segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ricardo Mello e o golpe que passa na janela e só o Cardozo não vê

por Fernando Brito

Tive, no ginásio, um professor que fingia não ver a guerra de bolinhas de papel que a garotada fazia.
Depois de várias delas, ele resolveu reagir e ameaçou: “se pegar em mim”…
Bem, pegou…e ele, a esta altura, também teve de fingir que não tinha pego…
O que se passa no Brasil, claro que com estratosfericamente maior gravidade, se assemelha a isso.
O golpismo galopa, os tucanos se dizem “prontos para assumir o governo”, dispensado, claro, este pequeno requisito das regras democráticas de que as eleições são em 2018.
Até o PMDB, sempre chinfrim de votos em eleições presidenciais, fala em “conquistar a Presidência”, com a brincadeira eleitoral de Eduardo Paes – que só existe porque Lula e Dilma deram a ele os recursos que ao Rio sempre negaram – e as verdadeiras figuras, as sombrias, de Renan e Cunha, são “contra” o impeachment enquanto lhes convier aos apetites.
A reação do Governo, através do Ministro da Justiça é falar que isso é “um despudor democrático”.
Oh!
Parece que será necessário embalar o golpe naqueles sacos pretos com que se “vestia” as “revistas de mulher pelada” dos anos 70 e 80.
Ricardo Mello, na Folha, traça o retrato cru e dolorido deste golpe que, do jeito que as coisas vão, será ironicamente dado em meio  a bolinhas de papel, que foram derrotadas, em 2010, porque havia alguém para desmascarar a farsa.

O golpe está em marcha

Ricardo Mello, na Folha
As últimas estocadas da oposição provam estar em curso uma operação sistemática para derrubar a presidente Dilma.
Relembrando fatos. A investida desesperada às vésperas da eleição para incriminar Lula e a então candidata. Não deu certo. Recontem-se os votos, decretaram os derrotados. Parece piada, mas isso aconteceu. Também fracassou, tal qual a pecha de estelionato eleitoral! (Alguém esqueceu da desvalorização brutal da moeda em 1999?)
A essa altura, as acusações de roubalheira da Petrobras embaladas pela compra de uma refinaria pareciam cair do céu para um impeachment. Fiasco, até porque o negócio foi recomendado pelo Citibank e avalizado por um conselho composto de ricaços: Jorge Gerdau, Cláudio Haddad, Fábio Barbosa etc.
A história azedou ainda mais quando o executivo petroleiro Pedro Barusco contou que a corrupção estatal avançou no governo do PSDB, turbinada por uma lei que aboliu licitações. Detalhe: Barusco prometeu devolver centenas de milhões de dólares depositados no exterior. Mas a grana não era para o PT? Como estava na conta pessoal dele? Bem, isso não vem ao caso.
Aí surgiu a novela das pedaladas fiscais. Novo fracasso. Todos que conhecem a política mesmo superficialmente sabem que o Tribunal de Contas da União é um almoxarifado para acomodar políticos decadentes, uma espécie de prêmio de consolação para sabujos fiéis “”a favor ou contra, tanto faz. A coisa ficou mais incômoda quando descobriram que as pedaladas começaram na administração Fernando Henrique Cardoso.
Bem, sempre tem o pessoal do Moro e sua equipe de delações. Incrível: o Brasil é o único lugar teoricamente democrático em que candidatos a réus são informados de crimes pelo jornal, TV ou internet. O conteúdo, então, é de espantar.
“O doleiro [Alberto Youssef] não identifica com precisão a pessoa que o teria procurado para pedir ajuda, e deixa claro que não participou da campanha da presidente […] Se não me engano, o pai dele tinha uma empreiteira. Não consigo lembrar do nome da empreiteira […] O doleiro afirmou não saber se Felipe (acusado de ser o intermediário) buscou outros operadores. Questionado sobre o valor do dinheiro a ser internalizado, o doleiro respondeu: ‘Acho que era em torno de R$ 20 milhões'”. (FSP, 03/07, Pág. A4)
Tal depoimento, como se percebe robusto, cheio de evidências, em que o acusador ignora o nome do interlocutor, desconhece para quem ele trabalha e sequer sabe o valor exato da propina –tal depoimento está no processo que serviu de base para o PSDB pedir a cassação de Dilma!
Para completar a mistificação, aparece a entrevista do delegado geral da Polícia Federal ao “Estado de S. Paulo”. Somos informados que na democracia da jabuticaba existem quatro poderes: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e a…Polícia Federal. “O ministro da Justiça não é o seu chefe?”, perguntam as repórteres. Resposta: “O ministro da Justiça é o responsável pela PF, mas na esfera administrativa. As ações da PF na esfera de investigação são feitas no limite da lei”.
Pelo jeito, a mesma lei que muda votações na Câmara ao sabor de um presidente que dispensa comentários; deixa impunes sonegadores graúdos da Receita; fornece habeas corpus a banqueiros selecionados; prende antes de julgar e vem transformando o Supremo Tribunal Federal num órgão tão decisivo quanto cerimônias de chá na Academia Brasileira de Letras.
E o governo, o ministro da Justiça, não têm nada a dizer antes que seja tarde?

(fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=28103)

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