quarta-feira, 30 de abril de 2014

Crime organizado se sustenta nas estruturas do Estado e é negócio em expansão


Marcela Belchior
Adital
 
O crime organizado tem ganhado cada vez mais terreno na América Latina. Tecendo uma rede de poder entre mercados ilegais, a colaboração do Estado e uma violência massiva, a máfia é hoje considerada negócio em expansão. A conclusão é do centro de pesquisa independente internacional Woodrow Wilson Center, que divulgou documento que estrutura o funcionamento das facções criminosas no continente.
Intitulado "A rebelião das redes criminais: o crime organizado na América Latina e as forças que o modificam” (La rebelión de las redes criminales: El crimen organizado en América Latina y las fuerzas que lo modifican), de autoria Juan Carlos Garzón Vergara, o estudo aponta que as redes criminosas figuram, hoje, como atores estratégicos relevantes no hemisfério sul, reconfigurando as fronteiras territoriais, tendo um forte papel na economia e penetrando nas estruturas políticas e sociais. A máfia poria em jogo os avanços alcançados na construção do Estado e do sistema democrático.
A publicação aponta que os grupos favoreceriam a formação de mercados locais ilegais, fator comum na América Latina, que apresentam uma série de vantagens a essas facções: permitem um fluxo de caixa constante de fácil acesso e a contratação de mão de obra local (que provê essas organizações de base social), são veículos efetivos para a lavagem de dinheiro e sua interação com a informalidade potencializa a capacidade de infiltração na economia legal.
De acordo com o estudo, o crime opera em nível local, como máfias e em plano nacional e regional como empresas, com estruturas mais fluidas e menos hierárquicas. O tradicional "capo”, chefe das facções, compartilha poder com lideranças intermediárias, que permitiriam a conexão do crime organizado com instituições legais.
A pesquisa aponta ainda que a motivação do crime organizado é econômica e não política, ou seja, seu objetivo não é tomar o poder, mas usar o poder para o desenvolvimento das economias ilegais. A violência, nesse caso, seria uma ferramenta da máfia e não um fim em si mesmo. O crime organizado não se baseia no simples confronto com o Estado, mas se estrutura a partir de conexões entre o legal e o ilegal, o formal e o informal, em um contexto de debilidade institucional e deterioração da cultura da legalidade.
Nos últimos anos, as organizações criminais teriam modificado suas estratégias, por quatro motivos. Um deles seriam os vazios de poder, que resultam da implosão das estruturas criminais e da ação do Estado contra esses grupos, também a disponibilidade de redes clandestinas com experiência no tráfico de bens e serviços ilegais. A consolidação de mercados locais ilegais emergentes, com uma oferta crescente e uma demanda constante de produtos e serviços ilegais, seria mais um agravante; além das ofensivas do Estado em meio à fragilidade institucional e a disposição das redes clandestinas a confrontar o Poder Institucional.
O estudo indica ainda que as investidas do Estado para desarticular as organizações criminosas favoreceriam a competitividade interna dos grupos, que se renovariam e criariam novos modos de operar na sociedade. "A ofensiva estatal não necessariamente produz uma debandada de delinquentes que optam por deixarem as atividades ilegais, sendo uma oportunidade para a renovação das estruturas e a emergência de facções ilegais que se mantinham até agora subordinadas”, explica a pesquisa.
O estudo conclui que, diante de uma debilidade institucional, da presença irregular do Estado no território e sua cooptação pela máfia (a chamada "falência do Estado”), a facção criminosa teria capacidade de obrigar o Estado a fazer concessões a essa rede de relações.
* Com informações de Fundación Avina.
(Fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&cod=80345&lang=PT)

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