Texto escrito por José de Souza Castro:
Artigo do prêmio Nobel de Economia de 2008,
Paul Krugman, devia ser lido com atenção pelos estrategistas das
campanhas de Aécio Neves e Eduardo Campos. Para que os candidatos passem
a dar mais atenção ao tema, se eles querem mesmo se eleger presidente
da República de um país em que a riqueza está extremamente mal
distribuída, em prejuízo da maioria dos eleitores.
A
revelação de que “a desigualdade atrapalha” o crescimento econômico de
um país serve também à presidente Dilma Rousseff, para reforçar suas
crenças dos tempos de estudante de economia na Universidade Federal de
Minas Gerais que a levaram a participar de uma luta que, na época,
estava fadada ao insucesso e à prisão e à tortura. E que agora, se não
foram esquecidas, têm enfrentado grandes dificuldades para, por
iniciativa presidencial, se firmarem nesse nosso injusto sistema
político.
Tanto que, em São Paulo, como vimos recentemente, aquele 1% da população com maior renda na capital se tornou ainda mais rica desde o começo do governo Lula.
Ao
contrário do que se pensava nos meios frequentados por Aécio Neves – e
agora também por Eduardo Campos –, tributar os ricos para ajudar os
pobres pode elevar, e não reduzir, o ritmo de crescimento da economia. É
o que afirma Krugman, respaldado em provas levantadas por ninguém menos
que o Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma desigualdade elevada
prejudica o crescimento, constatou o FMI, e a redistribuição pode ser
boa para a economia.
Conforme
Krugman, no começo desta semana, a nova visão sobre desigualdade e
crescimento “ganhou o apoio de um novo relatório da agência de
classificação de crédito Standard & Poor's, que sustenta a posição
de que uma desigualdade muito forte prejudica o crescimento”.
É algo para se pensar, num mundo cada vez mais desigual. E que, se nada for feito, tende a piorar.
Até
agora, quando se fala em desigualdade, o que vem à mente é um reduzido
grupo de bilionários cercado por centenas de milhões de miseráveis em
todo o mundo. E o cerco tende a aumentar.
Em outro artigo na "Folha de S. Paulo",
Ruy Castro comentou na última sexta-feira a chegada ao mercado do Fire
Phone, da Amazon. O aplicativo Firefly permitirá ao usuário escanear um
produto e comprá-lo on-line, sem interferência humana e sem ter nem
sequer de digitar. Basta fotografar um produto com o Firefly. A foto em
3D é disparada automaticamente para o site da Amazon, capaz de
reconhecer 100 milhões de produtos. Se aquele for reconhecido, a compra
estará feita. O comprador recebe em casa e paga em seu cartão de
crédito.
No
futuro, o comprador nem precisará ir a uma loja para fotografar o que
lhe interessa. “Mesmo porque, em pouco tempo, esses lugares, reduzidos a
reles showrooms, deixarão de existir. Os showrooms do futuro serão só
virtuais”, dizem as reportagens lidas por Ruy Castro. A Amazon tem como
meta ser “uma loja de tudo”, de forma a dispensar a existência de todas
as outras. Conclui o colunista:
“Não
vi nos textos nenhuma preocupação com o fato de que o Firefly pode
representar a morte do comércio de rua – e, agora, também o de shopping
–, o fim do varejo, o desemprego, a falência das cidades e o fim de uma
relação entre os seres humanos que começou quando, um dia, um deles
trocou um machado de pedra por uma pele de mamute com seu vizinho – e,
com isso, os dois inauguraram a civilização.”
Em
1932, no intermédio das duas grandes guerras mundiais, o escritor
inglês Aldous Huxley publicou o livro “Admirável Mundo Novo”. Caminhamos
agora para outro mundo novo e, se os atuais donos do mundo e os
políticos em geral não criarem juízo, será um mundo cheio de ruído e
fúria e sem significado algum.
Não teremos, a nos proteger, sequer uma pele de mamute. Mas não faltarão machados.
(fonte: blog da KikaCastro)
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