segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pavor do Apocalipse



Na teoria da relatividade não há nada de valor absoluto e de duração
infinita. Nosso olhar e nossa primeira impressão são sempre falsos.

Refletindo sobre a crônica “Amor e Máquina”, de Contardo Calligaris,
“Folha de São Paulo”, 13 de fevereiro de 2014, podemos dizer que somos
obrigados a sermos integrados e apocalípticos ao mesmo tempo. Diante da
evidência dos teleguiados atômicos existentes, um apocalipse bélico é
possível. Mas a possibilidade de um apocalipse não nos apavora. Estamos
acostumados com as imagens reais e fictícias de bombardeios aéreos. O
apocalipse a que Caligaris se refere é simbólico da descontração das
mentalidades arraigadas na humanidade desde o surgimento da civilização.

Vale dizer, desde que teve fim a era Neolítica, a cerca de onze mil anos.

Quando alguém, diante do aumento da violência, pergunta “Onde é que
isso vai parar?”, certamente está com medo de ser a próxima vítima fatal.
Em alguns momentos somos “integrados”, pois nos colocamos a
raciocinar sobre a sobrevivência da humanidade e do humanismo em
convivência pacífica com a tecnologia. O homem contemporâneo vem se
aparelhando social e psicologicamente para viver sozinho, exercer funções
específicas e ficar alheio a seu entorno, como na ficção de Aldous Huxlei
“O admirável mundo novo”. Poderíamos dizer: admirável atualidade, na
qual as pessoas vivem sozinhas, enclausuradas, em interação com
aparelhagem eletrônica e com os animais de estimação. Diria Sartre:
condenados a serem felizes desse jeito. Ai, chega à conclusão de que as
relações virtuais e também com os animais, são mais seguras e vantajosas
que as relações reais. O velho ditado popular “antes só que mal
acompanhado” tem conotação com o sentimento de perigo de ter que
conviver com alguém, no mundo individualista e competitivo da atualidade.

A ideologia do “salve-se quem puder” e da competitividade sem
normas vem do novo liberalismo e do capitalismo global. Ele é causa, meio
e consequência da corrupção e da violência na atualidade.


Belo Horizonte, maio de 2014.

Antônio de Paiva Moura

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