sábado, 24 de maio de 2014

Na Europa, o passado ressuscita


É lamentável que isto esteja acontecendo, esta degradação regressiva, de ordem política, ética e espiritual, num continente que deu tantas contribuições.


Sabe-se que a mais eficaz estratégia do diabo é convencer-nos de que ele não existe. Porque aí ele reina.

Na Europa, os partidos de extrema-direita vêm repetindo ad nauseam que não são racistas. Que sua ojeriza diante dos imigrantes, por exemplo, se deve unicamente ao fato de que eles procedem de “culturas diferentes”. Parece aquele argumento do “gente diferenciada” para se opor à estação de metrô de Higienópolis em S. Paulo, lembram?

Ao mesmo tempo movimentos neo-fascistas são repintados com as cores de “heróis da democracia”. As cortes europeias  - conservadoras ou social-democratas/socialistas, com muita mídia à frente – prefere seguir demonizando a Rússia, Vladimir Putin, e fazer vista grossa para certos fascismos ambulantes, como o que perambula pela Ucrânia.

Hoje saiu na mídia a notícia de que o governo de Kiev vai enviar 55 mil policiais para o leste do país, a fim de garantir a problemática eleição de domingo, 25.

Assim como se apressou em desqualificar o plebiscito organizado pelos separatistas, o Ocidente realinhado já se prepara para reconhecer a “festa democrática” que será a eleição do dia 25.

Acontece que o governo de Kiev anunciou que irá enviar, junto com os 55 mil policias, mais 20 mil “voluntários”. Quem são estes “voluntários”? São os “heróis da praça Maidan”, isto é, os neofascistas de movimentos como o “Setor da Direita”, “Pravy Sektor”, e de outras partes do país, que já causaram mortes em Mariupol e Odessa, com a complacência das autoridades. Recentemente um governador de província elogiou os “heróicos” nazistas que combatiam o “imperialismo soviético”.

Algo lhe aconteceu, além de uma mulher irada lhe arrancar o microfone e jogá-lo ao chão? Não.

Mas de vez em quando, de surpresa, o velho travo racista ressurge em sua plenitude, embora se disfarce o quanto possa. Nesta quarta-feira, 21, o fundador da Frente Nacional francesa, Jean Marie Le Pen, durante em coquetel em Marselha, deu a espantosa declaração de que o vírus Ebola “poderia resolver o problema da imigração para a Europa em 3 meses”. Pode ser que os coquetéis ou uma forma de demência tenham lhe subido à mente, embora o mais provável seja que ele tenha sido apenas acometido por uma overdose de si mesmo.

O vírus Ebola é um vírus mortífero detectado pela primeira vez lá pelos anos 80, às margens no rio do mesmo nome, no antigo Zaire, hoje República Democrática do Congo, sobre cuja origem há muita controvérsia, indo desde o contato indevido com animais contaminados até conspiraçòes envolvendo agências de espionagem.

O racismo e o wishful thinking de um “genocídio natural” são inquestionáveis.
Entretanto a Frente Nacional está cotada para ser o partido mais votado na França nas eleições do Parlamento Europeu, assim como o xenófobo UKIP no Reino Unido – mas que pesquisas recentes apontam como não sendo reconhecido como “racista” pela maioria da população.

Desculpem o mau jeito, mas isto equivale a dizer que, bom, no fim de contas, o problema europeu nos anos 30 não era o racismo nazista, mas sim a “diferença” dos judeus, ciganos (roma), homossexuais, comunistas, social-democratas, liberais e depois outras gentes “diferenciadas”.

É lamentável que isto esteja acontecendo – esta verdadeira degradação regressiva, de ordem política, ética e espiritual – num continente que deu tantas contribuições para a luta em favor dos direitos humanos.

Mas assim é. Assim como nada acontece com pessoas que jogam bananas para jogadores negros, ou os chamam de "macacos", nada acontecerá, provavelmente, com o cidadão Jean Marie Le Pen. A não ser talvez sua esperada eleição para o Parlamento Europeu, onde, provavelmente, se tornará um dos líderes do promissor bloco de extrema-direita.
(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Na-Europa-o-passado-ressuscita/30980)

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