Faço minhas as palavras da Cristina. É insuportável a barulhada que se apronta!
Eu
adoro fogos de artifício, daqueles que enchem o céu de luzes coloridas,
indispensáveis nas viradas de ano. Mas já não curto os fogos que são
apenas bombas, que só fazem barulho, como se estivéssemos num campo de
guerra.
Esperei
meu Galo ganhar a Copa do Brasil para abordar o assunto, porque o que
vou defender a seguir diz respeito a todos os times de futebol, está
longe de ser exclusividade de uma torcida ou outra.
O
negócio é o seguinte: é mais que normal haver alegria, festa e
comemoração no dia que nosso time vence um título importante, como a
Libertadores, o Brasileirão e a Copa do Brasil. Tudo bem soltarem uns
foguinhos logo que o jogo termina, passarem pelas avenidas (não ruas de bairro) buzinando logo que o jogo termina, vizinhos gritarem um "Viva o Time Tal!" ou "Perdeu, Time Qual!" nas janelas logo que o jogo termina. Mas tudo tem limite -- o limite do bom senso.
Ficar a noite toda soltando bombas de dez em dez minutos extrapola qualquer limite. Temos que lembrar que um terço da população de Beagá não torce para time nenhum
-- ou seja, está totalmente alheia ao que motiva a alegria
que atleticanos e cruzeirenses viveram nesta semana. Provavelmente só
querem uma boa noite de sono antes de encarar a labuta do dia seguinte.
Temos ainda cerca de 60 mil bebês
com até 2 anos vivendo na capital mineira. Esses bebês ainda não sabem
para que time torcem, querem apenas comer, fazer suas necessidades e
dormir -- querem sossego, enfim. Imagina como se sentem quando são
bombardeados durante o sono? E os pais desses bebês, que precisam
acordar de madrugada para acalmá-los, aos berros?
Considerando
as crianças com até 4 anos, são 132 mil. Elas ainda não entendem por
que diabos estão sendo acordadas com tanto estardalhaço durante a noite,
por que algumas pessoas estão fazendo tanto barulho, por que alguns
estão gritando de felicidade e outros, de tristeza. O que entendem é que
estão com sono e querem dormir.
Existem ainda pelo menos 17 mil grávidas
na cidade, que também já sofrem com várias dificuldades próprias do
período de gestação, que estão mais suscetíveis ao cansaço e ao
estresse, que ainda precisam trabalhar, e certamente querem sossego na
hora do sono.
E a população idosa? Cerca de 300 mil pessoas que moram em Beagá
têm mais de 60 anos -- dessas, 137 mil têm mais de 70 e 45 mil têm mais
de 80 anos. São pessoas com mais sensibilidade auditiva e, em muitos
casos, com a saúde mais frágil. Também é razoável supor que eles queiram uma boa noite de sono, sem sustos durante a madrugada.
Além disso, são 275 mil cães e 55 mil gatos vivendo em Belo Horizonte. Ao ouvirem os estrondos das bombas, esses pets sofrem com perda auditiva, ansiedade, tremores, taquicardia e, em alguns casos, podem até, literalmente, morrer
de medo. Imagine a dor dos donos desses bichinhos que não param de
ganir e chorar durante todo o alvoroço? Já me aperta o coração ouvir o
cachorro do vizinho chorando, que dirá se fosse o meu.
Minha pergunta é: é indispensável
mesmo soltar fogos e bombas para comemorar uma alegria no futebol? Sem
os fogos, os rivais já não se sentirão devidamente provocados pela
derrota sofrida?Será que não é possível comemorar sem provocar
transtornos a milhares de trabalhadores que apenas não gostam de
futebol, além de bebês, crianças pequenas, pais de crianças pequenas,
grávidas, idosos e donos de pets pela cidade afora? No seu círculo de
amigos, quantas pessoas se encaixam em todas essas categorias? Você já
conversou com elas sobre isso, para ver o que pensam?
Eu
falo por mim. Adoro futebol, acompanho, torço, vibro, comemoro muito
quando o Galo vence um jogo ou um campeonato. Mas me incomodo quando
vejo que as bombas continuam a estourar durante toda a madrugada, porque
lembro das minhas irmãs, com filhas pequenas e com cachorrinhos,
reclamando do quanto são afetadas por isso. Tive o azar de estar em São
Paulo, a poucos metros do Minhocão, quando o Corinthians foi campeão do
Brasileiro, da Libertadores e do Mundial e posso dizer: foi um INFERNO.
Por não ter nenhum interesse no time em questão, foi ainda mais
insuportável para mim, e entendi melhor o ponto de vista daquele um
terço que não está nem aí para futebol: a festa durou a noite
inteirinha, e eu acordava tremendo, morrendo de susto, coração na boca
com o som dos rojões, às 2h... 3h... 4h... 5h... 6h da madrugada. Podem
me chamar de mal-humorada, mas não acho isso certo. E mais: acho
desnecessário.
Por
tudo isso, lanço agora uma campanha. Se concordar, embarque nela
comigo, ajudando a divulgar por aí e compartilhando com seus amigos que
não pararam de reclamar da barulheira dos rojões na última semana: #PorUmaComemoraçãoSemBombas. De quebra, ainda estaremos contribuindo com a tão necessária paz no futebol ;)
(fonte: blog da Kika Castro)
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