sábado, 29 de agosto de 2015

Entre a política e o dinheiro: O dilema do Grupo Globo

 por Sérgio da Motta e Albuquerque

O Grupo Globo cresceu 15% em 2014, tornando-se o 17º maior proprietário de mídias do mundo (já mencionei o fato na edição 863 deste Observatório). É o terceiro que mais cresceu no ano passado, atrás apenas do Facebook (63%), e do Baydu, da China (43%). O Google é o número um e em toda a Europa só há um grupo (o alemão Bertelsmann) maior que o conglomerado brasileiro. O grupo germânico é o sexto maior do mundo, apontou a pesquisa da agência especializada em gastos em marketing ZenithOptmedia (11/4). A metodologia do estudo baseou-se nas receitas consolidadas de mídias apuradas em diferentes meios de comunicação dos maiores grupos do planeta.

O maior limite para o conglomerado brasileiro continuar a crescer, apontou o estudo, é a economia nacional, abalada por escândalos políticos que alimentam e contribuem para a perpetuação da estagnação econômica e desacreditam o país diante de muitos analistas de risco em investimentos internacionais.

O Grupo Globo martelou sem dó a atual administração do país e agora enfrenta um dilema: se continuar a colaboração na alimentação da atual crise política nacional, seu futuro crescimento vai ficar comprometido nos próximos anos. Em outras palavras, não interessa à Globo apostar no declínio da economia brasileira. O fracasso previsto em seus jornais para a economia deste país é o pior cenário possível para os proprietários do grupo: aos Marinhos não interessa a derrubada de um presidente eleito e o caos econômico que seguirá, com certeza, uma possível deposição da atual governante.

A Globo é um colosso em receitas. Ganhou três posições desde a última pesquisa da agência americana ano passado: passou da 20ª  para a 17ª posição entre as maiores empresas proprietárias de mídias do planeta. Seus executivos não gostam de perder posição no mercado e dinheiro. O colosso brasileiro da mídia precisa apostar na volta do crescimento da economia e da manutenção do poder de compra dos consumidores brasileiros, no caso os leitores, internautas, espectadores e assinantes dos serviços que alimentam as receitas e os lucros do grupo. Por outro lado, o conglomerado não pode ser parceiro no retorno ao crescimento do país na atual administração, sem decepcionar seu público e correr o risco de perder audiência, renda e lucros. Dilema, dilema.


Oposição continua firme, mas os termos mudaram

O grupo (e seu carro-chefe, a TV Globo) tem o hábito de aplaudir a queda da economia que o ajudou a crescer e estar hoje entre as 30 maiores proprietárias de mídia do planeta. Na frente da BBC, da ITV inglesa, da Microsoft (quem diria?), do Yahoo e da Hearst Corporation, dos Estados Unidos. O gigante da mídia brasileira vai continuar a depender do governo brasileiro (qualquer que seja ele), para manter o padrão de aquisição do trabalhador que consome os produtos do grupo.

O mercado financeiro internacionalizado quer o oposto: a baixa da média do salário do trabalhador brasileiro, que despencou com a apreciação do dólar. Se a coisa piora, o conglomerado vai perder posição entre os maiores do planeta. E dinheiro, sobretudo. Posso estar enganado, mas já notei na GloboNews uma mudança no tom de suas críticas contra o atual governo. A oposição continua firme, mas seus termos mudaram: do deboche desapiedado passou-se a uma postura mais digna e quase mais tolerante. Quase, eu disse.

O Grupo Globo é uma entidade econômica madura e poderosa. Se continuar a apostar no declínio da economia nacional nos próximos anos com a mesma força que fez crescer sua receita no ano passado, vai incentivar seu próprio declínio. Não vai ter forças para manter o crescimento. E entre a coerência política e o dinheiro, a História ensina que os grandes grupos de comunicação sempre preferem o dinheiro.
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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em planejamento urbano, consultor e tradutor.

(fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/monitor-da-imprensa/entre-a-politica-e-o-dinheiro/)

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