Como Washington continua a alimentar – mesmo após atentados de
Paris – grupos extremistas que simula combater. Qual o papel da Rússia.
Por que candidatura presidencial de Bernie Sanders importa
Entrevista a
C.J. Polychroniou, no
Truthout | Imagem:
Anthony Freda,
Perpetual War | Tradução:
Camila Teicher
A “guerra ao terror” agora se transformou em uma implacável campanha
bélica global. Enquanto isso, as verdadeiras causas do surgimento e da
expansão de organizações assassinas como o ISIS continuam sendo
convenientemente ignoradas.
Após o massacre de Paris, em novembro, importantes países ocidentais,
como França e Alemanha, estão se unindo aos Estados Unidos na luta
contra o terrorismo fundamentalista islâmico. A Rússia também se
prontificou a se juntar ao clube, por ter suas próprias preocupações
quanto à propagação do fundamentalismo islâmico. Na verdade, os russos
vêm travando sua própria “guerra ao terror” desde o colapso do Estado
soviético. Paralelamente, alguns dos fortes aliados dos EUA, como a
Arábia Saudita, o Catar e a Turquia, estão apoiando direta ou
indiretamente o ISIS, porém esta realidade também é convenientemente
ignorada pelas forças ocidentais que combatem o terrorismo
internacional. Só a Rússia ousou recentemente classificar a Turquia de
“cúmplice dos terroristas” por ter abatido um caça russo que teria
violado o seu espaço aéreo. (Vale lembrar que os caças turcos violam o
espaço aéreo grego frequentemente há anos: 2.244 vezes somente em 2014.)
A “guerra ao terror” faz sentido? É uma política eficaz? E qual é a
diferença entre a sua fase atual e as duas anteriores, ocorridas durante
os mandatos de Ronald Reagan e George W. Bush? Além disso, quem
realmente se beneficia com a “guerra ao terror”? E qual é a relação
entre o complexo militar-industrial americano e a produção da guerra?
Noam Chomsky, crítico mundialmente renomado à política externa dos
Estados Unidos, expôs seus pontos de vista sobre essas questões em uma
entrevista exclusiva com C.J. Polychroniou.
Obrigado por conceder esta entrevista. Gostaria de começar
escutando sua opinião sobre os últimos acontecimentos na guerra contra o
terrorismo, uma política que vem desde os anos do governo Reagan e que
foi transformada subsequentemente em uma doutrina de “cruzada”
[islamofóbica] por George W. Bush, com um custo inestimável de vidas
inocentes e efeitos profundos no direito internacional e na paz mundial.
A guerra contra o terrorismo parece estar iniciando uma fase nova e
talvez mais perigosa, à medida que outros países entram na briga com
agendas e interesses políticos distintos daqueles dos EUA e de alguns de
seus aliados. Em primeiro lugar, você concorda com essa avaliação da
evolução da guerra contra o terrorismo e, se sim, quais são as prováveis
consequências econômicas, sociais e políticas de uma guerra global e
permanente ao terror, especialmente para as sociedades ocidentais?
Noam Chomsky: As duas fases da “guerra ao terror”
são bem diferentes, exceto em um aspecto crucial. A guerra de Reagan
degenerou rapidamente em conflitos terroristas e homicidas, e essa é
precisamente a razão pela qual foi “desaparecida”. Suas guerras
terroristas tiveram consequências terríveis na América Central, no sul
da África e no Oriente Médio. A América Central, o alvo mais direto, até
hoje não se recuperou, e essa é uma das principais razões – raramente
mencionada – para a atual crise de refugiados. O mesmo vale para a
segunda fase, redeclarada por George W. Bush 20 anos depois, em 2001. Os
ataques diretos devastaram grandes regiões e o terror tomou novas
formas, especialmente com a campanha global de execuções (com drones) de
Obama, que rompe novos recordes nos anais do terrorismo e — assim como
outros exercícios similares — provavelmente mais gera terroristas
devotos do que mata suspeitos.
A opinião pública mundial vê os Estados Unidos como a maior ameaça à paz por uma ampla margem.
O alvo da guerra de Bush era a Al-Qaeda. Uma série de intevenções
militares — no Afeganistão, Iraque, Líbia, entre outros – conseguiu
difundir o terror jihadista, antes restrito a uma pequena área tribal no
Afeganistão, a praticamente todo o mundo, do oeste da África ao Oriente
Médio e seguindo até o sudeste da Ásia. Foi um dos feitos políticos
mais notáveis da História… Paralelamente, a Al-Qaeda foi substituída por
elementos muito mais cruéis e destrutivos. Atualmente, o ISIS (Estado
Islâmico) é o recordista em brutalidades monstruosas, mas os outros
candidatos ao título não ficam muito atrás. Essa dinâmica, que vem já de
vários anos, foi estudada em um importante trabalho do analista militar
Andrew Cockburn, em seu livro
Kill Chain [“Cadeia de Mortes”].
Ele documenta como, ao matar um líder sem resolver a raiz e as causas
do fenômeno, essa figura costuma ser substituída muito rapidamente por
alguém mais jovem, mais competente e mais cruel.
Uma das consequências dessas façanhas é que a opinião pública mundial
vê os EUA como a maior ameaça à paz por uma ampla margem. Muito atrás,
em segundo lugar, está o Paquistão, provavelmente engrandecido pela
opinião dos indianos. Outros acontecimentos desse tipo já registrados
podem até mesmo criar uma guerra mais generalizada com um mundo islâmico
inflamado, enquanto as sociedades ocidentais se sujeitam à repressão
interna e à redução dos seus direitos civis e se colocam sob o fardo de
enormes gastos, realizando assim os maiores sonhos de Osama Bin Laden e
agora do ISIS.
Nas discussões sobre as políticas norte-americanas
relacionadas à “guerra ao terror”, a diferença entre as operações
oficiais e as operações clandestinas quase desapareceu. Enquanto isso, a
identificação de grupos terroristas e a seleção de atores ou Estados
que apoiam o terrorismo não só parece ser totalmente arbitrária; em
alguns casos, os acusados identificados questionam se a “guerra ao
terror” é realmente uma guerra contra o terrorismo ou se, na verdade, é
uma cortina de fumaça para justificar políticas de conquista global. Por
exemplo, embora a Al-Qaeda e o ISIS sejam indiscutivelmente
organizações terroristas e assassinas, o fato de que alguns aliados dos
EUA, como a Arábia Saudita e o Catar, e até mesmo países-membros da
OTAN, como a Turquia, tenham apoiado ativamente o grupo é ignorado ou
muito minimizado tanto pelos decisores políticos quanto pela grande
mídia dos EUA. O que você opina sobre isso?
Tudo isso também se aplica às versões de Reagan e Bush da “guerra ao
terror”. Para Reagan foi um pretexto para intervir na América Central,
no que o bispo salvadorenho Rivera y Damas, sucessor do arcebispo
assassinado Oscar Romero, descreveu como “uma guerra de extermínio e
genocídio contra uma população civil indefesa”. Foi ainda pior na
Guatemala e muito grave em Honduras. A Nicarágua era o único país que
contava com um exército para se defender dos terroristas de Reagan; nos
outros países, as próprias forças de segurança pública eram os
terroristas.
No sul da África, a “guerra ao terror” foi o pretexto para apoiar
crimes do regime de Pretória em seu país e no resto da região, com um
saldo de vítimas terrível. Afinal, tínhamos que defender a civilização
contra o que chamávamos de “um dos principais grupos terroristas” do
mundo, o Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela… O próprio
Mandela permaneceu até 2008 na lista de terroristas criada pelos EUA. No
Oriente Médio, o conceito de “guerra ao terror” levou ao apoio à
invasão assassina do Líbano por Israel e muito mais. Com Bush, foi o
pretexto para invadir o Iraque. E assim por diante.
O que está acontecendo na “história de horror síria” é indescritível.
As principais forças de oposição ao ISIS em terra parecem ser os
curdos, assim como no Iraque, onde figuram na tal lista americana de
terroristas. Em ambos os países, eles são o principal alvo dos ataques
da aliada norte-americana da OTAN, a Turquia, que também apoia a célula
da Al-Qaeda na Síria, a Frente Al-Nusra. Isso tudo parece ser quase
igual para o ISIS, embora eles estejam empreendendo uma disputa de
território. O apoio dos turcos à Al-Nusra é tão extremo que, quando o
Pentágono enviou algumas dezenas de soldados que havia treinado, a
Turquia teria alertado a Al-Nusra, que os aniquilou instantaneamente. A
Al-Nusra e seu íntimo aliado, o Ahrar al-Sham, também recebem apoio da
Arábia Saudita e do Catar, aliados dos EUA, e, ao que parece, é possível
que estejam recebendo armamento de última geração da CIA. Há registros
de que eles usaram armas antitanque TOW, fornecidas pela agência
norte-americana de inteligência, para causar importantes derrotas ao
exército de Assad, possivelmente incitando os russos a intervirem. Além
disso, a Turquia parece continuar permitindo que os jihdistas transitem
por suas fronteiras com a Síria.
A Arábia Saudita, particularmente, é uma das maiores apoiadoras dos
movimentos jihadistas extremistas há anos, não só financiando-os, mas
também difundindo suas doutrinas islâmicas radicais com escolas
corânicas, mesquitas e clérigos wahhabistas. Com muita imparcialidade,
Patrick Cockburn descreve a “wahhabização” do islamismo sunita como um
dos aspectos mais perigosos desta era. A Arábia Saudita e os Emirados
têm forças militares imensas e sofisticadas, porém quase não se envolvem
na guerra contra o ISIS. Atuam no Iêmen, onde estão gerando uma enorme
catástrofe humanitária e, muito provavelmente, como dito antes, estão
gerando futuros terroristas para serem nossos alvos na “guerra ao
terror”. Enquanto isso, essa região e sua população estão sendo
dizimadas.
Para a Síria, a única pequena esperança parecem ser as negociações
entre os vários elementos envolvidos, exceto o ISIS. Isso inclui pessoas
muito terríveis, como o presidente do país, Bashar al-Assad, que não
vão cometer suicídio político espontaneamente e, portanto, deverão estar
envolvidas nas negociações, caso a espiral rumo à autodestruição
nacional seja contida. Em Viena, passos estão sendo dados – embora com
hesitação – nessa direção. Há mais coisas que podem ser feitas em terra,
mas, para isso, é fundamental a mudança para o caminho da diplomacia.
O papel da Turquia na chamada guerra global contra o
terrorismo deve ser visto como um dos gestos mais hipócritas nos anais
modernos da diplomacia. Vladimir Putin não mediu palavras depois que o
caça russo foi abatido, taxando a Turquia de “cúmplice dos terroristas”.
O petróleo é a razão pela qual os EUA e seus aliados ocidentais fazem
vista grossa ao apoio de certas nações do golfo pérsico a organizações
terroristas como o ISIS, mas qual é a razão para não questionar o apoio
da Turquia ao terrorismo fundamentalista islâmico?
A Turquia sempre foi um importante aliado da OTAN, de enorme
relevância geoestratégica. Durante os anos 1990, quando realizou algumas
das maiores atrocidades de que se tem conhecimento em sua guerra contra
a população curda, tornou-se o principal receptor de armas
norte-americanas (além de Israel e Egito, uma categoria à parte). Essa
relação passou por alguns momentos de conflito, especialmente em 2003,
quando o governo acatou a posição de 95% da população e se recusou a se
juntar aos EUA no ataque ao Iraque. A Turquia foi energicamente
condenada por essa incapacidade de entender o significado de
“democracia”. Paul Wolfowitz, aclamado pela mídia como “o
idealista-chefe” do governo Bush, repreendeu as forças militares turcas
por permitirem que o governo adotasse essa posição indecorosa e exigiu
que se desculpassem. No entanto, em geral, essa relação se manteve bem
próxima. Recentemente, os dois países chegaram a um acordo sobre a
guerra conta o ISIS: a Turquia concedeu aos EUA acesso às suas bases
militares próximas à Síria e, em troca, prometeu atacar o grupo – mas,
em vez disso, atacou seus inimigos curdos.
Embora este talvez não seja um ponto de vista aceito por
muitos, a Rússia, ao contrário dos EUA, parece conter-se no uso da
força. Supondo que você concorda com essa afirmação, na sua opinião,
qual seria a razão disso?
Eles são a parte mais fraca. Não têm 800 bases militares em todo o
mundo, não poderiam intervir em todos os lugares como os EUA vêm fazendo
ao longo dos anos nem realizar algo como a campanha global de execuções
de Obama. Também foi assim durante toda a Guerra Fria. Eles podiam usar
as forças militares perto de suas fronteiras, mas não poderiam ter
realizado algo como as guerras na Indochina, por exemplo.
A França parece ter se tornado o alvo preferido dos terroristas fundamentalistas islâmicos. Como isso se explica?
Na verdade, são muitos mais os africanos mortos pelo terrorismo
islâmico. O Boko Haram está acima do ISIS, no ranking das organizações
terroristas globais. Na Europa, a França tem sido o principal alvo em
grande medida por razões que remetem à guerra da Argélia.
O terrorismo fundamentalista islâmico como o promovido pelo
ISIS foi condenado por organizações como Hamas e Hezbollah. O que ISIS
deseja realmente, e o que o diferencia o das outras chamadas
organizações terroristas?
Devemos ser cuidadosos com o que chamamos de “organizações
terroristas”. Os partidários do antinazismo usaram o terror, assim como o
exército de George Washington, tanto que uma grande parte da população
fugiu por medo do seu terror – sem falar na comunidade indígena, para a
qual ele era o “destruidor de cidades”. É difícil encontrar um movimento
de liberação nacional que não tenha usado o terror. O Hezbollah e o
Hamas foram formados em resposta à ocupação e aos ataques de Israel. No
entanto, independentemente do critério que usemos, o ISIS é bem
diferente. Eles estão tentando cunhar um território para controlar e
fundar um califado islâmico. Isso é muito diferente do que fizeram os
demais.
Após o massacre de Paris em novembro deste ano, Obama
afirmou, em uma coletiva de imprensa com François Hollande, o presidente
da França, que “o ISIS deve ser destruído”. Você acha que isso é
possível? Se sim, como? Se não, por que não?
É claro que as potencias ocidentais têm a capacidade de matar todas
as pessoas que estão nas áreas controladas por eles, mas nem isso
destruiria o ISIS ou outro movimento ainda mais cruel que possivelmente
se desenvolveria em seu lugar, devido à dinâmica que já mencionei. Um
dos objetivos do ISIS é levar os “cruzados” a uma guerra com todos os
muçulmanos. Nós podemos contribuir com essa catástrofe ou podemos tentar
atacar as causas do problema e ajudar a criar condições nas quais a sua
monstruosidade seja vencida pelas forças da própria região.
A intervenção estrangeira é uma praga há muito tempo e provavelmente
continuará sendo. Existem propostas sensatas de como proceder nesse
sentido, como, por exemplo, a de William Polk, um excelente acadêmico do
Oriente Médio com uma vasta experiência não só na região como também
nos mais altos níveis de planejamento governamental dos EUA. Seu projeto
tem respaldo significativo das mais cuidadosas pesquisas sobre o poder
de atração do ISIS, principalmente a de Scott Atran. Infelizmente, as
probabilidades de que essas recomendações sejam ouvidas são mínimas.
A economia política bélica dos EUA parece estar estruturada
de tal forma que as guerras seriam quase inevitáveis, algo de que o
presidente Dwight Eisenhower aparentemente estava muito consciente
quando alertou, em seu discurso de despedida, sobre os perigos de um
complexo militar-industrial. A seu ver, o que será necessário para que
os EUA se afastem do jingoísmo militarista?
Certamente, alguns setores da economia se beneficiam com o “jingoísmo
militarista”, mas não acho que essa seja a causa principal. Há
considerações geoestratégicas e relativas à economia internacional muito
importantes. Os benefícios econômicos – somente um dos fatores – foram
discutidos na imprensa empresarial de maneiras interessantes durante o
início do período pós-Segunda Guerra Mundial. Eles entenderam que os
gastos governamentais maciços tinham salvado o país da Grande Depressão e
muitos temiam que, se esses gastos fossem restringidos, o país
afundaria novamente na crise. Uma discussão informativa na revista
Business Week
(12 de fevereiro de 1949) reconheceu que os gastos com o social
poderiam ter o mesmo efeito “propulsor” observado com os gastos
militares, mas afirmava que, para os empresários, “há uma enorme
diferença social e econômica entre a propulsão do bem-estar e a
propulsão das forças armadas”. Isso “não altera de fato a estrutura da
economia”. Para o empresário, é só mais um negócio. Mas os gastos com
bem-estar e obras públicas “alteram a economia: geram novos canais
próprios; criam novas instituições; redistribuem a renda”. E podemos
dizer ainda mais: os gastos militares quase não envolvem a população,
mas os gastos com o social sim, além de terem um efeito democratizador.
Por razões como essas, os gastos militares são muito mais priorizados.
Aprofundando um pouco mais nessa questão da relação entre a
cultura política dos EUA e o militarismo, qual é a probabilidade de que o
aparente declínio da supremacia norte-americana na arena global
transforme seus futuros presidentes em belicistas?
Os EUA atingiram o auge do seu poder após a Segunda Guerra Mundial,
mas o declínio veio rapidamente; primeiro com a “perda da China” e, mais
tarde, com o ressurgimento de outras potências industriais e o processo
agonizante de descolonização e, nos últimos anos, com outras formas de
diversificação do poder. As reações podem tomar muitos contornos. Um é o
triunfalismo e a agressividade ao estilo Bush. Outro é a reticência ao
uso de forças terrestres ao estilo Obama. E existem muitas outras
possibilidades. O sentimento popular, que é algo que podemos ter a
esperança de influenciar, é muito pouco considerado.
A esquerda deveria apoiar Bernie Sanders nas prévias do Partido Democrata?
Sim. Sua campanha está tendo um efeito benéfico. Levantou questões
importantes que normalmente são omitidas e deslocou ligeiramente os
democratas a uma direção mais progressista. As chances de que ele vença
em nosso sistema de eleições compradas não são grandes e, mesmo que
chegasse a ser eleito, seria extremamente difícil para ele fazer
qualquer mudança significativa nas políticas. Os republicanos não vão
desaparecer e, graças à divisão arbitrária dos distritos eleitorais e a
outras táticas, eles provavelmente controlarão o Congresso com uma
minoria de votos por alguns anos e é possível que tenham uma forte
presença no Senado. É certo que vão bloquear qualquer pequeno passo em
uma direção mais progressista, ou mesmo mais racional. É importante
reconhecer que esse já não é um partido político normal.
Como bem observaram os respeitados analistas políticos do American
Enterprise Institute, o antigo Partido Republicano agora é uma
“insurgência radical” que abandonou a política parlamentar por motivos
interessantes que não podemos explorar aqui. Os democratas também se
deslocaram para a direita e sua essência hoje não se distingue da dos
republicanos moderados do passado – apesar de que algumas das políticas
de Einsenhower o colocariam mais ou menos onde está Sanders no espectro
político. Sanders, portanto, provavelmente não teria muito apoio do
congresso e teria pouquíssimo apoio no âmbito estatal.
Nem preciso dizer que as hordas de lobistas e doadores abastados
dificilmente seriam seus aliados. Até os ocasionais passos de Obama em
uma direção mais progressista foram bloqueados em sua maioria, embora
possa haver outros fatores envolvidos, talvez racismo; não é fácil
explicar em outros termos a ferocidade do ódio que ele evocou. Mas, em
geral, no caso improvável de Sanders ser eleito, suas mãos estariam
atadas – ao menos, ao menos… (aquilo que sempre interessa no fim das
contas) ao menos que os movimentos populares se desenvolvessem, criando
uma onda que ele poderia surfar e que poderia (e deveria) impeli-lo para
além de onde ele é capaz de ir sozinho.
Isso nos leva, acho eu, à parte mais importante da candidatura de
Sanders: a mobilização de um número enorme de pessoas. Se essas forças
puderem se manter para além da eleição, em vez de se dissiparem depois
que o show terminar, poderiam se tornar o tipo de força popular de que o
país tanto precisa para lidar de forma construtiva com os enormes
desafios que vêm pela frente.
Esses comentários dizem respeito às políticas domésticas, que são as
áreas em que ele tem se concentrado. Suas concepções e propostas de
política externa me parecem muito similares às ideias convencionais dos
democratas liberais. Nada particularmente novo é proposto, a meu ver, e
nisso incluo alguns pressupostos que, na minha opinião, deveriam ser
seriamente questionados.
Uma última pergunta: o que você diria àqueles que mantêm a visão de que acabar com a “guerra ao terror” é ingênuo e equivocado?
Fácil: por quê? E uma pergunta ainda mais importante: por que vocês
acham que os EUA deveriam continuar fazendo enormes contribuições para o
terrorismo global a pretexto de uma “guerra ao terror”?
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C.J. Polychroniou é economista político/cientista político; lecionou e
trabalhou em universidades e centros de pesquisa da Europa e dos Estados
Unidos. Seus principais campos de interesse são a integração econômica
europeia, a globalização, a economia política dos Estados Unidos e a
desconstrução do projeto político-econômico do neoliberalismo. Colabora
regularmente com Truthout, de cujo projeto Public Intellectual é membro.
Tem vários livros publicados e artigos divulgados em diversos
periódicos, revistas, jornais e websites populares de notícias. Muitas
de suas publicações foram traduzidas a idiomas, como croata, francês,
grego, italiano, português, espanhol e turco.
(fonte: http://outraspalavras.net/capa/chomsky-desnuda-a-guerra-ao-terror/)