Texto escrito por José de Souza Castro:
Há
alguns assuntos no Brasil que são muito debatidos e de repente parecem
esquecidos de todos. O trem-bala é um deles. O governo previu custo de
R$ 33 bilhões, dos quais R$ 20,8 bilhões financiados pelo BNDES, para
levar passageiros de Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo,
em trens que poderiam atingir velocidade de 350 quilômetros por hora. O
chamado trem-bala deveria funcionar por ocasião da Copa do Mundo, em
2014, ou no máximo nas Olimpíadas, em 2016.
As obras nem começaram, e no dia 5 deste mês, soube-se um dos motivos do atraso. E o assunto voltou a nos interessar.
Naquele
dia, à noite, discursando para correligionários do PSDB ligados ao
movimento Onda Azul, que pretende conseguir filiações coletivas ao
partido, o senador eleito e ex-governador paulista José Serra contou o
seguinte, segundo a Agência Estado:
“Enfiei
Campinas logo que veio o projeto. Para quê? Para complicar, verdade,
para ganhar tempo. Peguei o Luciano Coutinho, que é o presidente do
BNDES, foi meu colega, um sujeito informado, e falei ‘você não vai
entrar nessa loucura de trem-bala, né? Então eu vou propor (que) o BNDES
faça um estudo e você demora’. E ele fez mesmo, demorou para burro,
sabe? Para ganhar tempo”.
Após
o evento, questionado pela Agência Estado, Serra disse que sua fala ali
não era “coisa para levar para jornalista”, mas admitiu que “usou
estratégias para protelar o projeto do trem-bala, que, segundo ele,
demonstrou depois não ter viabilidade econômica”.
Herói ou vilão?
O
fato é que o trem-bala (que no projeto original não iria até Campinas)
já demonstrou amplamente, em diversos países, sua viabilidade econômica.
Os nomes variam. Mas o conceito parece consolidado: são os trens que
transportam passageiros a uma velocidade superior a 200 quilômetros por
hora. The History Channel
fez um programa bem interessante, mostrando a evolução das ferrovias
até chegar ao trem-bala japonês, ao Acela Express norte-americano, ao
DGV francês e ao Maglev construído na China com tecnologia alemã.
O trem
de passageiros teve seu auge nos Estados Unidos até 1956, ano em que o
governo Eisenhower lançou um programa de construção de rodovias
modernas, interligando cidades em todo o país. Mesmo assim, o transporte
de passageiros não acabou, pois em 1971, o governo fechou acordo com as
empresas e, por meio da Amtrak, assumiu sua operação. Mas de cara
reduziu o trajeto dos trens de passageiros, de 70 mil quilômetros, para
28 mil.
Na
França, o transporte ferroviário de passageiros nunca perdeu prestígio.
O sucesso do primeiro trem-bala, inaugurado no Japão em 1964, ano em
que o Brasil fez uma opção política pelo atraso, inspirou os franceses.
Eles desenvolveram seu próprio trem de alta velocidade – o DGV. Segundo o
History Channel, existem 360 trens-bala na França, um país com
território não muito maior que Minas Gerais.
De
acordo com a Wikipédia, além dos já citados, adotaram os trens rápidos
os seguintes países: Espanha, Alemanha, Itália, Turquia, Coréia do Sul,
Taiwan, Bélgica, Países Baixos e Reino Unido.
E
o Brasil, sétima maior economia do mundo, com suas rodovias e
aeroportos congestionados, com os automóveis, ônibus e caminhões matando
50 mil pessoas por ano em acidentes, vai ficando para trás. Culpa do
Serra? Sim, mas não só dele.
E
talvez ele tivesse razão, quando se considera que o primeiro trem-bala
brasileiro, de 516 quilômetros, foi orçado pelo governo em R$ 33
bilhões. E ninguém sabe quanto custaria de fato, dado o histórico das
obras no país.
Para
quem assiste ao The History Channel, causa inveja saber que entram e
saem diariamente de Nova York mil trens e que é possível ir de lá a
Boston, num Acela, em pouco mais de três horas. E que se pode viajar de
Boston à capital dos Estados Unidos em duas horas e meia, pagando
passagem de menos de 200 dólares. Ainda, que esse trajeto de mais de 630
quilômetros, no qual os trens viajam a uma velocidade de até 250
quilômetros por hora, foi inaugurado no ano 2000, com investimentos de
US$ 800 milhões.
Será que um dia o Brasil chega lá? Talvez em velocidade de jegue, não de um trem-bala...
(fonte: blog da KikaCastro)
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