Texto escrito por José de Souza Castro:
Espero
que a "Folha de S. Paulo" traduza e publique, como fez com outros
textos do mesmo autor, o artigo de Binyamin Appelbaum publicado no dia
25 deste mês de agosto na página B1 do "New York Times" com o título
"Central Bankers’ New Gospel: Spur Jobs, Wages and Inflation". Pode ser
lido AQUI.
O
repórter do NYT cobriu a conferência sobre política econômica realizada
em agosto em Jackson Hole, no Estado norte-americano de Wyoming.
Segundo ele, pela primeira vez desde 1994, a agenda focalizou os
mercados de trabalho. Naquele ano, Alan Blinder, vice-presidente do
Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, escandalizou a audiência
ao advertir que os bancos centrais vinham se preocupando muito com
reduzir a inflação e não o suficiente com o desemprego.
Vinte
anos depois, Alan Blinder participou da conferência como um economista
da Princeton University. Considerada uma heresia sua advertência de
1994, ele viu que a heresia havia se transformado no novo Evangelho dos
dirigentes dos maiores bancos centrais do mundo.
Blinder
ouviu durante essa conferência, encerrada no último sábado, serem ditas
coisas que os responsáveis por tais bancos nunca disseram antes. No
Fed, disse o ex-vice-presidente, não há mais ninguém que afirme que não
se deve prestar atenção no desemprego. Sumiram os hawkishes, defensores
de juros mais altos e de uma política de austeridade mais forte.
Os
bancos centrais se acham agora focados em elevar o nível de emprego e
os salários dos trabalhadores. A busca por uma inflação menor foi
substituída pela convicção de que a inflação está atualmente muito baixa
para o bem da economia.
Algo
bem diferente do que prega um ex-presidente do Banco Central brasileiro
no governo Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga, que será ministro
da Fazenda se Aécio Neves vencer as eleições. Ou do que defendem
assessores econômicos de Marina Silva, candidata do PSB. Se não mudarem
de posição, correm o risco de serem os últimos de uma espécie ora em
extinção, os hawkishes.
Seria
bom se prestassem atenção ao discurso de Janet L. Yellen, a presidente
do Fed, na abertura da conferência. Ela fez uma explanação paciente
sobre a necessidade de manter baixas as taxas de juros para apoiar o
crescimento do emprego. Ou à fala de Mario Draghi, presidente do Banco
Central Europeu. Ele disse que está expandindo os estímulos à criação de
empregos e convocou os governos europeus a fazerem o mesmo. O Banco do
Japão já segue esse novo Evangelho, segundo seu presidente, Haruhiko
Kuroda.
O
mais curioso é que, embora o emprego tenha aumentado nos Estados
Unidos, neste ano, os salários continuam baixos. E isso tem preocupado o
Fed. Seus economistas estão debruçados sobre essa questão. Os do lado
de cá, sobretudo os que assessoram os candidatos Aécio Neves e Marina
Silva, certamente vão esperar por suas conclusões. Espero que eles
tenham, pelo menos, tomado conhecimento dessa conferência e do novo
Evangelho dos bancos centrais dos países mais desenvolvidos. Para que
não sejamos arrastados de volta ao atraso, caso Dilma Rousseff seja
derrotada.
(fonte: http://kikacastro.com.br/2014/08/29/o-novo-evangelho-dos-bancos-centrais/)
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