segunda-feira, 16 de março de 2015

Corruptos e corruptores



Corruptos e corruptores

         Muito oportuno o editorial do Le Monde Diplomatique Brasil, edição 92, março de 2015, assinado por Sílvio Caccia Bava. Ao contrário do que divulga a grande imprensa brasileira, a corrupção não reside somente na esfera do poder executivo. No Legislativo há abuso e transgressão visíveis no manejo dos recursos públicos. As eleições de 2014 custaram 5 bilhões de reais e 95% desses recursos vieram de um pequeno grupo de grandes empresas. Em consequência, no Congresso existem bancadas de agronegócios e de empreiteiras.
         Para Bava, no judiciário fica mais difícil de identificar os caminhos da corrupção, mas são muitos os casos em que juízes pedem vistas de processo e só os devolvem depois que as penas prescrevem como foram os casos do Banestado; do mensalão tucano e do cartel do Metro em São Paulo. Quase sempre, os altos funcionários dos três poderes são corrompidos, subornados ou, em linguagem judicial, corruptos passivos. Não se pode deixar de lembrar o caso do juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, que desviou milhões do Ministério do Trabalho. Outro episódio significativo foi a proteção que a justiça deu ao empresário Daniel Dantas, na operação Satiagraha. 

         Por meio de muitos expedientes, os grandes grupos controlam o sistema político e dele se apropriam para submetê-lo a seus interesses privados. As dívidas de impostos das multinacionais que operam no Brasil, em 2012, somam R$ 680 bilhões. Para penalizar tais empresas o governo brasileiro precisa contar com o poder judiciário. 

         Diz Caccia Bava que em meio ao escândalo do HSBC, o segundo maior banco do mundo, identificaram-se 8.667 brasileiros que sonegaram ou lavaram dinheiro fora do país, por meio dessa instituição. Esses depositantes são parte da elite econômica de nosso país. O que vai acontecer com eles? Não é coincidência o fato de que as manifestações de rua e a campanha publicitária contra o governo brasileiro, tenha ocorrido no momento em que se constata o caso HSBC.  No Brasil é novidade o fato de a operação Lava Jato da PF atribuir às empresas a responsabilidade pelos processos de corrupção. Maior novidade, ainda, é o fato de executivos e donos de grandes construtoras estarem na cadeia. 

         O certo é que a elite abastada do Brasil tem horror à idéia de repatriar os dinheiros “lavados” do HSBC e do projeto de tributar as grandes fortunas. 

         Belo Horizonte, 16 de março de 2015.


         Antônio de Paiva Moura.

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