Texto escrito por José de Souza Castro:
Há dois dias li na “Folha de S. Paulo” artigo de Jairo Marques,
um jornalista cadeirante, que me fez pensar. “Por todos os lados”, diz
ele, “tenho escutado em coro ‘Acaaaaba, 2015’, o ano mais terrível de
todos, o ano das desgraceiras nas mais diversas áreas, o ano em que
ficamos mais pobres, o ano em que políticos e empresários ficaram nus, o
ano em que Minas chorou barro e o ano em que um bebê sírio deitado de
morte na praia arrancou pedaços de corações em todo mundo”.
Apesar
de tudo, ele gostaria que o ano continuasse. Porque foi em 2015 que
nasceu, há sete meses, a filha Elis. Ele não queria perder um dia sequer
de um ano que lhe trouxe, e à família, tanta felicidade elisiana.
“Minha
filha me faz valorizar mais o tempo que tenho agora e projetar com mais
calma e menos ansiedade o amanhã. Faz eu refletir sobre o que tenho e
não sobre o que não tenho”, diz Marques – chefe da minha filha Cristina
na Agência Folha, quando ela começava sua carreira em São Paulo.
Eu
tenho mais motivos para pensar como ele. Foi em 2015 que nasceram
Felipe, Luiz e Matheus – meus netos mais recentes. Só isso, para mim e
todos em minha família, supera as dificuldades vividas por nós durante o
ano.
É
uma questão de foco, diriam. Sim, mas não só. Há muitas maneiras de se
repensar o ano que terminou. Como eu venho de longe, como dizia Leonel
Brizola, já vi muitas coisas misteriosas, muitas desgraceiras, em minha
vida. Nascido em plena Segunda Guerra Mundial, cuja importância só vim a
perceber uns 15 anos depois, vivi um tempo em que não faltou, no Brasil
e no mundo, um ano que parecia o mais terrível de todos.
No
entanto, sobrevivi a todos eles. Por isso, vivo dizendo à Cristina que
precisamos ser otimistas. E, em 2015, quase me cansei de repetir isso ao
jornalista Acílio Lara Resende,
meu chefe durante 16 anos no "Jornal do Brasil" e que, nos últimos
meses, tem-se revelado extremamente pessimista com a situação do país,
em seus artigos no jornal “O Tempo”.
Na
mesa dele, na sucursal do JB, havia uma plaquinha de acrílico sobre uma
base de madeira, com uma frase – “Isso também passa” – para a qual
apontava silenciosamente sempre que um de nós levava a ele um problema
que no momento parecia insuperável, insuportável.
Passa
sim, como passou a ditadura de Salazar em Portugal, derrubada por um
golpe militar no mesmo dia em que nasceu meu filho mais velho, o
Henrique. Como passou a última ditadura militar brasileira. E como
passará, estou certo (sou um otimista), a armação da direita para
implantar nova ditadura no Brasil, desesperançada que ela parece estar
de ganhar o poder pelo voto.
Sim,
2015 não será esquecido tão cedo. Há muitas lições a se tirar desses
365 dias. Sobretudo para nós, jornalistas. Se eu tivesse que fazer uma
retrospectiva da imprensa – como fez a Cristina com os livros e filmes lidos e assistidos por ela durante o ano
– o resultado não seria otimista. Por isso, não faço, pois estou muito
velho para me tornar pessimista. E acho que todos nós saberemos tirar
proveito dessa lição. Quem de nós não sofreu na pele as consequências
dos erros da imprensa que contribuíram para jogar o país na depressão?
Mas, felizmente, ainda não na ditadura...
(fonte: blog da KikaCastro)
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