sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Cai castelo de cartas de Barbosa

Cai castelo de cartas de Barbosa

Por Breno Altman

As palavras finais do presidente da corte suprema, depois da decisão que absolveu os réus da AP 470 do crime de quadrilha, soaram como a lástima venenosa de um homem derrotado, inerte diante do fracasso que começa a lhe bater à porta. A arrogância do ministro Barbosa, abatida provisoriamente pelo colegiado do STF, aninhou-se em ataque incomum à democracia e ao governo.

“Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo”, discursou o relator da AP 470. “Esta maioria de circunstância foi formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012.”

Sua narrativa traz uma verdade, um insulto e uma fantasia.

Tem razão quando vê risco de desmoronamento do processo construído sob sua batuta. A absolvição pelo crime de quadrilha enfraquece fortemente a acusação. Se não há bando organizado, perde muito de sua credibilidade o roteiro forjado pela Procuradoria Geral da República e avalizado por Barbosa. A peça acusatória, afinal, apresentava cada passo como parte minuciosa de um plano concebido e executado de forma coletiva, além de permanente, com o intuito de preservação do poder político. Se cai a tese de quadrilha, mais cedo ou mais tarde, as demais etapas terão que ser revistas. Essa é a porção verdadeira de sua intervenção matreira.

A raiva de Barbosa justifica-se porque, no coração desta verdade, está a neutralização da principal carta de seu baralho. O ex-ministro José Dirceu foi condenado sem provas materiais ou testemunhais, como bem salientou o jurista Ives Gandra Martins, homem de posições conservadoras e antipetistas. A base de sua criminalização foi uma teoria denominada “domínio do fato”: mesmo sem provas, Dirceu era culpado por presunção, oriunda de sua função de líder da eventual quadrilha. Absolvido do crime fundante, a existência de bando, como pode o histórico dirigente petista estar condenado pelo delito derivado? Se não há quadrilha, inexiste liderança de tal organização. A própria tese condenatória se dissolve no ar. O que sobra é um inocente cumprindo pena de maneira injusta e arbitrária.

Derrotado, Barbosa recorreu a um insulto: acusa o governo da República de ter ardilosamente montado uma “maioria de circunstância”, como se a fonte de sua indicação fosse distinta dos demais. Aponta o dedo ao Planalto sem provas e sem respeito pela Constituição. Atropela a independência dos poderes porque seu ponto de vista se tornou minoritário. Ao contrário da presidente Dilma Rousseff, que manteve regulamentar distância das decisões tomadas pelo STF, mesmo quando eram desfavoráveis a seus companheiros, incorre em crime de Estado ao denunciar, através de uma falácia, suposta conspiração da chefe do Executivo.

A conclusão chorosa de seu discurso é uma fantasia. Não se pode chamar de “trabalho primoroso” uma fieira de trapaças. O presidente do STF mandou para um inquérito secreto, inscrito sob o número 2474, as provas e laudos que atestavam a legalidade das operações entre Banco do Brasil, Visanet e as agências de publicidade do sr. Marcos Valério. Omitiu ou desconsiderou centenas de testemunhas favoráveis à defesa. Desrespeitou seus colegas e tratou de jogar a mídia contra opiniões que lhe contradiziam. Após obter sentenças que atendiam aos objetivos que traçara, lançou-se a executá-las de forma ilegal e imoral.

O ministro Joaquim Barbosa imaginou-se, e nisso há mesmo um primor, como condutor ideal para uma das maiores fraudes jurídicas desde a ditadura. Adulado pela imprensa conservadora e parte das elites, sentiu-se à vontade no papel do pobre menino que é glorificado pela casa grande por suas façanhas e truques para criminalizar o partido da senzala.

O presidente do STF lembra o protagonista da série House of Cards, que anda conquistando corações e mentes. Para sua tristeza, ele está se desempenhando como um Frank Underwood às avessas. O personagem original comete incríveis delitos e manobras para chegar à Presidência dos Estados Unidos, derrubando um a um seus adversários. O ministro Barbosa, porém, afunda-se em um pântano de mentiras e artimanhas antes de ter dado sequer o primeiro passo para atravessar a praça rumo ao Palácio do Planalto.

Acuado e sentindo o constrangimento de sua nudez político-jurídica, o ministro atira-se a vinganças, recorrendo aos asseclas que irregularmente nomeou, na Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, como feitores das sentenças dos petistas. Delúbio Soares teve o regime semiaberto suspenso na noite de ontem. José Dirceu tem contra si uma investigação fajuta sobre uso de aparelho celular, cujo único propósito é impedir o sistema penal que lhe é devido. O governo de Brasília está sendo falsamente acusado, com a cumplicidade das Organizações Globo, de conceder regalias aos réus.

O ódio cego de Barbosa contra o PT e seus dirigentes presos, que nenhuma força republicana ainda se apresentou para frear, também demonstra a fragilidade da situação pela qual atravessam o presidente do STF e seus aliados. Fosse sólido o julgamento que comandou, nenhuma dessas artimanhas inquisitoriais seria necessária.

 O fato é que seu castelo de cartas começou a ruir. Ao final dessa jornada, o chefe atual da corte suprema sucumbirá ao ostracismo próprio dos anões da política e da justiça. Homem culto, Barbosa tem motivos de sobra para uivar contra seus pares. Provavelmente sabe o lugar que a história reserva para quem, com o sentimento dos tiranos, veste a toga dos magistrados.

* Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi.
 
(Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/02/cai-castelo-de-cartas-de-barbosa.html )

Análise: As operações aritméticas do ministro Joaquim Barbosa

E não nos esqueçamos que esta matéria foi publicada no "Estadão", que não morre de amores pelo PT....


Estadão: Barbosa admitiu que penas de quadrilha foram conta de chegada



Dida Sampaio/Estadão
Felipe Recondo - O Estado de S. Paulo
  Barbosa acabava de admitir abertamente o que o ministro Luís Roberto Barroso dizia com certos pudores. A pena para os condenados pelo crime de formação de quadrilha no julgamento do mensalão foi calculada, por ele, Barbosa, para evitar a prescrição. Por tabela, disse Barroso, o artifício matemático fez com que réus que cumpririam pena em regime semiaberto passassem para o regime fechado.

A assertiva de Barroso não era uma abstração ou um discurso meramente político. A mesma convicção teve, para citar apenas um, o ministro Marco Aurélio Mello. Em seu voto, ele reconheceu a existência de uma quadrilha, mas considerou que as penas eram desproporcionais. E votou para reduzi-las a patamares que levariam, ao fim e ao cabo, à prescrição. Algo que Barbosa há muito temia, como se verá a seguir.

Foi essa suposição de Barroso que principiou a saraivada de acusações e insinuações do presidente do STF contra os demais ministros. Eram 17h33, quando Barroso apenas repetiu o que os advogados falavam desde 2012 e que outros ministros falavam em caráter reservado.
Joaquim Barbosa acompanhava a sessão de pé, reticente ao voto de Barroso, mas ainda calmo. Ao ouvir a ilação, sentou-se de forma apressada e puxou para si os microfones que ficam à sua frente. Parecia que dali viria um desmentido categórico, afinal a acusação que lhe era feita foi grave.

Mas Joaquim Barbosa não repeliu a acusação. Se o fizesse, de fato, estaria faltando com a sua verdade, não estaria de acordo com a sua consciência. Três anos antes, em março de 2011, Joaquim Barbosa estava de pé em seu gabinete. Não se sentava por conta do problema que ainda supunha atacar suas costas. Foi saber depois, que suas dores tinham origem no quadril.
A porta mal abrira e ele iniciava um desabafo. Dizia estar muito preocupado com o julgamento do mensalão. A instrução criminal, com depoimentos e coleta de provas e perícias, tinha acabado. E, disse o ministro, não havia provas contra o principal dos envolvidos, o ministro José Dirceu. O então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fizera um trabalho deficiente, nas palavras do ministro.

Piorava a situação a passagem do tempo. Disse então o ministro: em setembro daquele ano, o crime de formação de quadrilha estaria prescrito. Afinal, transcorreram quatro anos desde o recebimento da denúncia contra o mensalão, em 2007. Barbosa levava em conta, ao dizer isso, que a pena de quadrilha não passaria de dois anos. Com a pena nesse patamar, a prescrição estaria dada. Traçou, naquele dia em seu gabinete, um cenário catastrófico.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou, no dia 26 de março de 2011, uma matéria que expunha as preocupações que vinham de dentro do Supremo. O título era: "Prescrição do crime de formação de quadrilha esvazia processo do mensalão".

Dias depois, o assunto provocava debates na televisão. Novamente, Joaquim Barbosa, de pé em seu gabinete, pergunta de onde saiu aquela informação. A pergunta era surpreendente. Afinal, a informação tinha saído de sua boca. Ele então questiona com certa ironia: "E se eu der (como pena) 2 anos e 1 semana?".

Barroso não sabia dessa conversa ao atribuir ao tribunal uma manobra para punir José Dirceu e companhia e manter vivo um dos símbolos do escândalo: a quadrilha montada no centro do governo Lula para a compra de apoio político no Congresso Nacional. Barbosa, por sua vez, nunca admitira o que falava em reserva. Na quarta-feira, para a crítica de muitos, falou com a sinceridade que lhe é peculiar. Sim, ele calculara as penas para evitar a prescrição. "Ora!"

Felipe Recondo é repórter do jornal O Estado de S. Paulo em Brasília.

(Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/estadao-barbosa-admitiu-que-penas-de-quadrilha-foram-conta-de-chegada)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Joaquim Barbosa não tem civilidade para presidir o STF

Joaquim Barbosa não tem civilidade para presidir o STF

26 de fevereiro de 2014 | 19:30 Autor: Fernando Brito


Assisti o final da sessão de julgamento dos embargos infringentes no STF.
Independente do entendimento que cada ministro possa ter sobre ter ou não havido o crime de formação de quadrilha, é escandaloso o comportamento grosseiro e intolerante do Ministro Joaquim Barbosa.

Interrompeu a fala de seu colega Luís Roberto Barroso grosseiramente, fez caretas, levantou-se irritado e, pior, acusou Barroso de estar julgando politicamente, não por sua convicção jurídica.

Provocou de todas as formas um bate-boca, do qual Barroso, com impressionante sangue-frio, escapou, sem declinar de suas posições.

O Ministro Dias Tóffoli chegou a sair em sua defesa: ”Deixe ele votar. Vossa Excelência o interrompe só porque ele não concorda com Vossa Excelência”.

Com toda a serenidade, Barroso disse que Barbosa desqualifica como “espúrias” tudo o que não concorda com o que ele próprio diz.

Vou ver se consigo o vídeo. É um documento inacreditável de intolerância.

Triste,, muito triste para quem quer respeitar o mais alto tribunal do Brasil e não transformá-lo num palco de grosserias e exposição política de um comportamento selvagem que, até o final de março, saberemos onde quer chegar.
(Fonte: http://tijolaco.com.br/blhttp://tijolaco.com.br/blog/?p=14639og/?p=14639)

Notícias que interessam

1.

Governo Federal lança edital para seleção e aquisição de obras de literatura sobre a temática indígena

O Governo Federal está com edital aberto para inscrição e seleção de obras literárias sobre a temática indígena brasileira. As temáticas das obras devem valorizar  e divulgar a diversidade sociocultural dos povos indígenas  e demonstrar a sua contribuição no processo histórico de formação da sociedade.
As inscrições se iniciaram no dia 27 de janeiro e se estendem até 19 de abril de 2014. Segundo o edital,  as obras devem apresentar a produção literária relacionada aos povos indígenas brasileiros e fomentar a ruptura de estereótipos sobre as suas histórias, culturas e identidades, em uma abordagem positiva da pluralidade cultural indígena e da afirmação de direitos culturais diferenciados dos povos indígenas.
Informações complementares podem ser verificadas no site abaixo:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2014-01/mec-lanca-edital-para-selecionar-obras-sobre-tematica-indigena

2.

Lançado o novo número da revista acadêmica "Expedições: Teoria da História e Historiografia"

O segunda edição do Volume 4 (2013) da revista acadêmica "Expedições: Teoria da História e Historiografia" - publicação da Universidade Estadual de Goiás – UEG – acaba de ser publicado em seu ambiente online. Nesta edição, os autores desenvolvem reflexões estudos sobre o tema “História e sua Filosofia”.
Conforme apresentado por seus editores, a revista se constitui como um espaço de discussão e reflexão historiográfica em torno de questões teóricas fundamentais como a historiográfica em seus diversos contextos históricos, as apropriações e defasagens conceituais, a circulação de ideias, obras e pensadores no campo historiográfico, os usos e abusos do conhecimento histórico e a historiografia do ensino de História.
Segundo os organizadores da Revista, a apresentação ao público do dossiê "A História e sua Filosofia", organizado pelos professores Aruanã Antonio dos Passos e Wellington Lima Amorim, se propõe a construir um mosaico sobre as relações entre o saber histórico e as múltiplas possibilidades de diálogo com a filosofia.
Clique aqui e visite a revista acadêmica "Expedições: Teoria da História e Historiografia".
http://www.prp.ueg.br/revista/index.php/revista_geth/issue/view/97/showToc 


3.

Inscrições para o 8º Seminário Brasileiro de História da Historiografia

As inscrições para participação de trabalhos no 8º Seminário Brasileiro de História da Historiografia ocorrerá no próximo dia 20 de fevereiro. O evento acontecerá em Mariana, Minas Gerais, entre os dias 18 e 21 de agosto.
O seminário entrará em sua 8ª edição e reúne historiadores, professores e estudantes para discutirem a Teoria e História da Historiografia, entendida aqui como o estudo voltado para a história do saber histórico em suas múltiplas orientações temáticas e perspectivas teóricas. A relevância e abrangência desse tema vem, há algum tempo, se consolidando de forma estável e produtiva.
Entre os principais patrocinadores do evento estão a Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia (SBTHH), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e o Núcleo de Estudos em História da Historiografia e Modernidade (NEHM).
Mais informações podem ser encontradas no endereço:  https://www.facebook.com/8snhh.

Ucrânia: laços indiscretos entre EUA e neo-nazistas

Ucrânia: laços indiscretos entre EUA e neo-nazistas



Obcecada com vitória geopolítica na Europa Oriental, Washington envolveu-se com grupos que defendem “supremacia branca” e atacam comunistas, anarquistas e judeus
Por Max Blumenthal, no Alternet | Tradução Cauê Seignemartin Ameni

Quando os protestos na capital da Ucrânia chegaram a um desfecho, este fim-de-semana, as demonstrações de extremistas fascistas e neo-nazistas assumidos tornaram-se evidentes demais para serem ignoradas. Desde o início dos protestos, quando manifestantes lotaram a praça central para combater a polícia ucraniana e exigir a expulsão do corrupto presidente pró-russia Viktor Yanukovich, as ruas estavam cheias de pelotões de extrema-direita, prometendo defender a pureza étnica de seu país.
Bâners dos partidários da “supremacia branca” e bandeiras dos confederados norte-americanos [escravocratas] foram fixadas dentro da prefeitura de Kiev ocupada. Manifestantes içaram bandeiras da SS nazista e símbolos do poder branco sobre a estátua tombada de Lenin. Depois que Yanukovich fugiu do palácio estatal de helicóptero, os manifestantes destruíram a estátua dos ucranianos que morreram lutando contra a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Saudações nazistas e o símbolo do Wolfsangel tornaram-se cada vez mais comuns na praça Maiden. Forças neo-nazi estabeleceram “zonas autonômas” em torno de Kiev.
Um grupo anarquista chamado União Ucraniana Antifascista tentou juntar-se aos manifestantes de Maiden, mas encontrou dificuldades, com ameaças de violência das gangs neo-nazis itinerantes da praça. “Eles disseram que os anarquistas são gente como judeus, pretos e comunistas. E nem havia comunistas entre nós, foi um insulto”, ”, disse um integrante do grupo.
“Está cheio de nacionalistas aqui — incluindo nazistas”, continuou o antifascista. “Eles vieram de toda Ucrânia, e são cerca de 30% dos manifestantes.”


Um dos “três grandes” partidos políticos por detrás dos protestos é o ultra-nacionalista Svoboda, liderado por Oleh Tyahnybok, que clama pela “libertação” de seu país da “máfia judaico-moscovita”. Após a condenação, em 2010, de John Demjanjuk, um vigilante dos campos de extermínio que teria participado da morte de 30 mil pessoas no campo de extermínio nazista de Sobibor, Tyahnybok propôs à Alemanha  declará-lo um herói que “lutou pela verdade”. No parlamento ucraniano, onde o Svoboda detém inéditos 37 assentos, o vice de Tyahnybok, Yuiy Mykhalchyshyn, cita com frequência Joseph Goebbels. Ele próprio fundou um thinktank originalmente chamado de Centro de Pesquisa Política Goebbels. Segundo Per Anders Rudling, acadêmico especialista em movimentos neofascista na Europa, o auto-intitulado “nacional socialista” Mykhalchyshyn é o principal elo entre a ala oficial do partido Svoboda e as milícias neonazistas, como o Right Sector.
Right Sector é um grupo nebuloso, que se auto-intitula “nacionalista autônomo”. Seus membros são identificados pelo jeito skinhead de trajar, estilo de vida ascético e fascínio pela violência nas ruas. Armado com escudos e porretes, o grupo ocupou as linhas de frente das batalhas nas manifestações deste mês, enchendo o ar com seu tradicional canto: “A Ucrânia, acima de tudo!”. Em um vídeo-propaganda recente [veja abaixo], o grupo prometeu lutar “contra a degeneração e o liberalismo totalitário, pela tradição moral nacional e os valores familiares.” Com o Svoboda ligado a uma constelação de partidos neofascistas internacionais por meio da Aliança dos Movimentos Nacionais Europeus, o Right Sector promete levar seu exército de jovens desiludidos a “uma grande Reconquista Europeia”.
As políticas abertamente pró-nazistas do Svoboda não impediram o senador americano John McCain, de falar num comício do partido, ao lado de Tyahnybok; nem evitaram que a secretária-assistente do Estado, Victoria Nuland, desfrutasse de um encontro amigável com o líder do Svoboda, em fevereiro. Ansioso por se defender de acusações de anti-semitismo, o dirigente hospedou recentemente o embaixador israelense da Ucrânia. “Eu gostaria de pedir aos israelenses que respeitassem também nossos sentimentos patriotas”, Tyahnybok observou. “Provavelmente, todos os partidos do Knesset [parlamento de Israel] são nacionalistas. Com a ajuda de Deus, deixe-nos ser assim também.”
Numa conversa telefônica vazada com o embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, Nuland revelou seu desejo de que Tyahnybok permaneça “do lado de fora”, mas que se consulte com Arseniy Yatsenyuk, o preferido dos EUA para substituir Yanukovich, “quatro vezes por semana.” Em 5 de dezembro de 2013, na Conferência da Fundação EUA-Ucrânia, Nuland destacou que Washington havia investido 5 bilhões de dólares para “desenvolver habilidades e instituições democráticas” na Ucrânia, embora não tenha acrescentado nenhum detalhe.

“O movimento da praça Maiden incorporou os princípios e valores que são os pilares de todas as democracias livres”, proclamou Nuland.
Duas semanas depois, 15 mil membros do Svoboda realizaram uma cerimônia com tochas na cidade de Lviv, em homenagem a Stepan Bandera, colaborador nazista da Segunda Guerra Mundial e então líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN-B), pró-fascista. Lviv tornou-se o epicentro das atividades neo-fascistas na Ucrânia, com os dirigentes eleitos do Svoboda liderando uma campanha para renomear o aeroporto (em homenagem ao líder fascista) e a antiga Praça da Paz. Isso, eles já conseguiram. Ela honra, agora, o Batalhão Nachtigall, rememorando um grupo, ligado à OUN-B, que participou diretamente do Holocausto. “Paz’ é um resquício dos estereótipos soviéticos”, explicou um deputado do Svoboda.
Reverenciado pelos nacionalistas ucranianos como legendário lutador da liberdade, a verdadeira história de Bandera foi infame, na melhor das hipóteses. Depois de participar da campanha para assassinar ucranianos que defendiam a pacificação com os poloneses, durante a década de 1930, as forças de Bandera determinaram-se a  limpar etnicamente a Ucrânia ocidental dos poloneses, entre 1943 e 1944. No processo, mataram mais de 90 mil poloneses e muitos judeus, a quem o seguidor  mais destacado de Banderas, o “primeiro ministro” Yaroslav Stetsko, estava determinado a exterminar. Bandera aferrou-se à ideologia fascista mesmo nos anos do pós-guerra, defendendo uma Europa etnicamente pura e totalitária, enquanto o Exército Insurgente Ucraniano (UPA), ligado a ele, travava uma luta armada sem futuro contra a União Soviética. O banho de sangue só cessou quando agentes da KGB o assassinaram em Munique, em 1959.
As conexões da Direita
Muitos membros sobreviventes da OUN-B fugiram para a Europa Ocidental e para os EUA – por vezes, com ajuda da CIA –, onde forjaram silenciosamente alianças políticas com elementos da direita. “Você tem que entender, nós somos uma organização subterrânea. Nós passamos anos em silêncio, alcançando posições de influência”, disse um membro ao jornalista Russ Bellant, que documentou o ressurgimento do grupo nos Estados Unidos, em seu livro de 1988, Velhos nazistas, Nova Direita, e o Partido Republicano.
Em Washington, a OUN-B reconstitui-se sob a bandeira do Comitê do Congresso Ucraniano para os EUA [Ukrainian Congress Committee of America (UCCA)], uma organização composta por “frentes 100% OUN-B”, segundo Bellant. Em meados da década de 1980, o governo Reagan ligou-se a membros da UCCA. O líder do grupo, Lev Dobriansky, serviu como embaixador nas Bahamas, e sua filha, Paula, teve um posto no Conselho de Segurança Nacional. Reagan recebeu pessoalmente Stetsko, o líder banderista que supervisionou o massacre de 7 mil judeus em Lviv, na Casa Branca, em 1983.
“Seus problemas são nossos problemas”, disse Reagan para o colaborador nazista. “Seu sonho é o nosso sonho.”
Em 1985, quando o Departamento de Justiça lançou a cruzada para capturar e processar os criminosos de guerra nazistas, a UCCA agiu rapidamente, pressionando o Congresso a travar a inciativa. “A UCCA também tem desempenhado um papel de liderança na oposição de investigações federais dos supostos criminosos de guerra nazistas, desde o início da relação entre as entidades, no final dos anos 1970″, escreveu Bellant. “Alguns membros da UCCA têm muitas razões para se preocupar. Elas remontam a 1930.”
Ainda hoje uma força lobista ativa e influente em Washington, a UCCA não parece ter abandonado sua reverência pelo nacionalismo banderista. Em 2009, no 50º aniversário da morte de Bandera, o grupo proclamou-o “um símbolo de força e justiça para seus seguidores”, que “continua inspirando a Ucrânia hoje em dia”. Um ano depois, o grupo homenageou o 60º aniversário da morte de Roman Shukhevych, o comandante do Batalhão Nachtigall da OUN-B, que massacrou judeus em Lviv e Belarus, chamando-o de “herói” que “lutou pela honra e justiça…”
De volta a Kiev em 2010, o então presidente Viktor Yuschenko concedeu a Bandera o título de “Herói Nacional da Ucrânia”, marcando o ponto culminante dos seus esforços para construir uma narrativa nacional anti-russa capaz de “higienizar” o fascismo da OUN-B. (A esposa de Yuschenko, Katherine Chumachenko, atuou no governo Reagan e foi ex-funcionária da Heritage Foundation, claramente identificada com a direita “neoconservadora”). Quando o Parlamento Europeu condenou a proclamação de Yuschenko como uma afronta aos “valores europeus”, a afiliação ucraniana da UCCA no Congresso Mundial reagiu com indignação, acusando a UE de “reescrever a história da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial”. Em seu site, a UCCA tentou rotular os registros históricos da colaboração de Bandera com os nazistas como “propaganda soviética”.
Após a derrubada de Yanukovich neste mês, a UCCA ajudou a organizar comícios em todas as cidades dos EUA, em apoio aos manifestantes. Quando centenas destes marchavam pelo centro de Chicago, alguns agitavam bandeiras da Ucrânia, enquanto outros orgulhosamente carregavam as bandeiras vermelhas e pretas da UPA e OUN-B. “Os EUA apoiam a Ucrânia!” eles gritavam.

(Fonte: http://outraspalavras.net/capa/ucrania-o-lacos-discretos-entre-eua-e-neo-nazistas/)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Ponderações anti-coxinhas



Ponderações anti-coxinhas

23 de fevereiro de 2014 | 02:18 Autor: Miguel do Rosário
Algumas palavras sobre a manifestação ocorrida ontem em São Paulo e suas consequências. Antes, uma observação importante. Defendo manifestações democráticas. Não venham me chantagear com esse papo de “criminalizar” movimentos sociais.
Mas já aprendi uma coisa, de uns tempos para cá. Manifestações com presença de mascarados não são democráticas. Mascarados mancham indelevelmente qualquer manifestação, porque a gente sabe, antecipadamente, que apelarão para violências, e podem conter infiltrados cujo objetivo é justamente destruir ou desqualificar a manifestação.
Grandes armadilhas contra a nossa democracia estão sendo armadas. O movimento #naovaitercopa reúne inúmeros grupelhos de extrema-esquerda, mas conta com o apoio esquizofrênico de todos os grupos de extrema-direita, também interessados no caos e na derrubada do regime. Esses grupos financiam páginas na internet, memes e textos. Não, não é mais paranóia. Proliferam nas redes sociais um número alarmante de grupos e indivíduos que defendem um golpe de Estado, inclusive militar. Setores da direita, desesperados com a distância do poder, e farejando nova derrota este ano, perderam os escrúpulos democráticos que fingiam ter e estão demonstrando um perigoso descontrole emocional.
Falei em armadilhas porque é disso que se trata. Fazer a população se lançar voluntariamente no abismo, achando que está participando de uma revolução.
A maioria dos intelectuais brasileiros de esquerda pode ser facilmente manipulada por estratégias simples. Bota-se um punhado de jovens na rua pregando revolução, pedindo mais gastos em educação, reclamando da Globo, coisas simples e boas. Mas aí se acrescenta um elemento explosivo: algumas dezenas, ou centenas, de mascarados para assustar a polícia, quebrar bancos e incitar repressão.
Pronto. Temos o cenário perfeito. Alguns líderes de movimentos sociais, cansados de apanhar da polícia, rapidamente aderem aos protestos. Como ser contra?
Em pouco tempo, contudo, ninguém mais sabe porque está na rua, nem manifestantes nem policiais, repetindo-se a lógica irracional de uma guerra civil.
Sei que é difícil acreditar na imprensa hoje, mas todos os sites que eu li falavam de 2 manifestantes e cinco PMs feridos.
Isso é perigoso. As polícias militares têm imensas deficiências. Mas o culpado não é o policial, um trabalhador que ganha pouco e se arrisca muito. A partir do momento em que os manifestantes começarem a descontar sua testosterona em cima desses PMs, correremos enorme risco. O culpado pela violência policial é o sistema.
Nosso judiciário também tem culpa, por ser truculento e reacionário, evitando penas alternativas e prisão domiciliar inclusive para presidiários doentes que não oferecem nenhum perigo à sociedade. Por que a imprensa não fez violentos protestos quando descobriu que o Judiciário negava prisão domiciliar a um tetraplégico preso na Papuda por fumar maconha? Não protestou porque isso poderia beneficiar José Genoíno?
Por que os manifestantes só hostilizam as instituições democráticas e deixam o Judiciário e o Ministério Público em paz?
Entretanto, o mais surreal é que o movimento #naovaitercopa pede mais gastos em educação e saúde, mas o cancelamento da Copa provocaria um prejuízo enorme ao Estado, e portanto, forçaria cortes em educação e saúde.
Essa é a grande esquizofrenia coxinha, que se mistura ao marxismo enfumaçado de jovens universitários, que tem planos de saúde e estudam em universidades públicas.
Dinheiro para Saúde e Educação não cai do céu. É fruto dos impostos. A arrecadação fiscal per capita no Brasil ainda muito inferior a dos países desenvolvidos. Somos um país rico, mas um povo pobre. A única maneira de aumentar a arrecadação é aumentar a atividade econômica. E aí entra a importância da Copa. Se ela atrai turistas, se gera novos negócios, gerará também mais atividade econômica, que por sua vez gerará impostos, que poderão ser usados em Saúde e Educação.
A Copa é importante, portanto, para gerar mais gastos em Educação e Saúde.
Sobre os mascarados, já falei aqui. Sou contra a presença dele em manifestações. O Brasil deveria fazer uma legislação específica para coibir o uso de máscaras em manifestações, para proteção dos próprios manifestantes. A presença de mascarados facilita a infiltração de provocadores, que agem para destruir a própria manifestação.
Não podemos esquecer tão rápido a morte do repórter Santigo, até porque ainda não discutimos profundamente o que aconteceu. Um dos rapazes disse que o rojão era destinado à polícia. Esse é o grande perigo. Imagine se o rojão explodisse no rosto de um policial, ferindo-o. Seus colegas se descontrolariam emocionalmente e partiriam para cima dos manifestantes, e eis que ocorre uma morte de um manifestante, quiçá de um totalmente pacífico. Balas são traiçoeiras.
O que aconteceria? Haveria uma comoção nacional? O Brasil se ergueria em fúria? Contra o quê? Contra quem?
Pior, e se o rojão que feriu o policial tivesse sido disparado justamente com essa intenção?
Será possível que o Brasil tenha se tornado um país tão facilmente manipulável? Tão frágil? É tão fácil assim nos derrubar?
Pior que sim.
A nossa mídia é um caso perdido. Ela se vende a quem paga mais caro. E sabemos muito bem a quem ela presta continência em primeiro lugar. Esse é um problema importante em toda a América Latina. Suas mídias não são comprometidas, de fato, com a democracia, apesar de sempre usarem o vocabulário democrático para venderem suas teses. Foi assim em 1964. É assim hoje.
Qual a solução? A solução é lutar por uma reforma política e uma regulamentação democrática da mídia.
A nossa imprensa faz ataques ao Sarney, e a Henrique Alves, mas jamais informou ao Brasil de onde eles tiram seu poder eleitoral: suas famílias controlam as mídias regionais, sobretudo a distribuidora da Rede Globo.
A elite é muito esperta. Pode financiar, secretamente, manifestações lideradas por jovens de extrema esquerda que pregam o fim do capitalismo. O objetivo é fomentar o caos, constranger o governo e criar na população o desejo por uma liderança forte, austera, que reestabeleça a ordem.
Não é uma conspiração tão complicada assim, afinal. Nem moderna. Os romanos a praticavam há mais de mil anos. Fomentavam revoltas domésticas nos povos que desejavam dominar. Às vezes financiavam inclusive movimentos contra Roma, sempre com objetivo de dividir e conquistar.
Quem participa de manifestações que contam com a presença de mascarados, portanto, pode estar participando de um ataque à nossa democracia sem o saber. Afinal, como saber que não há, entre os mascarados, gente que defende o golpe militar ou mercenários pagos por organizações de extrema-direita?
O pior é que os setores mais perigosos da direita sabem que apenas a emergência de uma situação de caos poderia lhe dar esperanças de uma mudança no regime. O caos é criativo. Pode gerar mudanças também para melhor. É esta a melhor armadilha para a esquerda: uma isca. Ela vê a possibilidade de mudança e seus olhos brilham, e vai atrás, não vendo que caminha para o abismo.
Os que financiam essas iniciativas com certeza saberão minimizar os riscos de que esses protestos se voltem contra eles. Não à tôa, a mídia já tem feito, desde as jornadas de junho, um malicioso jogo duplo.
Primeiro, fingiu apoiar as manifestações, mesmo com a violência ultrapassando todos os limites do tolerável, a ponto de repórteres cobrirem os protestos do alto de helicópteros para não serem agredidos, seja por manifestantes, seja por policiais (principalmente, sabe-se lá porque). O que acho ridículo. Manifestações minimamente civilizadas jamais agridem jornalistas. Agora, a mídia finge ser contra os black blocs, mas lhes dão um espaço que jamais nenhum outro grupelho jamais teve. Suas mensagens são reproduzidas em seus portais imediatamente após serem publicadas.
Estamos diante de grandes perigos, complexas armadilhas. Por isso temos que ser firmes. A defesa da ordem não é monopólio da direita ou da ditadura. A democracia também precisa de ordem. Jovens cheios de testosterona e fumaça podem se esquecer disso. O povo, não. Se a democracia não oferecer ordem, segurança e estabilidade ao povo, ele escolherá a ditadura.
A democracia, por isso mesmo, tem de se defender. O Brasil precisa de paz, para terminar de construir as estradas, ferrovias, hidrelétricas, pontes, refinarias, portos e aeroportos de que necessita para crescer economicamente e dar continuidade ao processo de distribuição de renda e melhora dos serviços oferecidos à população.
Não tem nada de progressista achar que o país deva ficar refém de grupos violentos, sem qualquer tipo de repressão. Aliás, a PM de São Paulo que cercou a manifestação inaugurou uma tática louvável. Os Pms não portavam armas. O número de feridos caiu drasticamente.  Esse é o caminho. Repressão inteligente, estratégica, apenas na medida em que a necessidade exige.
Até porque não me surpreenderia se alguns estados fizessem uma repressão calculada, justamente para produzir comoção nacional e estimular mais protestos.
Temos alguns pactos tácitos na nossa sociedade. Movimentos de sem teto e sem terra, por exemplo, tem suas liberdades. Podem invadir fazendas improdutivas e edifícios abandonados, porque a democracia precisa de alguns empurrões para avançar. Mas não há sentido em entender a democracia como um regime em que todos podem tudo. Não tem sentido permitir que jovens mimados quebrem agências bancárias, provoquem caos no trânsito, revirem lixeiras, invadam e depredem repartições públicas. E tudo isso sem objetivo, sem liderança, sem qualquer estratégia.
Não é assim que faremos o país melhorar. O Brasil precisa de inteligência, não de truculência. Se houver necessidade de sermos violentos um dia, que seja para defendemos a democracia, não para sabotá-la.

(fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=14460 )

Charge para começar a semana

Desconheço o autor. Mas parabenizo-o.





sábado, 22 de fevereiro de 2014

Jornalista lembra em carta aberta a morte de seu filho

Esta carta complementa a matéria publicada ontem, da Hildegard Angel. É bom ler as duas!


 
Em carta aberta divulgada nas redes sociais, o jornalista Dermi Azevedo, colunista da Carta Maior, lembrou ontem o primeiro ano da morte do seu filho.
 
Dermi Azevedo
 
Carta ao meu filho

Caro Carlos Alexandre Azevedo (Cacá)

Meu querido filho,

Bom dia !

Faz hoje exatamente um ano que você partiu para outra vida. Como aconteceu com muitas outras crianças, você foi uma das vítimas da cruel e sanguinária ditadura civil-militar de 1964. Com apenas um e ano oito meses, você foi submetido a torturas pela “equipe” do delegado Josecyr  Cuoco, subordinado ao  delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos mais violentos esbirros da história contemporânea.

Já no sofá da pequena casa em que morávamos no bairro de Campo Belo, na zona sul paulistana, os investigadores da repressão quebraram os seus dentinhos; mais tarde, você foi submetido a novos vexames na sede do DEOPS. Em seguida, na madrugada de 14 de janeiro de 1974, você foi levado a São Bernardo do Campo, onde moravam seus avós Carlos e Joana. Eles foram acordados  com o barulho dos agentes que jogaram você no piso da sala...

Toda a sua vida foi marcada por esses acontecimentos. Quando você, anos mais tarde, tomou conhecimento do que viveu, você leu muito e estudou a história da repressão fascista.  Em entrevista à repórter Solange Azevedo, da ISTO É,  você sussurrou:  “Minha família nunca conseguiu se recuperar totalmente dos abusos sofridos durante a ditadura... Muita gente ainda acha que não houve ditadura nem tortura no Brasil...”.

É isto mesmo, meu filho. Ainda há muita gente que não acredita que milhares de brasileiros e de brasileiras, de estrangeiros e de estrangeiras que viviam no Brasil, dedicados aos mais oprimidos e excluídos, tenham sido perseguidos e esmagados pela ditadura...”

Ainda há cidadãos, fardados ou não, no Brasil e na América Latina, que praticam e legitimam a tortura...

Definitivamente marcado pela dor...por sua dor e pelo sofrimento (inenarrável ) de sua mãe e de seus irmãos, você decidiu partir...

Cabe a mim, seu pai, a tarefa quase apenas de compartilhar a narração do seu calvário, de denunciar – como jornalista – os crimes da ditadura e de lutar para que dores e agonias, como as que você viveu, nunca mais aconteçam...

Do seu pai

Dermi Azevedo

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"Neste momento em que um golpe ronda um país vizinho, é meu dever dizer aos jovens o que é um golpe de estado"


Por Hildegard Angel

Neste momento extremamente grave em que vemos um golpe militar caminhar célere rumo a um país vizinho, com o noticiário chegando a nós de modo distorcido, utilizando-se de imagens fictícias, exibindo fotos de procissões religiosas em Caracas como se fosse do povo venezuelano revoltoso nas ruas; mostrando vídeos antigos como se atuais fossem; e quando, pelo próprio visual próspero e “coxinha” dos manifestantes, podemos bem avaliar os interesses de sua sofreguidão, que os impedem de respeitar os valores democráticos e esperar nova eleição para mudar o governo que os desagrada, vejo como meu dever abrir a boca e falar.
Dizer a vocês, jovens de 20, 30, 40 anos de meu Brasil, o que é de fato uma ditadura.
Se a Ditadura Militar tivesse sido contada na escola, como são a Inconfidência Mineira e outros episódios pontuais de usurpação da liberdade em nosso país, eu não estaria me vendo hoje obrigada a passar sal em minhas tão raladas feridas, que jamais pararam de sangrar.
Fazer as feridas sangrarem é obrigação de cada um dos que sofreram naquele período e ainda têm voz para falar.
Alguns já se calaram para sempre. Outros, agora se calam por vontade própria. Terceiros, por cansaço. Muitos, por desânimo. O coração tem razões…
Eu falo e eu choro e eu me sinto um bagaço. Talvez porque a minha consciência do sofrimento tenha pegado meio no tranco, como se eu vivesse durante um certo tempo assim catatônica, sem prestar atenção, caminhando como cabra cega num cenário de terror e desolação, apalpando o ar, me guiando pela brisa. E quando, finalmente, caiu-me a venda, só vi o vazio de minha própria cegueira.
Meu irmão, meu irmão, onde estás? Sequer o corpo jamais tivemos.
Outro dia, jantei com um casal de leais companheiros dele. Bronzeados, risonhos, felizes. Quando falei do sofrimento que passávamos em casa, na expectativa de saber se Tuti estaria morto ou vivo, se havia corpo ou não, ouvi: “Ah, mas se soubessem como éramos felizes… Dormíamos de mãos dadas e com o revólver ao lado, e éramos completamente felizes”. E se olharam, um ao outro, completamente felizes.
Ah, meu deus, e como nós, as famílias dos que morreram, éramos e somos completamente infelizes!
A ditadura militar aboletou-se no Brasil, assentada sobre um colchão de mentiras ardilosamente costuradas para iludir a boa fé de uma classe média desinformada, aterrorizada por perversa lavagem cerebral da mídia, que antevia uma “invasão vermelha”, quando o que, de fato, hoje se sabe, navegava célere em nossa direção, era uma frota americana.
Deu-se o golpe! Os jovens universitários liberais e de esquerda não precisavam de motivação mais convincente para reagir. Como armas, tinham sua ideologia, os argumentos, os livros. Foram afugentados do mundo acadêmico, proibidos de estudar, de frequentar as escolas, o saber entrou para o índex nacional engendrado pela prepotência.
As pessoas tinham as casas invadidas, gavetas reviradas, papéis e livros confiscados. Pessoas eram levadas na calada da noite ou sob o sol brilhante, aos olhos da vizinhança, sem explicações nem motivo, bastava uma denúncia, sabe-se lá por que razão ou por quem, muitas para nunca mais serem vistas ou sabidas. Ou mesmo eram mortas à luz do dia. Ra-ta-ta-ta-tá e pronto.
E todos se calavam. A grande escuridão do Brasil. Assim são as ditaduras. Hoje ouvimos falar dos horrores praticados na Coreia do Norte. Aqui não foi muito diferente. O medo era igual. O obscurantismo igual. As torturas iguais. A hipocrisia idêntica. A aceitação da sobrevivência. Ame-me ou deixe-me. O dedurismo. Tudo igual. Em número menor de indivíduos massacrados, mas a mesma consistência de terror, a mesma impotência.
Falam na corrupção dos dias de hoje. Esquecem-se de falar nas de ontem. Quando cochichavam sobre as “malas do Golbery” ou as “comissões das turbinas”, as “compras de armamento”. Falavam, falavam, mas nada se apurava, nada se publicava, nada se confirmava, pois não havia CPI, não havia um Congresso de verdade, uma imprensa de verdade, uma Justiça de verdade, um país de verdade.
E qualquer empresa, grande, média ou mínima, para conseguir se manter, precisava obrigatoriamente ter na diretoria um militar. De qualquer patente. Para impor respeito, abrir portas, estar imune a perseguições. Se isso não é um tipo de aparelhamento, o que é, então? Um Brasil de mentirinha, ao som da trilha sonora ufanista de Miguel Gustavo.
Minha família se dilacerou. Meu irmão torturado, morto, corpo não sabido. Minha mãe assassinada, numa pantomima de acidente, só desmascarada 22 anos depois, pelo empenho do ministro José Gregory, com a instalação da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no governo Fernando Henrique Cardoso.
Meu pai, quatro infartos e a decepção de saber que ele, estrangeiro, que dedicou vida, esforço e economias a manter um orfanato em Minas, criando 50 meninos brasileiros e lhes dando ofício, via o Brasil lhe roubar o primogênito, Stuart Edgar, somando no nome as homenagens ao seus pai e irmão, ambos pastores protestantes americanos – o irmão assassinado por membro louco da Ku Klux Klan. Tragédia que se repetia.
Minha irmã, enviada repentinamente para estudar nos Estados Unidos, quando minha mãe teve a informação que sua sala de aula, no curso de Ciências Sociais, na PUC, seria invadida pelos militares, e foi, e os alunos seriam presos, e foram. Até hoje, ela vive no exterior.
Barata tonta, fiquei por aí, vagando feito mariposa, em volta da fosforescência da luz magnífica de minha profissão de colunista social, que só me somou aplausos e muitos queridos amigos, mas também uma insolente incompreensão de quem se arbitrou o insano direito de me julgar por ter sobrevivido.
Outra morte dolorida foi a da atriz, minha verdadeira e apaixonada vocação, que, logo após o assassinato de minha mãe, precisei abdicar de ser, apesar de me ter preparado desde a infância para isso e já ter alcançado o espaço próprio. Intuitivamente, sabia que prosseguir significaria uma contagem regressiva para meu próprio fim.
Hoje, vivo catando os retalhos daquele passado, como acumuladora, sem espaço para tantos papéis, vestidos, rabiscos, memórias, tentando me entender, encontrar, reencontrar e viver, apesar de tudo, e promover nessa plantação tosca de sofrimentos uma bela colheita: lembrar aos meus mártires, e tudo de bom e de belo que fizeram pelo meu país, quer na moda, na arte, na política, nos exemplos deixados, na História, através do maior número de ações produtivas, efetivas e criativas que possa multiplicar.
E ainda há quem me pergunte em quê a Ditadura Militar modificou minha vida!

(fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/hildegard-angel-e-meu-dever-dizer-aos-jovens-o-que-e-um-golpe-de-estado)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

“Não torturem os cachorrinhos, só torturem os negrinhos”. Para ser lido nas escolas.



“Não torturem os cachorrinhos, só torturem os negrinhos”. Para ser lido nas escolas.

20 de fevereiro de 2014 | 14:50 Autor: Fernando Brito


O mestre Mauro Santayanna, que talvez não detenha  a capacidade de uma Rachel Sheherazade ou o brilho intelectual de um Reinaldo Azevedo para ser convidado a comentar numa rede de televisão ou escrever na Veja, nos brinda hoje com um texto que deveria ser lido em todas as escolas brasileiras e servir de tema de debate aos jovens.
É  destas coisas que fazem alguém, como fiz há quase 40 anos, escolher o jornalismo como profissão e a humanidade como a mais sagrada das religiões.
Santayanna atinge o torturador em seu mais falso orgulho: a sua coragem, que é apenas covardia.
Acusa a Justiça, como instituição, por sua leniência com o crime que ela deixa à vitima, se ainda não tiver tido medo suficiente de morrer, o risco de, além de denunciar, provar. E, em geral, para ouvidos moucos, porque, muitas vezes, é “o marginalzinho” a que se referiu nossa Barbie.
E aponta o erro nosso, da sociedade, de promover ou aceitar a barbárie com o suposto fim de evitar o crime e a violência, que não podem ser evitados, como deveria ser obvio, pelo crime e pela violência.
E que talvez nos obrigue, 80 anos depois, ao mesmo gesto de Sobral Pinto, diante da fúria de Filinto Muller com Prestes, a invocar, para os seres humanos, o direito previsto na Lei de proteção aos Animais.

Sobre a tortura

Mauro Santayanna 
O que é a tortura? Como um ser humano pode conceber usar o corpo de outro ser humano, que possui a mesma pele, a mesma boca, os mesmos dentes, os mesmos ossos, os mesmos cabelos, os mesmos bilhões de neurônios, para puni-lo com dor, desespero e medo?

A convenção das Nações Unidas, de 1984, contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes, define a tortura como “qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido, ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação”.

São muitos os que buscam atribuir a tortura à natureza humana, como fazem com a guerra e outros crimes. Mas existe um enorme abismo entre quem luta e o torturador. O guerreiro luta por uma causa. Está sujeito a morrer por uma fonte de água, a carcaça de uma presa recém-abatida, por sua mulher e seus filhos.

O combatente atávico que existe em cada um de nós sabe dos riscos que corre, em defesa de suas circunstâncias, de suas ideias, de sua condição. Pode morrer ou ser ferido em batalha.

O torturador se distingue pela ausência de riscos, de coragem. O torturado sempre está desarmado, ou amarrado e indefeso, frente a ele. O torturador brinca com o medo do outro, porque, dentro de si mesmo, não consegue enfrentar e encarar o próprio medo. Ele é covarde por natureza, é movido pelo mal e o sadismo, e por sua fraca e abjeta personalidade. Ele não precisa de uma ideia, de uma razão.
“A finalidade do terror é o terror. O objetivo da opressão, a opressão. A finalidade da tortura é a tortura. O objetivo da morte é a morte. A finalidade do poder é o poder. Você está começando a me entender?”

explica, a um prisioneiro, um personagem de George Orwell, no livro 1984. Os torturadores são, antes de tudo, psicopatas. Dependendo do momento da história, irão torturar em nome de Deus, de uma bandeira, um uniforme, uma ideologia, uma religião. Use a roupa que usar, ocupe seja que cargo, o torturador não passa de criminoso vulgar.

Uma sociedade que abomina assassinos, ladrões, corruptos, estupradores, não pode aceitar conviver, em seu seio, com torturadores. Até mesmo porque o torturador quase sempre é, também, assassino, ladrão, corrupto e estuprador.

A diferença entre a tortura e a lei é a mesma que existe entre a barbárie e o progresso. Aceitar a tortura como inerente à condição humana é o mesmo que negar que um povo, um Estado, uma nação, a humanidade possam evoluir.

Dostoiévski dizia que a melhor forma de medir o grau de civilização de um país¬ era conhecer, por dentro, suas prisões. Nesse aspecto, a situação no Brasil é vergonhosa. Não apenas com relação às condições e superlotação de nossas cadeias, mas pela forma como nossa sociedade convive com a tortura e o torturador.

O brasileiro médio é falso, hipócrita e leniente com relação à tortura. As mesmas pessoas que se revoltam com o vídeo feito por uma vizinha, mostrando uma mulher espancando um cachorrinho na área de serviço, se regozijam quando veem um menino ou menina de 7, 8 anos – morador de rua e muitas vezes, já dominado pelo crack – ser agarrado pela orelha, e tomar uma surra de policiais ou seguranças. Param, a caminho do trabalho, para deleitar-se.

O agente do Estado, no Brasil, formado em uma longa tradição autoritária, que vem desde os capitães do mato, e dos diferentes hiatos ditatoriais de nossa história, acha que tem direito de vida ou morte sobre o suspeito. Isso está fartamente demonstrado não apenas nos milhares de casos de mortes por “auto de resistência”, mas também pelo que ocorre com os presos, muitos sem sequer terem passado por julgamento, no interior de nossas prisões. O mesmo vale para o outro lado da moeda.

Da mesma forma que um policial corrupto espanca, humilha e ameaça matar a mãe ou a filha de um suspeito, para saber – em interesse próprio – onde está escondido o produto de um assalto ou a droga recém-chegada, a violência extrema tem sido praticada, também, pelas novas gerações de marginais, que torturam e matam famílias, crianças e idosos, para tentar saber onde está um punhado de reais. Como controlar essa corrente de estupidez?

Um bom começo, do ponto de vista do Judiciário, seria perder o pudor de usar a lei e condenar alguém pelo crime de tortura. Raramente alguém que comete latrocínio com extrema violência tem a sua pena acrescida por tortura. É como se condenar alguém por esse crime fosse proibido, ou ela não existisse em nosso dicionário.

Nos portais e redes sociais ela nunca é citada por quem a defende. Ninguém, referindo-se a um suspeito, escreve ou afirma “tem de torturar esse cara”. Para que fique tudo mais íntimo e corriqueiro, banalizado, usam-se expressões como “tá precisando é de couro”, “se fosse meu filho, dava uma de criar bicho”, “comida de preso é paulada”, “pendura que ele canta”, “tinha que cortar na borracha” e outras do gênero.

A presidenta Dilma Roussef lançou, no último 12 de dezembro, o Sistema Nacional de Enfrentamento à Tortura, que prevê a instalação de um mecanismo autônomo que, por meio de peritos, terá autorização prévia para entrar em penitenciárias, instalações militares, delegacias, instituições de longa permanência de idosos, instituições de tratamento de doenças psíquicas ou similares, para constatar a existência de possíveis violações de direitos humanos nesses locais.

Trata-se de importante iniciativa, considerando-se que o Brasil é signatário da Convenção Internacional Contra a Tortura desde 1989, e que, em 500 anos de história, é a primeira vez que a Nação está encarando, de forma direta, essa abominável questão.

Mas a verdadeira batalha não se dará apenas com a fiscalização do que está ocorrendo nas prisões, que poderia avançar com a instalação de delegacias de direitos humanos em todo o país. Ela será travada nos corações e mentes da população brasileira.

Não podemos nos considerar civilizados enquanto milhares de brasileiros defenderem a execução ilegal e a tortura como método de punição e investigação. Não podemos nos considerar civilizados enquanto juízes estabelecerem jurisprudência atribuindo à vítima de tortura o ônus de provar que foi torturada. Esse paradigma, estabelecido na ideologia escravocrata e repressora de parte considerável de nossa sociedade, só poderá ser alterado a partir do ensino, em todas as escolas, desde o primeiro grau, dos direitos e deveres consubstanciados na Constituição brasileira, atendo-se estritamente ao seu conteúdo, para não dar à direita fascista motivo para combater a iniciativa.

Só quando ensinarmos nossos filhos e netos que o mero ato de um policial espancar um manifestante, em uma situação de protesto – ou manifestantes espancarem um policial desarmado – é ilegal; que extrair dor de outro homem, mulher, criança, indefeso, humilhando-os, transformando-os, pelo medo, em animais -irracionais, que gritam, sangram e choram, segundo a vontade de seu torturador, é crime abjeto e condenável, poderemos começar a mudar, de fato, a mentalidade a propósito da tortura, sua imagem e paradigmas, em nosso país..

(Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=14326 )

Eduardo Azeredo, o oficial abandonado no campo de batalha

Eduardo Azeredo, o oficial abandonado no campo de batalha

Eduardo Azeredo sempre foi um deserdado pelo grupo que se apossou do PSDB na era FHC. Era um funcionário de carreira da IBM quando convocado a entrar na política.
Tornou-se governador mineiro nas eleições de 1994 e seu mandato praticamente acabou um ano depois devido a três erros imperdoáveis.
O primeiro, foi ter acreditado nos prognósticos econômicos de consultorias ligadas ao PSDB. Em 1995 previam um crescimento do PIB – e do ICMS – similar ao ano anterior. A partir de maio era claro que o quadro se reverteria devido ao choque de juros e ao estrangulamento externo.
Lembro-me até hoje de numa entrevista ao vivo com Azeredo, pela rádio Bandeirantes. Ele anunciara aumentos expressivos dos proventos do funcionalismo. Perguntei-lhe se estava preparado para uma reversão do quadro econômico. Respondeu que seus consultores haviam garantido um crescimento de dois dígitos na arrecadação do ICMS, similar ao do ano anterior.
Em julho ele e Antônio Britto – governador do Rio Grande do Sul – estavam liquidados pela crise.
Não ficou nisso. Em dois episódios dos mais relevantes – enchentes em Minas e greve da Polícia Militar – comportou-se como, anos depois, José Serra comportar-se-ia em São Paulo: sumiu.
A insensibilidade, em um caso, a falta de coragem, em outro, cravaram-lhe de forma fulminante a imagem da pusilanimidade.
Nas eleições de 1994, foi  abandonado por FHC – assim como Mário Covas em São Paulo. Com sua proverbial deslealdade, FHC apareceu em cartazes de rua apoiando Hélio Costa em Minas e Paulo Maluf em São Paulo.
Foi o ano da desgraça definitiva de Azeredo, quando se enreda com o mensalão tucano, perde as eleições e é rebaixado para segundo plano do partido.
(Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/eduardo-azeredo-o-oficial-abandonado-no-campo-de-batalha)

Os dois intocáveis da República

Os dois intocáveis da República

É provável que Joaquim Barbosa deixe o STF (Supremo Tribunal Federal) em março. Há boatos sobre sua pretensão de disputar ou o governo do Distrito Federal ou uma senatoria pelo Rio de Janeiro.
Saindo, seus malfeitos serão corrigidos. O plenário se reunirá, analisará os abusos cometidos enquanto presidente da Suprema Corte, corrigirá o que for possível e tentará voltar à normalidade.
***
Suas últimas medidas – derrubando decisões do interino Ricardo Lewandowski - impedem que qualquer prefeitura do país reajuste o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano).
Tome-se o caso de Florianópolis, há 16 anos sem reajustar seu IPTU. Todas as mansões à beira mar continuarão pagando IPTUs simbólicos, para poder pavimentar a carreira política de Barbosa. E serão paralisados todos os serviços públicos a serem financiados com esse aumento.
Qual a diferença de atitude do político populista mais desprezível, aquele cujo jogo consiste em comprometer receitas públicas para contentar a torcida e garantir os votos? Nenhuma.
***
É uma situação inédita, a do STF. Uma mesma geração acolhe dois dos mais polêmicos Ministros da história: Barbosa e Gilmar Mendes. Por conta da guerra fria instalada, o único poder capaz de barrá-los – a grande mídia – tornou-se cúmplice.
***
Gilmar é dono de uma biografia polêmica. Vale-se do prestígio de Ministro do STF para alavancar seus negócios à frente do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público). E escuda-se na parceria com a mídia para gerar falsos escândalos, sempre que seus casos podem transbordar para a opinião pública.
Tinha relações estreitas com o ex-senador Demóstenes Torres e, enquanto presidente do STF, manteve como assessor o principal araponga de Carlinhos Cachoeira. Recentemente, vendeu para o Tribunal de Justiça da Bahia – que estava sob a mira do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e, agora, sob sua intervenção  – um projeto de curso no valor de R$ 10 milhões.
***
Na Operação Satiagraha, quando seu nome ganhou visibilidade, protagonizou dois episódios escandalosos: o grampo sem áudio (com Demóstenes Torres) e a falsa denúncia de grampo no Supremo. Conseguiu matar a operação.
Quando explodiu a CPI de Cachoeira, e seu nome voltou a ser mencionado, criou um novo falso escândalo – o encontro onde Lula supostamente teria intercedido pelos mensaleiros (encontro desmentido pelos dois presentes, Lula e Nelson Jobim). E a CPI foi abafada pelo julgamento da AP 470.
Quando auditoria do CNJ apura contratos sem licitação do TJBA, cria mais um fato sem consequência: a denúncia sem provas da tal “lavagem” de dinheiro na vaquinha para os mensaleiros.
Nada ocorre, tudo lhe é permitido.
***
De seu lado, Joaquim Barbosa atropela o Regimento Interno do STF para represálias sem justificativa contra políticos presos, impedindo-os de exercer seus direitos de trabalhar ou estudar fora do presídio. Derruba decisões de Lewandowski sobre diversos temas, pelo mero prazer do exercício do poder absoluto.
***
Um dos primados da ordem democrática é a inexistência de cidadãos acima da lei. Todos têm obrigação de cumprir rituais, subordinar-se a regimentos, aos limites impostos pela Constituição e pela lei e pelas normas da transparência pública.
Mas o país tem dois intocáveis.

(Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/os-dois-intocaveis-da-republica )

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Jornalismo a serviço de quê?

Jornalismo a serviço de quê?

Por Sylvia Debossan Moretzsohn
O que pode pretender um grande jornal quando divulga uma entrevista com um mascarado que se apresenta como black bloc e lança ameaças de atentados, em ônibus e hotéis, às delegações e aos turistas que vierem para a Copa?
O Estado de S.Paulo publicou no domingo (16/2) matéria com os trechos principais de uma entrevista disponibilizada em seu site (TV Estadão) na véspera. Precisamente no momento em que o secretário de Segurança do Rio envia ao Congresso Nacional um projeto de lei que vem se somar a tantos outros voltados a tipificar o crime de terrorismo, associando-o aos distúrbios urbanos provocados pelos protestos que começaram em meados do ano passado e que agora exibem o primeiro cadáver produzido pelos manifestantes.
Pode um jornal entrevistar um sujeito que se apresenta com nome fictício e se esconde atrás de uma máscara para fazer ameaças?
A situação fez lembrar a famosa entrevista que Gugu Liberato promoveu em seu programa dominical, em 2003, com dois supostos integrantes da maior organização criminosa nos presídios paulistas, que vinha então comandando atentados na cidade. Os dois mascarados, diante do auditório e das câmeras, ameaçavam jornalistas. Era uma farsa, só para causar escândalo e dar Ibope, mas a reação foi imediata: no domingo seguinte o programa não pôde ir ao ar.
Acontecerá agora alguma coisa ao Estadão por ter ajudado a divulgar uma mensagem criminosa?
Leviandades jornalísticas
Este foi apenas o episódio mais recente de irresponsabilidade jornalística no contexto da cobertura da morte do cinegrafista da Band, semana passada. Em vez de guardar o prudente distanciamento em relação aos fatos para tentar esclarecer o que se passa, o noticiário, em suas várias plataformas, mergulhou no turbilhão de emoções e ajudou a disseminar boatos, insinuações e acusações sem prova.
O destaque dado à morte de Santiago Andrade é plenamente justificável porque se trata da primeira ocorrência fatal provocada por manifestantes. É o que distingue esta morte das demais, provocadas por acidentes ou pela ação da polícia. Mas a opção por uma cobertura intensiva, à beira da histeria, só poderia contribuir para aumentar a excitação, a ansiedade e a confusão em torno do que ocorreu e do que pode estar por trás do ato praticado pelos dois jovens presos.
Ou seja: só poderia resultar no contrário do que se exige do jornalismo. Especialmente agora, quando a internet facilita a disseminação de boatos e aumenta exponencialmente a incerteza sobre aquilo em que podemos confiar.
A cobertura favoreceu amplamente a atuação do advogado dos dois rapazes presos, que pôde dizer o que lhe dava na telha e tinha automaticamente suas declarações reproduzidas: seja a insinuação – apesar do pedido de desculpas, depois que o estrago estava convenientemente feito – de que o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, estava envolvido com ações criminosas como aquela, seja a afirmação sobre o pagamento de manifestantes para a promoção de atos violentos, cuja suspeita também recaía automaticamente sobre partidos de esquerda.
Diante das críticas que recebeu – inclusive de Caetano Veloso, em seu espaço no próprio jornal (domingo, 16/2) –, O Globo publicou editorial para reiterar a justeza de seus procedimentos, ignorando que o ambiente criado pela cobertura em tempo real favorece a turbulência: se o jornal abre espaço para qualquer um dizer qualquer coisa, deixa de exercer sua função fundamental de filtrar o que pode e deve ser publicado imediatamente e o que precisa de tempo para ser devidamente apurado. Acaba servindo como porta-voz de certas fontes, que sabem muito bem a força da disseminação da suspeita, apesar do imediato desmentido: uma vez lançada, ela sempre sobrevive.
Isso é tão elementar que nem precisaria ser dito.
E é claro que quando essas fontes dizem exatamente o que o jornal gostaria de dizer, isso é só uma feliz coincidência.
Acusações sem provas
A denúncia sobre pagamento a manifestantes existe desde o início dos protestos, como lembrou Janio de Freitas em artigo na Folha de S.Paulo (16/2), sem que nada, até o momento, tenha sido provado. A diferença é que o pagamento não seria apenas para participar de manifestações – o que, de resto, é prática antiga na nossa política –, mas para provocar atos de vandalismo, como a depredação de patrimônio e a detonação de explosivos.
O que se apresentou como prova até agora foi uma relação de doações para uma ceia de Natal na Cinelândia com moradores de rua. Seria apenas ridículo divulgá-las como se atestassem o vínculo entre políticos de esquerda e as manifestações violentas que finalmente produziram um cadáver. Seria apenas ridículo, mas é mais que isso: é leviano, porque no ambiente radicalizado e volátil em que vivemos tudo o que venha a consolidar nossas crenças é assumido acriticamente, e então as contribuições para uma festinha comunitária se transformam em prova de associação para o crime e se espalha alegremente pelo espaço virtual.
Ao mesmo tempo, quem rejeita liminarmente a grande imprensa por considerá-la “fascista” e “golpista” – além de “burguesa”, bobagem que Alberto Dines já anotou ao dizer que burguesa é a sociedade – passa a ter mais argumentos para condená-la.
Curioso é que as suspeitas tenham recaído imediatamente sobre partidos de esquerda, inclusive sobre o PSTU – que, sabidamente, sempre condenou essas ações –, quando O Globo já noticiara, meses antes, um primeiro resultado das investigações policiais sobre os possíveis responsáveis pela organização de atos de vandalismo, que apontavam para pessoas ligadas ao ex-governador Anthony Garotinho, do PR, que se prepara para mais uma disputa eleitoral.
Além disso, ninguém se lembrou da prisão de membros do black bloc do Rio às vésperas das manifestações do 7 de Setembro do ano passado: de lá para cá, houve algum avanço nas investigações?
O preço da ambiguidade
Entretanto, é preciso reconhecer que o PSOL, e o deputado Marcelo Freixo em particular, deram oportunidade a que essas denúncias os atingissem. Em entrevista ao Observatório na TV (17/9/2013), Freixo reiterou o que vinha dizendo na época sobre a necessidade de “entender” aqueles jovens que optavam pela depredação. Como argumentei neste Observatório (“Os abusos do Estado e o elogio da destruição”), também precisaríamos, nesse caso, “entender” os demais comportamentos que nos surpreendem: por exemplo, agora, o dos “justiceiros” que agrediram, despiram e ataram o rapaz negro ao poste, no simbólico episódio ocorrido há duas semanas no Flamengo.
A rigor, precisaríamos mesmo, porque são um sintoma do tipo de sociedade que temos. No entanto, todos os que defendemos os direitos humanos não temos qualquer dúvida em condenar imediata e enfaticamente essa atitude.
A hesitação em rejeitar explicitamente, desde o início, as ações dos black blocs conduziu a uma ambiguidade que poderia sugerir adesão, e isso cobra seu preço no momento da tragédia.
Ao mesmo tempo, o partido retirou de seu site nacional um artigo teórico publicado em outubro do ano passado que sugeria uma possibilidade de aproximação com aquele grupo de ativistas. A atitude só ajudou a alimentar suspeitas e foi convenientemente explorada pela mídia e por todos quantos, nas redes sociais, se interessaram em recuperar o texto original, ainda disponível na página do PSOL de Pernambuco, estado de origem do autor (ver aqui).
Conflito de interesses
O terceiro aspecto que chama a atenção nessa cobertura é o conflito de interesses que impediria o advogado de atuar na defesa dos dois jovens, considerando que um denunciou o outro, que por isso acabou preso, e o outro agora acusa esse um.
O Globo, em vez de questionar esses fatos, preferiu abrir espaço para mostrar que o advogado se tornara uma súbita celebridade, “esquecendo” que isso só foi possível por causa da mídia. O Extra exibiu trechos do depoimento de um dos presos, um documento “a que teve acesso” sabe-se lá como, sem indagar da legalidade daquela ação, realizada no presídio durante a madrugada, sem assistência jurídica.
A hiperexposição dos dois jovens levava a supor que eles não estavam adequadamente orientados. De fato, quando é que vemos um advogado permitir que seus clientes sejam inquiridos pela imprensa como foram? E o que dizer do comportamento do próprio advogado, que reverberava tudo o que – supostamente – os rapazes lhe diziam? Tudo o que lhe convinha dizer, bem entendido, mesmo que agravasse a situação de quem ele se comprometeu a defender, como ficou óbvio no caso da afirmação sobre o pagamento para a participação nos protestos, que só agrava a pena para quem será julgado por homicídio – no caso, por motivo fútil.
Tudo isso deveria ter chamado a atenção da imprensa e orientado as pautas para uma investigação sobre esse advogado, que anos atrás defendeu um ex-deputado acusado de chefiar uma milícia no Rio. Acaso ele agiu assim naquela época? O que teria a OAB a dizer dessa conduta?
Muita calma nessa hora
O desenrolar das investigações diante da permanente presença das câmeras de TV e celulares acarretou, como costuma ocorrer nesses casos, uma excitação que, transbordando para as mídias sociais, levava a reverberar automaticamente qualquer informação, boato ou suspeita. Hoje, praticamente nenhum evento está a salvo de documentação: alguém sempre fotografa ou filma o que acontece, dos fatos mais banais aos mais impactantes.
A ação que resultou na morte de Santiago foi filmada dos mais variados ângulos e isso permitiu a rápida identificação dos autores, com imagens exaustivamente veiculadas na TV e esquadrinhadas por peritos. Mas a cobertura acrítica da grande imprensa facilitou a disseminação de dúvidas quanto ao noticiário e fez proliferar as hipóteses mais delirantes em relação ao que se passou, especialmente quando surgiram imagens que aparentemente contrariavam a versão oficial sobre o suspeito de ter acionado o rojão. Essa descrença, porém, continuou mesmo depois de desfeito o mal-entendido, o que demonstra até onde vai a cegueira militante.
No entanto, a excitação provocada pela caçada aos criminosos facilitou a criação de um ambiente de histeria punitiva que resultou no indiciamento dos dois jovens em homicídio doloso, o que é um flagrante absurdo a ser desfeito na hora do julgamento.
A rápida identificação dos culpados é apenas o ponto de partida para uma investigação que leva tempo e não pode ocorrer à vista de todos, para que se preservem as garantias ao devido processo legal.
Recentes análises publicadas neste Observatório indicam que vivemos um momento particularmente crítico e perigoso. É nessas horas que o trabalho da imprensa se reveste de uma relevância fundamental, como referência de credibilidade. A não ser que o objetivo seja fomentar a insegurança e o medo, para a formação de uma opinião pública favorável a projetos que limitem o campo da liberdade de manifestação. É aí que veremos a serviço de quem, e do quê, se pratica esse tipo de jornalismo.
***
Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)

(fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_jornalismo_a_servico_de_que)

A esquizofrenia da mídia com a Copa do Mundo

A mídia nutre relação esquizofrênica com a Copa do Mundo


Ao mesmo tempo que a defende de acordo com os seus interesses mercadológicos procura incentivar manifestações populares em torno dela, contra o governo.





(*) Artigo publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de fevereiro de 2014

 Encerrei o artigo publicado na edição de janeiro da Revista do Brasil com a expressão “2014 promete”. Escrito em dezembro chamava a atenção para o desespero da oposição, representada pela mídia, na busca de um candidato para as eleições presidenciais deste ano, alertando sobre o previsível “vale-tudo”.

Previsão que, infelizmente, começou a se confirmar antes mesmo do fim do ano com o jornalista Élio Gaspari pedindo na Folha de S.Paulo a volta das manifestações de rua, seguido na mesma linha por vários outros comunicadores, até pelo Faustão, na Globo.

Passadas as festas a carga prosseguiu com a Globonews mostrando um gráfico sobre inflação que irá para os anais da manipulação jornalística brasileira. Através dele ficamos sabendo que a inflação de 2013, de 5,91%, é maior que as de 2010 (5,92%) e 2011 (6,50%).   

Disseram depois que foi “erro”, para mim só comparável ao célebre “boimate” da Veja de tempos atrás, quando a revista da Abril publicou uma nota científica sobre a descoberta da criação de um híbrido formado por boi e tomate.

A diferença entre os dois “erros” está em seus objetivos. O da Veja antiga era mero sensacionalismo. Já o da Globonews faz parte de ação política orquestrada, tendo como referência ideológica o Instituto Millenium, articulador da mídia brasileira em torno do pensamento único de raiz reacionária.

Curiosa, no entanto, é a esquizofrenia dessa mídia diante da Copa do Mundo. Ao mesmo tempo que a defende de acordo com os seus interesses mercadológicos procura incentivar manifestações populares em torno dela, contra o governo, por interesses políticos. Mas pede que sejam feitos de forma pacífica, repetindo os chavões de junho passado.

Creio até que gestores e mentores dessa mídia torçam contra a seleção na esperança de que uma derrota crie o clima capaz de dar à oposição um último alento. Ainda que custem um período de relativas baixas nas receitas publicitárias advindas do ufanismo futebolístico.

Se for assim será mesmo o derradeiro ato de desespero. Foi-se o tempo em que política e futebol contaminavam-se reciprocamente. Não estamos mais em 1950 quando candidatos aos mais diferentes cargos circulavam entre os jogadores da seleção, considerada invencível antes da hora, tentando tirar uma casquinha do prestígio por eles conquistado nos gramados até minutos antes da tragédia do Maracanã diante do Uruguai.

Ou da ditadura, em seu momento mais sinistro durante a Copa de 1970, tentando sufocar os gritos das masmorras com marchinhas do tipo “prá-frente Brasil, salve a seleção”. Chegando ao cúmulo de determinar a saída do técnico do time, João Saldanha, às vésperas da competição devido a sua militância política.

De lá para cá o país mudou muito. Foi campeão do mundo mais duas vezes, passou dos “90 milhões em ação” para mais 200 milhões de habitantes e, na última década, tornou-se uma das mais importantes economias do mundo.

Não há futebol que possa contaminar as conquistas populares como o aumento das redes de proteção social, a universalização do acesso ao ensino fundamental, a expansão do ensino superior e, principalmente, a ampla redução do desemprego.

O “complexo de vira-lata” pregado na testa dos brasileiros pelo escritor Nelson Rodrigues, logo após a derrota de 50, e que aplicava-se não só ao futebol mas a toda a auto-estima do país, desapareceu.

Mesmo as mazelas que persistem na insegurança das ruas, no trânsito caótico, na prisões medievais, nas habitações precárias deixaram de ser consideradas destinos manifestos da gente brasileira. Ao contrário, mostram-se como desafios a serem enfrentados e superados pela ação política, institucionalizada ou não.

A mídia tentará, uma vez mais instrumentalizar essas lutas, juntando-as ao futebol, tanto em caso de vitória como de derrota na Copa. Se vencermos o mérito será da seleção, se perdermos o ônus ficará com o governo.

Serão as últimas cartadas oferecidas por ela ao seus candidatos numa tentativa de utilizar esses temas, neste ano, da mesma forma irresponsável como pôs em debate o aborto nas eleições de 2010.

Como disse em janeiro, “2014 promete”.
(Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/-A-midia-nutre-relacao-esquizofrenica-com-a-Copa-do-Mundo/30286)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Imagens que procuram falsear a realidade

E como tem gente disposta a "compartilhar", "curtir" etc e tal essas verdadeiras esbórnias...


Web é usada para difundir imagens falsas de protestos na Venezuela

do BOL, em São Paulo
Segundo informações do site Opera Mundi, imagens falsas de protestos contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro foram divulgadas na web, principalmente pelo Twitter, desde quarta-feira (12), quando uma marcha opositora culminou em violência no centro de Caracas.
As montagens, compartilhadas até por jornalistas de redes como a CNN, dificultaram saber o que de fato acontecia nas ruas da capital e de outras cidades do país.
De acordo com a nota do portal, algumas imagens que mostravam repressão da polícia venezuelana eram de protestos no Chile, Egito, Tailândia e do Brasil. Além disso, até registros de atos pró-independência da Catalunha (Espanha) foram apresentados como marchas oposicionistas em Caracas.
Confira alguns exemplos encontrados no Twitter:

Tida como venezuelana, a imagem abaixo foi feita em junho de 2013, no Brasil

  • Reprodução

Nesta, a foto de um chavista ferido em abril do ano passado é usada por opositores, mas a imagem é de 2010

  • Reprodução

Uma procissão religiosa foi retratada como protesto contra o governo

  • Reprodução
(Com informações do site Opera Mundi)

Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2014/02/17/web-e-usada-para-difundir-imagens-falsas-de-protestos-na-venezuela.htm