – seja quais forem a truculência e os desdobramentos. Por isso, é importante soar o sinal de alarme e convidar a um exame mais amplo do cenário. Talvez ele revele que certas formas de radicalização artificial têm efeito contrário ao que imagina quem nelas se envolve. Na aparência, elas desafiam o Estado; na realidade, libertam seus mecanismos mais brutais de controle social, repressão e destruição da democracia.
Vale a pena recompor a sequência dos fatos, para tentar interpretá-los e identificar seu sentido comum.
1. Talvez a agressão black bloc ao coronel Reynaldo Rossi, no terminal de ônibus D. Pedro II, sexta-feira, tenha sido mais que um ato grotesco e covarde. Na mídia, as imagens do espancamento estão sendo repetidas à exaustão. Mas qual o contexto em que se produziram? Presente à cena, o repórter Piero Locatelli, de Carta Capital, fez um relato perturbador (1 2), do qual se destacam os seguintes trechos-chaves: “A Polícia havia acompanhado a manifestação com um efetivo de 800 policiais [...] No terminal, mais cedo, manifestantes utilizando a tática black bloc haviam queimado um ônibus e destruído catracas. [...] A polícia pouco agiu para conter a depredação – uma fila de policiais assistia ao que acontecia no local”.
Foram quebrados bilheterias, banheiros, quiosques, orelhões, extintores e 15 caixas eletrônicos. Só mais tarde a repressão e as prisões começaram: na Praça da Sé, a quase um quilômetro dali, tendo por alvo não os “vândalos”, mas manifestantes pacíficos.
Locatelli prossegue: “Os 800 policias que acompanhavam o ato [no Terminal D. Pedro II] esperaram o fim dele para agir com contundência. Instantes depois de um jogral na praça da Sé, os militantes cantavam em clima de festa ‘violência é a tarifa, fascista é a policia’. Foi quando ocorreu uma chuva de gás lacrimogêneo, vinda de todos os lados da praça. Milhares de pessoas tentavam correr dela, sob disparos de balas de borracha, muitas delas sozinhas. A depredação na região se intensificou, e o medo era a regra pelas estreitas ruas do centro. A partir dali, ocorreu uma série de ‘detenções para averiguação’”.
2. Quem fala em nome do Estado, num regime democrático: as autoridades eleitas? Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin calou-se no sábado (27/10), um dia depois da agressão ao coronel Rossi. Mas o chefe do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar, major Mauro Lopes, convocou entrevista coletiva em que assumiu ares de chefe de governo. “O Estado vai dar uma resposta muito forte a este bando de criminosos”, disse. O jornalista Luís Nassif captou a mensagem percebeu o risco: “Essa história da PM anunciar que vai até as últimas consequências – respaldada por uma condenação generalizada contra os vândalos – provoca calafrios maiores do que assistir a um quebra-quebra de black blocs. Na última vez que a PM se comportou assim, em maio de 2006, foram assassinadas mais de 500 pessoas”. Agora, a polícia começou a barbarizar menos de 24 horas após a fala do major Mauro Lopes.
3. As circunstâncias em que se deu o assassinato do garoto Douglas Rodrigues, na tarde de domingo, em Jaçanã (zona norte) são espantosas – mesmo para quem está acostumado com a banalidade do mal, nas periferias brasileiras. A impressão nítida é de incitação à revolta. A polícia foi chamada para uma ocorrência vulgar: uma caixa de som em volume alto demais (“perturbação do sossego”). Mas o PM Luciano Pinheiro Bispo “desceu do carro e pá”, no peito de Douglas, segundo testemunhas (1 2), que negam com veemência a hipótese de disparo acidental. O garoto – estudante, trabalhador e querido dos moradores – chegou a indagar ao algoz, segundo a mãe: “Senhor, por que o senhor atirou em mim”?
4. A previsível reação começou de imediato. Os moradores queimaram três carros e enfrentaram a pedradas a tropa de choque, enviada pra reprimi-los. Houve saques de lojas. Algo menos claro – porém, muito mais visível – deu-se ontem, na região. Cerca de 500 pessoas participaram, em protesto, do velório de Douglas, próximo ao local onde morreu. A manifestação pelo garoto quase não foi noticiada pela mídia. Nos jornais da noite, as telas de milhões de telespectadores, em todo o país, foram ocupadas por outras imagens. Na rodovia Fernão Dias (SP-Belo Horizonte), a centenas de metros de distância da multidão, três grandes caminhões e seis ônibus arderam. As fotos de quem os incendiou são escassas; e a polícia não parece ter sido capaz de identificá-los (embora tenha prendido mais 90 pessoas…). Mas hoje, os três jornais mais vendidos do país apontam, em manchete (1 2 3), os “responsáveis”. Em todos eles, as palavras “manifestantes” e “protesto” estão repetidamente associadas a “quebra-quebra”, “violência” e “saques”…

II.
O comportamento da PM nos últimos dias, em São Paulo, não é exceção. Uma vasta reportagem da jornalista Tânia Caliari revela que, desde as manifestações de junho, as polícias militares têm mantido um comportamento apenas aparentemente ambíguo. Elas alternam dois tipos de desvios complementares. Em certos momentos (como em 13/6, em São Paulo), agem com selvageria cega. Em outros (como em 7/10, no Rio), desaparecem ou assistem, impassíveis, a cenas de enorme gravidade – como a tentativa de atear fogo à Câmara Municipal.
As duas atitudes policiais retroalimentam-se uma à outra, em espiral. A brutalidade da tropa exalta os ânimos dos manifestantes e leva pequenos grupos a reagir de modo violento. As depredações promovidas por estes, nos momentos em que a polícia se omite, amedrontam a população e sugerem que a saída, diante dos protestos, é mais repressão.
Este esforço para instigar apoio à violência do Estado é reforçado pela mídia. Os jornais e TVs já não pedem abertamente repressão aos protestos, como ensaiaram sem sucesso em junho. Agora, agem por sugestão e omissão. Cenas como a do espancamento do coronel Reynaldo Rossi, ou da depredação de bens públicos, são repetidas exaustivamente na TV e decoram as capas dos jornais. Mas procure encontrar, após cada episódio, uma única matéria examinando criticamente o comportamento da polícia. As manifestações repetem-se há cinco meses; os abusos policiais de ambos os tipos, também. Os jornais e TVs fecham os olhos…

III.
O surgimento, no Brasil, dos black-blocs, que praticam atos destrutivos nas manifestações de rua, não pode ser analisado apenas à luz da ciência política clássica. Militantes de quase todos os partidos de esquerda (do PT ao PSTU), além de inúmeros ativistas autônomos, produziram, nos últimos meses, dezenas de textos críticos ao bloco negro. Lembram, com base em fartos exemplos históricos, que a ação violenta de pequenos grupos, sem apoio popular maciço, foi sempre manipulada pelas classes dominantes para legitimar a repressão. Muitos dos autores ressaltam que não propõem atitude pacifista incondicional. Defendem as rupturas, quando as maiorias, convictas de que é preciso estabelecer novas relações sociais, são impedidas de fazê-lo por leis e instituições retrógradas. Mas se opõem a atos narcísicos, cujos praticantes tentam assumir condição de libertadores da multidão.
Se todos estes argumentos têm sido insuficientes para aquietar os black-blocs; se o apoio a eles, embora ínfimo entre a sociedade, mantém-se expressivo entre os que se reconhecem como parte das “Jornadas de Junho”, é preciso sondar as razões. Duas hipóteses, em especial, parecem promissoras.
A primeira é o descolamento nítido entre duas gerações da ativistas anti-capitalistas. Uma militou ou milita no amplo arco de organizações políticas de esquerda, amplamente predominantes até a queda do “socialismo real”. Outra começou a se formar na virada do século, sob influência dos protestos de Seattle (1999), dos Fóruns Sociais Mundiais (2001-2009, no Brasil) ou dos ecos do levante zapatista (1994). Entre ambas, há um intervalo de dez anos. Mas, muito mais importantes, um abismo teórico e de inserção política e social.
A geração histórica teve influência reduzida nas Jornadas de Junho. PT e PCdoB tornaram-se partidos de atuação principalmente institucional. Os sindicatos tiveram sua força devastada pela reorganização produtiva do capital pós-moderno. PSTU e PSOL, por ora, parecem tão incapazes de dialogar com a nova geração quanto a esquerda radical europeia. Os movimentos sociais clássicos, muito atuantes na primeira década do século (do MST às grandes redes, como a que lutou contra a ALCA), ainda não conseguiram situar-se na segunda.
A nova geração anticapitalista é extremamente ativa. Mas com raras exceções (como o Movimento Passe Livre – MPL) não fazem parte de sua cultura e preocupações conceitos como correlação de forças; estratégias e táticas; momentos de avanços ou recuo. Mais: ela sente o esvaziamento da democracia e a impermeabilidade das instituições. Não viveu o suficiente para enxergar as mudanças tímidas, mas inéditas, vividas pelo país na última década. Para quem tem 25 anos, por exemplo, o Bolsa-Família e a redução da miséria não são uma conquista – mas um dado da paisagem política, que precisa ser transformada. Por isso, a nova geração tende a ver a geração histórica como mais um grupo acomodado e participante do condomínio das elites no poder.
Esta hipótese – a do choque de gerações anticapitalistas – articula-se com outra. A ação truculenta da polícia é indispensável para explicar a relevância do black-bloc brasileiro. Ele está muito longe de ser majoritário, entre as novas gerações. Reúne, no máximo, algumas centenas de ativistas, em cada uma das maiores capitais. As críticas que recebem são constantes, nas redes sociais: por legitimarem a violência; por se julgarem heróis e superiores; por não dialogarem. Mas cada novo ato de violência policial parece ressuscitar sua legitimidade.
Há aqui algo que deveria alegrar a velha geração: consciência de classe. A agressão ao coronel Reynaldo Rossi devastou a popularidade do black-bloc por alguns dias, nas redes sociais. Era comum ver mensagens de ira contra eles, mesmo nos comentários das comunidades dos Facebook que os apoiam. Mas isso se desfez após o assassinato do garoto Douglas. Nos últimos meses, em meio ao debate, um poema do marxista Bertolt Brecht foi citado inúmeras vezes, por quem se julga anarquista: “Diz-se violento o rio, que tudo arrasta; mas não as margens, que o oprimem…”.

IV.
Não há problema algum em que as culturas políticas anticapitalistas sejam muito distintas entre si: a longo prazo, esta diversidade pode ser uma riqueza. Mas, numa época de crises e instabilidades um pré-requisito para a sobrevivência e o futuro é saber identificar ameaças comuns. Estamos todos, neste momento preciso, sob uma delas.
Armou-se uma cilada. As grandes mobilizações de junho refluíram e não parece possível retomá-las, ao menos no momento. O ataque aos símbolos do capitalismo, promovido pelos black-blocs, não é eficaz contra o sistema, ao menos por enquanto. Não há razões para duvidar das pesquisas de opinião, segundo as quais 95% da população opõem-se a estes atos. Recua rapidamente, além disso, o apoio ao próprio sentido das manifestações. Em junho, em São Paulo, 89% eram a favor delas; em poucos meses, este índice caiu para 66%.
A polícia e a mídia perceberam a oportunidade. Na madrugada desta terça-feira (29/10), mais um garoto foi morto por PMs em São Paulo, em circunstâncias muito semelhantes às de Douglas. Pouco mais tarde, mais uma manifestação de protesto ocorreu. Nas próximas horas, os meios de comunicação que (ainda) dominam, voltarão a associar “manifestantes” e “protesto” a “vandalismo”, “saques” e “quebra-quebras”.
Está se consumando, rapidamente, o cenário desastroso previsto por Luís Nassif. Ele pode dar-se tanto como tragédia (na forma de um novo morticínio “corretivo” contra a periferia, semelhante ao de 2006) quanto como drama arrastado (um longo sangramento dos movimentos sociais de todos os tipos, até que percam legitimidade junto à maioria e tornem-se impotentes para influir em 2014, que será decisivo para o futuro do país).
Ser incapaz de mudar de tática revelaria inteligência reduzida – como a das moscas que se batem contra o vidro, recuando a cada choque mas insistindo no mesmo trajeto, condenado de antemão. É preciso buscar outros caminhos, e esta responsabilidade cabe a todos, solidariamente.
Para que todos sejamos capazes de escapar à cilada, ninguém pode ser humilhado. Haverá muito tempo para os debates político-ideológicos entre as várias culturas anticapitalistas e suas nuances – mas insistir neles agora seria desastroso para todos.
A violência simbólica nas manifestações precisa refluir, rapidamente. Como os black-blocs não estão inseridos nos debates que outros coletivos travam costumeiramente entre si, será decisiva para isso a ação de grupos que souberam manter diálogo com eles – em especial o Movimento Passe Livre (MPL), um caso notável, por ligar-se simultaneamente às duas culturas políticas de esquerda. Mas este silêncio da tática do bloco negro não pode (inclusive para que funcione) significar que foram derrotados. Ao contrário, deve abrir espaço para incorporá-los ao debate.
São Paulo e Rio estão em sintonia, desde junho: as mesmas lutas, repressão, esperanças e angústias. A grande manifestação preparada pelos cariocas para a próxima quinta-feira (31/10), contra a violência policial e prisões arbitrárias das últimas semanas pode ser um ponto de virada. Uma resposta semelhante às de 17/6, quando milhares demonstraram que as ruas, geridas autonomamente, podem ser um espaço “sem polícia e sem violência”.

Black blocs, o assassinato do menino Douglas e o inferno anunciado...

Este é um artigo que esclarece muita coisa e que as televisões, com seus Datenas, seus Marcelos, e seus Marinhos, evidentemente jamais irá abordar.

Black blocs, o assassinato do menino Douglas e o inferno anunciado...

É a partir de histórias como a do assassinato de Douglas que muitas ações dos black blocs nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo devem ser entendidas.

Renato Rovai, da Revista Fórum

No dia 3 janeiro à noite, bem antes das Jornadas de Junho, uma chacina chocou São Paulo. Laércio de Souza Grimas, o DJ Lah, de 33 anos, do grupo Conexão do Morro, foi assassinado com outras seis pessoas num bar do Campo Limpo, zona Sul de São Paulo. Bar que ficava em frente ao local onde tinha sido assassinado o pedreiro Paulo Batista do Nascimento, numa execução que, filmada, acabou no Fantástico da Rede Globo.

No dia 7 de janeiro, ainda em férias, escrevi um post sobre o assunto. Um dos trechos:

“Segue um relato-reportagem, a meu pedido, feito pelo repórter Igor Carvalho sobre o caso do massacre de Campo Limpo e seu contexto. Igor esteve ontem no local da chacina e conversou com uma série de pessoas que pediram anonimato. O clima em Campo Limpo e em outros bairros da periferia é terrível. Misto de revolta e medo. Perfeito para produzir reações extremadas. Quem acha que a situação atual é ruim, vai ter saudades do hoje. São Paulo pode virar um inferno. Eu, acima assinante, responsabilizo Alckmin por isso. Foi ele quem disse que quem não reagiu está vivo. E que de certa forma autorizou a bárbarie.” Você pode ler a nota inteira aqui

Este texto não foi premonitório. Era simples análise jornalística com base em informações apuradas pelo repórter Igor Carvalho e por mim. Uns sessenta dias após escrevê-lo, encontrei-me com um personagem importante no contexto da periferia paulistana. No meio da conversa-entrevista ele me pediu para desligar o gravador e disse algo mais ou menos assim:“o povo vai reagir, a molecada tá se mexendo e vai para cima… A coisa vai ficar feia”.

Lembrei disso no dia 6 de junho, quando por acaso me encontrei no meio da conflito do primeiro ato do Movimento Passe Livre no centro de São Paulo. Fiquei impressionado com o olhar de raiva daqueles garotos e garotas que escondiam seus rostos sob camisetas e pedaços de pano. E registrei aqui no blogue um post do qual extraio o trecho abaixo:

“Eram garotos pobres, com muita raiva. Garotos e garotas indignados e revoltados. E que pareciam não estar ali só por conta do aumento da passagem, mas porque precisam gritar que existem (…) A periferia brasileira está em movimento e em disputa. E se a cidade não passar a ser pensada para esses milhões de jovens, em breve algo muito maior do que aconteceu na quinta vai estourar.”

No domingo, Douglas Rodrigues, de 17 anos, foi baleado de forma covarde por um Policial Militar. E antes de morrer, segundo seu irmão de 12 anos, perguntou: “Senhor, por que o senhor atirou em mim?

Ainda no domingo, as ruas da Vila Medeiros foram tomadas por pessoas revoltadas com este fato. Ontem à noite, foi a rodovia Fernão Dias que literalmente pegou fogo. Atacaram carros, caminhões, imóveis… Uma revolta generalizada escrita em sangue pelas últimas palavras de um garoto de 17 anos: “Senhor, por que o senhor atirou em mim?”

É a partir de histórias como essa que as cenas de agressão ao coronel Reynaldo Rossi, que geraram comoção midiática, precisam ser entendidas. Vejam bem, não estou dizendo que precisam ser justificadas.

É a partir de histórias como a do assassinato de Douglas que muitas ações dos blacks blocs nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo devem ser entendidas. Vejam bem, não estou dizendo que devem ser justificadas.

Os jovens de periferia não querem mais ver irmãos, parentes, amigos, colegas ou apenas conhecidos, serem enterrados porque cometeram o crime de terem nascido, em geral negros, e viverem nas periferias. Eles estão dizendo chega.

E a nossa democracia, sim, democracia, não tem dado conta de resolver esse problema. E eles perderam o medo de perder a vida se necessário for para mostrar que não irão bovinamente para covas rasas de cemitérios. Assassinados por polícias que deveriam preservar suas vidas. E vitimados por um Estado que não lhes garante futuro e nem paz.

A ação black block no Brasil (e ela é diferente de outros países), se alguém ainda tinha dúvida, é fruto, sim, também disso. E principalmente disso. Da violência policial. Os black blocs nunca lutaram por vinte centavos, por transporte melhor ou por melhores salários dos professores. Esses meninos têm ódio da polícia. Eles pulam de ódio da polícia. Eles querem derrotar a polícia. Não são só garotos e garotas de periferia. Mas os que não são também não aceitam como legítima a ação das forças policiais. E querem derrotar a polícia.

Se acho isso bom? Se acho isso ruim? Não acho nada. Quero que a democracia que construímos seja capaz de se relacionar com essa questão sem tentar eliminar fisicamente esses meninos e meninas. E sem criminalizar suas ações e reações.

E que a nossa inteligência seja capaz de ir além de simplismos como a de chamá-los de vândalos e fascistas.

Até porque a preguiça intelectual também é uma forma de violência dos que têm o poder de pautar o debate na sociedade. Os black blocs não precisam da minha defesa. Até porque não me associo às suas práticas. Mas entendo perfeitamente os garotos e garotas que têm ódio da polícia. Se Douglas, fosse seu filho, irmão, primo, amigo, será que você não entenderia?

- Senhor, por que o senhor atirou em mim…

PS: Se você ainda tem dúvida do quão essa história não começou em junho deste ano, leia esta pequena nota: Massacre do Carandiru, da ditadura ao DJ Lah, do Igor Carvalho.
PS: O PM assassino de Douglas alega que sua arma disparou de forma acidental porque a porta do carro da viatura bateu na sua mão. Na delegacia, ele foi preso por acidente culposo, quando não há intenção de matar. E seus amigos da PM há reuniram testemunham que se dispuseram a corroborar essa versão inverossímel e que é contestada por quem estava lá. Mas não é só isso. Enquanto a mãe de Douglas dava entrevistas, carros de polícia passavam na frente de sua casa numa clara demonstração de intimidação. E 90 pessoas foram presas porque se revoltaram ontem à noite com tudo isso. Não, o caso Amarildo não é uma exceção. E você ainda acha que o correto é ficar quieto e fazer de conta que tudo isso é coisa da vida?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O que "gentrificar" quer dizer

Ah! A língua portuguesa! Pobre flor do Lácio!




O que "gentrificar" quer dizer

No Brasil, os média se autoproclamaram normalizadores fonéticos e morfológicos da língua. Não deixa de ser uma política de língua apoiada na omissão do Estado.


Em geral, há consenso sobre a natureza mutável da língua. Pode haver, também, um certo grau de acordo quanto a língua tender a variar em função de condições econômicas ou culturais dos falantes. Menos se comenta sobre ser a língua também objeto de política. E quando comentamos, quase sempre o será para discutir os processos pelos quais foram normalizadas e, de certo modo impostas, as modernas línguas européias, tais como as falamos e escrevemos hoje em dia, durante a construção, nos séculos XVIII e XIX, dos Estados nacionais francês, alemão, italiano, espanhol etc.

Diante da colcha de retalhos lingüística que caracterizava a Europa medieval e, até hoje, ainda sobrevive em muitas das suas grandes regiões, os Estados em formação, sendo o caso francês talvez tomado como paradigma, adotaram políticas públicas explícitas para levar toda uma vasta população a abandonar seus antigos dialetos ou línguas, substituindo-os por aquela que fosse definida como oficial e, sobretudo, nacional. Na França, a variação falada na Île-de-France; na Itália, o dialeto da Toscana; na Espanha, a língua de Castela. Os instrumentos dessa política foram, entre outros, a obrigação de uso da língua oficial em qualquer documento público; o seu ensino compulsório e exclusivo na escola fundamental; seu uso também obrigatório no serviço militar. Evidentemente que, se o processo, ao cabo de algumas décadas, confirmou-se razoavelmente exitoso nesses países, foi porque, sobretudo, havia no conjunto da população o desejo e o movimento de vir a ser parte de um Estado nacional.

Mas essencialmente era um projeto comandado pelo Estado, era constitutivo de políticas públicas, cabendo ao Estado, por seus mecanismos adequados (de preferência, mas nem sempre, democráticos e republicanos) tomar as decisões normativas (dentre elas, as muitas reformas ortográficas feitas ao longo dessas décadas) e fazer com que o conjunto dos cidadãos conhecessem e adotassem aquela que fosse considerada a língua nacional padrão, na sua fonética, na sua morfologia, na sua sintaxe. Na França, existe mesmo um Ministério da Cultura e da Francofonia, expressão clara da importância dada à política de língua, sendo a Academia de Letras uma das mais poderosas instituições dessa política. E, em nenhum país, talvez porque seus cidadãos são assim educados, os usuários da língua propõem-se conscientemente a ofender a norma padrão. Muito menos os seus meios de comunicação!


No Brasil, não é de hoje que os média (como se diz e se escreve em todos os países de língua neolatina, inclusive os hispano-americanos, menos no Brasil), arvoraram-se em normalizadores da língua, explorando o vazio aí deixado pelo Estado e pela sonolenta Academia Brasileira de Letras. Os casos são muitos, até mesmo a esta altura corriqueiros, mas nem sempre podemos captar o instante exato em que isto é decidido e posto em prática. Os casos tornam-se assim tão naturais quanto o morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Por isto, a edição de O Globo de domingo, 27 de outubro, tornou-se exemplar para o estudo desse processo.


Nas suas páginas 18 a 24, o jornal faz uma interessante reportagem sobre o movimento de revitalização de alguns bairros da cidade do Rio de Janeiro, conseqüência do bom momento econômico vivido pela cidade por conta do petróleo, da Copa do Mundo, das Olimpíadas. Não se trata, porém, de um movimento exclusivamente carioca. A reportagem mostra que outras cidades do mundo passam por mudanças similares. Na verdade, este é um processo mais geral de adequação de algumas cidades, em diferentes continentes, às condições do capitalismo contemporâneo sustentado pelo frenesi inebriante do mais despudorado consumo conspícuo. O Rio de Janeiro está sabendo aproveitar o momento. Bairros antigos e degradados, habitados por famílias de baixa renda, são renovados através da remoção forçada ou consentida dessas famílias, da derrubada de seus velhos imóveis e construção de novos prédios, centros de compra, instalações de lazer que atraem para ali morar, trabalhar ou simplesmente se divertir, uma nova população de classe média endinheirada, consumista, hedonista.


Lendo a própria reportagem, aprendemos que uma socióloga britânica de nome Ruth Glass, nos anos 1960, estudando fenômeno similar na Inglaterra, cunhou uma expressão para significar o processo: "gentryfication". A palavra vem de "gentry" que, diz o dicionário, significa "pequena fidalguia", "nobreza menor". A tradução literal da palavra é "enobrecimento". O termo se refere ao processo pelo qual a classe média sofisticada, essa "nobreza menor", invade um bairro antes ocupado por classe média baixa e outros trabalhadores, dele os expulsando. Por isso, talvez, também se pode ler, na mesma reportagem, comentário de um urbanista inglês, simpático ao processo mas não à palavra: "Gentrificação é uma palavra muito pesada, que vem com uma negatividade muito grande associada a ela. Tenho uma visão diferente" (e prossegue, dando a sua visão "positiva").


"Gentrificação"? Parece que ele disse "enobrecimento". Sim, no caso, é uma palavra pesada... Por isto, não será adotada no Brasil. Além de usar esta estranha e inexistente expressão ao longo de toda a reportagem, sequer traduzindo as palavras do estrangeiro entrevistado, seus quatro autores (Fabio Vasconcellos, Flávio Tabak, Natanael Damasceno e Paulo Thiago de Mello), se arvoram no direito de nos ajudar a entendê-la em uma nota de "Glossário", como sendo um novo vocábulo introduzido em nosso vernáculo. Lemos: "Gentrificação: é um conceito usado para se referir ao processo de renovação de população, em que a chegada crescente de novos residentes de renda superior acaba por transformar o perfil sociocultural da área em questão. Os novos moradores introduzem costumes e práticas de consumo distintos dos tradicionais, estimulando o surgimento de negócios e elevando o custo de vida, especialmente no que se refere aos gastos com moradia, o que pressiona a saída de antigos residentes da área". Eis os nossos novos Aurélio ou Houaiss!...


A operação morfológica aí efetuada não resulta de desconhecimento, e não é nada ingênua. Se a expressão "enobrecimento" ou sua similar "aburguesamento" começam a se disseminar, todo o conteúdo de classe envolvido nesse processo fica absolutamente claro – como aliás, parece, era o objetivo de quem introduziu o neologismo na língua inglesa. Se a expressão "gentrificação" torna-se usual e costumeira, quem irá reconhecer-lhe o seu real significado? Como entender aliás a crítica daquele entrevistado à palavra, sem traduzi-la corretamente? "Gentrificação" vira sinônimo de "embelezamento", "limpeza", "gente bonita", "gente empreendedora", vira modismo ao qual todos vamos querer aderir, mesmo que nem todos possam aderir. Logo será uma expressão corrente em nossos cursos de arquitetura ("Planejamento de Gentrificação", disciplina de 6º período), nos discursos políticos ("prometo gentrificar a cidade inteira!"), nas conversas familiares ("gentrifiquei meu apê").


É assim que o português falado no Brasil está se transformando num patuá desregrado e feio. Palavras como "site", "online", "download" não foram introduzidas na nossa língua por acaso – e, dentre os falantes neolatinos, elas somente são usadas no Brasil. Já sequer se busca aportuguesar a fonética, como se fez em "futebol", "abajur", "bonde", tantas outras palavras. Derroga-se assim impunemente a regra, por exemplo, segundo a qual, à letra /i/ corresponde o fonema vogal, como em [dizer], não lhe cabendo atribuir também o ditongo [ai], [...].  Daqui a pouco, nossas crianças em fase de alfabetização aprenderão que /i/ tanto pode soar como ou [ai]. Coitadas!...


Tais barbarismos ingressam em nossa língua por via dessa mesma prática mediática que não mais busca traduzir ou adaptar expressões estrangeiras perfeitamente traduzíveis porque se empenha em fabricar uma novilíngua cujos significados não mais possam ser encontrados na etimologia – e seus conflitos históricos – desta nossa língua mesma.  Assim como neste caso da "gentrificação", captado em seu momento exato de fecundação artificial, será também possível localizar o momento exato de adoção de tantos outros termos que hoje barbarizam o nosso idioma. No Brasil, não mais o Estado mas os média se autoproclamaram normalizadores fonéticos e morfológicos da língua. Não deixa de ser uma política de língua. Que melhor prospera ante a omissão e leniência do Estado.


Omissão e leniência também de todos nós da esquerda. Resistir e rejeitar tais imposições mediáticas seria um campo de guerra justa. Basta mirar em nossos países vizinhos para aprender a falar "sítio", "em linha", "carregar", "média"...  E basta querer deixar claro os processos sociais em que vivemos para adotarmos "enobrecer", no lugar dessa asneira provincianamente pernóstica expressa na palavra "gentrificar".

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Até tu, Gaspari?

Há quem se surpreenda vendo tradicionais opositores do governo e defensores do tucanato iniciarem um mal disfarçado "desapoio" aos bicudos. 
Gaspari é um desses. Ao longo dos últimos dez anos não se cansou de meter o pau nos governos Lula e Dilma.
E agora ele CRITICA OS TUCANOS!!!!!
Olha só!

"Pelas provas, depoimentos e cifras, esse caso ultrapassa, de longe, o mensalão. Ali não há domínio do fato, o que há são fatos dominantes", escreve o colunista

247 - Na opinião do jornalista Elio Gaspari, o caso do chamado propinoduto tucano "de longe" ultrapassa o do "mensalão", dos petistas. Isso porque, segundo o colunista, no caso da formação de cartel por multinacionais e o pagamento de propinas a políticos do PSDB em São Paulo, em licitações para obras no transporte sobre trilhos no Estado, "há fatos dominantes", e não apenas o "domínio do fato" sugerido pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470.
Abaixo, nota publicada em sua coluna deste domingo:
ALSTOM
Ou o tucanato paulista tem uma estratégia capaz de causar inveja ao comissariado petista que pretende livrar seus caciques das penitenciárias pelo mensalão, ou está numa tática suicida, jogando o escândalo do propinoduto denunciado pela Siemens para dentro da campanha eleitoral do ano que vem.
Pelas provas, depoimentos e cifras, esse caso ultrapassa, de longe, o mensalão. Ali não há domínio do fato, o que há são fatos dominantes.

Tenho um palpite: a direita está vendo pelas pesquisas que apostar em Serra e Aécio é fria! E como irão se bandear para o lado do Eduardo/Marina, já começam a desarticular as hostes tucanas.
Mas não tenham dúvidas: se Eduardo/Marina não emplacarem, ainda resta o Joaquim Barbosa.
A propósito, alguém sabe se o Barbosa assinou a ficha de filiação a algum partido? Taí uma boa coisa a ser pesquisada... 

Novidades nas livrarias

A Editora Contexto apresenta dois importantes lançamentos.
História Moderna é uma síntese do período, ideal para estudantes e estudiosos. Obra recheada de mapas e ilustrações, além de documentos históricos e filosóficos saborosos.
O Mundo, considerado por Eric Hobsbawm "um evento intelectual de peso", é um guia – compacto, portátil e com linguagem acessível – para entender o mundo após a supremacia do Ocidente e após a globalização.
Duas obras necessárias em sua biblioteca pessoal, aproveite!
 




 
   
À História Moderna associa-se, de forma quase automática, o Renascimento e as grandes navegações. Feitos épicos, obras que atravessaram séculos e configurações do mundo – com a unificação de pontos longínquos da Europa – marcaram o período. Tradicionalmente, as datas limites do período são a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 29 de maio de 1453, dando fim à Idade Média, e a deflagração da Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789, quando começa a História Contemporânea.
O tempo histórico, porém, não coincide com aquele do calendário. Dessa forma, o historiador Paulo Miceli, especialista na área, nos apresenta uma narrativa dos principais acontecimentos que fazem parte da Idade Moderna, mas que atravessaram os limites mais rígidos dessas datas e até de fronteiras. O autor nos transporta aos tempos em que o mundo se ampliava, mas, por outro lado, uma correspondência poderia demorar meses e até anos para chegar ao seu destino.
Utilizando-se de mapas e ilustrações, além de documentos históricos e filosóficos saborosos, o autor reúne em História Moderna os aspectos mais relevantes que caracterizam o período.
   
    Nº de Páginas: 160
Formato: 16 x 23
ISBN:
978-85-7244-820-8

   







Como anda o mundo no século XXI agora que a centralidade do Ocidente já não é mais dada como certa? Como é que as sociedades e culturas atuais, bem como suas respectivas interconexões, formaram-se e quais são os impulsos que movem a sociedade humana de hoje? Em suma, como está o nosso planeta neste início da segunda década do século XXI?
Este é o primeiro livro que lida com a sociedade humana como um todo. Trata-se de um guia do mundo – compacto, portátil e com linguagem acessível – para principiantes após a supremacia do Ocidente e após a globalização.
Ele revela a geologia sociocultural do planeta, suas principais civilizações, suas ondas históricas de globalização, seus sistemas de família-sexo-gênero e seus caminhos rumo à modernidade. Acompanha as trajetórias de vida de homens e mulheres de todos os continentes, desde o nascimento e a infância até a idade adulta, o funeral e as perspectivas de vida após a morte. Este livro destina-se a todos aqueles que, embora experientes, mantiveram uma curiosidade de principiante com relação ao mundo; àqueles que não sabem tanto quanto gostariam acerca do planeta e desejam aprender mais.



  Nº de Páginas: 304
Formato: 16 x 23
ISBN:
978-85-7244-813-0

domingo, 27 de outubro de 2013

Duas frases ótimas!

Estava conferindo hoje o blog do Rodrigo Vianna e me deparei com comentários que leitores colocam no Twitter. Dois me chamaram a atenção, vejam como são bem-humorados!


Marina é uma espécie de beagle submetida a experiências cruéis. Mas em vez de Inst. Royal tá nas mãos de Itau e Natura. Quem vai resgatá-la?




Aecio é uma espécie de Alexandre Pato tucano: tem pose, namora modelo, mas bate pênalti na mão do adversário.


As lições de Libra

Confesso que fiquei aturdido com tudo o que li a respeito do leilão de Libra. Claro que isso se deve, em grande parte, à minha total ignorância com relação ao item petróleo. Mas li muita coisa, inclusive os famosos "comentários" de "grandes especialistas" que surgem após as matérias publicadas. Cães raivosos defenderam e criticaram, e só aumentaram minha confusão.
Hoje li este artigo do Santayana, jornalista que aprecio muito. E ele me parece ter escrito o que mais sensato foi publicado sobre o assunto. Deixo os comentários para os leitores.


AS LIÇÕES DE LIBRA
por Mauro Santayana, em seu blog 

A mobilização de várias organizações, e a greve dos petroleiros, com a apresentação de dezenas de ações na justiça, não conseguiu impedir que o Leilão de Libra fosse realizado, com a vitória de duas estatais chinesas, duas multinacionais européias, e participação, em 40%, da Petrobras.
Obviamente, do ponto de vista do interesse nacional, o ideal seria que o negócio tivesse ficado totalmente com a Petrobras, ou melhor, com outra empresa, 100% estatal e brasileira (a PPSA não tem estrutura de produção  própria) que fosse encarregada de operar exclusivamente essas reservas.
Não podemos esquecer que a Petrobras – por obra e arte sabe-se muito bem de quem – não é mais uma empresa totalmente nacional. Os manifestantes que enfrentaram a polícia, nas ruas do Rio de Janeiro, ontem, estavam – infelizmente – e muitos nem sabem disso, defendendo não a Petrobras do “petróleo é nosso”, mas uma empresa que pertence, em mais de 40%, a capitais privados nacionais e estrangeiros, que irão lucrar, e muito, com o petróleo de Libra nos próximos anos.
De qualquer forma, a lei de partilha, da forma como foi aprovada, praticamente impedia que a Petrobras ficasse com 100% do negócio. Além disso, institucionalmente, a empresa tem sido sistematicamente sabotada, nos últimos anos, pelo lobby internacional do petróleo. E cometeram-se, no Brasil, diversos equívocos que a enfraqueceram empresarialmente, o mais grave deles, o incentivo dado à venda de automóveis, sem que se tivesse assegurado, primeiro, fontes alternativas – e, sobretudo nacionais – de combustível.
A questão geopolítica é, também, bastante delicada. O Brasil lançou-se, com determinação e talento, à pesquisa de petróleo na zona de projeção de nosso território no Atlântico Sul, antes de estar militarmente preparado para defendê-la.
O embate entre certos segmentos da reserva das Forças Armadas – principalmente aqueles que fazem lobby ou estão ligados a empresas de países ocidentais – e militares nacionalistas que propugnam que se busque tecnologia onde ela esteja disponível, como os BRICS, tem atrasado o efetivo rearme do país, que, embora necessário, deve ser conduzido com cautela, para não provocar nem atrair demasiadamente a  atenção de nossos adversários.
O mundo está mudando, e o Brasil com ele. Seria ideal se pudéssemos simplesmente virar as costas para os países ocidentais – que sempre exploraram nossas riquezas e tudo fizeram para tolher nosso  desenvolvimento – e nos integrarmos, de uma vez por todas, ao projeto BRICS, e a países como a China e a Índia, que estarão entre os maiores  mercados do mundo nas próximas décadas.
Esse movimento de aproximação com os maiores países emergentes –  lógico e inevitável, do ponto de vista histórico – terá que ser feito, no entanto, de forma paulatina e ponderada. Parte da sociedade ainda acredita – por ingenuidade, interesse próprio ou falta de brio, mesmo – que para sermos prósperos e felizes basta integrarmo-nos e sujeitarmo-nos plenamente à Europa e aos Estados Unidos. E que temos que abandonar toda veleidade de assumir um papel de importância no contexto geopolítico global, mesmo sendo a sexta maior economia e o quinto maior país do mundo em território e população.
É essa contradição e esse embate, que vivemos hoje, em vários aspectos da vida nacional, incluindo a defesa e a exploração de petróleo. É preciso explorar o petróleo do pré-sal e nos armar, para, se preciso for, defendê-lo.  Mas, nos dois casos, não podemos esperar para fazê-lo nas condições ideais.
O resultado do Leilão de Libra reflete, estrategicamente, essa contradição geopolítica. Mesmo que esse quadro não tenha sido ponderado para efeito da negociação, ele sugere que se buscou uma solução feita, na medida, para agradar a gregos e troianos. Sem deixar de mandar um recado aos norte-americanos.
Independente da questão de capital e de tecnologia – a da Petrobras é  superior à dos outros participantes do consórcio – poderíamos dizer que:
a) Os chineses entraram porque, como membros do BRICS, e parceiros antigos em outros projetos estratégicos, como o CBERS, não poderiam ficar de fora.
b) Os franceses foram contemplados porque são também parceiros estratégicos, no caso, na área bélica, por meio do PROSUB, na construção de nossos submarinos convencionais e atômico.
c)  Os anglo-holandeses da Shell – mais os ingleses que os holandeses – entraram não só para reforçar a postura de que o Brasil não estava fechando as portas ao “ocidente”, mas também para tapar a boca de quem, no país e no exterior, dizia que o leilão estaria fadado ao fracasso devido à ausência de capital privado.
O lobby internacional do petróleo, no entanto, não descansa. Antes e depois do resultado do leilão, já podia ser lido em dezenas de jornais, do Brasil e do exterior, que o modelo de partilha, do jeito que está, é insustentável e terá que ser mudado.
Apesar da declaração do Ministro de Minas e Energia de que o governo não pretende alterar nada – e da defesa dos resultados do leilão feita pela Presidente da República na televisão – já se fala na pele do urso e as favas se dão por contadas.
Os argumentos são de que não houve concorrência – interessante, será que o “mercado” pretendia que o governo ficasse com mais petróleo do que ficou? – que a Petrobras não tem escala para assumir os poços que serão licitados no futuro – uma “consultoria” estrangeira disse que a Petrobras já está com “as mãos cheias” com Libra, e as exigências de conteúdo local.
Isso tudo quer dizer o seguinte: a guerra pelo petróleo brasileiro não acaba com o leilão de Libra. Ela está apenas começando, e vai ficar cada vez pior. Já que não podemos ter o ideal, fiquemos com o possível. Os desafios para a Petrobras, daqui pra frente, serão tremendos, tanto do ponto de vista institucional, quanto do operacional, na formação e contratação de mão de obra, no gerenciamento de projetos, no endividamento, no conteúdo nacional.
É hora de cerrar fileiras em torno daquela que é – com todos os seus problemas – a nossa maior empresa de petróleo.
A sorte está lançada. A partir de agora, os adversários do Brasil, e da Petrobras, vão fazer de tudo para que ela se dê mal no pré-sal.
fonte: http://www.viomundo.com.br/denuncias/o-segredo-das-sete-irmas-e-o-pre-sal-brasileiro.html

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Livros com desconto! Boa pedida!

Recebi este comunicado da Editora Contexto. Repasso para todos os que se interessam por História.
 





Quer comprar nossos livros com desconto? Fechamos recentemente uma parceria com a Livraria Cultura e os 20 livros selecionados abaixo estão com 25% de desconto. Mas somente até o dia 31 de outubro.
Somos loucos por História!
O desconto é válido nas lojas e no site. Confira abaixo e aproveite!

 
                 
 
 
     
Porque Gostamos de História
Jaime Pinsky


Dicionário de Conceitos Históricos
Kalina V. Silva, Maciel H. Silva

Fontes Históricas
Carla Bassanezi Pinsky (Org.)
História Antiga
Norberto Luiz Guarinello









de: 29,90
por: 22,43

de: 55,00
por: 41,25

de: 45,00
por: 33,75

de: 33,00
por: 24,75


 
 
 
 





A Batalha de Moscou
Andrew Nagorski

De Cuba, com Carinho
Yoani Sánchez

A Primeira Guerra Mundial
Lawrence Sondhaus


A Segunda Guerra Mundial
Philippe Masson












de: 55,00
por: 41,25

de: 35,00
por: 26,25

de: 69,90
por: 52,43

de: 69,90
por: 52,43






 








Garibaldi: herói de dois mundos
Maurício Oliveira

O Cerco de Leningrado
Pierre Vallaud

A Guerra Civil Espanhola
Josep M. Buades

Guerra nas Sombras
André Luís Woloszyn


de: 39,90
por: 29,93

de: 49,90
por: 37,43

de: 49,90
por: 37,43


de: 33,00
por: 24,75


 












Os Russos
Angelo Segrillo

História da Cidadania
Carla Bassanezi Pinsky, Jaime Pinsky (Orgs.)

A História das Crianças no Brasil
Mary Del Priore


História dos Mercenários
Norberto Luiz Guarinello











de: 47,00
por: 35,25

de: 65,00
por: 48,75

de: 65,00
por: 48,75

de: 47,00
por: 35,25



 


 








Os Indianos
Florência Costa

Nova História das Mulheres no Brasil
Carla Bassanezi Pinsky, Joana Maria Pedro (Orgs)

Os Argentinos
Ariel Palacios

Uma Gota de Sangue: história do pensamento racial
Demétrio Magnoli


de: 55,00
por: 41,25

de: 59,90
por: 44,93

de: 49,90
por: 37,43

de: 49,90
por: 37,43

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A espantosa distribuição da riqueza mundial



O planeta possui 7 bilhões de pessoas. Dados espantosos sobre a distribuição da riqueza:
1 - Qualquer pessoa que possua bens em valor total superior a R$ 8.600,00 (uma moto usada) possui mais riqueza do que 3 bilhões e 500 milhões de pessoas no mundo inteiro. Está na metade superior da posse de riquezas.
2- Quem possui bens em valor superior a 162 mil reais (uma casa simples em São Gonçalo, RJ) possui mais riqueza do que 6 bilhões e 300 milhões de pessoas. Pertence aos dez porcento mais ricos do mundo.
3- Quem tem bens em valor superior a um milhão e seiscentos mil reais (uma boa casa em Camboinhas, Niterói, RJ), possui mais riqueza do que 6 bilhões e 930 milhões de pessoas. Faz parte da fatia correspondente a um porcento da população mundial, mais rica do que os 99% restantes.

Conclusão: num planeta extremamente injusto, até as classe média e média alta são consideradas ricas. Apenas trinta e dois milhões de pessoas podem ser consideradas, de fato, ricas, sendo que 161 delas controlam cerca de 140 corporações que, por sua vez, dominam praticamente todo o sistema econômico e político do mundo. Esse é o sistema que defendemos com unhas e dentes?
fonte: http://jornalggn.com.br/blog/marcio-valley/a-espantosa-distribuicao-da-riqueza-mundial