Por Luciano Martins Costa
O governo de Geraldo Alckmin venceu a crise de abastecimento de água no
campo da comunicação. O governo de Dilma Rousseff perdeu em todas as
crises que encara desde a posse em seu primeiro mandato, e corre o risco
de enfrentar um processo de impeachment alimentado pela imprensa.
Geraldo Alckmin fala bastante, mas nada diz. Dilma Rousseff não fala, e quando fala não diz.
Se fosse possível fazer uma análise sucinta, com a técnica mais comum de media training
usada para preparar executivos antes de entrevistas, essa seria uma
avaliação aceitável do desempenho das duas autoridades. No entanto, é
preciso colocar em perspectiva uma diferença básica entre os dois:
Geraldo Alckmin conta com a complacência subserviente da imprensa,
enquanto Dilma Rousseff representa para a mídia tradicional o mal a ser
extirpado.
Se a situação fosse invertida, os jornais estariam publicando o
seguinte: Geraldo Alckmin assumiu pela primeira vez em 2001, com a morte
de Mário Covas; quase imediatamente, iniciou uma série de mudanças com o
claro objetivo de tirar o governo das manchetes. Covas havia iniciado
uma corajosa reforma na educação, comandada pela então secretária Rose
Neubauer; também tocava um projeto ambicioso no combate à corrupção
policial e enfrentava uma série de rebeliões nos presídios.
Em poucos meses no cargo, Alckmin abortou o projeto de educação, pondo
no lugar da educadora Neubauer o cientista social Gabriel Chalita, que
trocou o programa de Covas por uma proposta chamada “pedagogia do amor”.
O problema dos presídios foi resolvido de maneira peculiar: um tiroteio
no qual apenas uma das partes estava armada eliminou todos os líderes
de facções, com exceção do chamado Primeiro Comando da Capital – o PCC.
Alckmin terminou o mandato de Covas, foi reeleito em 2002; voltou ao
governo em 2010 e foi reconduzido ao cargo em 2014. A educação pública
não melhorou, a segurança pública acumula índices preocupantes e ele
enfrenta a mais grave crise de abastecimento de água de todos os tempos,
com evidências de que não tomou as medidas suficientes para evitar o
problema, mesmo com estudos disponíveis desde os tempos em que era
vice-governador.
O sistema de transporte metropolitano, investigado por corrupção, está dez anos atrasado.
Administrando manchetes
Se tratasse Alckmin com o mesmo rigor que aplica a Dilma Rousseff, a
imprensa diria que ele não chegou a governar. Sua principal
característica pessoal é a expressão impassível, a habilidade de manter
uma “cara de paisagem” indecifrável em qualquer circunstância.
Como homem público, demonstra possuir um enorme cabedal de frases
simples, superficiais, respondendo a qualquer questão com modestas
platitudes que têm o poder de aplainar qualquer assunto ao chão das
banalidades.
Dilma Rousseff assumiu o primeiro mandato em 2011, com o cacife que lhe
proporcionou o apoio do ex-presidente Lula da Silva. Seu grande
patrimônio era a imagem de boa gerente no pacote de obras de
infraestrutura que vinha sendo tocado pelo governo federal; seu passivo
era o escândalo conhecido como “mensalão”, sintoma de fadiga de material
do sistema de alianças que sustenta o poder Executivo desde a
Constituinte de 1988.
Uma sucessão de indicadores negativos, amplificados por manchetes
catastrofistas, foi minando progressivamente sua capacidade de governar;
o aprofundamento do escândalo da Petrobras coloca diante dela o risco
real de um processo de impeachment. Ainda que não prospere a manobra
iniciada por uma empreiteira, com claro apoio dos jornais, ela corre o
risco de passar os quatro anos de seu segundo mandato se defendendo de
acusações da imprensa.
A derrota que acaba de sofrer na eleição do presidente da Câmara do
Deputados significa que terá que dispender ainda mais esforço para
manter a base parlamentar suficiente para aprovar o essencial à
governabilidade.
Dilma Rousseff passou quase um mês sem falar com a imprensa e sem se
dirigir diretamente à sociedade. Geraldo Alckmin fala quase diariamente,
repetindo frases de efeito.
Dilma é massacrada, Alckmin passa incólume pela crise. A corrupção do
âmbito federal é manchete diária; a corrupção no sistema de trens
metropolitanos de São Paulo é tema, quando muito, de notas de rodapé.
Qual é a diferença entre eles?
A principal delas é que o governador de São Paulo tem o apoio da
imprensa e sabe disso: fala qualquer coisa e o repórter vai embora.A
presidente da República se ilude com a esperança de que algum dia a
imprensa vai tratá-la com algum respeito, evita o contato com
jornalistas e desperdiça seu tempo administrando manchete de jornal.
(fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/dois_perfis_duas_crises)
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