domingo, 8 de março de 2015

Robin Hood, herói ou bandido?

Colaboração do professor Antônio de Paiva Moura

O norte-americano Howard Pyle, com base nas tradições orais da Idade Média, na Inglaterra, narrou e ilustrou com pinturas, as aventuras de Robin Hood. Pyle nasceu em Wilmington, em 1853. Aos 16 anos de idade, em 1869, contrariando a família, foi para Filadélfia estudar pintura com o mestre belga Vander Wielan. Pouco tempo depois voltou à sua terra natal para ajudar sua família nos negócios. Em 1883, com 30 anos publicou “As aventuras de Robin Hood. Continuou, ao longo da vida, pintando e escrevendo sobre histórias medievais. Com esse intuito, mudou-se para Florença, onde faleceu, em 1911.
Na versão de Alexandre Dumas, Robin Hood é tratado como “O príncipe dos ladrões" e proscrito. Dumas narra as peripécias dos alegres homens da floresta em busca de justiça e igualdade, além de diversão.

A vida real de Robin Hood tem muitas versões. Para alguns historiadores, ele foi um nobre chamado Robert of Locrsley, nascido em 1160 no condado de Nottingam, durante o reinado de Henrique II. Seu pai foi morto e ele perdeu seu castelo e sua riqueza. A partir daí, Robin reuniu um grupo de homens e foi morar na floresta de Sherwood. Dessa história teria derivado a lenda, muito conhecida na Idade Média, transmitida ao povo pelos menestréis que perambulavam pela Inglaterra, cantando suas baladas. A lenda tem fim no reinado de Ricardo Coração de Leão (1157-1199), que lutava na Terceira Cruzada.

Na versão de Howard Pyle, Robin Hood era conhecido como chefe de bando de astutos ladrões. Amparado em seu bando, Robin Hood agia violentamente assaltando transeuntes da estrada real, alegando estar combatendo as injustiças. Ensinava aos demais componentes do grupo, a arte de manejar arco e flecha, cajados e espadas; montar a cavalo e planejar assaltos; inventar disfarces e defesa pessoal. Robin Hood e seu bando assaltavam pessoas que transportavam valores, usando uma técnica que aliviava sua consciência. Levava as vítimas para a floresta e lá ofereciam a elas um banquete. Depois as obrigava a pagar as despesas com tudo que tinham. Na retórica deRobin Hood, a extorsão não era roubo.

Quando o transeunte não tinha nada, mas ganhava a luta de cajados contra qualquer elemento de seu bando, Robin o convidava a integrar-se à sua facção. Com isso o bando ia crescendo em quantidade, qualidade e riqueza. Na versão de Pyle, tudo que qualquer elemento conseguia como prêmio por torneios de arcos, era levado para o grupo.

A história de Robin Hood reforça a ideologia do merecimento da acumulação de riquezas. Mas segundo Tomas Morus, conterrâneo de Robin, nada justifica a acumulação de riqueza, seja por meios pacíficos ou coercitivos. O episódio do cavaleiro Sir Richard of the Lea, que perdeu sua fortuna tomada por outro poderoso senhor, em pagamento de uma pequena dívida, mostra as duas formas de enriquecimento. Não se
sabia como Richard havia conseguido sua riqueza. Usando de sua força e de sua astúcia, Robin Hood conseguiu reverter a situação e devolver ao nobre senhor a sua fortuna. 

Tanto nas versões de Dumas quanto de Pyle, Robin Hood não aparece como protetor dos pobres e nem distribuindo com eles os produtos dos roubos. Porque era de origem nobre, Robin foi considerado como o “bom ladrão”, e até como herói.

Duas situações aproximam Robin Hood da oficialidade, do establishment: a primeira é a evocação de Nossa Senhora como sua protetora nos momentos de lutas difíceis. A segunda é a reverência e a consideração às figuras da realeza. Robin era amigo e protegido da rainha Leonor, esposa de Henrique II. No final da história acaba sendo arqueiro oficial do rei Ricardo Coração de Leão.  

A Inglaterra não se enriqueceu somente com atividades lícitas de comércio, mas também com o uso da violência, isto é, com a pirataria e com a guerra de corso, na qual autorizava, oficialmente, que seus marinheiros aprisionassem navios de determinadas nações e saqueassem suas valiosas cargas. Os estrangeiros fizeram no Brasil o mesmo que os portugueses fizeram na Ásia e na África: invasões e saque como o famoso Cavendish, em 1591, comandante dos corsários ingleses, que assaltou e saqueou vários
engenhos em São Vicente. A operação durou dois meses, mas seus navios voltaram repletos de mercadorias valiosas para a Inglaterra.

No Brasil, nas primeiras décadas do século XX, entrou em cena um bandido que se tornou herói. Virgolino Ferreira da Silva, de Terra Talhada PE, o Lampião, surgiu da opressão exercida pelos ricos potentados regionais sobre os pobres. Lampião era contra alguns coronéis, mas aliado a outros. Foi violento com as populações pobres e ao invés de justiceiro, era um perverso vingador.

No filme de faroeste, da insignificância de um cavaleiro, ele pode chegar à condição de herói, macho, forte invencível. No bando de Robin Hood também prevalecia a figura do másculo, do forte e exímio atirador de flechas. Os heróis do faroeste são modelos de homens corajosos, viris e determinados, que devem ser
seguidos pelos jovens. No faroeste, matar um fora da lei não é crime, mas significa “um
bom serviço prestado à sociedade”.

3 comentários:

  1. Interessante, lendo sobre a história de Robin Wood me lembrei do Lula, será por quê?

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  2. Uma dúvida, a versão do Alexandre Dumas é composta das Aventuras de Robin Hood e do Proscrito, na versão do Howard Pyle apenas das Aventuras de Robin Hood, então ambas são semelhantes ou iguais? Porque tenho a versão do Dumas e pensei em pegar a do Howard Pyle também, mas não sei até que ponto vale a pena!

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    1. John, encaminhei sua questão ao autor do texto. Eis a resposta:

      Na versão de Howard Pyle, Robim Wood leva uma vida de proscrito, chefe de uma poderosa quadrilha de ladrões. Mas no final ele se torna um arqueiro oficial do rei e portanto, vive como heróis. Vale a pena ler a versão de Pyle porque é uma obra muito bonita, muito bem ilustrada. Eu particularmente gosto muito dos desenhos dele.
      Antônio de Paiva Moura

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