terça-feira, 30 de setembro de 2014

Populismo e ação impopular





            A mídia tradicional do Brasil, controlada por nada mais que onze famílias, é contrária às medidas que visam diminuir o abismo que existe entre ricos e pobres. Chamam essa política de “populismo”, querendo dizer que este é responsável pela decadência de muitos países. Mas, na verdade, as medidas impopulares que propõem eliminar direitos das classes trabalhadoras; que são contra bolsas de estudos e de famílias: que depreciam a saúde pública para aumentar o lucro da saúde privada; que lutam para privatizar as empresas de economia mista, tudo isso reforça a estrutura que permite que a sociedade se mantenha injusta, retirando de todos para capitalizar o setor financeiro do capitalismo global. No Brasil as medidas impopulares idealizadas por Margareth Thatcher, que deveriam ser repugnadas, passam por ações que projetam e ampliam os negócios e os poderes do capitalismo, a exemplo da política de privatização projetada por Collor e executada por FHC. As medidas impopulares têm levado o capitalismo ocidental a crises intermináveis com a perda de poder aquisitivo dos trabalhadores. O neoliberalismo que pretendia tirar o capitalismo da crise aprofundou-a irremediavelmente.
Diante desse impasse, pergunta-se: quem verdadeiramente nos representa? Na falta de resposta, a primeira consequência é a descrença e o desprezo pela representação política. A tendência da sociedade é a de se posicionar, marchar e agir contra a destruição da natureza; contra a exagerada acumulação e concentração de riquezas; contra a disparidade de rendas entre os executivos e os trabalhadores. Basta dizer que, segundo dados da revista Exame (2012) existem no Brasil 130 mil multimilionários, sendo que mais da metade deles, cerca de 84.500, vivem em São Paulo e Rio de Janeiro.
Na segunda semana de abril de 2014, veio à tona um fato muito significativo que sinaliza o divórcio entre as instituições clássicas e o novo paradigma de mobilização social. A entrevista concedida pelo ex-presidente Lula a blogueiros gerou uma onda de protestos entre os veículos tradicionais, que se sentiram excluídos dos costumeiros privilégios de coberturas exclusivas. Nem a visita do Papa Francisco escapou do maldito exclusivismo em que repórteres estiveram a bordo do avião que viajava e em seus aposentos no Rio de Janeiro. Os blogueiros, ao contrário, tiveram o mesmo espaço para perguntas e não houve seleção prévia para perguntar. Foi ai que os grandes jornais do país se enfureceram, pois perceberam que não mais fazem as cabeças de grande parte da população do país. Por que será que os manifestantes de rua atacam jornalistas das grandes redes?

Belo Horizonte, outubro de 2014.


Antônio de Paiva Moura

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