A mídia tradicional do Brasil,
controlada por nada mais que onze famílias, é contrária às medidas que visam
diminuir o abismo que existe entre ricos e pobres. Chamam essa política de
“populismo”, querendo dizer que este é responsável pela decadência de muitos
países. Mas, na verdade, as medidas impopulares que propõem eliminar direitos
das classes trabalhadoras; que são contra bolsas de estudos e de famílias: que
depreciam a saúde pública para aumentar o lucro da saúde privada; que lutam
para privatizar as empresas de economia mista, tudo isso reforça a estrutura
que permite que a sociedade se mantenha injusta, retirando de todos para
capitalizar o setor financeiro do capitalismo global. No Brasil as medidas
impopulares idealizadas por Margareth Thatcher, que deveriam ser repugnadas,
passam por ações que projetam e ampliam os negócios e os poderes do capitalismo,
a exemplo da política de privatização projetada por Collor e executada por FHC.
As medidas impopulares têm levado o capitalismo ocidental a crises
intermináveis com a perda de poder aquisitivo dos trabalhadores. O
neoliberalismo que pretendia tirar o capitalismo da crise aprofundou-a
irremediavelmente.
Diante desse impasse, pergunta-se: quem
verdadeiramente nos representa? Na falta de resposta, a primeira consequência é
a descrença e o desprezo pela representação política. A tendência da sociedade
é a de se posicionar, marchar e agir contra a destruição da natureza; contra a
exagerada acumulação e concentração de riquezas; contra a disparidade de rendas
entre os executivos e os trabalhadores. Basta dizer que, segundo dados da
revista Exame (2012) existem no Brasil 130 mil multimilionários, sendo que mais
da metade deles, cerca de 84.500, vivem em São Paulo e Rio de Janeiro.
Na segunda semana de abril de 2014, veio
à tona um fato muito significativo que sinaliza o divórcio entre as
instituições clássicas e o novo paradigma de mobilização social. A entrevista
concedida pelo ex-presidente Lula a blogueiros gerou uma onda de protestos
entre os veículos tradicionais, que se sentiram excluídos dos costumeiros privilégios
de coberturas exclusivas. Nem a visita do Papa Francisco escapou do maldito
exclusivismo em que repórteres estiveram a bordo do avião que viajava e em seus
aposentos no Rio de Janeiro. Os blogueiros, ao contrário, tiveram o mesmo espaço
para perguntas e não houve seleção prévia para perguntar. Foi ai que os grandes
jornais do país se enfureceram, pois perceberam que não mais fazem as cabeças
de grande parte da população do país. Por que será que os manifestantes de rua
atacam jornalistas das grandes redes?
Belo
Horizonte, outubro de 2014.
Antônio
de Paiva Moura
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