segunda-feira, 31 de março de 2014

A culpa é das roupas das mulheres???!!!

Pesquisa feita semana passada: 61% dos brasileiros justificam os estupros alegando que as roupas femininas induzem a isso...
Recebi do meu amigo Guilherme Souto e repasso um comentário crítico...

A culpa não é da vítima, nem do local onde ela passa, nem do horário. 
A culpa SEMPRE é do AGRESSOR!

A Civic Action e o golpe militar de 1964


Por: Luiz Alberto Moniz Bandeira

A partir da vitória da Revolução Cubana, em 1960, as atenções dos Estados Unidos voltaram-se mais e mais para a América Latina. A Junta Interamericana de Defesa (JID), por sugestão dos Estados Unidos, aprovou a Resolução XLVII, em dezembro daquele ano, propondo que as Forças Armadas, consideradas a instituição mais estável e modernizadora no continente, empreendessem projetos de “ação cívica” e aumentassem sua participação no “desenvolvimento econômico e social das nações”. Pouco tempo depois, em janeiro de 1961, ao assumir o governo dos Estados Unidos, o presidente John F. Kennedy (1961-1963) anunciou sua intenção de implementar uma estratégia tanto terapêutica quanto profilática, com o objetivo de derrotar a subversão, onde quer que se manifestasse. E o Pentágono passou a priorizar, na estratégia de segurança continental, não mais a hipótese de guerra contra um inimigo externo, extracontinental (União Soviética e China), mas a hipótese de guerra contra o inimigo interno, i. e., a subversão. Essas diretrizes, complementando a doutrina da contrainsurreição, foram transmitidas, através da JID e das escolas militares no Canal do Panamá, às Forças Armadas da América Latina, região à qual o presidente Kennedy repetidamente se referiu como the most critical area e the most dangerous area in the world.
O surto de golpes desfechados pelas Forças Armadas no continente a partir de então decorreu não somente de fatores domésticos, mas, sobretudo, da mudança na estratégia de segurança do hemisfério pelos Estados Unidos. O objetivo da intervenção das Forças Armadas no político era o alinhamento às diretrizes de Washington dos países que se recusavam a romper relações com Cuba.
Embora golpes de Estados fossem quase rotineiros na América Latina, os que ocorreram a partir de 1960 não decorreram das políticas nacionais. Antes, constituíram batalhas da hidden World War Three, um fenômeno de política internacional, resultante da Guerra Fria. E aí era necessário criar as condições objetivas, tanto econômicas quanto sociais e políticas, que compelissem as Forças Armadas a desfechá-los. A essa tarefa, a CIA se dedicou, através de spoiling operations, operações de engodo, uma das quais consistia em penetrar nas organizações políticas, estudantis, trabalhistas e outras para induzir artificialmente a radicalização da crise e favorecer a derrubada do governo por meio de um golpe militar.
No Brasil, desde que os comandantes das Forças Armadas não conseguiram impedir que o vice-presidente João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), assumisse o governo, em agosto de 1961, em virtude da renúncia do presidente Jânio Quadros, a CIA começou a dar assistência aos diversos setores da oposição que conspiravam para derrubá-lo. Em 1962, a CIA gastou entre US$ 12 milhões e US$ 20 milhões financiando a campanha eleitoral de deputados de direita, através de organizações que seus agentes criaram, como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e a Ação Democrática Parlamentar. O número de deputados cuja campanha essas e outras frentes da CIA elegeram não compensou. Mas as spoiling operations prosseguiram.
Em meados de 1963, o Pentágono tratou de elaborar vários planos de contingência a fim de intervir militarmente no Brasil caso o presidente João Goulart, reagindo às pressões econômicas dos Estados Unidos, inflectisse mais para a esquerda, ultranacionalista, no estilo do governo do presidente Getúlio Vargas.
Mais ou menos à mesma época, em 13 de junho de 1963, a Embaixada do Brasil em Washington, sob a chefia do embaixador Roberto Campos, enviou ao Itamaraty o documento Política Externa Norte-Americana – Análise de Alguns Aspectos, anexo 1 e único ao Ofício nº 516/900 (Secreto), no qual comentou que as pressões do Pentágono estavam a levar os Estados Unidos a reconhecer e a cultivar “relações amistosas com as piores ditaduras de direita”, pois “do ponto de vista dos setores militares de Washington tais governos são muito mais úteis aos interesses da segurança continental do que os regimes constitucionais”.
Os agentes da CIA, entrementes, executavam as mais variadas modalidades de operações políticas (PP), covert actions e spoiling actions. Em 12 de setembro de 1963, cabos, sargentos e suboficiais, principalmente da Aeronáutica e da Marinha, liderados pelo sargento Antônio Prestes de Paulo, sublevaram-se, em Brasília, e ocuparam os prédios da Polícia Federal, da Estação Central da Rádio Patrulha, da Rádio Nacional e do Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos. O movimento serviu como provocação e contribuiu para colocar a oficialidade das Forças Armadas a favor do golpe de Estado. A campanha da CIA prosseguiu, instigando greves tanto nas cidades como nas fazendas, e com outras ações, cada vez mais radicais, para que caracterizassem uma guerra revolucionária, denunciada pelo deputado Francisco Bilac Pinto, da UDN, em vários discursos na Câmara Federal, nos quais acusava o presidente Goulart de apoiá-la. E, a fim de que se afigurasse uma insurreição comunista em andamento, entre 25 e 27 de março de 1964, José Anselmo dos Santos, conhecido como “cabo Anselmo”, mas na verdade um estudante universitário infiltrado entre os marinheiros pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar) em colaboração com a CIA, liderou centenas de marinheiros, que decidiram comemorar o aniversário da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, desacatando a proibição do ministro da Marinha, almirante Sílvio Mota, e correram para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, a fim de comprometer os trabalhadores com o movimento. Os fuzileiros, enviados para invadir o sindicato, desalojar e prender os marinheiros, terminaram por aderir ao motim. O Exército teve de intervir para sufocá-lo.
O episódio visou a encenar uma repetição da revolta no encouraçado Potemkin, que desencadeou na Rússia a revolução de 1905. Esse motim agravou os efeitos da revolta dos sargentos e empurrou o resto dos oficiais legalistas para o lado dos conspiradores. As Forças Armadas não podiam aceitar a quebra da hierarquia e da disciplina. Goulart já havia perdido então quase todo o respaldo militar. Entre 31 de março e 1° de abril, ele ouviu de muitos oficiais superiores que eles não estavam contra seu presidente, mas “contra o comunismo”, fantasma que servia como pretexto ao golpe.
Quatro dias antes do golpe, o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, telefonou a Washington e demandou o envio de petróleo e lubrificantes para facilitar as operações logísticas dos conspiradores, além do deslocamento de uma força naval. Em 30 de março, a estação da CIA no Brasil transmitiu a Washington, segundo fontes em Belo Horizonte, que “uma revolução levada a cabo pelas forças anti-Goulart terá curso esta semana, provavelmente em poucos dias”, e marcharia para o Rio de Janeiro. No mesmo dia, no momento em que o presidente João Goulart discursava para os sargentos no Automóvel Club, o secretário de Estado, Dean Rusk, leu para o embaixador Lincoln Gordon, por telefone, o texto do telegrama n° 1.296, sugerindo que, como os navios carregados de armas e munições não podiam alcançar o Sul do Brasil antes de dez dias, os Estados Unidos poderiam enviá-las por via aérea. Ele receava que naquelas poucas horas houvesse uma acomodação, o que seria deeply embarrassing para o governo norte-americano.
O motim dos marinheiros, em 26 de março, constituiu a provocação que o general Humberto de Alencar Castelo Branco esperava para induzir a maioria dos militares a aceitar a ruptura da legalidade. O golpe estava previsto para depois da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, no Rio de Janeiro, marcada para 2 de abril e financiada pela CIA. Porém, o general Olímpio Mourão Filho, comandante da IV Região Militar, com sede em Juiz de Fora (MG), afoitou os acontecimentos.
Os militares brasileiros, decerto, não teriam desfechado o golpe se não contassem com a cobertura dos Estados Unidos. Porém, para que os Estados Unidos pudessem fornecer ajuda militar, seria preciso dar aparência de legitimidade ao golpe. E por telefone, de seu rancho no Texas, em 31 de março, o presidente Lyndon B. Johnson deu luz verde ao secretário de Estado assistente para a América Latina, Thomas Mann.
O golpe de Estado estava consumado, coadjuvado pelo senador Auro de Moura Andrade, que declarou, ilegalmente, a vacância da Presidência. O deputado Pascoal Ranieri Mazzilli, o primeiro na linha de sucessão como presidente da Câmara Federal, assumiu o governo. Não se observou nenhuma formalidade legal.
Não obstante, o embaixador Lincoln Gordon recomendou ao Departamento de Estado o reconhecimento do novo governo e o presidente Lyndon B. Johnson telegrafou imediatamente a Mazzilli para felicitá-lo. O reconhecimento diplomático era um dos elementos necessários para o estabelecimento da autoridade do governo. O objetivo da pressa fora justificar o atendimento a qualquer pedido de auxílio militar por parte do novo governo.
O golpe de Estado que derrubou em 1964 o presidente João Goulart e se autoproclamou “Revolução Redentora” tipificou o conjunto das operações que a CIA desenvolveu e aprimorou. No seu diário, o agente da CIA Philip Agee, então alocado em Montevidéu, assinalou que a queda de Goulart fora, “sem dúvida, devida amplamente ao planejamento cuidadoso e a campanhas consistentes de propaganda que remontaram pelo menos à eleição de 1962″. Goulart sabia-o. Ao chegar a Brasília, em 1° de abril, ele disse ao deputado Tancredo Neves que a CIA havia inspirado a sublevação, reiterando o propósito de não se render. E seguiu para o Rio Grande do Sul onde percebeu que também não havia condições de resistência.
A satisfação foi tão grande em Washington que, em 3 de abril, às 12h26, o secretário de Estado assistente para a América Latina, Thomas Mann, telefonou para o presidente Lyndon B. Johnson: “Espero que esteja tão satisfeito em relação ao Brasil quanto eu”. Johnson respondeu: “Estou”. Mann continuou: “Acho que é a coisa mais importante que aconteceu no hemisfério em três anos”. Johnson arrematou: “Espero que nos deem algum crédito em vez do inferno”.

* LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA é Doutor em Ciência Política, professor titular de história da política exterior do Brasil na Universidade de Brasília, autor de mais de 20 obras publicadas, entre as quais O Governo de João Goulart – As Lutas Sociais no Brasil (1961-1964) – Editora Unesp, Presença dos Estados Unidos no Brasil, Formação do Império Americano (Da Guerra contra a Espanha à Guerra no Iraque) e A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e Dimensões Estratégicas dos Estados Unidos (Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio). Publicado em http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,a-civic-action-e-o-golpe-militar-de-1964,1146732,0.htm, em 29.03.2014.
(Fonte: http://espacoacademico.wordpress.com/2014/03/30/a-civic-action-e-o-golpe-militar-de-1964/)

sábado, 29 de março de 2014

"Choque de gestão" demite 71 mil em MG

Do sítio do deputado Rogério Correia:


Na última quarta-feira, dia 26 de março, uma decisão do Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional a efetivação de 98 mil servidores mineiros da educação, ocorrida através da Lei 100 de 2007, de autoria do Governo do Estado de Minas Gerais. A Lei 100, criada durante a gestão do então governador Aécio Neves, permitiu a investidura de milhares de cidadãos em cargos públicos efetivos sem que houvesse concurso público. Uma ação de Choque de Gestão temerária e eleitoreira que vai deixar sem emprego 71 mil profissionais da educação.

De acordo com a decisão do STF, que julgou o Estado de Minas Gerais “criativo demais” por tentar burlar a Constituição Federal, os servidores da Lei 100 poderão ser substituídos imediatamente em áreas onde há concurso dentro do prazo de validade ou em andamento. Fica resguardado, contudo, o direito daqueles que já se aposentaram ou que tenham o direito de se aposentar até a publicação do acórdão. Para o deputado Rogério Correia, “o Estado precisa preservar o direito destes trabalhadores, que trabalharam durante todo este período e foram enganados pelo governo.”

É importante ressaltar que vários ministros do STF foram enfáticos ao dizer que, nestes casos, a aposentadoria deverá ser paga pelo Estado de Minas Gerais e não pela Previdência Social, evitando assim a oneração da União por um erro cometido pelo governo estadual. Cabe então ao Estado fazer com que o tempo de serviço destes servidores seja pago imediatamente. Muitos destes servidores contribuíram inclusive com o Ipsemg e é preciso garantir que este tempo seja revertido para o INSS.

Dívida com o INSS
Outra consequência desta ação irresponsável da gestão Aécio Neves é o fato de que este acerto de contas entre Minas Gerais e o INSS será responsável por mais uma grande dívida do Estado. Hoje, o estado consome cerca de 18% de sua arrecadação com o pagamento de dívidas. A dívida com o INSS fará esta porcentagem subir para mais de 20%, deixando um esqueleto no armário para o próximo governo.

ALMG irá acompanhar o caso
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais irá acompanhar as consequências do julgamento de inconstitucionalidade da Lei 100. Uma audiência pública da Comissão de Administração Pública foi requerida pelo deputado Rogério Correia e irá acontecer no dia 8 de abril, às 9h, para debater os problemas da educação no Estado.

Para o deputado Rogério Correia, o caso é passível de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. “O Governo do Estado usou esses trabalhadores eleitoralmente, realizou uma gestão temerária e agora simplesmente diz que acabou. A ALMG terá que se debruçar sobre o tema e procurar soluções. Anastasia vai sair e deixar trabalhadores desamparados e uma dívida com o INSS que quem vai pagar é o povo mineiro. Isso é caso de uma CPI.”

Sind-UTE realiza coletiva de imprensa e marca manifestação
Na quinta-feira, dia 27 de março, a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Beatriz Cerqueira, participou de uma coletiva de imprensa na Assembleia Legislativa, onde expôs alguns esclarecimentos sobre o julgamento do STF, respondeu questionamentos relativos à situação dos servidores e criticou o Governo do Estado por todo o processo. De acordo com Beatriz, o Sind-UTE procurou a Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado por diversas vezes desde 2012 para questionar a criação da Lei 100 e nunca foi recebido

Uma manifestação foi marcada pelo Sind-UTE para o dia 3 de abril, quinta-feira. Os servidores se reunirão às 14h no pátio da ALMG para cobrar uma negociação com o Governo do Estado. Todos aqueles que se sentiram lesados com a Lei 100 estão convidados a participar.

(Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/choque-de-gestao-demite-71-mil-em-mg.html)

Cadê o luto das atrizes da Globo?

Por Adilson Filho, no blog Viomundo:


O STF acaba de sepultar o esquema de corrupção tucana montada em Minas Gerais pelo então governador Eduardo Azeredo. Trata-se, nada mais nada menos, do que grana de dinheiro público no primeiro escalão do poder!

Acabou. Com o desmembramento vão “disputar a partida” em casa, onde Aécio tem a mídia e a justiça nas mãos. Simplesmente o Supremo jogou no ralo hoje a possibilidade de pegar os corruptos graúdos, os criadores “da tecnologia” utilizada desde os tempos da compra de votos em 98.

Aí eu pergunto: Cadê o luto das atrizes da Globo?! Cadê a revolta geral no Facebook com páginas em preto?

Nem uma linha, nada, zero, um ou outro gato pingado aqui e outro acolá. Estatisticamente não existe. Me faz lembrar o que disse ACM uma vez: “se não deu no Jornal Nacional é porque não existiu”.

Mas, fique tranquilo, a sua indignação não é seletiva, você é uma pessoa de bem, quer um país melhor eu sei disso, você quer os políticos encarcerados, deixa pra lá os empresários, os banqueiro, doutores juízes e barões da mídia, que comandam o jogo do capital no tabuleiro lá de cima.

Você fica aqui embaixo espancando as marionetes que a Globo e a Veja vendem, como quem tá malhando o boneco do Judas enquanto a rua inteira é assaltada…E pouco importa que “esses bonecos” sejam apenas os que mídia privada elege para serem odiados até a morte. Você não tem culpa disso, trabalha que nem um condenado, paga as suas contas e não tem culpa de receber o veneno que eles te empurram goela abaixo e que contamina sua alma.

Não tem culpa de “eles” não quererem cidadãos indignados com a corrupção, mas sim cães raivosos, como Jabor, Mainardi, Cantanhede, etc_ para ladrar no face contra quem “eles” elegem enquanto, gritam na telinha e nos jornais.

Não tem culpa de, como dizia Raul Seixas, “ser treinado todo dia como um dobermam do sistema”

Mas, uma coisa eu digo, vale a pena ficar atento, no que esses grupos estão conseguindo fazer com a opinião pública brasileira.

Hoje, em conversa com meu pai, ele, referindo-se a essa questão da manipulação midiática, citou Baudelaire, dizendo que “a maior astúcia do diabo é fazer com que as pessoas pensem que ele não existe”. Eu entendi, mas discordei. Para mim o jogo é ainda mais pesado, muito mais do que o filósofo pudesse supor.

O que acontece por aqui é que as pessoas até conseguem enxergar “o diabo” mas, mesmo assim, não tem mais forças para reagir, pois deixaram ele ocupar a sua mente e se instalar em seu coração.

Sair disso, só com investimento pesado em educação crítica/cidadã e Ley de Medios já. Coisa que esse governo, sem pressão popular, pelo visto não vai fazer.

Alemanha: adeus aos imigrantes pobres

Voltada contra búlgaros, romenos e ciganos, medida baixada por Angela Merkel expulsa do país quem não encontrar emprego em no máximo seis meses
No OperaMundi

O governo alemão iniciou um processo para expulsar do país os imigrantes vindos de outros membros da União Europeia que não consigam trabalho em até seis meses, segundo anunciou nesta quarta-feira (26/03) o gabinete da chanceler Angela Merkel. A medida deve se tornar efetiva a partir de junho, com objetivo de limitar a “imigração de pobreza”.

O projeto foi criado depois que cidadãos da Romênia e da Bulgária, membros recentes da União Europeia, obtiveram permissão para circular livremente por todos os países do bloco. No ano passado, 75 mil pessoas desses países imigraram para a Alemanha e o governo espera que o número dobre neste ano.
Com vistas a esses trabalhadores, especialmente os de etnia cigana, o Executivo alemão aprovou um informe de 133 páginas estabelecendo que os imigrantes da UE terão de três a seis meses para conseguir um emprego na Alemanha. Caso esse prazo não seja cumprido, o imigrante deverá retornar ao seu país de origem.

Os ministros do Interior e do Trabalho, Thomas de Maizière e Andrea Nahles, respectivamente, apresentaram o documento para a imprensa, com o título de “Questões jurídicas e desafios no uso do sistema de segurança social por parte dos cidadãos dos Estados-membro da UE”.

“O número de imigrantes procedentes da Bulgária e da Romênia e os problemas sociais que estão parcialmente associados à imigração são manejáveis e controláveis a nível nacional, mas representam um problema em várias cidades específicas, que possuem bolsões de pobreza”, afirmou de Maizière. Segundo ele, focos de imigração como Frankfurt, Munique, Hamburgo e Hannover já estão saturados de imigrantes desempregados do leste europeu, que necessitam de ajuda social.

Apesar disso, de Maizière classificou o aumento da imigração para Alemanha, que atingiu sua taxa mais alta em duas décadas no último ano, como uma “boa notícia”. “É uma boa notícia quando os imigrantes vêm aqui para trabalhar, treinar, estudar ou contribuir com o bem-estar e o desenvolvimento da Alemanha”, afirmou.
O ministro também declarou que, apesar da preocupação com o número crescente de romenos e búlgaros no país, eles geralmente se mudam para a Alemanha para estudar ou trabalhar e têm menos probabilidade de ficar desempregados do que cidadãos de outros países da UE. Romenos e búlgaros representam 0,7% dos imigrantes que pedem ajuda social, acrescentou.

A medida proposta pelo governo de Angela Merkel, entretanto, não está sendo bem aceita por todos os setores políticos alemães. O deputado do Partido Verde Volker Beck declarou que a iniciativa “não é compatível com o direito da União”. No entanto, a norma europeia estabelece o direito de residência para os trabalhadores, mas de forma limitada, e, portanto, a proposta do governo alemão será válida contanto que respeite a livre circulação.

(Fonte: http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=16960)

Brasil, Argentina e o Cone Sul

Por José Luis Fiori 

A extensão da bacia hidrográfica Rio do Prata, e a imensa fertilidade de suas terras, explicam, em boa medida, a importância estratégica do Cone Sul, dentro do sistema internacional. A Bacia do Prata, constitui uma região geoeconômica plana, contínua e relativamente homogênea, que atravessa fronteiras e integra partes importantes dos territórios argentino, uruguaio, paraguaio e boliviano, e do próprio território brasileiro, banhado pelo Rio Paraná, e pelos seus afluentes, Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema. Essa região de enorme potencial econômico, foi transformada num só tabuleiro geopolítico, pelas “guerras de independência”, e pelas “guerras platinas”, que se sucederam até a segunda metade do século XIX, culminado com a Guerra do Paraguai, que marca o início da competição secular entre a Argentina e o Brasil, pelo controle do Cone Sul. Um século, exatamente, em que a Argentina se transformou no primeiro grande “milagre econômico” da América do Sul, entre 1870 e 1940; e em que o Brasil se transformou no segundo grande “milagre econômico” do continente, entre 1937 e 1980, completando ao final, mais de cem anos de alto crescimento contínuo, dentro de uma mesma região, algo absolutamente incomum na história do desenvolvimento capitalista.

O take off do “milagre econômico” argentino ocorreu logo depois da Guerra do Paraguai, e da unificação definitiva do estado argentino, na década de 1860. Obedeceu a uma estratégia geopolítica claramente expansiva e de disputa pela hegemonia do Cone Sul, com o Brasil e o Chile. Essa estratégica orientou, desde o início, as guerras argentinas de conquista territorial do oeste e do sul, assim como seu desenvolvimento econômico e sua aliança quase incondicional com a Inglaterra. Entre 1870 em 1930, a economia argentina cresceu a uma taxa média anual de cerca de 6%, e no início do século XX, a Argentina havia se transformado no país mais rico do continente sul-americano, e na sexta ou sétima economia mais rica do mundo, com uma renda per capita que era quatro vezes maior que a dos brasileiros, e quase o dobro da dos norte-americanos, naquele momento. Nessa hora, a Argentina teve todas as condições para se transformar na potência hegemônica da América do Sul, e numa importante potência econômica mundial.

Mas não foi isto que aconteceu, depois de 1940, quando a Argentina entrou num longo processo entrópico de divisão social, e crise política crônica, ao não conseguir se unir em torno de uma nova estratégia adequada ao contexto geopolítico e econômico criado pelo fim da II Grande Guerra, pelo declínio da Inglaterra e pela nova supremacia mundial dos Estados Unidos. Como se fosse uma sequência ou consequência quase direta dessa desaceleração argentina, o Brasil viveu o seu próprio “milagre econômico” – entre 1937 e 1980 – orientado por uma estratégia igual e contrária, de resposta e superação do desafio argentino, através de uma política de rearmamento das Forças Armadas e de desenvolvimento e industrialização da economia brasileira. Essas ideias foram elaboradas e amadurecidas durante as duas primeiras décadas do século XX, mas só foram implementadas de forma sistemática e consistente a partir da década de 30, quando a economia brasileira cresceu à uma taxa media anual de 7%, ultrapassando a Argentina e transformando-se na principal economia da América do Sul.

Mas esse quadro favorável e de crescimento contínuo foi alterado pela crise econômica e pelas mudanças geopolíticas da década de 70, quando o governo brasileiro foi obrigado a redefinir sua estratégia de inserção internacional, e sua própria política de desenvolvimento econômico. Foi nesse momento que governo militar do general Geisel propôs a transformação do Brasil numa “potência intermediária”, e num “capitalismo de estado”. 

Mas esse projeto dos militares brasileiros foi atropelada pela politica externa, pela politica econômica internacional dos Estados Unidos e pela oposição de uma parte das elites que haviam apoiado o regime militar.

Nessa história, o importante é entender que os “milagres econômicos” da Argentina e do Brasil, nos séculos XIX e XX, foram orientados por duas estratégias opostas de competição econômica e militar, pela hegemonia do Cone Sul. Essas estratégias foram formuladas internamente, mas acabaram sendo estimuladas e instrumentalizadas pela Inglaterra e pelos EUA, como forma de equilibrar as forças e neutralizar o poder expansivo do próprio Cone Sul. Desse ponto de vista, o novo projeto do Brasil e da Argentina — a construção de uma “zona de co-prosperidade” e de um bloco de poder sul-americano — é, de fato, uma revolução, na história do Cone Sul. Mas trata-se de uma estratégia que só poderá ter sucesso no longo prazo, e que enfrentará uma oposição externa e interna, ferrenha e permanente, dos EUA e dos partidários locais do “cosmopolitismo de mercado”. Nesse ponto não há como enganar-se: todo e qualquer sucesso dessa nova aliança, e dessa nova política do Brasil e da Argentina, será sempre considerado como uma “linha vermelha”, para os interesses dos EUA e de sua rede de apoios dentro continente, defensora da submissão estratégica e econômica da América do Sul à politica internacional dos Estados Unidos.

(Fonte: http://outraspalavras.net/mundo/america-latina/brasil-argentina-e-o-cone-sul/)

Não há perguntas imbecis

Não há perguntas imbecis

Educadora discute por que a curiosidade e o interesse por temas científicos diminuem à medida que avança a vida escolar. E aponta, como um dos itens responsáveis, a incapacidade dos adultos de lidar de forma salutar com o questionamento.  



terça-feira, 25 de março de 2014

Uma boa oferta!

A Editora Contexto apresenta A História do Século XX Pelas Descobertas da Medicina, de Stefan Cunha Ujvari – autor de A História da Humanidade Contada Pelos Vírus e de Pandemias: a humanidade em risco – e Tarso Adoni.
Com uma narrativa instigante, os médicos tratam das descobertas da Medicina em paralelo com a fascinante história da século XX.
Esta obra imperdível já está em pré-venda, aproveite!
     
                         

   
O século XIX trouxe avanços tecnológicos e industriais em diversas áreas. Uma, porém, ficou para trás: a Medicina. Ao redor do planeta, a mortalidade infantil alcançava taxas altíssimas e a expectativa de vida era baixa. Doenças diversas castigavam a população.
Mas o cenário mudou ao longo do século XX. Este livro narra, de forma deliciosa, como médicos e cientistas lançavam mão de criatividade, coragem e raciocínio lógico para tornar os progressos possíveis. Experimentos desumanos, antiéticos, acaso e sorte também contribuíram para descobertas inesperadas e revolucionárias.
Essa novela, em que a mente humana foi uma das únicas ferramentas disponíveis, é contada pelos médicos Stefan Cunha Ujvari e Tarso Adoni em paralelo aos principais acontecimentos do século XX. Duas histórias inseparáveis, já que fatos históricos precipitaram descobertas médicas, e estas também influenciaram os rumos do século.
   
 
Nº de Páginas: 320
Formato: 16 x 23

ISBN:
978-85-7244-839-0




   


segunda-feira, 24 de março de 2014

O colapso da civilização




O colapso da civilização

Texto escrito por José de Souza Castro:
Um estudo assinado por três cientistas das universidades de Maryland e Minnesota, nos Estados Unidos, e divulgado há alguns dias, vem causando polêmica em vários países, mas teve pouca repercussão no Brasil. Entre os grandes jornais, só o “O Globo” abriu espaço para o estudo, no dia 19, em sua editoria de Ciências. Título da reportagem: “Nasa prevê que planeta está à beira do colapso”.
A agência espacial norte-americana é citada também por jornais de vários países, principalmente o Reino Unido, como financiadora do estudo. Mas, no dia 20 de março, a Nasa se apressou a tirar o corpo fora. Em nota à imprensa, declarou que o estudo não foi solicitado, orientado ou revisado por ela. Esclareceu que se trata de um estudo independente feito por pesquisadores de universidades que utilizaram ferramentas de pesquisa desenvolvidas pela Nasa para outra atividade.
O próprio título do estudo explica esse cuidado da Nasa, uma agência do governo dos Estados Unidos, pois ele destaca a desigualdade na distribuição das riquezas no mundo como causa do colapso de nossa civilização.
Os autores tentam construir um modelo matemático simples para explorar as dinâmicas essenciais da interação entre população e recursos naturais. Concluem que duas características estiveram sempre presentes nas civilizações que soçobraram nos últimos milênios: a exploração predatória dos recursos naturais e a divisão das sociedades entre ricos e pobres, ou entre elites e comuns.
As elites controlam as riquezas acumuladas, inclusive alimentos, enquanto para a massa da população, que produz a riqueza, sobra apenas uma pequena parte, em geral o bastante para a sobrevivência. Como o consumo das elites tende a crescer, eventualmente os comuns se revoltam, dando início ao colapso. Até aí, nenhuma novidade. Karl Marx, entre tantos outros, escreveram sobre isso.
E não demorou quase nada para que os autores do estudo – Safa Motesharrei e Eugenia Kalnay, da Universidade de Maryland, e Jorge Rivas, da Universidade de Minnesota – fossem acusados de comunistas. De fato, o modelo matemático desenvolvido pela Nasa e utilizado por eles não se dedicava, originalmente, a medir como a desigualdade na distribuição de renda pode apressar o fim de uma civilização, como teria ocorrido várias vezes no passado. Essa questão foi introduzida por eles no modelo batizado pela Nasa como Human and Nature Dynamics (Handy).
Conforme a notícia publicada pelo “O Globo”, sem dar destaque a essa questão – compreensivelmente, dada a conhecida orientação pró-capital do jornal –, quanto maior a diferença entre ricos e pobres, maiores as chances de um desastre. “Segundo a pesquisa, a desigualdade entre as classes sociais pauta o fim de impérios há mais de cinco mil anos” – afirma o texto, no quinto parágrafo.
O diretor executivo do Institute for Policy Research & Development, Nafeez Ahmed, o primeiro a escrever sobre esse estudo – e o fez nas páginas do jornal britânico “The Guardian” –, afirma que, embora ele seja amplamente teórico, há muitos outros estudos mais empiricamente focados que alertam: a convergência das crises de alimento, água e energia poderia criar a tempestade perfeita dentro de aproximadamente 15 anos.
Nafeez Ahmed foi acusado de ter induzido jornais do mundo inteiro a atribuir o estudo à Nasa. AQUI ele contesta um dos críticos e a própria nota da Nasa, reafirmando que a agência teve participação, sim, no apoio ao estudo.
Independentemente desse estudo, como lembrou “O Globo” em sua reportagem, a Nasa já constatou diversas vezes a multiplicação de eventos climáticos extremos, como o frio intenso do último inverno na América do Norte e o calor que, nos últimos meses, afligiu a Austrália e a América do Sul. “Seus estragos paralisam setores vitais para o funcionamento da sociedade”.
O fim da civilização pode ser adiado ou evitado, conforme o estudo, desde que ela passe por grandes modificações. As principais seriam o controle da taxa de crescimento populacional e a redução da dependência por recursos naturais e sua distribuição de uma forma mais igualitária. Não é nada fácil e resta pouco tempo, ao que parece, para que providências a esse respeito sejam tomadas.
A depender das elites, não haverá qualquer providência. E elas, nos últimos cinco mil anos, jamais foram tão poderosas como agora. Segundo o “Guardian”, o patrimônio das 85 famílias mais ricas do mundo é igual ao da metade da população mundial, como pode ser visto AQUI, na tradução do artigo de Graeme Wearden publicado no dia 20 de janeiro deste ano pela “Folha de S. Paulo”.
Pobre civilização! Seus dias parecem já estar contados.

(Fonte: http://kikacastro.com.br/2014/03/24/o-colapso-da-civilizacao/ )

Marcha da Família e os blocos da morte



Por Mauro Santayana, em seu blog:

O Carnaval acabou há alguns dias, mas tem gente convocando novos blocos para sair às ruas.

Esses últimos blocos tardios, tem o nome de "Marcha das Famílias com Deus pela Liberdade".

Os seus raivosos passistas dizem que estão com as famílias.

Mas se esquecem de outras famílias, que há cinquenta anos desfilaram em marchas semelhantes, e que – apesar disso - tiveram irmãos e filhos torturados e “desaparecidos” pelos agentes do mesmo regime que ajudaram a colocar no poder, no dia primeiro de abril de 1964.

Os raivosos passistas desses blocos dizem que estão com Deus.

Mas se olvidam que Deus não está com aqueles que defendem os que usaram porretes, choques elétricos e pau-de-arara. Que espancaram e assassinaram homens e mulheres indefesas, nos porões, como fizeram com seu único filho, um dia, chicoteando-o, rindo e cuspindo em seu rosto antes de cravar em sua cabeça uma coroa de espinhos, para que a usasse, sob a sombra da Cruz, a caminho do Calvário.

Eles pedem a prisão e o massacre de comunistas, como antes o faziam os nazistas, com os judeus, os ciganos, e os homossexuais.


Mas se esquecem do Papa Francisco – que defende o direito à opinião e à diversidade - que disse que não era comunista, mas que nada tinha contra os marxistas, porque ao longo da vida havia conhecido vários, que eram homens honestos e boas pessoas.

Eles dizem que estão com a Liberdade, mas defendem o assassinato e a tortura; a cassação de todos os partidos; o fechamento do Congresso e do Judiciário; o fim do direito de expressão, opinião e reunião; o desrespeito à vontade do eleitor, expressa diretamente na urna, e a derrubada de um governo eleito, em segundo turno, pela maioria dos votos de dezenas de milhões de brasileiros.

Eles dizem que estão com os militares. Mas os militares brasileiros não estão com eles.

Os militares brasileiros estão em nossas fronteiras, na Selva!, nos rios amazônicos, no horizonte amplo da caatinga, testando os novos rifles da INBEL, os Radares Saber, os blindados Guarani, o novo Sistema ASTROS 2020. Estão na proa das novas fragatas da Marinha; na torre de nossos submarinos; na Suécia, aprendendo a conhecer os caças que darão origem aos Grippen NG BR, que serão fabricados e montados em território brasileiro. 

Os Blocos da Morte são blocos tristes, que não cantam o amor nem a alegria, que marca e contagia o coração brasileiro.

Eles usam nossas cores como fantasia, mas a mágoa é seu adereço, a frustração, sua alegoria, o ódio, seu imutável enredo. Seus passos e seus gritos são duros e o coração tão pesado quanto sua mente. Uma mente que mente, mente, mente, até para eles mesmos, e se esconde nas sombras do passado, porque teme as luzes do futuro.
(Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/marcha-da-familia-e-os-blocos-da-morte.html)

domingo, 23 de março de 2014

A ditadura e seus psicopatas de ontem e de hoje

A ditadura e seus psicopatas de ontem e de hoje

Quem marcha em defesa do golpe é gente que esbofeteia cada um dos milhões de brasileiros que foram privados da liberdade por mais de duas décadas neste país.




A ditadura valeu-se de psicopatas. Assim manifestou-se a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para expressar o impacto do depoimento prestado por um coronel do Exército à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro.

O coronel é Paulo Malhães, especialista em tortura e desaparecimento de corpos durante a ditadura instaurada em 1964.

Em seu depoimento, esse guardião dos infernos mostrou como todo o sistema repressivo montado tinha autorização dos ministros das Forças Armadas, que davam as ordens no país - de forma mais absurda e terrorista entre 1968 e 1974.

Os generais, brigadeiros e comandantes não só  tomaram conhecimento como ordenaram que os procedimentos ganhassem escala.

Mandaram construir e custear os aparelhos, como a Casa da Morte, em Petrópolis, e comprar os instrumentos de tortura. Trouxeram torturadores de outros países para treinar seus subordinados a usar requintes de crueldade.

Ao fim e ao cabo, condecoraram uma legião de psicopatas com medalhas e outras honrarias que já deveriam ter sido cassadas.

Onde quer que estejam, e a dúvida é apenas que parte do inferno lhes foi reservada, as mãos e os nomes dos chefes de todos os sádicos permanecerão eternamente tão sujos quanto os dos que decapitaram, arrancaram as arcadas dentárias, deceparam as falanges dos dedos e praticaram tantas outras atrocidades mórbidas com o intuito de desaparecer com corpos de militantes de esquerda que lutavam contra a ditadura.

Cada ministro das Forças Armadas era sempre rigorosamente informado. Todos eles sabiam quem era preso, qual o método empregado e o resultado dos interrogatórios, por meio de relatórios – onde estarão esses relatórios? Quem os terá queimado ou escondido?

Trechos desse depoimento foram publicados pelo jornal O Globo – um veículo que certamente tem muito a dizer sobre aquele período.

O depoimento dado pelo coronel à Comissão Estadual da Verdade do Rio foi, por sua vez, “dado” com exclusividade por alguém dessa Comissão ao referido jornal. Seria bom que a Comissão depois explicasse seu critério de “doação” de informações públicas para o uso exclusivo por uma empresa privada.

De todo modo, diz o coronel:

"Levamos a ideia do CIE para o Burnier (brigadeiro João Paulo Burnier). Ele mostrou para o ministro (da Aeronáutica, Márcio de Souza Melo), que disse: ‘Poxa, que troço! Então funciona’. Aí, fundou o Cisa (Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica. Tanto é que recebi a medalha de Mérito da Aeronáutica. Eu até me senti muito orgulhoso, foi o dia em que eu fiquei mais vaidoso” -  disse o coronel.

Os detalhes contados são preciosos:

“O DOI (Destacamento de Informações de Operações) é o primeiro degrau. Você entra ali, voando. Aí, se brutaliza, passa a ser igual aos outros, mas depois vai raciocinando e se estruturando”.

“Houve uma mudança da porrada para o choque. Você pode dizer: foi uma mudança ruim - foi não. Não deixava trauma, não deixava marca, não deixava nada. Já foi uma evolução. Aí, você vai caminhando, aprende de outros lugares, também de outros países, como é feita a coisa. Então, você se torna um outro personagem, um outro cara e, por causa disto, você é guindado a um órgão superior por ser um cara diferente e agir diferente. Tem muito mais amplitude, tem um universo muito maior, aí você se torna um expert em informações.”

"Aprendi que um homem que apanha na cara não fala mais nada. Você dá uma bofetada e ele se tranca. Você passa a ser o maior ofensor dele e o maior inimigo dele. A rigidez é o volume de voz, apertar ele psicologicamente, sobre o que ele é, quais são as consequências. Isto sim. Tudo isto é psicológico. Principalmente quando houve outros casos, né? Fulano foi preso e sumiu. Ele não é preso em uma unidade militar, ele vai para um lugar completamente estranho, civil, vamos dizer assim, uma casa. Ninguém sabe que ele está lá. Não há registro.”

Remorso? Nenhum:

“Poxa, não. Só perdi noite de sono estudando [as organizações de esquerda]. Até hoje, estudo.”

Até hoje? Bem, talvez hoje o coronel esteja então na reedição da Marcha da Família pela Liberdade, um nome hipócrita para uma reunião pública de defensores de um regime de psicopatas.

Enquanto permanecer existindo um único desaparecido político no país, qualquer um que apoie esse tipo de marcha golpista, seja lá que nome de fantasia ostentar,  patrocina um desfile em desrespeito a qualquer família, não só as que choram seus parentes sem lápide.

Os que marcham em defesa do golpe são gente que fede a religião, mas não acredita em Deus – como diria Mário de Andrade.

É gente que esbofeteia cada um dos milhões de brasileiros que foram privados da liberdade por mais de duas décadas neste país.

Que marchem, mas não ousem tocar suas mãos sujas em nossa democracia, nem pisar sobre nossas consciências.

(*)  Antonio Lassance é cientista político.

(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/A-ditadura-e-seus-psicopatas-de-ontem-e-de-hoje/30537)

quinta-feira, 20 de março de 2014

A América Latina e sua história

A Editora Contexto apresenta História da América Latina, de Maria Ligia Prado e Gabriela Pellegrino – ambas professoras da Universidade de São Paulo.
Esta obra, que trata da fascinante história da América Latina, amplia nossos horizontes, fazendo-nos pensar sobre as questões do presente e entender as viscerais ligações históricas entre o Brasil e os demais países latino-americanos.
O livro já está em pré-venda, aproveite.
     
                       

   
Os brasileiros, de modo geral, conhecem muito pouco sobre a rica e complexa História da América Latina. E isso acontece ainda que o país faça parte dessa região e que nossa história corra paralela à dos nossos vizinhos – desde a colonização ibérica, passando pela concomitância das independências políticas e da formação dos Estados nacionais, chegando aos temas do século XX (como a simultaneidade das ditaduras civis-militares).
Daí a importância desta obra, que começa seu percurso com a crise dos domínios coloniais na América, passa pela construção de identidades e investiga educação, cidadania, cultura e política.
Escrito com linguagem fluente por duas professoras da Universidade de São Paulo com relevantes estudos sobre a América Latina, o livro oferece aos leitores uma proximidade inédita com nossos vizinhos. Isso nos ajuda a pensar também sobre as questões do presente e entender as viscerais ligações históricas entre o Brasil e os demais países latino-americanos.



Nº de Páginas: 208
Formato: 16 x 23
Data: 25/03
ISBN:
978-85-7244-832-1










                       
   

terça-feira, 18 de março de 2014

Os EUA e a “democracia”: discurso esfarrapado

Os EUA e a “democracia”: discurso esfarrapado


História: 35 países onde Washington derrubou governos legítimos, aliou-se a ditadores e cometeu genocídios, em nome de seus interesses geopolíticos
Por Nicolas J.S. Davies, no Alternet | Tradução: Vinícius Gomes
Um velho clichê político repetiu-se, nas últimas semanas, na Ucrânia e na Venezuela – ainda que com roupagem nova. Em Kiev, um presidente corrupto, porém legítimo, foi deposto após meses de manifestações, comandadas por grupos neonazistas. Em Caracas, Leopoldo López, político de extrema-direita e um dos líderes do golpe de Estado de 2002, apoia-se em dificuldades do governo para pedir sua derrubada antidemocrática. Nos dois casos, os Estados Unidos têm interesse geopolítico claro na queda dos governantes e agiram (agem, na Venezuela) para provocá-la.
O pretexto de Washington é uma concepção particular de “democracia”. Na Ucrânia, o chefe de governo, Viktor Yanukovitch, teria sido afastado por se aproximar da Rússia – adversária dos EUA e, portanto, “antidemocrática” por definição. Na Venezuela, tanto o ex-presidente Hugo Chávez quanto seu sucessor, Nicolas Maduro, promovem políticas de unidade latinoamericana que incomodam Washington. Por isso, seriam, naturalmente, “autoritários”. A mídia aliada ideologicamente à Casa Branca repete tais argumentos de maneira tão maciça (e acrítica) quanto assegurava haver, no Iraque, “armas de destruição em massa”.
Mas qual a autoridade do governo norte-americano para falar em nome da “democracia”? Nos próprios Estados Unidos, parece haver enormes dúvidas. Colaborador de publicações como “Huffington Post”, “Salon”, “ZNet” e “Alternet”, o escritor e jornalista Nicolas J.S. Davies acaba de produzir, para esta publicação, um texto de grande importância e atualidade. Após vasta pesquisa histórica, Davies relacionou uma lista (certamente incompleta) de países em que Washington interveio derrubando governos legítimos por meio de golpes de Estado, apoiando ditaduras ou participando de massacres e genocídios.
São 35 países, contando apenas as intervenções entre pós-II Guerra Mundial e hoje. Os verbetes são densos, porém breves – ou o texto seria interminável. Mas Davies teve o cuidado de pesquisar e indicar por meio de links, em cada caso, textos que permitem compreender, em detalhes, o contexto e os fatos concretos. O autor adverte: “em nome de sua incansável busca pelo domínio global, Washington criou um longo e contínuo histórico de trabalhar lado a lado com fascistas, ditadores, chefões das drogas e países que patrocinam terrorismo. (…) Os crimes cometidos vão de assassinato a tortura, de golpes a genocídios. A trilha de sangue desse caos e carnificina vai até os degraus da Casa Branca e do Congresso norte-americano”. A seguir o resultado, ordenado alfabeticamente, da pesquisa de Davies. (A.M)
1. Afeganistão
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Durante a década de 1980, os EUA trabalharam com o Paquistão e a Arábia Saudita para derrubar o governo socialista do Afeganistão. Eles financiaram, treinaram e armaram forças lideradas por líderes locais conservadores, cujos poderes foram ameaçados pelas reformas do país nas áreas de educação, direitos das mulheres e reforma agrária. Após Mikhail Gorbachev retirar as tropas soviéticas, em 1989, esses senhores da guerra apoiados pelos EUA, despedaçaram o país e aumentaram a produção de ópio a um nível sem precedentes de 2 mil para quase 3.500 toneladas por ano. O governo Talibã cortou tal produção em 95% durante 1999 e 2001, mas a invasão norte-americana colocou os senhores da guerra e chefões das drogas de volta ao poder. O Afeganistão ocupa atualmente o 3º lugar dos mais países mais corruptos do mundo (entre 177) e o 175° em desenvolvimento humano (entre 186). Além disso, desde 2004 sua produção de ópio aumentou para 5.400 toneladas por ano. O irmão do presidente afegão, Ahmed Wali Kharzai era um notório chefão das drogas financiado pela CIA . Após uma grande ofensiva do exército norte-americano na província de Kandahar, em 2011, o coronel Abdul Razziq foi nomeado chefe de polícia local, impulsionando o contrabando de heroína que já lhe rendeu 60 milhões de dólares ao ano, em um dos países mais pobres do planeta.
2. Albânia
Entre 1949 e 1953, os EUA e o Reino Unido aliaram-se para derrubar o governo da Albânia, o menor e mais vulnerável país comunista no Leste Europeu. Exilados foram recrutados e treinados para retornar à Albânia e, estimular dissidentes a planejar um levante armado. Muitos dos exilados envolvidos no plano foram antigos colaboradores da Itália fascista e da Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. A lista incluía um antigo Ministro do Interior, Xhafer Deva, que supervisionou as deportações de “judeus, comunistas, partisans e pessoas suspeitas” (como descrito em um documento nazista) para o campo de concentração de Auschwitz. Documentos norte-americanos secretos que se tornaram públicos revelaram desde então que Deva foi um dos 743 fascistas criminosos de guerra que os EUA recrutaram após a guerra.
3. Argentina
Documentos secretos que foram liberados ao público em 2003, detalham conversações de outubro de 1976, entre o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e sua contraparte argentina, o ministro das Relações Exteriores Almirante Guzzetti, pouco tempo depois de a junta militar tomar o poder na Argentina. Kissinger aprovou, explicitamente, a “guerra suja” dos militares sul-americanos, que matou aproximadamente 30 mil pessoas – jovens, em sua maioria – e roubou 400 órfãos de suas famílias. Kissinger disse a Guzzetti: “Veja bem, nossa posição é que você tenha sucesso…quanto mais rápido você tiver sucesso, melhor”. O embaixador dos EUA em Buenos Aires relatou que Guzzetti “saiu da conversa em estado de júbilo, convencido que não haveria nenhum problema por parte do governo norte-americano sobre esse assunto”.
4. Brasil
Em 1964, o general Castelo Branco liderou um golpe que iniciou 20 anos de uma brutal ditadura militar. O adido militar norte-americano, Vernon Walters – mais tarde Diretor Interino da CIA e embaixador na ONU – conhecia bem Castelo Branco desde a Segunda Guerra Mundial, na Itália. Por ter sido um agente da CIA, os relatórios de Walters sobre o Brasil nunca vieram a público, mas a CIA providenciou todo o apoio necessário para garantir o sucesso do golpe de Estado, assim como na Ucrânia e Venezuela, recentemente. Uma força anfíbia dos Marines norte-americanos estava à postos para desembarcar no país, mas não foi necessário. Assim como outras vítimas dos golpes apoiados pelos EUA na América Latina, o presidente eleito João Goulart era um rico latifundiário, não um comunista, mas seus esforços para permanecer neutro durante a Guerra Fria eram inaceitáveis para Washington.
5. Camboja
Quando o presidente Nixon ordenou o bombardeio secreto e ilegal no Camboja, em 1969, os pilotos norte-americanos foram obrigados a falsificar seus manifestos de voo para encobrir seus crimes. O bombardeio matou pelos menos 500 mil de cambojanos, despejando mais bombas no pequeno país asiático do que a Alemanha e o Japão combinados, durante a Segunda Guerra. Quando o grupo Khmer Vermelho ganhou força no país, em 1973, a CIA relatou que “sua propaganda é mais efetiva entre pessoas que sofreram com os bombardeios dos B-52 dos EUA”. Depois de o Khmer Vermelho matar mais de dois milhões de seu próprio povo e, ser finalmente expulso do país pelo exército do Vietnã, em 1979, o Grupo de Emergência de Kampuchea, que tinha como base embaixada norte-americana na Tailândia, organizou-se para apoiar e alimentar os genocidas do Khmer, vistos então como um grupo de “resistência” contra o novo governo cambojano, apoiado pelos vietnamitas. Com a pressão dos EUA, o Programa Mundial de Alimentos providenciou 12 milhões de dólares para alimentar de 20 a 40 mil soldados do Khmer Vermelho. Por pelo menos mais uma década, a inteligência do exército norte-americano forneceu imagens de satélites ao grupo, enquanto forças dos EUA e do Reino Unido treinavam-no para plantar milhões de minas terrestres no oeste do país. Até hoje, elas matam e mutilam centenas de pessoas todos os anos.
6. Chile
Quando Salvador Allende tornou-se presidente, em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon prometeu “fazer a economia berrar” no Chile. O maior parceiro do país sul-americano eram os EUA, que cortou o comércio bilateral a fim de causar um caos econômico e falta de suprimentos. A CIA e o Departamento de Estado promoveram sofisticadas operações de propaganda durante uma década, financiando políticos conservadores, partidos, sindicatos, grupos estudantis e todos os veículos de mídia, enquanto expandiam seus laços com os militares. Após o general Augusto Pinochet tomar o poder, a CIA manteve os oficiais chilenos em sua folha de pagamentos e trabalhou em conjunto com o serviço de inteligência chileno, enquanto o governo militar matava milhares de pessoas, prendendo e torturando outras dezenas de milhares. Enquanto isso, os “Chicago Boys”, cerca de 100 estudantes chilenos enviados pelo Departamento de Estado dos EUA para estudar na Universidade de Chicago, sob a égide do economista Milton Friedman, lançaram um programa radical de privatizações, desregulamentação econômica e políticas neoliberais que manteve a economia do Chile berrando para grande parte dos chilenos ao longo da ditadura militar de 16 anos de Pinochet.
7. China
Ao final de 1945, 100 mil soldados norte-americanos estavam lutando lado a lado com o Kuomitang chinês nas áreas dominadas por comunistas no nordeste da China. O Kuomitang e seu líder, o general Chiang Kai-Shek, foram possivelmente os aliados mais corruptos dos EUA. Inúmeros conselheiros norte-americanos na China alertaram que a ajuda que os EUA enviava estava sendo roubada por Chiang e seus comparsas, alguns dos itens enviados sendo até vendidos aos japoneses, mas o compromisso norte-americano com o general estendeu-se pela II Guerra Mundial, sua derrota posterior diante dos comunistas e seu governo em Taiwan. A perigosa diplomacia do Secretário de Estado, Allen Dulles, em apoio a Chiang, quase colocou os EUA, por duas vezes, à beira de uma guerra nuclear com a China – em 1955 e 1958 – por conta de duas pequenas ilhas na costa chinesa, Matsu e Qemoy.
8. Colômbia
Quando forças especiais do exército dos EUA e sua agência de combate às drogas auxiliaram o governo colombiano a caçar e matar o chefão das drogas Pablo Escobar, eles trabalharam com um grupo de justiceiros chamado Los Pepes. Em 1997, Diego Murillo-Bejaran e outros líderes dos Los Pepes fundaram a AUC – as Autodefesas Unidas da Colômbia -, que foi responsável por 75% das mortes violentas de civis no país nos dez anos seguintes.
9. Coreia
Quando as forças dos EUA chegaram na Coreia, em 1945, foram recepcionadas por oficiais da República Popular da Coreia (KPR, sigla em inglês), formado por grupos de resistência que renderam forças japonesas na II Guerra Mundial e começaram a estabelecer lei e ordem por todo o país. O general Hodge expulsou-os então da metade sul do país e colocou a região sob ocupação militar norte-americanas. Em contraste, forças russas no norte reconheceram a autoridade do KPR – o que resultou na divisão da Coreia. Os EUA então trouxeram Sygnman Rhee, um exilado coreano conservador e o instalaram como presidente da Coreia do Sul. Rhee tornou-se tornou um ditador na cruzada anticomunista; prendeu e torturou suspeitos de serem comunistas; liquidou rebeliões com brutalidade; matou 100 mil pessoas e jurou retomar a Coreia do Norte. Ele foi parcialmente responsável pela “explosão” da Guerra da Coreia e pela decisão aliada de invadir a vizinha do norte. Finalmente, foi forçado a renunciar por um protesto em massa de estudantes, em 1960.
10. Cuba
Os EUA apoiaram a ditadura de Fulgencio Batista, cuja opressão matou mais de 20 mil cubanos e fomentou a revolta que causou a Revolução Cubana. O ex-embaixador Earl Smith testemunhou no Congresso “’que a influência dos EUA em Cuba era tão grande, que o embaixador norte-americano era a segunda pessoa mais importante no país; às vezes até mais que o próprio presidente cubano”. Após a revolução, a CIA iniciou uma campanha de terrorismo contra a ilha, treinando cubanos exilados na Florida, América Central e República Dominicana para cometer assassinatos e atos de sabotagem em Cuba. As operações patrocinadas pela CIA incluíram a tentativa de invasão da ilha pela Baía dos Porcos, em 1961, causando a morte de cem cubanos exilados e quatro norte-americanos; diversos atentados contra Fidel Castro e de outros governantes cubanos; ataques aéreos com bombas e atentados terroristas contra turistas, que incluíram um navio francês aportado em Havana (75 mortos), um ataque biológico com a gripe suína que matou meio milhão de porcos e a explosão de um avião (78 mortos) das linhas aéreas cubanas, planejada por Luis Carlos Posada e Orlando Bosch. Ambos continuam livres nos EUA, apesar de os norte-americanos estarem em “guerra contra o terrorismo”. Bosch recebeu o perdão presidencial do primeiro George Bush.
11. El Salvador
A guerra civil que arrasou El Salvador na década de 1980 foi um levante popular contra um governo extremamente brutal. Pelo menos 70 mil pessoas foram mortas e milhares de outras desapareceram. A Comissão da Verdade da ONU organizada após a guerra encontrou evidências que 95% das mortes foram causadas pelo governo e esquadrões da morte e apenas 5% pelas guerrilhas do FLMN. As forças governamentais responsáveis por esse massacre unilateral foram praticamente todas montadas, treinadas, armadas e supervisionadas pela CIA, pelas forças especiais dos EUA e pela infame Escola das Américas. A Comissão da ONU descobriu que as unidades que cometeram as piores atrocidades – como o Batalhão Atlacatl, que conduziu o terrível massacre de El Mozote, eram precisamente as mais próximas da supervisão norte-americana. O papel dos EUA na campanha de terrorismo de Estado é agora louvado por oficiais militares mais velhos como um modelo de “contra-insurgência” na Colômbia e outros lugares onde a guerra ao terror dos EUA leva violência e caos pelo mundo.
12. Filipinas
Desde que os EUA lançaram sua suposta guerra ao terror em 2001, uma força-tarefa de 500 soldados das forças especiais conduziu operações secretas no sul das Filipinas. Com Obama, a ajuda militar dos EUA para o país aumentou de 12 milhões de dólares, em 2001, para 50 milhões, neste ano. No entanto, ativistas de direitos humanos filipinos relatam que o aumento da ajuda coincide com o aumento de operações militares de esquadrões da morte contra civis. Nos últimos três anos, pelo menos 158 pessoas foram mortas por esses esquadrões.
13. França
Ao final da II Guerra Mundial, as forças aliadas descobriram que tanto na França como na Itália, Grécia, Indochina, Indonésia, Coreia e Filipinas, as forças de resistência comunista tinham conquistado o efetivo controle de várias áreas e até mesmo do país inteiro, ao passo que as forças alemãs e japonesas retiravam-se ou se rendiam. Na cidade costeira de Marselha, o sindicato de comércio controlado pelos comunistas controlava as docas, que eram essenciais para o comércio dos EUA e o Plano Marshall. A agência norte-americana OSS (antecessora da CIA) já havia trabalhado durante a guerra com a máfia siciliana na Itália e com os gângsteres de Córsega, na França. Quando a OSS transformou-se na CIA, após a guerra, restabeleceu seus antigos contatos e usou os criminosos corsos para acabar com as greves e controlar as docas de Marselha. A CIA passou a proteger os corsos, enquanto eles montavam seus laboratórios de heroína e, inclusive quando despachavam a heroína para Nova York, onde, por sua vez, os sicilianos mafiosos revendiam a droga com a proteção da CIA. Ironicamente, o suprimento de drogas quase foi zerado devido a Revolução Chinesa e o vício em heroína poderia ter sido eliminado, mas a Conexão França da CIA trouxe permitiu uma nova onda de vício, crime organizado e violência relacionada ao tráfico para Nova York e outras cidades do país.
14. Gana
Atualmente parece não haver líderes nacionais inspiradores na África. Mas isso pode ser culpa dos EUA. Nas décadas de 1950 e 1960, existia uma estrela em ascensão em Gana: Kwame Nkrumah. Ele foi primeiro-ministro sobre controle britânico, entre 1952 e 1960. Quando Gana tornou-se independente, assumiu a presidência. Era um socialista, pan-africanista e anti-imperialista; em 1965, escreveu um livro chamado Neo-Colonialismo: O último estágio do imperialismo. Nkrumah foi destituído em golpe da CIA, em 1966. A agência negou na época seu envolvimento, mas a imprensa britânica revelou posteriormente, que 40 oficiais da agência operavam na embaixada dos EUA “distribuindo favores entre os adversários secretos de Nkrumah” – os quais “foram completamente recompensados”. O ex-agente da CIA, John Stockwell, revela bastante sobre o golpe em seu livro Em Busca de Inimigos
15. Grécia
Quando as forças britânicas desembarcaram na Grécia em outubro de 1944, eles descobriram que o país estava sobre controle efetivo do ELAS-EAM, a guerrilha esquerdista formada pelo Partido Comunista Grego em 1941, após a invasão alemã e italiana no país. O ELAS-EAM recebeu de braços abertos os britânicos, mas estes recusaram-se a qualquer entendimento com os comunistas e instalaram um governo que incluía defensores da realeza e colaboradores nazistas. Quando o ELAS-EAM organizou uma manifestação maciça em Atenas, a polícia abriu fogo e matou 28 pessoas. Os britânicos recrutaram membros nazistas versados em combate para caçar e prender membros dos ELAS, que novamente pegaram em armas para lutar como resistência. Em 1947, com uma guerra civil em andamento, a Grã-Bretanha, falida, recorreu aos EUA para ocupar e controlar a Grécia. O papel dos norte-americanos apoiando o incompetente governo fascista grego estava embasado na Doutrina Truman, encarada por muitos historiadores como o início da Guerra Fria. Os membros da ELAS-EAM deixaram suas armas em 1949, após a Iugoslávia retirar seu apoio a eles. Cerca de 100 mil foram executados, exilados ou aprisionados. O primeiro-ministro liberal Georgios Papandreou foi deposto com um golpe orquestrado pela CIA, em 1967, levando a mais sete anos de ditadura militar. Seu filho Andreas foi eleito o primeiro presidente “socialista”, em 1981, mas muitos membros do ELAS-EAM presos na década de 1940, nunca foram libertados e morreram na prisão.
16. Guatemala
Após sua primeira experiência para derrubar um governo estrangeiro com o Irã, em 1953, a CIA lançou uma operação mais elaborada para remover o governo eleito do liberal Jacobo Arbenz, na Guatemala, em 1954. A CIA recrutou e treinou um pequeno exército de mercenários em conluio com o guatemalteco exilado, Castillo Armas, para invadir o país, contando com o apoio aéreo de 30 aviões não-identificados. O embaixador norte-americano, John Peurifoy, preparou uma lista de guatemaltecos a serem executados e Armas foi instalado como presidente. O reino de terror que se seguiu iniciou os 40 anos de guerra civil no país, que resultou na morte de 200 mil pessoas – indígenas, em sua maioria. O clímax da guerra foi a campanha de genocídio desencadeada na comunidade Ixil, pelo então presidente Rios Montt. Ele foi sentenciado a prisão perpétua em 2013, até que a Suprema Corte da Guatemala anulou o julgamento, a pretexto de uma tecnicalidade. Um novo julgamento está marcado para 2015. Documentos da CIA revelam que o governo Reagan estava totalmente informado da natureza genocida indiscriminada das operações militares dos guatemaltecos quando aprovou uma nova ajuda financeira em 1981, que incluía veículos militares, partes sobressalentes de helicópteros e enviou de conselheiros militares norte-americanos. Os documentos da CIA detalham o massacre e a destruição de vilas inteiras e concluem: “A bem-documentada crença do exército, segundo a qual a população inteira dos índios Ixil é pró-EGP (Exército Guerrilheiro dos Pobres) criou uma situação na qual, espera-se, que o exército não poupe combatentes e nem não-combatentes”.
17. Haiti
Quase 200 anos depois da rebelião dos escravos que criou o Haiti e derrotou os exércitos de Napoleão, a sofrida população do país finalmente elegeu um verdadeiro governo democrático, liderado pelo padre Jean-Bertrand Aristide, em 1991. Mas o governo de Aristide foi derrubado por um golpe militar apoiado pelos EUA, apenas oito meses depois de ter assumido o cargo. Além disso, a agência de inteligência do Pentágono recrutou uma força paramilitar chamada FRAPH com o objetivo de destruir o movimento de Aristide, chamado Lavalas. A CIA colocou o líder do FRAPH, Emmanuel “Toto” Constant, em sua folha de pagamentos e lhe enviou armas pela Florida. Quando o presidente Clinton enviou uma força de ocupação para recolocar Aristide no poder, em 1994, os membros da FRAPH detidos pelos militares norte-americanos foram liberados com ordens de Washington e a CIA manteve a FRAPH como um grupo criminoso para sabotar tanto Aristide, como o Lavalas. Após Aristide ser eleito novamente em 2000, uma força de pelo menos duzentos soldados das forças especiais dos EUA, treinou cerca de seiscentos antigos membros do FRAPH – dentro da República Dominicana para se preparar para um segundo golpe de Estado. Em 2004, eles lançaram uma campanha de violência para desestabilizar o Haiti, crianao novo pretexto para forças dos EUA desembarcarem no país e removerem Aristide do cargo. Pela segudna vez.
18. Honduras
O golpe de 2009 em Honduras iniciou uma era de dura repressão e o assassinato, por esquadrões da morte de oponentes políticos, sindicalistas e jornalistas. Na época, oficiais norte-americanos negaram qualquer participação com o golpe e usaram de semântica para evitar o corte da assistência militar – driblando o que é requerido pelas leis dos EUA. Mas dois vazamentos do Wikileaks revelaram que a embaixada dos EUA era a maior patrocinadora nas gestões, pós-golpe, para a formação de um governo que reprimiu seu próprio povo.
19. Indonésia
Em 1965, o general Suharto tomou o poder do presidente Sukarno sob o pretexto de combater um golpe fracassado. Iniciou, na sequência, uma ondaa de assassinatos em massa, que resultaram na morte de pelo menos meio milhão de pessoas. Diplomatas norte-americanos admitiram posteriormente que proveram listas com os nomes de 5 mil membros do Partido Comunista que seriam mortos. O oficial político Robert Martens disse: “Realmente foi uma grande ajuda para o exército. Eles provavelmente mataram muitas pessoas e eu provavelmente tenho muito sangue em minhas mãos, mas isso não é tão ruim. Há momentos em que você tem agir com força, em um momento decisivo.
20. Irã
O Irã talvez seja o caso mais instrutivo sobre golpes da CIA que causaram uma interminável lista de problemas para os EUA. Em 1953, a CIA e o MI-6 britânico derrubaram o popular governo eleito de Mohammed Mossadegh. O Irã havia nacionalizado sua indústria petrolífera por votação unânime no Parlamento, encerrando o monopólio da British Petroleum (BP), que pagava ao país apenas 16% dos royaties na venda de seu próprio combustível. Por dois anos, o Irã resistiu ao bloqueio naval britânico e sanções econômicas internacionais. Quando o presidente Eisenhower entrou na Casa Branca em 1953, a CIA concordou com um pedido britânico de intervenção. Depois que o primeiro golpe falhou e o Xá Reza Pahlevi voou para a Itália, a CIA pagou milhões de dólares em suborno para oficiais militares e gangsters, que aterrorizaram as ruas de Teerã com violência. Até que Mossadegh finalmente foi removido e o Xá retornou ao poder como um brutal fantoche ocidental, até a Revolução Iraniana, em 1979.
21. Iraque
Em 1958, após o general Abdul Qasim derrubar a monarquia apoiada pela Grã-Bretanha, a CIA contratou um jovem de 22 anos, chamado Saddam Hussein, para assassiná-lo. Hussein e sua gangue falharam feio na missão e ele fugiu para o Líbano, ferido na perna por um de seus companheiros. A CIA alugou-lhe um apartamento em Beirute. Depois, deslocou-o para Cairo, onde era pago como um agente da inteligência egípcia e era, também, um frequente visitante da embaixada norte-americana. A CIA finalmente assassinou Qasim em um golpe pelo Partido Baath – e, como na Guatemala e Indonésia, entregou ao novo regime uma lista de pelo menos 4 mil membros do Partido Comunista a serem assassinados. No entanto, uma vez no poder, o Baath não se dispôs a ser um fantoche ocidental. Nacionalizou a indústria petrolífera no país, adotou uma política externa nacionalista e criou o melhor sistema educacional e de saúde no mundo árabe. Em 1979, Saddam Hussein tornou-se presidente, após expurgar oponentes políticos. Lançou-se em uma desastrosa guerra contra o vizinho Irã. A inteligência do Pentágono abasteceu Saddam, nesta guerra, com imagens de satélite necessárias para utilizar armas químicas, que o Ocidente ajudou a produzir. Donald Rumsfeld e outros assessores do governo norte-americano enxergavam Hussein como um aliado contra o Irã. Apenas quando o Iraque invadiu o Kuwait e Saddam Hussein tornou-se mais útil como um inimigo, os EUA retularam-no como “um novo Hitler”. Depois que os EUA invadiram o Iraque em 2003, baseando-se em mentiras, a CIA recrutou 27 brigadas da “polícia especial” – unindo a mais brutal das forças de segurança de Hussein com as milícias Badr, treinadas pelo Irã – para criar esquadrões da morte que mataram dezenas de milhares de homens e meninos, de maioria sunitas, em Bagdá e outras cidades, em um reinado de terror que continua até hoje.
22. Israel
Assim como usam seus poderes econômicos e militares, seu sofisticado programa de propaganda e sua posição como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU para violar as leis internacionais com impunidade, os EUA empregam as mesmas ferramentas para criar um escudo protetor a seu aliado israelense, evitando que este tenha que responder por seus crimes. Desde 1966, os EUA usaram 83 vezes seu poder de veto, como membro permanente no Conselho de Segurança – mais do que todos os outros quatro membros combinados. Em 42 casos, estes vetos foram sobre resoluções acerca Israel e/ou Palestina. No início desse ano, a Anistia Internacional publicou um relatório dizendo que “forças israelenses demonstraram uma enorme indiferença com a vida humana, ao matar dezenas de civis palestinos, incluindo crianças, na Faixa de Gaza ocupada nos últimos três anos, com total impunidade”. Richard Falk, o relator especial da ONU sobre Direitos Humanos em Territórios Ocupados, condenou o ataque de 2008 em Gaza como uma “violação maciça da lei internacional”, salientando que países como os EUA, que “forneceram armas e apoiaram o cerco, eram cúmplices nesses crimes”. A Lei Leahy exige que os EUA cortem assistência militar a forças de segurança que violem os direitos humanos, mas ela nunca foi aplicada a Israel – que continua a construir colônias em territórios ocupados, violando o quarto artigo da Convenção de Genebra, tornando ainda mais difícil o cumprimento das resoluções da ONU que exigem a retirada completa dos territórios ocupados. Mesmo assim, Israel continua acima de lei – protegida de prestar de contas pelo seu poderoso aliado, os EUA.
23. Iugoslávia
O bombardeio aéreo da OTAN na Iugoslávia em 1999 foi um flagrante crime de agressão que violou o Artigo 2.4 da Carta da ONU. Quando o secretário de relações exteriores britânico, Robin Cook, disse à secretária de Estado dos EUA, Caroline Albright, que o Reino Unido estava tendo “dificuldades com seus advogados” a respeito do ataque planejado, ela disse, de acordo com seu assistente James Rubin, que os britânicos deveriam “arrumar novos advogados”. O grupo “terceirizado” pela OTAN para agir em campo contra a Iugoslávia era o Exército de Libertação de Kosovo (KLA), liderado por Hashuim Thaci. Um relatório de 2010 do Conselho da Europa e um livro de Carla Del Ponte, antiga procuradora da Tribunal Internacional de Justiça para a Iugoslávia, alertaram, por muito tempo, que na época da invasão da OTAN, Thaci comandava uma organização criminosa chamado Drenica, que enviou mais de 400 sérvios capturados à Albânia para serem mortos e assim terem seus órgãos retirados e vendidos para transplante. Hashim Thaci é hoje o primeiro-ministro de Kosovo, o protetorado da OTAN.
24. Laos
A CIA começou a fornecer apoio aéreo às forças francesas no Laos, em 1950, e continuou envolvida no país por mais 25 anos. A agência orquestrou pelo menos três golpes de Estado entre 1958 e 1960, com o intuito de manter a crescente esquerda, liderada por Pathet Lao, fora do poder. A CIA também trabalhou com os chefões do tráfico de drogas de direita no Laos, como o general Phoumi Nosavan – transportando ópio entre o Myanmar, Laos e Vietnã – além de proteger seu monopólio no comércio de ópio no Laos. Em 1962, a CIA recrutou um exército clandestino de mercenários que contava com 30 mil soldados veteranos de guerras de guerrilha da Tailândia, Coreia, Vietnã e das Filipinas, para lutar contra Pathet Lao. Como inúmeros soldados norte-americanos se viciaram em heroína, durante a guerra do Vietnã, a Air America, da CIA, transportou ópio do território Hmong, nas montanhas, para os laboratórios de heroína do general Vang Pao, em Long Tieng e Vientiane, para serem embarcadas para o Vietnã. Quando o golpe da CIA contra Pathet Lao falhou, os EUA bombardearam o Laos, tão brutalmente quanto no Camboja, lançando 2 milhões de toneladas de bomba.
25. Líbia
A ação da OTAN na Líbia construiu a maneira “disfarçada, silenciosa e livre de imprensa” adotada pelo presidente Obama para fazer guerra. A campanha de bombardeio da OTAN foi falsamente vendida ao Conselho de Segurança da ONU como um esforço para proteger civis e o papel dos militares ocidentais e outras forças estrangeiras foi bem disfarçado, mesmo quando as forças especiais do Qatar (incluindo mercenários paquistaneses ex-agentes do ISI) lideraram o ataque final ao quartel-general Bab Al-Azizia, em Trípoli. A OTAN conduziu 7.700 ataques aéreos. Entre 30 e 100 mil pessoas foram mortas. Cidades leais ao governo foram bombardeadas até virar destroços. Hoje, quano o país está em caos, milícias armadas e treinadas pelo Ocidente dominam territórios e instalações de petróleo, por meio da força. Uma delas, a Misrata, é um das mais violentas e poderosas. Há poucos dias, manifestantes entraram atirando no Congresso pela quarta ou quinta vez, em poucos meses e dois representantes eleitos foram mortos enquanto fugiam.
26. México
A contagem de mortos nas guerras às drogas no México chegou recentemente a 100 mil vítimas. O mais violento dos cartéis de drogas é conhecido por “Los Zetas”. Oficiais dos EUA dizem que eles são os “mais tecnológicos, avançados e perigosos dos cartéis operando no México”. O cartel dos Zetas foi formado por forças de segurança mexicanas, que por sua vez, foram treinados por forças especiais norte-americanas, na Escola das Américas, em Fort Benning – Geórgia; e em Fort Bragg, Carolina do Norte.
27. Myanmar
Após a Revolução Chinesa, os generais do Kuomitang deslocaram-se para o norte de Myanmar e se tornaram poderosos barões das drogas, contando com a proteção militar da Tailândia, financiados por Taiwan e tendo o suporte logístico e transporte aéreo da CIA. A produção de ópio em Myanmar cresceu de 18 toneladas em 1958, para 600 toneladas em 1970. A CIA manteve essas forças como um bastião na luta contra a China comunista. Ajudou a converter o “Triângulo de Ouro” no maior produtor mundial de ópio. A maioria dessa produção foi transportada por mulas para a Tailândia, onde outros aliados da CIA, embarcavam-na para laboratórios de heroína em Hong Kong e Malásia. O comércio mudou um pouco o foco quando o parceiro da CIA, general Vang Pao, montou novos laboratórios no Laos, para fornecer heroína aos soldados norte-americanos.
28. Nicarágua
A Nicarágua foi governada por Anastasio Somoza por 43 anos como se fosse seu feudo particular. O ditador contou com o apoio incondicional dos EUA, enquanto sua Guarda Nacional cometia todo o tipo de crime imaginável – de assassinatos à tortura, de extorsão a estupro – sempre com completa impunidade. Após Somoza finalmente ser deposto pela Revolução Sandinista, em 1979, a CIA recrutou, treinou e apoiou os mercenários “contras”, que invadiram o país com o objetivo de promover terrorismo e desestabilizar a Nicarágua. Em 1986, a Corte Internacional de Justiça considerou os EUA culpados de agressão contra Nicarágua, por enviarem os “contras” e sabotarem os portos nicaraguenses. A Corte ordenou que os EUA terminassem suas agressões e pagassem reparações de guerra à Nicarágua, mas isso nunca aconteceu. A resposta norte-americana foi dizer que não considerava mais a jurisdição da Corte Internacional – efetivamente colocando-se acima das leis internacionais.
29. Paquistão; 30.Arábia Saudita; 31. Turquia
Após ler o meu último texto no Alternet sobre o fracasso na guerra ao terror, um ex-especialista em terrorismo da CIA e Departamento de Estado, Larry Johnson, disse que “o principal problema sobre enfrentar a ameaça terrorista é definir precisamente o patrocínio do Estado. Os maiores culpados hoje, em contraste ao que ocorria vinte anos atrás, são o Paquistão, a Arábia Saudita e a Turquia. O Irã, apesar das bravatas dos neoconservadores de direita, não está ativamente encorajando e/ou facilitando o terrorismo”. Nos últimos doze anos, a ajuda militar dos EUA ao Paquistão totalizou 18,6 bilhões de dólares. Os EUA acabaram de negociar a maior venda de armas na história com a Arábia Saudita e a Turquia é um velho membro da OTAN. Os três maiores países patrocinadores do terrorismo são todos aliados dos EUA.
32. Panamá
Integrantes da agência antidrogas DEA, nos EUA, queriam prender Manuel Noriega em 1971, quando ele era o chefe da inteligência militar no Panamá. Tinham evidências suficientes para condená-lo por tráfico de drogas, mas ele era ao mesmo tempo, um velho agente e informante da CIA – assim como tantos outros traficantes também foram, de Marselha a Macau. Por isso, era intocável. Foi temporariamente desligado de suas funções durante o governo Carter mas, mesmo assim, continuava a receber seu pagamento anual de 100 mil dólares do Tesouro norte-americano. Quando subiu ao status de governante de fato do país, Noriega tornou-se ainda mais valioso para a CIA – relatando seus encontros com Fidel Castro em Cuba e Daniel Ortega na Nicarágua, além de apoiar as operações secretas dos EUA dentro da América Central. Noriega provavelmente parou de traficar drogas em 1985, muito antes de os EUA o acusarem publicamente em 1988. O indiciamento em 1989 foi apenas uma desculpa para os EUA invadirem o Panamá, cujo maior propósito era ter um controle ainda maior sobre o país a um custo de 2 mil vidas.
33. Síria
Quando o presidente Obama aprovou em 2011, o envio de armas e de homens da milícia na Líbia para a base do “Exército Livre da Síria”, na Turquia – em voos da OTAN não registrados –, calculou que os EUA e seus aliados poderiam replicar o “sucesso” que foi a mudança de regime na Líbia. Todos os envolvidos no caso compreenderam que, na Síria, o conflito seria longo e sangrento, mas apostaram que, ao final, o resultado seria o mesmo, mesmo com 55% de sírios apoiando publicamente o presidente Assad. Poucos meses depois, os líderes ocidentais sabotaram o plano de paz de Kofi Annan, e usaram o “plano B”, Amigos da Síria. Esse não era um plano alternativo de paz, mas um comprometimento com a escalada da violência, oferecendo apoio garantido, dinheiro e armas para os jihadistas na Síria, garantindo assim que eles ignorassem o plano de Kofi Annan e continuassem lutando. Essa ação selou o destino de milhões de pessoas. Nos últimos dois anos, o Qatar gastou 3 bilhões de dólares enviando armas para a Síria; a Arábia Saudita embarcou armas via Croácia e países ocidentais junto de forças especiais de países árabes, treinaram milhares de jihadistas radicais e fundamentalistas, que hoje são aliados à Al-Qaeda. As conversações na conferência conhecida como “Genebra 2” foram uma meia tentativa de retomar o plano de paz de Kofi Annan, mas a insistência ocidental de que a “transição política” deve envolver a renúncia de Assad revela que os líderes ocidentais valorizam mais a mudança de regime do que a paz. Parafraseando, Phillys Bennis, os EUA e seus aliados ainda estão dispostos a lutar até o último sírio.
34. Uruguai
Muitos dos oficiais estrangeiros com quem os EUA trabalharam em conjunto tiraram proveito pessoal de sua cooperação com os crimes norte-americanos ao redor do mundo. Mas no Uruguai da década de 1970, quando o chefe de polícia, Alejandro Otero, alertou seus superiores de que os norte-americanos estavam treinando uruguaios na arte da tortura, foi rebaixado em hierarquia. O norte-americano de quem ele reclamou era Dan Mitrione, que trabalho para o Escritório de Segurança Pública dos EUA – uma divisão da USAID. As sessões de treinamento de Mitrione incluíam torturar pessoas sem-teto até a morte com choques elétricos, para ensinar os “estudantes” até que limite podiam chegar.
35. Zaire (República Democrática do Congo)
Patrice Lumumba, o presidente do Movimento Nacional Pan-Africano Congolês, tomou parte na pela independência de seu país e se tornou o primeiro governante eleito do Congo, em 1960. Foi deposto por um golpe patrocinado pela CIA e liderado por Joseph-Desire Mobutu, o líder do exército. Mobutu entregou Lumumba para separatistas e mercenários apoiados pela Bélgica, contra quem ele tanto lutara na província de Katanga. Foi executado por um pelotão de fuzilamento. Mobutu aboliu as eleições e se autoproclamou presidente em 1965 – continuando no poder como ditador por mais trinta anos. Matou oponentes políticos em enforcamentos públicos, mandou outros para a tortura até a morte e, ao final, embolsou 5 bilhões de dólares, enquanto o Zaire, nome cunhado por ele, permanecia um dos países mais miseráveis do planeta. Mas o apoio norte-americano a Mobutu continuou. Até mesmo quando presidente Carter distanciou-se dele publicamente, o ditador continuou a receber 50% de toda a assistência militar que os EUA para a África Subsaariana. Quando o Congresso votou para cortar tal ajuda, Carter e os empresários interessados lutaram para restaurá-la. Apenas na década de 1990, os EUA passaram a abandonar seu antigo fantoche e Mobutu foi deposto por outro golpe em 1997, liderado por Laurent Kabila.
Uma enorme sofrimento humano poderia ter sido evitado, e problemas globais resolvidos, se os EUA estivessem genuinamente comprometidos com a defesa dos direitos humanos e o cumprimento da lei – diferente do que fazem, aplicando, de maneira cínica e oportunista, tais princípios a seus inimigos e, nunca, a seus aliados e a si próprios.

(Fonte: http://outraspalavras.net/capa/os-eua-e-a-democracia-discurso-esfarrapado/)