domingo, 11 de fevereiro de 2018

O prefeito Medioli e o ‘jeitinho safado’ dos deputados e senadores

Texto escrito por José de Souza Castro:

O atual prefeito de Betim, Vittorio Medioli, do PHS, foi destaque numa notícia de “O Globo”por ter sido o candidato que mais gastou dinheiro na campanha para prefeito em 2016, em todo o Brasil. Ele gastou R$ 3,9 milhões e foi o único doador de sua campanha. Se concorresse nas eleições deste ano, só poderia gastar R$ 9.690 de seu próprio bolso – ou dez salários mínimos. Tudo por causa de um “jeitinho safado” dos atuais deputados e senadores na luta para se reelegerem.
“O jeitinho safado” é o título de artigo de Medioli em seu jornal “O Tempo”, publicado no dia 4 deste mês e que não teve a repercussão merecida. Nem entre os próprios leitores do jornal. Quatro dias depois, apenas 16 comentaram o artigo, entre eles, Job Alves dos Santos, que disse: “Excelente abordagem. Agora, como fazer que isto chegue ao público? Esta é uma notícia que precisaria viralizar na internet. Mas a imprensa é modesta na divulgação.”
Segundo Medioli, que escreve semanalmente um artigo em seus jornais e que foi deputado federal pelo PSDB mineiro por 16 anos, as novas regras foram aprovadas pelo Congresso Nacional “exclusivamente para facilitar a reeleição de quem tem cargo”. Não espere o eleitor “novidades e renovação”. Os que já se locupletam em seus mandatos, concederam-se “alguns bilhões de dinheiro público destinados para causa própria de quem aprovou a lei. Facilita-se, assim, a camuflagem do caixa 2 de antigos financiadores, que, tendo sido secados pela Lava Jato, pretendem, como nunca, manobrar debaixo do pano do fundo eleitoral”, interpreta o prefeito de Betim.
Tudo se fez em Brasília, continua Medioli, “para inviabilizar as candidaturas avulsas, expressão mais democrática de um país realmente civilizado, e limitar a irrisórios dez salários o aporte do próprio candidato para sua campanha. Ficou proibido gastar por amor à pátria os recursos que o cidadão ganhou com seu trabalho honesto, taxado pela maior carga tributária das Américas. Não poderá enfrentar o mal que castiga a nação com meios iguais”. E repisa: “A reserva de mercado inclui canalhas e afasta voluntários.”
Conforme o prefeito de Betim, “se fosse para limitar o poder econômico de quem possui bens e decide imolar parte deles numa campanha, a melhor condição do sistema democrático seria rebaixar o teto de todos. Que se coloque R$ 9.690 para qualquer um que deseje concorrer ao pleito, poupando recursos públicos que faltam para os mais carentes”. E questiona Medioli:
“Por qual fantástica e aloprada razão um cidadão que exerce cargo de deputado tem direito a R$ 3 milhões de verba para se reeleger e, na mesma lei, se limitam todos os demais ao ridículo valor de R$ 9.690? Verdade que poderiam receber de outros cidadãos essa mesma quantia, mas como, no exíguo período de 45 dias de campanha? Todos iguais: isso, sim, daria à democracia um tom diferente”, diz o articulista, pregando no deserto. E profetizando:
“A fórmula escolhida pelo Congresso mais execrado de todos os tempos reafirma os motivos de sua estratosférica impopularidade. É bem possível que essa regra absurda venha a arrasar perante a opinião pública o pouco que sobra de credibilidade em Brasília.”
De fato, o Congresso Nacional rasgou o artigo 3º da Constituição, sem que nenhum partido impetrasse uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no Supremo Tribunal Federal. Dói aos ouvidos, também, o silêncio da Ordem dos Advogados do Brasil e da Procuradoria Geral da República. “A democracia vive um triste apagão”, constata Medioli, um italiano que chegou ao Brasil com a Fiat Automóveis na década de 1970, naturalizou-se e criou em sua nova pátria o Grupo Sada, com mais de 30 empresas. Entre elas, a Sempre Editora, dona dos jornais O Tempo, Super e Pampulha, os mais lidos em Minas.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2018/02/09/medioli-campanha-eleitoral/)

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