Por Jaime Pinsky, historiador, professor titular da Unicamp, diretor da Editora Contexto, autor de Por que gostamos de história, entre outros livros.
É possível promover uma revolução no sistema educacional brasileiro em
menos de quatro anos? Talvez não, mas ela pode, ao menos, ser iniciada.
Pelo menos é que se espera do novo ministro.
A área tem sofrido muito. A cada quatro anos, durante as campanhas
eleitorais, candidatos a cargos executivos lembram-se que educação
existe. Lembram ainda que ela é a salvação do Brasil. Que só por meio
dela ricos e pobres podem ter as mesma oportunidades. Que sem ela
estaremos condenados ao purgatório eterno de país do futuro.
O problema é que, depois de eleitos prefeitos, governadores e
presidentes abandonam suas promessas de campanha – na verdade, mantém
apenas as promessas feitas aos aliados – e colocam nas secretarias de
educação (e no ministério) figuras cuja função será aproveitar as verbas
de sua pasta para pavimentar a vitória nas eleições seguintes. Não
falta gente em nosso país com ótimas ideias para a educação. Falta
implementar, de modo consistente, boas ideias. Falta ter como prioridade
na área de educação a própria educação.
Ao contrário do que dizem céticos e mal intencionados é, sim, possível,
promover uma revolução na educação brasileira. Um simples olhar sobre as
nações que promoveram mudanças profundas em seu sistema educacional
mostra que diferentes povos, em diferentes períodos históricos, com
diferentes objetivos e diferentes métodos tiveram sucesso nessa
empreitada.
O Japão superou sua estrutura feudal apenas durante a restauração Meiji,
na segunda metade do século XIX, copiando o que achava importante da
experiência ocidental, sem perder sua identidade. Sem a revolução
escolar promovida lá não teria sido possível a universalização do
ensino, com qualidade. Quase um século depois a Coreia (do Sul) promoveu
uma revolução no ensino com escolas em tempo integral para todos. O
país rapidamente deixou de ter na agricultura de subsistência a sua base
econômica e passou a ser uma nação industrial exportadora de produtos
de ponta. Em Israel o ensino universal possibilitou a integração de
jovens judeus filhos de pais analfabetos, como muitos oriundos do Iemen e
da Etiópia, com outros de famílias ilustradas vindas de países
europeus. Após a revolução liderada por Fidel Castro o sistema
educacional cubano foi alterado de modo radical, gostemos ou não do
regime que lá se implantou.
Enfim, a educação escolar é um instrumento ainda não devidamente
aproveitado no Brasil. À universalização necessária do ensino público
não houve sequer a manutenção da qualidade existente quando a escola
atendia mais a classe média Por conta das condições de trabalho, salário
e reconhecimento social de hoje são poucos os professores que dão conta
da difícil tarefa de qualificar adequadamente os jovens. Apesar dos
esforços isolados de professores, de fundações e ONGs, não há nada de
Pátria Educadora por aqui. A solução, para atingir número expressivo de
professores e alunos, terá que vir do MEC.
Bons mestres conseguem dar boas aulas com um livro ruim, mas professores
inadequadamente formados não conseguem dar boas aulas sequer com um bom
livro. A ideia de que “pesquisar” insere os alunos na sociedade do
século XXI é ridícula. Isso faria sentido se o aluno tivesse condições
de discernir fontes confiáveis de fontes não confiáveis. O aluno de hoje
talvez tenha mais informação do que há trinta anos, mas não sabe como
transformar isso em conhecimento. Só um professor bem preparado consegue
ensinar ao aluno como dar esse passo.
Nenhum país conseguiu dar um grande passo sem investir pesadamente e
criativamente na educação. Todas as importantes revoluções educacionais
ocorridas no planeta demandaram imaginação criadora, competência
administrativa e, principalmente, vontade política. Há que se fazer um
mutirão educacional que estimule os professores a se qualificarem. Todas
as universidades públicas (assim como as particulares que recebem
verbas governamentais de qualquer espécie) com cursos de pós graduação
profissionalizante podem ser estimulados a dar uma parte do seu tempo em
aulas para os professores do ensino fundamental e médio do Brasil todo,
a partir de uma orientação segura (e apolítica, é claro) que sairia dos
órgãos competentes e de uma discussão ampla (mas rápida) feita com os
educadores interessados.
Isso é possível? Mais que isso, é necessário. Vamos lá, senhor ministro.
(Publicado, originalmente, no Correio Braziliense. Enviado para nosso blog pelo autor, a quem agradecemos a cortesia).
Perfeito!!
ResponderExcluirPerfeito!!
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