Editora Casa Amarela é processada há 13 anos por Ricardo Teixeira por livro sobre ligações entre CBF e Nike
Por Redação
O escândalo de corrupção entre os altos dirigentes da Federação
Internacional de Futebol (Fifa), entre eles a prisão do ex-presidente da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, trouxe à
luz, na terça-feira (27), um processo internacional de lavagem de
dinheiro, desvio de divisas e formação de quadrilha realizada por uma
máfia de cartolas. No entanto, a corrupção que inunda as sedes de
confederações e federações nacionais e internacionais do esporte mais
popular do planeta nos pelo menos últimos 24 anos não é nenhuma
novidade. Desde o acordo com a ditadura militar, que colocou João
Havelange à frente da Fifa, houve tantas denúncias quanto censuras em
relação às relações promíscuas entre os cartolas e as empresas que
patrocinam os times e vendem seus produtos em campeonatos.
Censura
Caso
emblemático do silenciamento sofrido por aqueles que ousaram investigar
o esporte nacional é a censura que sofreu a Editora Casa Amarela, na
época responsável pela publicação da Revista Caros Amigos, além de
livros e fascículos. Em 2001, a editora produziu o livro intitulado CBF-Nike,
que antes mesmo de começar a ser vendido foi proibido de circular, após
um processo aberto pelo então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Além
de vetada a venda do livro, também foi aberto contra a editora e os
autores, Aldo Rebelo e Silvio Torres, um processo pedindo indenizações
por danos morais de um livro que nem sequer chegou a ser distribuído.
O livro trata de um caso que começou após a Copa do Mundo na França
em 98, marcada pela derrota do Brasil em plena final para a França,
quando houve um grande debate em relação ao suposto caso de influência
da Nike, que tinha contrato de publicidade com diversos jogadores da
seleção, além de patrocinar o time. Na época, o que se dizia, era que a
empresa estadunidense havia influenciado na escalação e escolhido
inclusive aqueles que seriam titulares absolutos do time.
O debate em torno do tema cresceu ao ponto da Câmara dos Deputados
instaurar, em 17 de outubro de 2000, uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI), que tinha como objetivo "apurar a regularidade do
contrato celebrado entre a CBF e a Nike”, sob a presidência de Aldo
Rebelo (PCdoB-SP) e secretaria geral de Silvio Torres (PSDB-SP). Como
muitos previam, a CPI foi ocupada majoritariamente por deputados da
bancada da bola, deputados da esfera de influência de Ricardo Teixeira.
Após meses de apuração e levantamento de provas para o caso, a bancada
não deu quórum para a votação final do relatório, que nunca chegou a ser
aprovado.
Ricardo Teixeira
A partir do material que era publicado diariamente na imprensa e as
informações veiculadas pela própria CPI, a Editora Casa Amarela resolveu
editar o livro CBF-Nike. Os autores do livro foram os então
deputados Aldo Rebelo e Sílvio Torres, que tinham todas as informações e
conhecimentos sobre o caso. Logo após o lançamento do livro em São
Paulo, antes que ele começasse a ser vendido, a editora recebeu uma
carta precatória da Justiça do Rio de Janeiro em que uma liminar a
pedido de Ricardo Teixeira proibia a distribuição do livro e, ao mesmo
tempo, abria uma ação indenizatória por danos morais contra os autores e
a editora.
O processo, que está registrado sob o número 2002.001.028004-5 na 41ª
Vara Cível do Rio de Janeiro, sempre tramitou no Rio de Janeiro, onde
diversos jornalistas que denunciaram a Rede Globo, como Luis Carlos
Azenha, Rodrigo Vianna e Paulo Henrique Amorim, foram condenados a pagar
indenizações por danos morais. A editora, sediada em São Paulo, teve
como primeira ação requisitar a transferência de foro de julgamento do
processo do Rio de Janeiro para São Paulo, mas o pedido nunca foi aceito
pela Justiça.
Condenação
Após idas e vindas no processo do livro, a editora foi condenada no
TJ carioca a continuar seguindo sem distribuir o livro. Em relação ao
processo por danos morais (de um livro que ninguém pôde ler), a editora e
os autores chegaram a ser condenados a pagar 500 mil reais a Ricardo
Teixeira, decisão que foi revertida após a comprovação de erros no
encaminhamento do processo, que continua.
O livro, que há 13 anos relatava o que o FBI está acusando agora, também continua proibido.
(recebido por email da Editora Casa Amarela)
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