domingo, 26 de fevereiro de 2017

Juros altos e a busca desesperada por empregos


Texto escrito por José de Souza Castro:

Tenho tratado aqui da questão dos juros altos pagos pelo governo brasileiro aos rentistas – os detentores da dívida pública, sobretudo os bancos –, mas posso ter sido acusado de, a exemplo da Lava Jato, ter convicção, mas não provas.

O jornalista Clóvis Rossi, em seu artigo dominical na “Folha de S.Paulo”, muito mais bem informado, mostra que juro alto, a título de combater a inflação, é uma falácia lucrativa.
Tão lucrativa, que, “basta dizer que, em apenas um ano, os rentistas (5 milhões de famílias?) recebem do governo, via juros, o que os beneficiários do Bolsa Família (14 milhões de famílias) levam 14 anos para ganhar”, conclui Clovis Rossi.
Seu artigo aumentou em muito a minha convicção.

Ele se baseia num estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional em 1999, que desmontava a sabedoria convencional que diz que aumentar os juros derruba a inflação e vice-versa. O estudo abordou 1.323 casos de 119 países e verificou “que, na maioria absoluta deles, a inflação caiu, qualquer que tivesse sido a ação do respectivo Banco Central, aumentando, diminuindo ou mantendo a taxa de juros”.

Clóvis Rossi já havia escrito sobre esse estudo em maio de 2003, primórdios do governo Lula. E repete: “A maior porcentagem de êxito (ou seja, de casos em que a inflação caiu) se deu justamente quando o BC reduziu os juros. Nesse caso, a porcentagem de sucesso foi a 62,18% dos 476 casos examinados, contra 50,75% dos 398 casos em que a inflação caiu quando a taxa de juros aumentou.”

Na época, seu artigo despertou o interesse do professor Delfim Netto, ministro da Fazenda durante a ditadura militar de 1964, e do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, que telefonou a Rossi e ouviu dele a pergunta óbvia: diante disso, “você baixaria os juros (naquela altura estavam em obscenos 26,5%, em pleno governo de um PT que maldizia os juros e a dívida pública)?”

Não baixou, e os bancos continuaram muito lucrativos nos anos que se seguiram, até agora. No ano passado, Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander somaram lucro líquido de R$ 50,29 bilhões. O Itaú registrou o maior lucro (R$ 21,6 bilhões) e superou o BB como o maior banco brasileiro.
Não por acaso, o economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco Ilan Goldfajn é, desde maio de 2016, o presidente do Banco Central, indicado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

 O mesmo ministro de Temer que incentiva o desmonte do Banco do Brasil, com fechamento de agências, e bate pela aprovação da reforma da previdência que deixaria sem aposentadoria 79% dos que sonham em se aposentar por idade, conforme reportagem feita por três jornalistas da “Folha de S.Paulo”. Entre eles, Ana Estela de Sousa Pinto, coautora, com minha filha Cristina Moreno de Castro, do livro “A Vaga é Sua”, publicado em 2010 pela Publifolha. Diz a reportagem datada de 12 deste mês de fevereiro:
“Oito em cada dez trabalhadores que se aposentam hoje por idade contribuem para a Previdência menos tempo do que exigirá a proposta feita pelo governo Michel Temer.
O texto da reforma estabelece que, para se aposentar, será preciso ter no mínimo 65 anos de idade e 25 anos de contribuição. Hoje, é possível obter o benefício com 15 anos de contribuição e 65 anos de idade, para homens, ou 60 anos, no caso das mulheres.
Números inéditos da Previdência mostram que 60% das aposentadorias por idade concedidas de janeiro a dezembro de 2015 foram para trabalhadores que não chegaram aos 20 anos de contribuição, e 79% haviam contribuído menos que os 25 que serão exigidos pela reforma.
A mudança deve atingir principalmente os mais pobres, que, em geral, contribuem por menos tempo, pois costumam ser mais sujeitos ao trabalho informal.
Por isso, são os trabalhadores da base da pirâmide os que mais recorrem à aposentadoria por idade. O valor médio dos benefícios (R$ 890) é menos da metade do pago, em média, aos que deixam o mercado pelo critério do tempo de contribuição (R$ 1.825). Ela também é majoritária nos Estados mais pobres do país.”

(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/02/21/juros-altos-empregos/#more-13620)

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