sábado, 12 de novembro de 2016

A jovem da fraude do ENEM e o exemplo que vem de cima e de todos os lados

Uma jovem de 19 anos foi flagrada com mecanismos de escuta para fraudar o exame do ENEM. O pai saiu em sua defesa, alegou que ela não sabia de nada, que tudo foi orquestrado por ele que queria realizar o sonho da filha de estudar Medicina. Até aí, morreu o Neves. Importante é que ela já é bem grandinha, soube da fraude e participou dela.

Mas, pelamor! O massacre a que ela está sendo submetida é desumano. Que pague por seu erro, e pronto. Mas as redes são cruéis e promovem um linchamento da jovem, como o que costuma acontecer com menores pegos em flagrante de roubo ou furto e que muitas vezes são ameaçados ou mesmo linchados, quando não presos em postes para a execração pública. Em todos esses casos, repito, desumanos.

Olha o exemplo do andar de cima. Uma presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos recebeu uma pernada jurídico-parlamentar, sob apoio e aplauso da mídia e de grande parte da população, em nome do combate à corrupção.

Olhemos agora os que estão no poder. Em sua imensa maioria, acusados de corrupção. Moralistas sem moral, como os definiu Dilma. Eles passam a mensagem de que a trapaça compensa. O jogo sujo é o que está sendo jogado. O que vale é o resultado, como defende o jornalismo que torce e tortura a notícia até que ela diga aquilo que o jornalista quer.

A jovem virou a Geni da vez. É o Lula. É a Dilma. É o PT. É o outro. Não somos nunca nós. No entanto, quantos desses que andam por aí descendo o pau na jovem não cometem também seus pequenos "pecadinhos"? Quantos por aí não fazem como aquela deputada que deu gritinhos e saltinhos dizendo Sim, sim, sim, e agora está em cana com o marido, ambos acusados daquilo que diziam combater, a corrupção?

Publiquei aqui no blog em 2006 (é, o blog existe há onze anos!) Pesquisa Ibope mostra brasileiros ao Brasil. Repito trecho da postagem com resultados da pesquisa:

Quando fala de si mesmo, o indivíduo brasileiro se considera trabalhador (opção de 94% dos entrevistados), honesto (97%), solidário (94%), um altruísta, pois sua ação visa mais o bem-estar da sociedade que seu próprio benefício (65%). É ético, tem horror à desonestidade, mas paga uma cervejinha para um guarda, de vez em quando, porque ninguém é de ferro, o calor está de rachar e a multa é alta... Compra também alguns CDs ou objetos pirateados ou contrabandeados, afinal, está tudo muito caro...

Quando analisa seus familiares e conhecidos a avaliação é semelhante. A diferença fica no grau de honestidade, trabalho, altruísmo...Os conhecidos são sempre um pouco menos que eles em relação a todos os itens. Menos na cervejinha e nas compras de piratas, porque, sabe como é que é, os vizinhos em geral têm olho gordo...

Quando trata de analisar o brasileiro em geral, a coisa muda um pouco de figura. Eles também são solidários, trabalhadores e honestos – mas bem menos que o indivíduo. Uma diferença gritante é que os brasileiros em geral, segundo os pesquisados, agem somente pensando em seu próprio benefício (70% analisam assim). E têm uma ética confusa, bastante maleável, segundo seus próprios interesses. São capazes de trocar voto por dinheiro ou emprego, aceitam nepotismo - desde que o empregado seja de sua família etc. Mais ou menos como na antiga lei de Gérson, buscam levar vantagem em tudo, certo? [a íntegra está no link]
Como se vê, sartreanamente, o inferno é o outro (e também o corrupto, o safado, o pilantra, o ladrão, o bandido)... Sempre o outro.

O país vive um momento difícil, sob golpe, governado por um bando de incompetentes e corruptos impunes, ameaçados de perderem a cabeça a qualquer momento, às seis da manhã, com a visita da polícia federal.

O país está em carne viva.

Ainda outro dia, vivemos comoção diferente, com a jovem estudante e seu discurso emocionado na Assembleia Legislativa do Paraná. Ana Júlia encheu nosso peito de orgulho e a elegemos nossa representante "contra tudo o que está aí", uma responsabilidade massacrante para a idade dela. E tome entrevista e endeusamento. Apenas uma jovem e jogamos sobre seus ombros o peso de milhões de brasileiros que se viram representados por ela. É muito.

Agora, o pêndulo é oposto. Pau na estudante da fraude. Também é muito.

Por isso, antes de endeusar ou satanizar, macaco, olha teu rabo. Nem santos nem demônios. Humanos é o que somos.

(fonte: http://blogdomello.blogspot.com.br/2016/11/a-jovem-da-fraude-do-enem-e-o-exemplo-que-vem-de-cima.html)

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