quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Serra revela que atrasou o trem-bala. E daí?

Texto escrito por José de Souza Castro:
Há alguns assuntos no Brasil que são muito debatidos e de repente parecem esquecidos de todos. O trem-bala é um deles. O governo previu custo de R$ 33 bilhões, dos quais R$ 20,8 bilhões financiados pelo BNDES, para levar passageiros de Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo, em trens que poderiam atingir velocidade de 350 quilômetros por hora. O chamado trem-bala deveria funcionar por ocasião da Copa do Mundo, em 2014, ou no máximo nas Olimpíadas, em 2016.
As obras nem começaram, e no dia 5 deste mês, soube-se um dos motivos do atraso. E o assunto voltou a nos interessar.
Naquele dia, à noite, discursando para correligionários do PSDB ligados ao movimento Onda Azul, que pretende conseguir filiações coletivas ao partido, o senador eleito e ex-governador paulista José Serra contou o seguinte, segundo a Agência Estado:
“Enfiei Campinas logo que veio o projeto. Para quê? Para complicar, verdade, para ganhar tempo. Peguei o Luciano Coutinho, que é o presidente do BNDES, foi meu colega, um sujeito informado, e falei ‘você não vai entrar nessa loucura de trem-bala, né? Então eu vou propor (que) o BNDES faça um estudo e você demora’. E ele fez mesmo, demorou para burro, sabe? Para ganhar tempo”.
Após o evento, questionado pela Agência Estado, Serra disse que sua fala ali não era “coisa para levar para jornalista”, mas admitiu que “usou estratégias para protelar o projeto do trem-bala, que, segundo ele, demonstrou depois não ter viabilidade econômica”.
Herói ou vilão? 
O fato é que o trem-bala (que no projeto original não iria até Campinas) já demonstrou amplamente, em diversos países, sua viabilidade econômica. Os nomes variam. Mas o conceito parece consolidado: são os trens que transportam passageiros a uma velocidade superior a 200 quilômetros por hora. The History Channel fez um programa bem interessante, mostrando a evolução das ferrovias até chegar ao trem-bala japonês, ao Acela Express norte-americano, ao DGV francês e ao Maglev construído na China com tecnologia alemã.
O trem de passageiros teve seu auge nos Estados Unidos até 1956, ano em que o governo Eisenhower lançou um programa de construção de rodovias modernas, interligando cidades em todo o país. Mesmo assim, o transporte de passageiros não acabou, pois em 1971, o governo fechou acordo com as empresas e, por meio da Amtrak, assumiu sua operação. Mas de cara reduziu o trajeto dos trens de passageiros, de 70 mil quilômetros, para 28 mil.
Na França, o transporte ferroviário de passageiros nunca perdeu prestígio. O sucesso do primeiro trem-bala, inaugurado no Japão em 1964, ano em que o Brasil fez uma opção política pelo atraso, inspirou os franceses. Eles desenvolveram seu próprio trem de alta velocidade – o DGV. Segundo o History Channel, existem 360 trens-bala na França, um país com território não muito maior que Minas Gerais.
De acordo com a Wikipédia, além dos já citados, adotaram os trens rápidos os seguintes países: Espanha, Alemanha, Itália, Turquia, Coréia do Sul, Taiwan, Bélgica, Países Baixos e Reino Unido.
E o Brasil, sétima maior economia do mundo, com suas rodovias e aeroportos congestionados, com os automóveis, ônibus e caminhões matando 50 mil pessoas por ano em acidentes, vai ficando para trás. Culpa do Serra? Sim, mas não só dele.
E talvez ele tivesse razão, quando se considera que o primeiro trem-bala brasileiro, de 516 quilômetros, foi orçado pelo governo em R$ 33 bilhões. E ninguém sabe quanto custaria de fato, dado o histórico das obras no país.
Para quem assiste ao The History Channel, causa inveja saber que entram e saem diariamente de Nova York mil trens e que é possível ir de lá a Boston, num Acela, em pouco mais de três horas. E que se pode viajar de Boston à capital dos Estados Unidos em duas horas e meia, pagando passagem de menos de 200 dólares. Ainda, que esse trajeto de mais de 630 quilômetros, no qual os trens viajam a uma velocidade de até 250 quilômetros por hora, foi inaugurado no ano 2000, com investimentos de US$ 800 milhões.
Será que um dia o Brasil chega lá? Talvez em velocidade de jegue, não de um trem-bala...
(fonte: blog da KikaCastro)

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