sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O novo Evangelho dos bancos centrais


Texto escrito por José de Souza Castro:
Espero que a "Folha de S. Paulo" traduza e publique, como fez com outros textos do mesmo autor, o artigo de Binyamin Appelbaum publicado no dia 25 deste mês de agosto na página B1 do "New York Times" com o título "Central Bankers’ New Gospel: Spur Jobs, Wages and Inflation". Pode ser lido AQUI.
O repórter do NYT cobriu a conferência sobre política econômica realizada em agosto em Jackson Hole, no Estado norte-americano de Wyoming. Segundo ele, pela primeira vez desde 1994, a agenda focalizou os mercados de trabalho. Naquele ano, Alan Blinder, vice-presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, escandalizou a audiência ao advertir que os bancos centrais vinham se preocupando muito com reduzir a inflação e não o suficiente com o desemprego.
Vinte anos depois, Alan Blinder participou da conferência como um economista da Princeton University. Considerada uma heresia sua advertência de 1994, ele viu que a heresia havia se transformado no novo Evangelho dos dirigentes dos maiores bancos centrais do mundo.
Blinder ouviu durante essa conferência, encerrada no último sábado, serem ditas coisas que os responsáveis por tais bancos nunca disseram antes. No Fed, disse o ex-vice-presidente, não há mais ninguém que afirme que não se deve prestar atenção no desemprego. Sumiram os hawkishes, defensores de juros mais altos e de uma política de austeridade mais forte.
Os bancos centrais se acham agora focados em elevar o nível de emprego e os salários dos trabalhadores. A busca por uma inflação menor foi substituída pela convicção de que a inflação está atualmente muito baixa para o bem da economia.
Algo bem diferente do que prega um ex-presidente do Banco Central brasileiro no governo Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga, que será ministro da Fazenda se Aécio Neves vencer as eleições. Ou do que defendem assessores econômicos de Marina Silva, candidata do PSB. Se não mudarem de posição, correm o risco de serem os últimos de uma espécie ora em extinção, os hawkishes.
Seria bom se prestassem atenção ao discurso de Janet L. Yellen, a presidente do Fed, na abertura da conferência. Ela fez uma explanação paciente sobre a necessidade de manter baixas as taxas de juros para apoiar o crescimento do emprego. Ou à fala de Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu. Ele disse que está expandindo os estímulos à criação de empregos e convocou os governos europeus a fazerem o mesmo. O Banco do Japão já segue esse novo Evangelho, segundo seu presidente, Haruhiko Kuroda.
O mais curioso é que, embora o emprego tenha aumentado nos Estados Unidos, neste ano, os salários continuam baixos. E isso tem preocupado o Fed. Seus economistas estão debruçados sobre essa questão. Os do lado de cá, sobretudo os que assessoram os candidatos Aécio Neves e Marina Silva, certamente vão esperar por suas conclusões. Espero que eles tenham, pelo menos, tomado conhecimento dessa conferência e do novo Evangelho dos bancos centrais dos países mais desenvolvidos. Para que não sejamos arrastados de volta ao atraso, caso Dilma Rousseff seja derrotada.
(fonte: http://kikacastro.com.br/2014/08/29/o-novo-evangelho-dos-bancos-centrais/)

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