segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Golfo de Tonkin, o lobo e a ovelha

  por Percival Maricato

Como sempre nos segredos militares, só após 50 anos a verdade é revelada. Alegando que o USS Maddox, navio de guerra americano tinha sido atacado, os EUA ampliaram sua intervenção na guerra do Vietnã e logo estavam bombardeando violentamente as cidades do Vietnã do Norte, além de aldeias suspeitas do sul, estas inclusive com napalm.

Para convencer o povo americano a aceitar a guerra, o governo americano usava a teoria do dominó: se o Vietnã do Sul  caísse nas mãos dos comunistas, todos os demais países do sudeste da Ásia teriam o mesmo destino. No entanto, além da teoria precisava de pretexto mais violento, direto, imediato. Simulou então o referido ataque.

E só agora alguns militares que estavam no referido navio se atrevem a revelar que não aconteceu ataque nenhum. Para evitar que isso acontecesse antes, o pseudo ataque foi transformado em “segredo militar”. Falar levaria qualquer um à situação de Snowden. Com muita sorte, teria que viver dentro de uma embaixada. Quanto ao fato, os vietnamitas não seriam idiotas a ponto de dar de bandeja um motivo tão suculento para os EUA  atacá-los, mesmo sabendo-se que o navio  estava em missão de espionagem eletrônica (imaginem o que aconteceria se um navio de guerra de alguma outra nação inimiga tentasse se colocar perto dos EUA? Seria impossível, antes de mais nada porque os EUA não tem inimigos).
Simulações para iniciar guerras sempre foram usados desde os tempos imemoriais. Era sabido até por Blondi, a cadela de Hitler, que ele iria atacar a Polônia. Assim mesmo o chefe nazi teve que simular um acidente na fronteira e matar alguns detentos como sendo soldados alemães para usar como pretexto.

Os EUA já fazem isso de longa data para justificar invasões do México, de onde retiraram grande parte de seu território. Fizeram também com a Espanha em 1898: teriam explodido uma bomba no USS Maine, no porto de em Havana, mas culparam a Espanha, justificando o início de uma guerra onde tomariam suas colônias. Mais recentemente culparam Hussein por estar acumulando armas de destruição em massa. O ditador, sabendo o que iria ocorrer, tentou escapar, permitindo a ONU que revirasse todo o Iraque. Nada foi encontrado, mas na falta de outro pretexto, esse serviu para a invasão do país.

Esses episódios lembram a historieta escolar do lobo que acusou a ovelha de sujar a água do regato onde bebia, apesar desta ter demonstrado que isso era impossível, pois ela bebia após o fluxo da água passar pelo lobo. A ovelha acabou virando refeição. Pretextos acontecem desde a Suméria e do Egito antigo. E continuam sendo aceitas pelas elites dos países dominantes e seus aliados, com a mesma dose cavalar de hipocrisia. A Polônia, vítima de hipocrisia, aceitou enviar tropas para a guerra libertadora do Iraque.

A guerra do Vietnã foi uma das mais medonhas que tivemos. E foi inútil. Os americanos perderam dezenas de milhares de jovens, e outro tanto voltou deficiente físico ou mental para casa. Os EUA pela primeira vez perderam uma guerra, desperdiçaram trilhões de dólares. Metade do dinheiro que essa nação gasta em força militar acabaria com a fome, epidemias e analfabetismo no mundo em poucos anos. E ela continuaria, longe, a mais forte do mundo e respeitada e estimada como nenhuma outra. Mas parece inexistir outro caminho que não o já seguido por todos os impérios anteriores.
(fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-golfo-de-tonkin-o-lobo-e-a-ovelha-por-percival-maricato)

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