quarta-feira, 22 de abril de 2015

Quem foi Tiradentes?

Ontem, mais um dia de comemorações sobre a Inconfidência Mineira e, mais especificamente, a figura de Tiradentes adquire, nesse dia, uma dimensão talvez maior do que a própria Inconfidência. Discursos de políticos que procuram se aproveitar do mito são comuns. E ontem eles não faltaram à regra...
Achei oportuno transcrever a biografia de Tiradentes que consta do Dicionário Ilustrado da Inconfidência Mineira, obra que tive o prazer de coordenar junto com o prof. Marco Antônio Silveira e pesquisado e editado pelas professoras Daniela Denize Freitas e Vanessa Caliman da Silva.

Estátua de Tiradentes em Ouro Preto - foto RMF





Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de Tiradentes, nasceu em 1746, na fazenda Pombal, termo do município de São João del Rei. Era filho do português Domingos da Silva Santos e da brasileira Antônia da Encarnação Xavier. Ficou órfão de mãe aos 9 anos e de pai aos 11. Especula-se que Joaquim José e seus irmãos ficaram, a partir de então, aos cuidados de parentes. Mas foi com o padrinho, Sebastião Ferreira Leitão, que ele aprendeu o ofício de "tirar os dentes", origem de seu apelido. 

Acredita-se que tenha tentado ser minerador, tornando-se depois tropeiro. Ingressou posteriormente no Regimento de Cavalaria da Tropa Paga, chegando ao posto de alferes, mas, como reclamou nos interrogatórios, deste posto não mais conseguiu sair, sempre preterido nas promoções por elementos nascidos em Portugal. Foi nomeado pela rainha, em 1781, comandante da patrulha do Caminho Novo, via perigosa devido à presença de muitos salteadores e bandidos. Seu conhecimento da realidade das Minas e de sua população era significativo. Em 1788, chegou a apresentar ao Vice-Rei projetos de captação das águas dos rios Maracanã e Andaraí, no Rio de Janeiro. 

Acredita-se que tenha sido um dos primeiros a se envolver na Inconfidência, mas, de qualquer forma, foi o mais inflamado propagandista da revolta, chegando a causar preocupações entre os demais elementos do grupo. Preso no Rio de Janeiro, enfrentou os interrogatórios, negando, a princípio, sua participação, mas depois assumiu a culpa. Único do grupo condenado à morte, foi enforcado no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços colocados em postes ao longo do caminho entre Rio e Minas. A cabeça foi colocada na praça em frente à Câmara de Vila Rica.

Com a República, Tiradentes e a Inconfidência Mineira foram alvo de um processo de mitificação. Faz parte do senso comum a ideia de que Tiradentes foi o único a pagar com a vida por ser o "mais humilde" ou o "mais pobre" do grupo. No entanto, não se pode continuar a dar crédito a isso, visto que as mais recentes pesquisas demonstram que, em termos de posses, ele se situaria numa posição intermediária. Havia vários inconfidentes cuja fortuna ultrapassava a de Tiradentes, mas muitos estavam em posição inferior. Foi condenado exatamente por ter sido o único a admitir a culpa.

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