quinta-feira, 4 de maio de 2017

Servidão Voluntária e degradação





Antônio de Paiva Moura

         O filósofo Etienne de La Boétie nasceu em 1530 na França e faleceu com 33 anos de idade. Quando o pai e a mãe morreram, ele era criança. Já na adolescência estudava os filósofos clássicos. Tornou-se grande amigo de Montaigne, seu colega no Tribunal de Bordeux.
         Laboétie foi o primeiro a perceber que os governados eram sempre maioria em relação aos governantes. Mas os sistemas funcionam porque os governados consentem o estado de servidão humana. Embora tenha direcionado sua observação para a monarquia despótica de seu tempo, La Boeétie reconhece que o tirano pode ser eleito, o que muda é apenas a forma de se chegar ao poder. É o que se verifica no mundo contemporâneo. Para La boétie, é o povo que se sujeita e se degola; pode escolher entre ser oprimido e ser livre, rejeita a liberdade e aceita o jugo. Às vezes consente tal mal e até o procura. Um número infinito de não a obedecer, mas a servir; não governados, mas tiranizados, sem bens, sem pais, sem vida a que possam chamar sua. Além disso, têm que suportar as luxurias e as crueldades de um monarca covarde e mulherengo. Para La Boétie, quando o indivíduo resolve não querer mais servir, ele é livre.
         O governante e o agente econômico têm o poder de persuadir e convencer o indivíduo a optar pela situação servil. A superestrutura tem o poder de criar e impor as ideologias e as formas de comportamentos que levam o sujeito a optar pela servidão. La Boétie reconhece que a sede de interesses pessoais usada pelos serviçais dos governos e do poder econômico, com a promessa de enriquecimento, submete e acomoda as camadas subalternas da sociedade. Em síntese, a alienação leva os indivíduos a não desejarem a libertação diante do poder governamental e econômico. A alienação não permite que o indivíduo se recuse a obedecer e se negue a colaborar com seus opressores.
         As relações de servidão voluntária dos vassalos aos senhores na Idade Média tiveram prosseguimento na colonização da América Latina. A historiografia e a literatura dos séculos XIX e XX registram a presença de agregados que viviam na condição de servos e que devotavam fidelidade a seus senhores. Afonso Arinos, em “Pelo Sertão” conta a história de Joaquim Mironga, que viveu em uma fazenda e serviu a duas gerações de senhores. Mironga nunca teve bens e salários, mas sempre arriscou sua vida para defender a família de seu patrão. Nada diferente de um servo no sistema feudal.
         As reformas colocadas em prática pelo presidente Michel Temer degradam de tal forma as condições de trabalho e de previdência social, que não demora, os assalariados terão que se contentar com qualquer valor e qualquer condição de trabalho que o empregador oferecer. A meta Neoliberal é acabar com o SUS e com a previdência social para obrigar as pessoas a irem para a previdência privada.
        
        



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